sábado, 30 de julho de 2016

30 JULHO - DIA MUNDIIAL CONTRA O TRÁFICO HUMANO

Em 2013, a Assembleia Geral das Nações Unidas designou o dia 30 de Julho como o Dia Mundial Contra o Tráfico de Pessoas, como o dia em que é necessário "aumentar a conscientização sobre a situação das vítimas de tráfico de seres humanos e de promover e proteger os seus direitos." (aqui)
O tráfico de seres humanos é hoje conhecido como “ o comércio de escravos dos tempos modernos”. A escravatura moderna é hoje um crime oculto, que está de baixo dos nos nossos olhos, mas é por muitos ignorada ou desconsiderada, parece coisa do passado e não dos nossos dias, no entanto está em toda a parte. É um crime que explora as mulheres, as crianças e os homens para vários fins, incluindo o trabalho forçado e o sexo. De acordo com os dados da ONG “Free the Slaves“ estima-se que existam 38.5 milhões de pessoas escravizados no mundo, sendo 78% delas (21 milhões) vítimas de trabalho forçado e originando anualmente 150 $ biliões de dólares americanos em lucros ilícitos para os traficantes. (aqui)

Todos os países são afetados pelo tráfico, sejam como países de origem, sejam como países de trânsito ou de destino. Na Europa a situação dos refugiados, e em particular das crianças, merece uma atenção especial, uma vez que em 2013, cerca de 120 000 requerentes de asilo na UE eram menores, representando mais de um ¼ do número total dos requerentes de asilo e em 2015 havia quase 90.000 crianças desacompanhados entre os requerentes de asilo da União Europeia, estando desaparecidas cerca de 10.000, desde que começou a crise de refugiados. (aqui)


Na União Europeia de acordo com o último relatório do Eurostat “Trafficking in human beings” referente a 2014, 65% das vítimas registadas eram cidadãos da União Europeia e 80% das vítimas registadas eram mulheres, 60 % das vítimas eram traficadas para escravatura sexual, das quais 95% eram mulheres e 71% das vítimas registadas para escravatura laboral eram homens.

Em Portugal foram sinalizados em 2015, 193 pessoas vítimas de Tráfico de Seres Humanos, 135 cidadãos no território nacional e 58 cidadãos portugueses no estrangeiro. Destes 18 menores e 116 eram adultos. (aqui)


O Tráfico de Pessoas é um crime muitas vezes oculto, muitas vezes é ignorado ou desconsiderado, como aquele de que foi vítima um cidadão angolano escravizado durante 26 anos numa herdade do Alentejo (aqui), hoje já falecido, acolhido em 2013 num dos 3 centros de acolhimento em Portugal (aqui)(aqui).  O combate ao tráfico de pessoas humanas exige das autoridades nacionais e internacionais exige sem dúvida políticas coordenadas e medidas consistentes, mas exige também da comunidade, o redobrar de esforços para identificar e proteger as vítimas e interromper as redes criminosas.



sexta-feira, 29 de julho de 2016

O BRILHO DA MICA: TRABALHO INFANTIL E TRABALHO SEM DIRETOS

Sabia que a beleza, o luxo e o glamour, de lábios, unhas e olhos a brilhar, dos carros cintilantes à luz do sol são originados pelo uso da mica, palavra de origem latina micare que significa brilhar ou piscar e que dá o nome a um grupo de minerais únicos na natureza devido às suas propriedades.

Inerte (não reage com a água, ácidos, ou solventes de petróleo) cristalina, leve, flexível e forte, capaz de resistir a altas temperaturas e às alterações da temperatura, capaz de suportar tensões elevadas e isolar com baixa perda de potência, capaz de absorver ou refletir a luz, permitindo efeitos decorativos e proteção contra os raios UV, a Mica tornou-se num ingrediente das indústrias de beleza, da construção, aeroespacial ou automóvel. Usada como pigmento perolizado no sector das tintas e revestimentos, nos cosméticos, como isolante na indústria de material elétrico, como elemento dos pneus de borracha, embraiagens, e pastilhas de travões, como produto de enchimento em produtos cosméticos e de higiene pessoal e na indústria da construção (usada regularmente como agente de enchimento de cimento de fibra e placas de gesso), na indústria do petróleo como elemento dos líquidos de perfuração utilizados em poços de petróleo.
Uso da Mica
Extraída principalmente na Índia e na China, ¾ da mineração ocorre na Índia nos estados de Jharkhand e Bihar, onde 90% da produção é extraída em minas ilegais, representando 25% da produção mundial. A mica extraída na Índia é depois exportada para a China (67%), Japão (9%), Bélgica (7%) e EUA (6%).


Pela área de mineração (uma área de 75 por 20 kms nos estados de Jharkhand/Bihar) espalham-se 300 aldeias, onde vivem cerca de 270.000 pessoas muito pobres, 52.000 delas crianças com menos de 7 anos, que trabalham na sua maioria em minas ilegais, onde os processos de mineração são de trabalho manual intensivo. A extração envolve a utilização de ferramentas simples, explosivos e martelos de ar comprimido, ocorre principalmente em pedreiras com buracos apertados de cerca de 10 metros de profundidade abertos pelos aldeões. A rocha é batida repetidamente com um martelo “cobbing” para remover a ganga, minerais como o quartzo, feldspato, e separá-los da mica. Segue-se o processo da separação, onde a mica é transformada em folhas finas, por mulheres, que utilizam facas afiadas para separar a mica na espessura necessária e as tesouras para remover as arestas irregulares. De acordo com os dados da organização não-governamental, SOMO/Terre des Hommes, (aqui) cerca de 20.000 crianças são empregues nos trabalhos de mineração e cobbing, apesar de estar proibida pela legislação laboral da Índia e da Organização Internacional do Trabalho e de US Department of Labor o considerarem como uma das piores formas de trabalho infantil no mundo.

The lost childhood of India's mica minors

Expostos a desmoronamentos, a colapsos das galerias, os trabalhadores das minas de mica, estão ainda expostos ao pó da sílica e do quartzo associados à silicose, à DPOC e ao cancro do pulmão. Vítimas de baixos salários por viverem num país pobre onde o salário médio de um mineiro ronda os € 3.7 por dia, os trabalhadores das minas de mica recebem ainda menos, cerca de € 1.7 a € 2.5 por dia conforme trabalhem fora ou dentro da mina, podendo uma criança de 5 anos receber € 0.3 dia.
Apesar dos esforços do governo da Índia (aqui), do trabalho das ONG (aqui), e do compromisso assumido por algumas das empresas produtoras e utilizadoras de mica para combaterem o trabalho infantil e promoverem as condições de trabalho e sociais nas áreas de mineração sucedem-se as denúncias da utilização por parte da indústria automóvel ou cosmética de fornecedores de matéria-prima ligados ao trabalho infantil (aqui) (aqui)(aqui).

O Brilho da Mica, não é magia é apenas exploração.







terça-feira, 26 de julho de 2016

ZIKA VÍRUS: OS CUSTOS E OS DETERMINANTES SOCIAIS DE UMA EPIDEMIA

A imprensa mundial reproduziu durante o dia de ontem (aqui), as estimativas de um estudo publicado no dia 25 de Julho na revista Nature Microbiology que apontam para que existam nos próximos dois a três anos 93 milhões de pessoas infetadas pelo vírus Zika, prevendo-se a possibilidade de 1.6 milhões delas serem grávidas (aqui). A esta informação associaram muitos dos órgãos de comunicação social mundial o nascimento do primeiro bebé com microcefalia associada ao Zika num país europeu (Espanha) (aqui)(aqui), filho de uma mulher infetada por Zika e Dengue numa viagem à América Latina, colocando na agenda mediática as incertezas que cercam o futuro da epidemia de Zika nas Américas, em particular sobre o número de grávidas que pode ser afetado pelo risco de ter filhos com microcefalia ao nascimento, tendo em conta os dados publicados até aqui que apontam para possibilidade de 1 a 13% de crianças vir a desenvolver microcefalia. 

Perante esta explosão mediática pronta a espalhar o pânico, vale a pena contrapor que o Zika como outras epidemias é uma daquelas “doenças da pobreza” endémicas nas regiões pobres, onde falta a água limpa, o sanemento básico, o trabalho, o acesso à educação e a justiça social, onde a falta de infra-estruturas de saúde pública permite que a doença se espalhe sem resistência significativa. O vírus Zika é transmitido pelos mosquitos do género Aedes aegypti que também são responsáveis pela propagação da febre amarela, do dengue ou da chikungunya. É nas "favelas", nas "villas miserias", nas "chabolas", em todos os bairros pobres e insalubres que as populações de mosquitos prosperam, estimulados pela abundância de água estagnada, falta de saneamento e densidade populacional.



Na ausência de políticas públicas que combatam as condições insalubres em que vivem as populações mais vulneráveis, a epidemia do Zika agravará as desigualdades de saúde em função da renda, face aos determinantes sociais de saúde, conforme é retratado (aqui).

A noção de que uma doença se pode espalhar de uma forma epidémica quase invisível, que pode estar associada ao desenvolvimento de microcefalia em alguns bebés é altamente perturbadora, mas em vez de alimentar o pânico é necessário criar uma perspetiva construtiva, incentivando políticas públicas que permitam lidar com os determinantes socais e com as iniquidades.(aqui)


sábado, 23 de julho de 2016

A VIDA ÀS CORES - A RAÇA, A SAÚDE E O BEM ESTAR DAS CRIANÇAS AMERICANAS

Julho de 2016 ficou marcado pela imagem de uma criança de 4 anos, Dae´Anna, confortando a mãe Diamond Reynolds, "It"s okay, mommy, don"t be scared, I"m right here with you" após ter assistido no banco de trás do carro onde seguia à morte de Philando Castle (namorado da mãe) às mãos da polícia, na sequência de uma operação de trânsito motivada por viajarem num carro com um farol partido (aqui). A indignação pública que se seguiu às mortes violentas de Philando Castle e de Alton Sterling (morto no dia anterior) às mãos da polícia (aqui), gravadas por telemóveis e transmitidas nas redes sociais, e a brutalidade policial contra as pessoas negras, geraram protestos e manifestações no mundo e nos Estados Unidos. Agora,como em 1960 as questões da raça, do racismo e das desiguldades estão de novo na ordem do dia. À imagem de Dae´Anna, justapõe-se, a imagem de Ruby Bridges, a menina de 6 anos, que acompanhada pelos US Marshall, cumpriu o seu primeiro dia de escola, numa escola integrada dos Estados Unidos em Novembro de 1960  (aqui).
"The Problem We All Live With" - Norman Rockwell
Mais de 50 anos passados, vale a pena recordar a citação de Ruby Bridges, que é hoje uma ativista pelos direitos civis nos Estados Unidos, “racism is a grown-up disease and we must stop using our children to spread it” e recordar o papel da raça nas desigualdades e nos determinantes sociais da saúde, em especial nas crianças.

Vale a pena então olhar para alguns dos indicadores do último relatório "America's Children: Key National Indicators of Well-Bein" publicado pelo "Federal Interagency Forum on Child and Family Statistics".

  • Pobreza infantil: Dos 15.5 milhões de crianças (0 - 17 anos) que viviam na pobreza nos EUA (21%), 37% eram " black non hispanics", 32% eram "hispanic" e 13% " white non-hispanic";
% OF CHILDREN AGES 0–17 LIVING IN POVERTY BY RACE AND HISPANIC ORIGIN AND FAMILY STRUCTURE, 1980–2014
  • Insegurança alimentar: Dos 21% das crianças americanas que viviam em domicílios com insegurança alimentar, 34% eram " black non hispanics", 29% " hispanic " e 15% eram "white non-hispanic";
% OF CHILDREN AGES 0–17 IN FOOD-INSECURE HOUSEHOLDS BY RACE AND HISPANIC ORIGIN OF HOUSEHOLD REFERENCE PERSON, 2001–2014
  • Asma: 13% dos " black non hispanics",  reportaram em asma em 2014, contra 8% de "hispanic", 8% de "white non-hispanic" e 6% de " asian, non-hispanic";
  • Vacinação: Em 2014 a cobertura vacinal " combined seven-vaccine series (4:3:1:3*:3:1:4)" nas crianças de 19-35 meses, era de 65 % para as crianças " black non hispanics",  contra 74% para as crianças "hispanics" e 73% para as "white non-hispanic".

 % OF CHILDREN AGES 19–35 MONTHS VACCINATED WITH COMBINED SEVEN-VACCINE SERIES BY RACE AND HISPANIC ORIGIN, 2009–2014

Quando analisados no seu conjunto estes e os outros indicadores publicados, mostram um panorama sombrio para a saúde e o bem estar não só das crianças negras norte-americanas mas de todas as crianças não " white non-hispanic ", mas tornam-se ainda mais preocupantes quando se tem em conta um recente estudo de opinião publicado na imprensa americana (aqui), que revela que a maioria dos inquiridos se mostra mais pessimista no que se refere às relações raciais agora do que nos últimos 20 anos, "more than 6 in 10 adults say race relations are generally bad, and a majority say they are getting worse".

60 anos passados sobre a imagem de Ruby Bridges retratada por Norman Rockwell, e no momento em que a sociedade americana vai entrar num um ciclo eleitoral que se avizinha difícil para as "pessoas de cor", sem uma atenção constante e uma vontade forte de reduzir e corrigir as iniquidades, o racismo estrutural continuará a afetar os mais vulneráveis, em particular as crianças. 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

TED TALKS: RICHARD WILKINSON - DESIGUALDADES E DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE

Como profissionais de saúde, temos uma responsabilidade especial para abordar as desigualdades sociais que dão origem a desigualdades em saúde.
As desigualdades socioeconómicas em saúde resultam das desigualdades socioeconómicas da sociedade, incluindo as condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem.
As desigualdades sociais violam o nosso senso de justiça, causam danos na coesão social, podendo levar à violência e à insegurança.
Há muito que conhecemos a existência de um gradiente social em saúde, que faz com que mais baixa for a posição das pessoas no escalonamento social, menor é a probabilidade de concretizarem em pleno o seu potencial de saúde.

Deixamos aqui o contributo de Richard Wilkinson, co-autor de “O Espirito da Igualdade” com Kate Pickett, de “Social determinants of Health” e “Social determinants of Health: Solid facts” com Michael Marmot, professor emérito de epidemiologia social na Universidade de Nottingham e co-fundador do “The Equality Trust” na Ted TalksComo a desigualdade económica prejudica as sociedades" 



quinta-feira, 7 de julho de 2016

OECD EMPLOYMENT OUTLOOK 2016 - O TRABALHO COMO DETERMINANTE SOCIAL DA SAÚDE

Passaram, quase, 10 anos sobre a crise financeira mundial, e o mercado de trabalho mundial ainda não atingiu os níveis de 2007.

Os dados hoje publicados pela OCDE OECD Employment Outlook 2016” (aqui) que apontam para uma retoma desigual, e para um desemprego demasiado elevado num número considerável de países europeus pertencentes à OCDE, afetando em particular os trabalhadores com menos qualificações, os mais jovens, as mulheres trabalhadoras, muitos dos países europeus como a Grécia, a Hungria, a Itália, a Polónia, a Eslováquia, a Espanha, a Turquia e Portugal, viram piorar os ganhos no trabalho (o salário por hora trabalhada ajustada da desigualdade), a insegurança do mercado de trabalho (a perda de rendimento associada a uma situação de desemprego) e a qualidade do ambiente de trabalho (trabalhadores que trabalham sob tensão).

Em termos gerais, a organização conclui que comparando os indicadores de 2007 com os de 2013, “é claro que a crise teve um efeito negativo na qualidade do emprego na maioria dos países da OCDE, ao degradar consideravelmente a segurança do mercado de trabalho”. Este é o resultado do impacto combinado entre o aumento substancial do risco de desemprego e uma baixa taxa de substituição de rendimentos conseguida através da proteção social no desemprego. Sobretudo porque muitos desempregados de longa duração esgotaram o direito ao subsídio e não conseguiram voltar ao mercado de trabalho.

Perante esta situação e a falta de respostas adequadas que minimizem estes impactos na saúde das comunidades, será previsível o agravamento das desigualdades em saúde tendo em conta o fator trabalho, uma vez que as condições de trabalho são um importante determinante social da saúde por causa da enorme quantidade de tempo que passamos nos nossos locais de trabalho.

As pessoas que já são mais vulneráveis ​​a problemas de saúde como consequência do seu baixo rendimento e menor escolaridade também são mais propensas a experienciar piores condições de trabalho.
A investigação identificou uma série de dimensões do trabalho que determinam os resultados em saúde:
1)  Segurança no emprego:
2)  As condições físicas do trabalho;
3)  Ritmo de trabalho e stress;
4)  Horário de trabalho;
5)  Oportunidades para o desenvolvimento individual no trabalho e para autoexpressão;
Empregos altamente stressantes predispõem as pessoas à hipertensão arterial, às doenças cardiovasculares, e ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, como a depressão e a ansiedade.
A investigação publicada mostrou que os desequilíbrios entre as exigências (por exemplo: pressões de tempo, e responsabilidade) e as recompensas (por exemplo: o salário, o respeito dos supervisores) levam muitas vezes a problemas significativos.
Por outro lado o desemprego conduz frequentemente à privação material e social, ao stress psicológico, e à adoção de comportamentos que põem em risco a saúde. O desemprego está associado ao aumento de problemas de saúde físicos e mentais, nomeadamente à depressão, à ansiedade e ao suicídio.

Tudo isto vem a propósito dos dados hoje publicados pela OCDE, “ OECD Employment Outlook 2016”, onde a OCDE faz uma análise a vários indicadores para perceber qual o impacto da crise na qualidade do emprego, concluindo que:

1)  “Mesmo em países onde a estagnação do mercado de trabalho foi superada, a falta de qualidade de alguns empregos e o elevado nível de desigualdades no mercado de trabalho são aspetos preocupantes. Muitos dos trabalhadores que ficaram sem emprego durante a Grande Recessão estão de novo a trabalhar, mas o crescimento dos salários continua a ser insuficiente e muitos trabalhadores sofrem de stress ocupacional. Muitos dos trabalhadores deslocados de empregos na indústria e na construção durante a Grande Recessão verificaram que as suas competências e experiência não os habilitavam aos empregos com uma remuneração melhor que estão a ser criados no setor dos serviços.”

2)  “(Que)… os jovens pouco qualificados que não têm emprego nem estão a estudar nem a receber formação (os chamados “NEM-NEM”) correm o risco de ficar para trás. Em 2015, 15% dos jovens de 1529anos de idade na área da OCDE enquadravamse nesta categoria, registando uma subida moderada relativamente aos valores registados pouco antes da crise global em 2007. Em média, 38% de todos os NEMNEM não concluíram o 2.º ciclo do ensino secundário na área da OCDE e é menos provável que estejam ativamente a procurar emprego do que os NEM-NEM com mais anos de escolaridade (33% contra 45%). Quase um terço dos NEM-NEM pouco qualificados vivem num agregado familiar com desempregados (isto é, um agregado familiar onde não existe um adulto com emprego), o que sugere que muitos dos indivíduos pertencentes a este grupo estão confrontados com rendimentos reduzidos e oportunidades limitadas no mercado de trabalho.”

Finalmente e como curiosidade fica aqui o gráfico das horas trabalhadas nos países da OCDE:

terça-feira, 5 de julho de 2016

5 JULHO 1948 - NATIONAL HEALTH SERVICE - THE BIRTH

No dia 5 de Julho de 1948 ,  três anos passados sobre o final da II Guerra Mundial,  a humanidade dava um passo de gigante para tornar a Saúde um direito universal de todos os cidadãos.

O Governo Britânico saído das eleições legislativas de maio de 1945, liderado por Clement Richard Attlee, concretizava o Direito à Saúde para todos os cidadãos através de um sistema de saúde, universal geral e gratuito - o Serviço Nacional de Saúde.
Dando inicio aquilo que foi considerado por Nye Bevan como " the most civilised thing in the world:  put the welfare of the sick in front of every other consideration".

Passdos quase 70 anos, está na altura de pararamos com intervenções que não trazem qualquer beneficio para os cidadãos, de estabelecermos modelos de gestão, siglas e acrónimos que não produzem nada de novo, de clicar estupidamente num teclado. Vamos riscar indicadores, que não medem, nem proporcionam melhorias.  Esqueçamos os trabalhos rotineiros e cansativos, os requerimentos, as papeladas, as condições de recursos, coloquemos no lugar os burocratas, os mercenários e as indústrias do sistema.

Está na hora de trabalhar para o bem comum, com a certeza de que por muito importante que seja o nosso trabalho, o dos outros não o é menos, pensemos sobre o que o público tem a ver com o bem comum.





HALFDAN MAHLER - 40 ANOS DA "GRANDE IDEIA" - CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS/PRIMARY HEALTH CARE

Em 1976, Halfdan Mahler, Diretor Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), introduziu na agenda da 29.ª Assembleia Mundial de Saúde, as ideias de cuidados de saúde primários e de “ Saúde para Todos no Ano 2000”, e em junho desse mesmo ano uma plataforma de organizações governamentais (aqui)“ Christian Medical Commission, the International Union against Tuberculosis, the League of Red Cross Societies, International Cooperation for Socio-economic Development, the International Planned Parenthood Federation and the International Federation of Anti-leprosy Associations” (que ao longos dos anos tinham desenvolvido projetos nos então chamados países do 3.º Mundo, descritos na publicação “ Health by the people” por um dos principais colaboradores de Mahler, Kenneth Newell) pôs em marcha um plano de acção para desbloquear as resistências às ideias do Diretor Geral, Halfdan Mahler e particular a ideia de que a saúde deve ser vista como um recurso para o desenvolvimento socioeconómico e não, apenas, como um subproduto do progresso económico.
Mas afinal quem era, Halfdan Mahler. Nas palavras Constantino Sakellarides no seu livro “De Alma a Herry: crónica da democratização da saúde” era “ … «uma força da natureza» … palavra decidida … um aspecto de visionário, determinado e enérgico (e) uma extraordinária capacidade de comunicação... um discurso directo e cortante, como importante componente de mobilização afectiva.”. Nascido na Dinamarca, filho de um pastor baptista, licenciou-se em Medicina pela Universidade de Copenhaga em 1948, especialista em tuberculose, foi eleito Diretor Geral da OMS em 1973, depois de ter liderado as campanhas contra a tuberculose no Equador e na India, a primeira ao serviço da Cruz Vermelha internacional e a segunda já como funcionário da OMS.

Diretor Geral da OMS de 1973 a 1988, Mahler foi o grande protagonista e obreiro daquilo que Sakellarides chama da “Grande Ideia”, a ideia de cuidados de saúde primários (aqui).

Concretizados em 1978 na Conferência de Alma-Ata, e definidos como

Primary health care is essential health care based on practical, scientifically sound and socially acceptable methods and technology made universally accessible to individuals and families in the community through their full participation and at a cost that the community and country can afford to maintain at every stage of their development in the spirit of selfreliance and self-determination. It forms an integral part both of the country’s health system, of which it is the central function and main focus, and of the overall social and economic development of the community. It is the first level of contact of individuals, the family and community with the national health system bringing health care as close as possible to where the people live and work, and constitutes the first element of a continuing health care process.”, os cuidados de saúde primários são nas palavras de Mahler uma revolução no pensamento e um esperança de justiça social “ For most, it was a true revolution in thinking. Health for all is a value system with primary health care as the strategic component. The two go together. You must know where you want your values to take you, and that’s where we had to use the primary health care strategy. There was a kind of jubilation immediately afterwards... The 1970s was a warm decade for social justice. That’s why after Alma-Ata in 1978, everything seemed possible. “ (aqui)

Mas cedo viria a instalar-se, nas palavras de Kenneth Newell, a “contra-revolução”. No ano de 1979 a Fundação Rockefeller patrocina uma pequena conferência em Bellagio (Itália), que junta o Banco Mundial, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e a Fundação Ford, e formula uma agenda alternativa “ os cuidados de saúde primários seletivos”, centrados num único problema, tal como se fazia no anos 50 e 60.(aqui)

Ao mesmo tempo dá-se uma viragem na cena internacional, com a implementação das políticas de ajustamento neoliberais iniciadas nos anos 80 pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial,e pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional nos países da América Latina e que levaram a todo tipo de privatizações.

Then came an abrupt reversal, when the International Monetary Fund (IMF) promoted the Structural Adjustment Program with all kinds of privatization, and that drew scepticism towards the Alma-Ata consensus and weakened commitment to the primary health care strategy. WHO regions kept on fighting in countries, but there was no support from the World Bank and the IMF. And the biggest disappointment was when some United Nations agencies switched to a‘selective’ approach to primary health care. That brought us right back to square one. We had started with selective health-care programmes, single diseases such as malaria and tuberculosis in the1950s and 1960s. Then we had this spiritual and intellectual awakening that came out of Alma-Ata, and suddenly some proponents of primary health care went back to the old selective approach again. Perhaps, paradoxically, Alma-Ata had in such instances the opposite effect to the one intended, as it made people think too much about selection, rather than following the Alma-Ata gospel of health for all.

Para SakellaridesA ideia de cuidados de saúde primários, ainda é hoje, …, uma iniludível referência emancipadora de grande actualidade: proximidade, dispositivos integradores que respondam às necessidades de saúde da comunidade, acesso, participação, sustentabilidade financeira integrada num processo de desenviolvimento mais amplo. A grande sìntese dos cuidados de saúde primários, fez-se em grande parte, a partir de um líder excepcional.” (aqui)

Passados 40 anos, sobre Alma-Ata e no momento em que as forças que defenderam os “cuidados de saúde primários seletivos” enveredam pela “Cobertura Universal” é necessário mais do que nunca denunciar a ideia de que a estratégia de cobertura universal defendida pela OMS e pela Fundação Rockefeller não pode ser “ uma forma de desconstruir o papel do Estado enquanto promotor do desenvolvimento económico e social. “

Aqui ficam as palavras de Halfdan Mahler à 61.ª Assembleia Mundial de Saúde em 2008 (aqui

" When people are mere pawns in an economic and profit growth game, that game is mostly lost for the underprivileged.
Let me postulate that if we could imagine a tabula rasa in health without having to deal with the constraints - tyranny if you wish - of the existing medical consumer industry, we would hardly go about dealing with health as we do now in the beginning of the 21st century.
To make real progress we must, therefore, stop seeing the world through our medically tainted glasses. Discoveries on the multifactoral causation of disease, have for a long time, called attention to the association between health problems of great importance to man and social, economic and other environmental factors. Yet, considering the tremendous political, social, technical and economic implications of such a multidimensional awareness of health problems I still find most of today's so-called health professions very conventional, indeed.

It is, therefore, high time that we realize, in concept and in practice, that a knowledge of a strategy of initiating social change is as potent a tool in promoting health, as knowledge of medical technology.