No momento em que decorre em Paris 21.ª Conferência do Clima (#COP21) vale a pena dar a conhecer a enciclíca " Laudato Si" do Papa Francisco, lançada em Junho de 2015 sobre "O Cuidado da Casa Comum", que versa o conceito " ecologia integral" (AQUI)
"
As mudanças climáticas são um problema
global com graves implicações ambientais, sociais,
económicas, distributivas e políticas, constituindo
actualmente um dos principais desafios
para a humanidade. Provavelmente os impactos mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre
os países em vias de desenvolvimento"
Extratos:
A QUESTÃO DA ÁGUA
" Outros indicadores da situação actual têm a
ver com o esgotamento dos recursos naturais. É bem conhecida a impossibilidade de sustentar o
nível actual de consumo dos países mais desenvolvidos
e dos sectores mais ricos da sociedade,
onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge
níveis inauditos. Já se ultrapassaram certos limites
máximos de exploração do planeta, sem termos
resolvido o problema da pobreza.
A água potável e limpa constitui uma questão
de primordial importância, porque é indispensável
para a vida humana e para sustentar os
ecossistemas terrestres e aquáticos. As fontes de
água doce fornecem os sectores sanitários, agro-pecuários e industriais. A disponibilidade de
água manteve-se relativamente constante durante
muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a
procura excede a oferta sustentável, com graves
consequências a curto e longo prazo. Grandes
cidades, que dependem de importantes reservas
hídricas, sofrem períodos de carência do recurso,
que, nos momentos críticos, nem sempre se administra
com uma gestão adequada e com imparcialidade.
A pobreza da água pública verifica-se
especialmente na África, onde grandes sectores
da população não têm acesso a água potável segura,
ou sofrem secas que tornam difícil a produ-
ção de alimento. Nalguns países, há regiões com
abundância de água, enquanto outras sofrem de
grave escassez. Um problema particularmente sério é o da
qualidade da água disponível para os pobres, que
diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas com a
água, incluindo as causadas por microorganismos
e substâncias químicas. A diarreia e a cólera,
devidas a serviços de higiene e reservas de água
inadequados, constituem um factor significativo
de sofrimento e mortalidade infantil. Em muitos
lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados
pela poluição produzida por algumas actividades
extractivas, agrícolas e industriais, sobretudo em
países desprovidos de regulamentação e controles
suficientes.
Não pensamos apenas nas descargas
provenientes das fábricas; os detergentes e
produtos químicos que a população utiliza em
muitas partes do mundo continuam a ser derramados
em rios, lagos e mares. Enquanto a qualidade da água disponível
piora constantemente, em alguns lugares cresce
a tendência para se privatizar este recurso escasso,
tornando-se uma mercadoria sujeita às leis
do mercado. Na realidade, o acesso à água potável
e segura é um direito humano essencial, fundamental e
universal, porque determina a sobrevivência das pessoas
e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos
humanos. Este mundo tem uma grave dívida
social para com os pobres que não têm acesso à
água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida
radicado na sua dignidade inalienável.
Esta dívida é
parcialmente saldada com maiores contribuições
económicas para prover de água limpa e saneamento
as populações mais pobres. Entretanto
nota-se um desperdício de água não só nos países desenvolvidos, mas também naqueles em vias de
desenvolvimento que possuem grandes reservas.
Isto mostra que o problema da água é, em parte,
uma questão educativa e cultural, porque não há
consciência da gravidade destes comportamentos
num contexto de grande desigualdade. Uma maior escassez de água provocará o
aumento do custo dos alimentos e de vários produtos
que dependem do seu uso. Alguns estudos
assinalaram o risco de sofrer uma aguda escassez
de água dentro de poucas décadas, se não forem
tomadas medidas urgentes. Os impactos ambientais
poderiam afectar milhares de milhões de pessoas,
sendo previsível que o controle da água por
grandes empresas mundiais se transforme numa
das principais fontes de conflitos deste século."
...
" A política não deve submeter-se à economia,
e esta não deve submeter-se aos ditames e
ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando
no bem comum, hoje precisamos imperiosamente
que a política e a economia, em diálogo,
se coloquem decididamente ao serviço da vida,
especialmente da vida humana. A salvação dos
bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à
população, sem a firme decisão de rever e reformar
o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto
da finança que não tem futuro e só poderá
gerar novas crises depois duma longa, custosa e
aparente cura. A crise financeira dos anos 2007 e
2008 era a ocasião para o desenvolvimento duma
nova economia mais atenta aos princípios éticos
e para uma nova regulamentação da actividade
financeira especulativa e da riqueza virtual. Mas
não houve uma reacção que fizesse repensar os
critérios obsoletos que continuam a governar o
mundo. A produção não é sempre racional, e
muitas vezes está ligada a variáveis económicas
que atribuem aos produtos um valor que não corresponde ao seu valor real. Isto leva frequentemente
a uma superprodução dalgumas mercadorias,
com um impacto ambiental desnecessário,
que simultaneamente danifica muitas economias
regionais. Habitualmente, a bolha financeira
é também uma bolha produtiva. Em suma, o
que não se enfrenta com energia é o problema
da economia real, aquela que torna possível, por
exemplo, que se diversifique e melhore a produ-
ção, que as empresas funcionem adequadamente,
que as pequenas e médias empresas se desenvolvam
e criem postos de trabalho."