segunda-feira, 24 de outubro de 2016

GLOBAL YOUTH DEVELOPMENT INDEX 2016 - PORTUGAL EM 9.º LUGAR ENTRE 183 PAÍSES

No passado dia 21 de Outubro foi publicado pela Commonwealth o Global Youth Development Index de 2016 (aqui), índice composto por 19 indicadores que medem o progresso do desenvolvimento juvenil.
O estudo de 2016, abrangeu uma parte dos 1.8 bilhões de jovens que vivem no mundo, 90% dos quais nos países pouco desenvolvidos.



O Índice de Desenvolvimento Juvenil (YDI), baseado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas (aqui) é composto por 18 indicadores de cinco domínios: educação, saúde e bem-estar, emprego e oportunidades, participação política e participação cívica e foi aplicado a jovens (15 aos 29 anos) de 183 países, incluindo 49 dos 53 da Commonwealth.



Portugal encontra-se no 9.º lugar entre os países avaliados, encontrando-se os outros países da CPLP avaliados, respetivamente: Brasil em 84.º, Timor-Leste em 96.º, São Tomé e Príncipe em 150.º, Angola em 166.º, Moçambique em 177.º e a Guiné-Bissau 178.º. 



domingo, 16 de outubro de 2016

CAPACITAÇÃO, EMPODERAMENTO E SAÚDE - 30 ANOS DEPOIS DA CARTA DE OTTAWA

Este ano cumpre-se o 30.º aniversário da primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa em 21 de Novembro de 1986 (aqui), sob a égide da Organização Mundial de Saúde e do seu secretário-geral Halfdan Mahler, dando continuidade à agenda da 29.ª Assembleia Mundial de Saúde, de 1976 e à Conferência de Alma-Ata de 1979, onde foram introduzidas as ideias de cuidados de saúde primários e de “ Saúde para Todos no Ano 2000” (aqui).

No Canadá em 1986, foi aprovada a chamada Carta de Ottawa, considerada hoje por muitos como o “gold standard” da promoção da saúde. A declaração de Ottawa providenciou uma definição positiva de saúde (algo a alcançar, ao contrário de algo a ser evitado) e encorajou uma abordagem cooperativa para a promoção da saúde que procura promover a saúde através de mudanças nos determinantes socias da saúde.

A Carta de Ottawa delimitou três estratégias para a promoção da saúde: advogar, capacitar e mediar. Estratégias que deveriam ser aplicadas em 5 áreas de ação: construir políticas saudáveis; criar ambientes favoráveis; reforçar a ação comunitária; desenvolver competências pessoais e reorientar os serviços de saúde em direção ao futuro e para além do setor da saúde.

Apesar de ter decorrido numa época de viragem na cena internacional, com a implementação das políticas de ajustamento neoliberais iniciadas nos anos 80 levando ao início de uma nova era em que a economia tomou conta das políticas sociaisprimacy of economic over social policies (often referred to as neoliberalism), charity versus entitlements, and concepts of liberty”, a Carta de Ottawa introduziu 4 grandes áreas de inovação: a definição positiva de saúde orientada para a promoção de saúde, e para a ação no sentido de melhorar as condições de vida das pessoas e a equidade em saúde; a saúde como um produto da vida para o qual são necessários pré-requisitos (paz, abrigo, educação, alimentação, recursos económicos, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade); proposição de valores e princípios fundamentais que conduzem à saúde (participação, capacitação, equidade, holismo, abordagem intersectorial, estratégias múltiplas).

30 Anos passados, e no ano em que decorrem múltiplos eventos para celebrar a Carta de Ottawa(aqui) (aqui) (aqui) (aqui), importa discutir a promoção da saúde enquanto processo de empoderamento das pessoas, tanto a nível individual como coletivo, para puderem ter mais controlo sobre as suas vidas, à luz das mudanças ocorridas nas últimas 3 décadas.

Nas últimas décadas o mundo foi marcado por profundas alterações económicas e sociais, marcadas pela globalização, pela liberalização dos mercados financeiros e dos fluxos internacionais do capital (controlo da inflação, credito barato, “financeirização”), com um aumento do poder das empresas e uma concentração do poder económico privado. De acordo com o relatório “The political origins of health inequity: prospects for changeda Comissão Lancet - Universidade de Oslo sobre a Governança Global de Saúde intitulado , « With globalisation, health inequity increasingly results from transnational activities that involve actors with different interests and degrees of power:states, transnational corporations, civil society, and others. The decisions, policies, and actions of such actors are, in turn, founded on global social norms. Their actions are not designed to harm health, but can have negatives hide effects that create health inequities. The norms, policies, and practicesthat arise from global political interaction across all sectors that affect health are what we call global political determinants of Health».

Estas mudanças obrigam a que a capacitação, das pessoas e das comunidades, tenham de ter em conta quer os determinantes sociais da saúde, e aquilo que Ilona Kickbusch chama “os determinantes políticos da saúde”.

Nas palavras de Ilona Kickbush, no Editorial do BMJ de janeiro de 2015,(aqui)a Saúde é uma escolha política e “… and politics is a continuous struggle for power among competing interests. Looking at health through the lens of political determinants means analysing how different power constellations, institutions, processes, interests, and ideological positions affect health within different political systems and cultures and at different levels of governance”. De acordo com Clare Bambra (aqui)a saúde é política « Health, like almost all other aspects of human life, is political in numerous ways» por três principais razões: “ ● Health is political because, like any other resource or commodity under a neo-liberal economic system, some social groups have more of it than others; ● Health is political because its social determinants are amenable to political interventions and are thereby dependent on political action (or more usually, inaction); ● Health is political because the right to ‘a standard of living adequate for health and wellbeing (United Nations, 1948) is, or should be, an aspect of citizenship and a human right.”

O aparecimento destes novos desafios para o campo da promoção da saúde não rejeita a importância da Carta de Ottawa. Pelo contrário, ela continua a confirmar a sua visão, a orientação para ação e os valores da promoção da saúde nos dias de hoje.

Os desafios para avançar com a agenda da promoção da saúde devem ter em conta os aspetos atrás realçados, uma vez que a falta poder, de influência e de controlo dos cidadãos e das comunidades sobre as suas vidas geram uma das principais causas de morte e de doença, a falta de EMPODERAMENTO.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

BRASIL PARODOXAL - DESIGUALDADE NO BRASIL CAI 19%, MAS O NOVO GOVERNO CORTA NAS DESPESAS SOCIAIS, SAÚDE E EDUCAÇÃO (PEC 241)

O Brasil era até ao início dos anos 90, conhecido por ser um país historicamente desigual, sendo o índice de Gini no ano de 1989 de 63 e o segundo mais alto do mundo. Durante a década de 90 os níveis de desigualdade começaram a cair a um ritmo assinalável ultrapassando os níveis de descida registados para os restantes países da América Latina e Caraíbas, atingindo o índice de Gini o valor de 51 em 2014, 19% mais baixo do que em 1989. Verificando-se uma descida assinalável entre os anos de 2000 e 2014, que permitiu que 26.5 milhões de brasileiros saíssem da pobreza.

De acordo com dados do Banco Mundial, a percentagem da população que vivia em pobreza extrema (US $ 1,9/dia) diminuiu em quase ¾ passando de 20.6% em 1990 para 3.9% em 2013, um diminuição ainda maior ocorreu na mortalidade antes dos 5 anos, passando de 60.8/1.000 em 1990 para 16.2/1.000 em 2013. A prevalência de crianças com baixo peso foi reduzida para metade (de 4,5% para 2.2%), e a proporção da população sem acesso a água potável diminuiu em ¾ passando de 11% para menos de 3%. A esperança média de vida ao nascer passou de 66.5 anos em 1990 para de 73,9 em 2013, comparando favoravelmente com os países do seu grupo rendimento.

Apesar do Brasil continuar a ser um dos países mais desiguais no mundo (15.º), os imensos progressos conseguidos nos últimos anos são considerados pelas agências internacionais de enorme sucesso, atribuindo o Banco Mundial 60% desta redução ao aumento do rendimento das famílias brasileiras, devido ao crescimento e os 40% restantes às melhorias verificadas na distribuição de renda entre os brasileiros.

Com a restauração da democracia em 1985 e a aprovação da Constituição de 1988, o Brasil passou a dispor de uma lei fundamental que garante à população, os direitos sociais básicos, a educação pública e gratuita, os cuidados de saúde universais, a assistência social e o sistema de pensões, de que é exemplo a criação do Sistema Único de Saúde. O controlo da inflação nos anos 90, o crescimento das “ commodities” na década de 2000, num quadro macroeconómico externo favorável às exportações, impulsionou o crescimento económico e a dinâmica do mercado de trabalho. As políticas sociais implementadas pelos governos de Lula da Silva, impulsionaram os rendimentos dos mais pobres e reduziram as desigualdades.

De acordo com o último relatório do Banco Mundial publicado em 2016, "Poverty and Shared Prosperity 2016: Taking on Inequality" esses 2 fatores foram responsáveis pela redução das desigualdades entre 2003 e 2013 em cerca de 80%, 41% pelos rendimentos do trabalho e 39% pelas políticas sociais.

Em termos de mercado de trabalho, verificou-se uma diminuição entre a diferença salarial entre trabalhadores qualificados e não qualificados, aumentando a oferta de trabalhadores qualificados, graças à melhoria da escolaridade (4 em cada 10 trabalhadores em 2010 tinha 11 anos ou mais de escolaridade, o dobro da verificada em meados dos anos 90) e o crescimento do mercado de trabalho em setores, como a construção que absorveu muitos trabalhadores menos qualificados. Cresceu o emprego formal e o salário mínimo sem provocar distorções do mercado de trabalho segundo o Banco Mundial, permitindo a redução nas diferenças salariais, tendo em conta o sexo, a raça e desigualdade espacial.

No âmbito das políticas sociais, o governo promoveu o acesso: à energia elétrica (quase universal até 2014), através do programa de eletrificação rural Luz para Todos, que forneceu luz a 15.2 milhões de pessoas (iniciado em 2004); à rede de esgotos (os 40% das famílias mais pobres passaram de 33% para 43% de cobertura); à escolaridade primária (2014 perto de universal); ao Bolsa Família “Brazil’s flagship conditional cash transfer (CCT) program”, responsável entre 2004 e 2014, por 10 a 15% da redução da pobreza, atingindo 56 milhões de pessoas e ainda a título de exemplo o Benefício de Prestação Continuada, dirigido aos idosos e deficientes. De acordo com relatório o Brasil tem ainda espaço para uma melhoria significativa do seu sistema fiscal, permitindo melhorar a sua eficiência, a sua progressividade e o seu sistema de transferências.

No entanto, com a mudança na economia global, o fim do boom dos preços das "commodities", e as mudanças políticas verificadas nos últimos anos, com a chegada ao poder de forças conservadoras, no meio da instabilidade política criada com a destituição da presidente Dilma Roussef, os ventos deixaram de ser favoráveis à continuação da redução das desigualdades.

Assim não foi preciso aguardar muito tempo para o que o Governo pelo Presidente Temer viesse apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 241) com o objetivo de limitar as despesas com saúde, educação, assistência social e previdência, nos próximos 20 anos (aqui). Esta proposta amplamente contestada pelas organizações de saúde, como a ABRASCO, a Rede de Escolas de Saúde Pública do Brasil, a FIOCRUZ ou o Conselho Nacional de Saúde, a ser aprovada, é na opinião do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (aqui) um rude golpe para o SUS e para a política de combate às desigualdades “… fica claro que a PEC 241 impactará negativamente o financiamentoe a garantia do direito à saúde no Brasil. Congelar o gasto em valores de 2016, por vinte anos, parte do pressuposto equivocado de que os recursos públicos para a saúde já estão em níveis adequados para a garantia do acesso aos bens e serviços de saúde, e que a melhoria dos serviços se resolveria a partir de ganhos de eficiência na aplicação dos recursos existentes. Ademais, o congelamento não garantirá sequer o mesmo grau de acesso e qualidade dos bens e serviços à população brasileira ao longo desse período, uma vez que a população aumentará e envelhecerá de forma acelerada. Assim, o número de idosos terá dobrado em vinte anos, o que ampliará a demanda e os custos do SUS. Caso seja aprovada, a PEC 241 tam pouco possibilitará a redução das desigualdades na ofertade bens e serviços de saúde no território nacional. Não só não haverá espaço no orçamento para tanto, como o teto das despesas primárias, em um contexto de aumento acelerado das despesas previdenciárias, levaria a um processo de disputa das diversas áreas do governo por recursos cada vez mais escassos. Como o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, a redução do gasto com saúde e dos gastos com políticas sociais de uma forma geral afetará os grupos sociais mais vulneráveis, contribuindo para o aumento das desigualdades sociais e para a não efetivação do direito à saúde no país.


A COCA-COLA E A PEPSI DERAM MILHÕES DE DÓLARES A ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE AMERICANAS PARA MELHORAREM A IMAGEM DOS REFRIGERANTES E EVITAREM LEGISLAÇÃO DESFAVORÁVEL

De acordo com a investigação publicada em 10 de Outubro no American Journal of Preventive Medicine, “Sponsorship of National Health Organizations by Two Major Soda Companies” (aqui), a Coca-Cola e a PepsiCo gastaram milhões de dólares “Between 2011 and 2014, the Coca-Cola Company spent on average 4$6 million per year, PepsiCo spent 4$3 million per year, and the American Beverage Association spent 4$1 million per year. All three expenditures spiked in 2009, when these groups fought the 2009 federal soda tax; in that year, Coca-Cola spent $9.4 million, PepsiCo spent $9.5 million, and the American Beverage Association spent $18.9 million” a patrocinar um total de 96 organizações de saúde americanas com papéis importantes quer na promoção de hábitos saudáveis quer na luta contra a obesidade ou a diabetes, problemas de saúde potenciados pelo crescente aumento do consumo de alimentos de alta densidade energética e de refrigerantes, “ From 2011 to 2015, the Coca-Cola Company and PepsiCo were found to sponsor a total of 96 national health organizations, including many medical and public health institutions whose specific missions include fighting the obesity epidemic. During the study period, these two soda companies lobbied against 29 public health bills intended to reduce soda consumption or improve nutrition.”

De acordo com o estudo os patrocínios tinham como objetivo melhorar a imagem das companhias e dos seus produtos junto da população, usando o relacionamento com as organizações de saúde para desenvolver ações positivas para as suas marcas e neutralizar a sua potencial oposição a legislação que penalize ou restrinja as bebidas com alto teor de frutose, como a redução do volume das bebidas dispensadas ou a aplicação de “ sodas taxes” (aqui)invocando a reciprocidade financeira por parte das organizações financiadas “Rather than supporting public health, organizations may become unwitting partners that contribute to corporate marketing strategy. Indeed, sponsorship is considered as a marketing tool by both the Federal Trade Commission and soda companies themselves”.

Das 96 organizações patrocinadas, 63 são organizações de saúde pública, 19 organizações médicas, sete fundações de saúde, 5 organizações governamentais e duas organizações de ajuda alimentar, da lista constam duas organizações ligadas à Diabetes, American Diabetes Association e a Juvenile Diabetes Research Foundation, a Cruz Vermelha Americana, importantes associações médicas como a American Medical Association (AMA), a American Cancer Society, a American Academy of Pediatrics, o American College of Cardiology ou a American Academy of Family Physicians e organizações governamentais como o Centers for Disease Control (CDC) ou o National Institutes of Health. Os autores dão como exemplo o comportamento da organização Save The Children, organização que defendia a aplicação de “soda taxes” que depois de receber um patrocínio de $5 milhões de dólares da Coca-Cola e da PepsiCo, “ suddenly dropped this effort in 2010 after receiving more than $5 million from the Coca-Cola Company and PepsiCo in 2009”.

O estudo recomenda que as organizações de saúde rejeitem estes patrocínios e encontrem fontes de financiamento alternativos, chamando a atenção para os conflitos de interesse gerados e para os viés introduzidos a favor das corporações, “ Lessons can be learned from the history of tobacco companies, which have long given money to sympathetic organizations that deal with domestic abuse, hunger, and minority advancement. Now, most organizations refuse tobacco money. Perhaps soda companies should be treated similarly.  Leading the way in this effort are the Academy of Nutrition and Dietetics, the American Academy of Pediatrics, the American Academy of Family Physicians, and the American College of Cardiology, all of which did not renew new contracts with Coca-Cola at the end of 2015. Other organizations should consider following this lead and that of the University of Colorado School of Medicine, which returned a $1 million sponsorship in 2015”.

domingo, 9 de outubro de 2016

RISCO CARDIOVASCULAR - MAIS ALÉM DA ABORDAGEM INDIVIDUAL

Apesar da “Carta europeia para a saúde do coração” reconhecer a doença cardiovascular como “ uma condição multifatorial” e ser essencial “ que todos os determinantes e fatores de risco sejam abordados tanto a nível social como a nível individual ”, a realidade tem demonstrado que grande parte da investigação epidemiológica e das políticas públicas se têm concentrado nos fatores de risco a nível individual, tanto comportamentais como biológicos, muitas vezes desligados dos contextos sociais e ambientais, acabando por os valorizar e priorizar em detrimento dos outros.

Esta abordagem acaba por desembocar numa visão em que os fatores de risco cardiovascular são uma questão de escolhas individuais ou um assunto dos serviços de saúde, gerando um abordagem preventiva assente em duas estratégias de abordagem individual: educação para a saúde e motivação das pessoas para mudarem os seus hábitos individuais e a deteção precoce de fatores de risco e o seu tratamento através dos serviços de saúde (campanhas para deteção e tratamento da hipertensão arterial e do colesterol elevado.) (aqui)

No entanto, é conhecida uma outra abordagem (aqui), desde a publicação de “Sick individuals and sick populations” de Geoffrey Rose nos anos 80, que destaca o fator populacional e as diferenças na distribuição dos riscos dentro das populações e entre elas, chamando a atenção para ação dos determinantes sociais sobre as populações, “ a causa das causas”. Syme no artigo “ The prevention of disease and promotion of health: the need for a new approach” publicado no European Journal of Public Health, chama a atenção para a necessidade de uma abordagem populacional que tenha em conta as questões sociais e ambientais “ The first problem is that after decades of epidemiologic research, it has proven very difficult to identify disease risk factors...The second problem is that even when we do identify disease risk factors, we have a very difficult time in getting people to change their behavior. Many research studies have shown that even when people know about risk factors for disease, this often does not result in their changing behaviour to lower risk. Most behaviour changes occur, in fact, in response to a variety of environmental and community forces that constrain and modify behaviour...The third problem with our current public health model, however, is the most challenging of all. Even if everyone at risk did change their behaviour to lower their risk, new people would continue to enter the at-risk population at an unaffected rate. This is because we rarely identify and intervene on those forces in the community that cause the problem in the first place. This is a major issue for us in public health. If one of our goals is to prevent disease and promote health, I do not think we can accomplish this mission by an exclusive focus on individual diseases and risk factors.”


Vem tudo isto a propósito do “esquecimento” sistemático dos determinantes sociais e ambientais como fatores de risco cardiovascular e da contínua opção pelas abordagens preventivas centradas no indivíduo em detrimento da abordagem populacional e comunitária reveladas pelas autoridades de saúde (aqui) (aqui) e sociedades científicas nacionais, de que são exemplos as ideias expressas em documentos da Direção Geral de Saúde como “A Saúde dos Portugueses. Perspetiva 2015” (aqui)onde os determinantes sociais são tratados de uma forma vaga, e sem qualquer sustentação nacional «Os determinantes sociais constituem a principal abordagem de análise de Saúde das populações. Pesquisas demonstraram a existência de um gradiente social em função dos rendimentos familiares, isto é, relacionado com desigualdades e iniquidades, em particular com as diferenças ocorridas entre comunidades prósperas e pobres no que se refere, por exemplo, à esperança de vida e outros indicadores (Marmot et Allen). Já em 1953, Arnaldo Sampaio, num texto intitulado “A Saúde é Prosperidade”, afirmava “… A relação entre pobreza e doença é flagrante (…) quanto mais pobre, mais doente, quanto mais doente, mais pobre…” Outros determinantes sociais em interação com a classe social são condicionantes do estado de Saúde das populações, como o género, por exemplo.», ou na página “Eu Amo Viver”  da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a contrário da evidência publicada nos últimos anos e bem expressa por Ana Diez Roux no artigo seminal “ Residential Environments and Cardiovascular Risk” publicado em 2003 no Journal of Urban Health: Bulletin of the New York Academy of Medicine, e nas suas vias de relacionamento entre os “residential environments” e os fatores de risco cardiovascular.





quarta-feira, 5 de outubro de 2016

OCDE - SOCIETY AT A GLANCE - 2016 " PORTUGAL REGISTOU A 2.º MAIOR DESCIDA NOS GASTOS COM SAÚDE ENTRE 2009- 2013

5 Outubro 2016 - A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) publica hoje a oitava edição do ”Society at a Glance – 2016”. Este relatório dá uma visão geral dos 25 indicadores sociais recolhidos pela OCDE, incluindo os dados dos 35 países membros da OCDE, e, quando disponíveis dados para o Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia e África do Sul, e outros dos países do G20.
Este ano o relatório apresenta um capítulo especial sobre os NEEF, jovens que não estavam a estudar nem a frequentar ações de formação, também conhecidos por NEM-NEM (nem estudam, nem trabalham, cerca de 40 milhões em 2015. Destes, mais de dois terços não estavam ativamente a procurar trabalho. A OCDE estima que o rendimento bruto total que poderia ter sido criado pelos NEEF em 2014 se teria cifrado entre USD 360605 mil milhões de dólares americanos, ou 0,91,5% do PIB à escala da OCDE.


No que se refere a Portugal, o ”Society at a Glance – 2016” sublinha o fato de Portugal ter registado a 2. º maior descida nos gastos com a saúde entre 2009 – 2013 e a 3.ª maior descida nos gastos com a educação desde 2010, perante “High pressure on public budgets has led to fiscal consolidation efforts over the last years” durante o período de intervenção da Troika.(aqui)



À CONVERSA COM RICHARD WILKINSON - AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DAS DESIGUALDADES - LISBOA 2016

Richard Wilkison, Social Consequences Inequality, 2016

Lisbon, Be Well Global Health Conference, 01-10-2016



terça-feira, 4 de outubro de 2016

DESIGUALDADE: O QUE PODE SER FEITO E PORQUÊ - AS PROPOSTAS DE ATKINSON

Para quem se interessa pela “Desigualdade” as duas últimas semanas foram um pouco inusitadas, uma vez que tivemos dois acontecimentos raros entre nós. A publicação do estudo “DESIGUALDADE DO RENDIMENTO E POBREZA EM PORTUGAL: As consequências sociais do programa de ajustamento, 2009 - 2014” coordenado pelo Professor Carlos Farinha Rodrigues, do ISEG da Universidade de Lisboa e colocado ao dispor dos cidadãos e dos investigadores, no sítio da internet “Portugal Desigual” e a conferência do Professor Richard Wilkinson, no passado dia 1 de Outubro em Lisboa, durante a “Be Well Global Health Conference”, organizada pela MSD Portugal e pelo Jornal de negócios. (aqui)

Estando a Desigualdade no centro do debate público mundial, lembrei-me das palavras do professor Anthony Atkinson ao Toronto Star a propósito da publicação do seu livro “ Desigualdade: O que fazer?” «Rising income inequality has been described by President Barack Obama as the “defining challenge of our time.” Pope Francis calls for governments to redistribute wealth to the poor in a new spirit of generosity. Even IMF head Christine Lagarde has said inequality threatens the stability of the world economic system. But what world leaders have not said is what they would do about it. How is equitable growth to be achieved?» (aqui), ou da citação de Richard Tawney, escrita há mais de um século e referenciada no mesmo livro “ aquilo que os ricos ponderados chamam de problemas da pobreza, os pobres ponderados chamam, com igual justiça, um problema de riqueza”.


Para quem se interesse pela Desigualdade, vale a pena ler o livro de Anthony Atkinson publicado Bertrand Editora em maio de 2016 “Desigualdade: O que fazer?” (aqui). Onde o autor tenta responder a questões como: O que pode ser feito se pretendemos seriamente reduzir a desigualdade de rendimentos? Como poderá a crescente perceção pública ser traduzida em políticas e ações que realmente diminuam a desigualdade? Mas como comenta o Professor Michael Marmot na revista Lancet “Atkinson does not simply wring his hands at growing inequalities of income and wealth. He has solutions.” (aqui) Atkinson apresenta-nos 15 propostas de ação para a redução das dimensões da desigualdade que discute na parte III do livro intitulada “ Será Exequível”: terminando com uma mensagem de otimismo “ A conquista de uma sociedade menos desigual no período da Segunda Guerra Mundial e nas décadas posteriores não foi completamente derrotada. A um nível global, a grande divergência entre os países associados à Revolução Industrial está a reduzir-se. É verdade que desde 1980 que vimos a assistir a uma «Viragem da Desigualdade» e que o século XXI traz desafios em termos de envelhecimento da população, alterações climatéricas e desequilíbrios globais. Contudo, as soluções para esses problemas estão nas nossas mãos. Se estivermos dispostos a usar a maior riqueza dos nossos dias para lidar com estes desafios, e se aceitarmos que os recursos devem ser partilhados de uma forma menos desigual, existem, realmente bases para otimismos.”