OECD HEALTH STATISTICS 2016 - Health expenditure per capita, 2015 (aqui)
“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.” Ensaio sobre a Cegueira – José Saramago
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
GLOBAL YOUTH DEVELOPMENT INDEX 2016 - PORTUGAL EM 9.º LUGAR ENTRE 183 PAÍSES
No passado
dia 21 de Outubro foi publicado pela Commonwealth o Global Youth Development
Index de 2016 (aqui), índice composto por 19 indicadores que medem o progresso do
desenvolvimento juvenil.
O estudo de
2016, abrangeu uma parte dos 1.8 bilhões de jovens que vivem no mundo, 90% dos
quais nos países pouco desenvolvidos.
O Índice de
Desenvolvimento Juvenil (YDI), baseado no Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) das Nações Unidas (aqui) é composto por 18 indicadores de cinco domínios: educação,
saúde e bem-estar, emprego e oportunidades, participação política e
participação cívica e foi aplicado a jovens (15 aos 29 anos) de 183 países,
incluindo 49 dos 53 da Commonwealth.
Portugal
encontra-se no 9.º lugar entre os países avaliados, encontrando-se os outros
países da CPLP avaliados, respetivamente: Brasil em 84.º, Timor-Leste em 96.º, São
Tomé e Príncipe em 150.º, Angola em 166.º, Moçambique em 177.º e a Guiné-Bissau
178.º.
domingo, 16 de outubro de 2016
CAPACITAÇÃO, EMPODERAMENTO E SAÚDE - 30 ANOS DEPOIS DA CARTA DE OTTAWA
Este ano
cumpre-se o 30.º aniversário da primeira Conferência Internacional sobre
Promoção da Saúde, realizada em Ottawa em 21 de Novembro de 1986 (aqui), sob a égide
da Organização Mundial de Saúde e do seu secretário-geral Halfdan Mahler, dando
continuidade à agenda da 29.ª Assembleia Mundial de Saúde, de 1976 e à
Conferência de Alma-Ata de 1979, onde foram introduzidas as ideias de cuidados
de saúde primários e de “ Saúde para Todos no Ano 2000” (aqui).
No Canadá
em 1986, foi aprovada a chamada Carta de Ottawa, considerada hoje por muitos
como o “gold standard” da promoção da saúde. A declaração de Ottawa providenciou
uma definição positiva de saúde (algo a alcançar, ao contrário de algo a ser evitado)
e encorajou uma abordagem cooperativa para a promoção da saúde que procura
promover a saúde através de mudanças nos determinantes socias da saúde.
A Carta de
Ottawa delimitou três estratégias para a promoção da saúde: advogar, capacitar
e mediar. Estratégias que deveriam ser aplicadas em 5 áreas de ação: construir políticas
saudáveis; criar ambientes favoráveis; reforçar a ação comunitária; desenvolver
competências pessoais e reorientar os serviços de saúde em direção ao futuro e
para além do setor da saúde.
Apesar de
ter decorrido numa época de viragem na cena internacional, com a implementação
das políticas de ajustamento neoliberais iniciadas nos anos 80 levando ao
início de uma nova era em que a economia tomou conta das políticas sociais “ primacy of economic over social policies (often referred to as neoliberalism), charity versus entitlements, and concepts of liberty”, a Carta de Ottawa introduziu 4
grandes áreas de inovação: a definição positiva de saúde orientada para a
promoção de saúde, e para a ação no sentido de melhorar as condições de vida das
pessoas e a equidade em saúde; a saúde como um produto da vida para o qual são
necessários pré-requisitos (paz, abrigo, educação, alimentação, recursos
económicos, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade);
proposição de valores e princípios fundamentais que conduzem à saúde
(participação, capacitação, equidade, holismo, abordagem intersectorial,
estratégias múltiplas).
30 Anos
passados, e no ano em que decorrem múltiplos eventos para celebrar a Carta de
Ottawa(aqui) (aqui) (aqui) (aqui), importa discutir a promoção da saúde enquanto processo de empoderamento
das pessoas, tanto a nível individual como coletivo, para puderem ter mais
controlo sobre as suas vidas, à luz das mudanças ocorridas nas últimas 3
décadas.
Nas últimas
décadas o mundo foi marcado por profundas alterações económicas e sociais,
marcadas pela globalização, pela liberalização dos mercados financeiros e dos
fluxos internacionais do capital (controlo da inflação, credito barato,
“financeirização”), com um aumento do poder das empresas e uma concentração do
poder económico privado. De acordo
com o relatório “The political origins of health inequity: prospects for change”
da Comissão Lancet - Universidade de Oslo sobre a Governança Global de Saúde intitulado , «
With globalisation, health inequity increasingly results from transnational activities that involve actors with different interests and degrees of power:states, transnational corporations, civil society, and others. The decisions, policies, and actions of such actors are, in turn, founded on global social norms. Their actions are not designed to harm health, but can have negatives hide effects that create health inequities. The norms, policies, and practicesthat arise from global political interaction across all sectors that affect health are what we call global political determinants of Health».
Estas
mudanças obrigam a que a capacitação, das pessoas e das comunidades, tenham de
ter em conta quer os determinantes sociais da saúde, e aquilo que Ilona Kickbusch chama “os determinantes políticos da saúde”.
Nas
palavras de Ilona Kickbush, no Editorial do BMJ de janeiro de 2015,(aqui)a Saúde é uma escolha política e “… and politics is
a continuous struggle for power among competing interests. Looking at health through the lens of political
determinants means analysing how different power constellations, institutions,
processes, interests, and ideological positions affect health within different
political systems and cultures and at different levels of governance”. De acordo
com Clare Bambra (aqui)a saúde é política « Health, like almost all other aspects of
human life, is political in numerous ways» por três principais razões: “ ●
Health is political because, like any other resource or commodity under a
neo-liberal economic system, some social groups have more of it than others; ●
Health is political because its social determinants are amenable to political
interventions and are thereby dependent on political action (or more usually,
inaction); ● Health is political because the right to ‘a standard of living adequate
for health and wellbeing (United Nations, 1948) is, or should be, an aspect of
citizenship and a human right.”
O
aparecimento destes novos desafios para o campo da promoção da saúde não rejeita
a importância da Carta de Ottawa. Pelo contrário, ela continua a confirmar a sua
visão, a orientação para ação e os valores da promoção da saúde nos dias de
hoje.
Os desafios
para avançar com a agenda da promoção da saúde devem ter em conta os aspetos
atrás realçados, uma vez que a falta poder, de influência e de controlo dos
cidadãos e das comunidades sobre as suas vidas geram uma das principais causas de
morte e de doença, a falta de EMPODERAMENTO.
Etiquetas:
CLARE BAMBRA,
DETERMINANTES POLÍTICOS DA SAÚDE,
DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE,
HALFDAN MAHLER,
ILONA KICKBUSCH,
LANCET,
OMS,
PROMOÇÃO DA SAÚDE,
THE OTTAWA CHARTER
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
BRASIL PARODOXAL - DESIGUALDADE NO BRASIL CAI 19%, MAS O NOVO GOVERNO CORTA NAS DESPESAS SOCIAIS, SAÚDE E EDUCAÇÃO (PEC 241)
O Brasil
era até ao início dos anos 90, conhecido por ser um país historicamente desigual,
sendo o índice de Gini no ano de 1989 de 63 e o segundo mais alto do mundo.
Durante a década de 90 os níveis de desigualdade começaram a cair a um ritmo
assinalável ultrapassando os níveis de descida registados para os restantes
países da América Latina e Caraíbas, atingindo o índice de Gini o valor de 51
em 2014, 19% mais baixo do que em 1989. Verificando-se uma descida assinalável
entre os anos de 2000 e 2014, que permitiu que 26.5 milhões de brasileiros saíssem
da pobreza.
De acordo
com dados do Banco Mundial, a percentagem da população que vivia em pobreza extrema (US $ 1,9/dia) diminuiu em quase ¾ passando de 20.6% em 1990 para 3.9%
em 2013, um diminuição ainda maior ocorreu na mortalidade antes dos 5 anos,
passando de 60.8/1.000 em 1990 para 16.2/1.000 em 2013. A prevalência de
crianças com baixo peso foi reduzida para metade (de 4,5% para 2.2%), e a
proporção da população sem acesso a água potável diminuiu em ¾ passando de 11%
para menos de 3%. A esperança média de vida ao nascer passou de 66.5 anos em
1990 para de 73,9 em 2013, comparando favoravelmente com os países do seu grupo
rendimento.
Apesar do
Brasil continuar a ser um dos países mais desiguais no mundo (15.º), os imensos
progressos conseguidos nos últimos anos são considerados pelas agências
internacionais de enorme sucesso, atribuindo o Banco Mundial 60% desta redução
ao aumento do rendimento das famílias brasileiras, devido ao crescimento e os 40%
restantes às melhorias verificadas na distribuição de renda entre os
brasileiros.
Com a restauração
da democracia em 1985 e a aprovação da Constituição de 1988, o Brasil passou a
dispor de uma lei fundamental que garante à população, os direitos sociais
básicos, a educação pública e gratuita, os cuidados de saúde universais, a
assistência social e o sistema de pensões, de que é exemplo a criação do
Sistema Único de Saúde. O controlo da inflação nos anos 90, o crescimento das “
commodities” na década de 2000, num quadro macroeconómico externo favorável às
exportações, impulsionou o crescimento económico e a dinâmica do mercado de
trabalho. As políticas sociais implementadas pelos governos de Lula da Silva, impulsionaram
os rendimentos dos mais pobres e reduziram as desigualdades.
De acordo
com o último relatório do Banco Mundial publicado em 2016, "Poverty and Shared Prosperity 2016: Taking on Inequality" esses 2 fatores foram
responsáveis pela redução das desigualdades entre 2003 e 2013 em cerca de 80%,
41% pelos rendimentos do trabalho e 39% pelas políticas sociais.
Em termos
de mercado de trabalho, verificou-se uma diminuição entre a diferença salarial
entre trabalhadores qualificados e não qualificados, aumentando a oferta de
trabalhadores qualificados, graças à melhoria da escolaridade (4 em cada 10
trabalhadores em 2010 tinha 11 anos ou mais de escolaridade, o dobro da verificada
em meados dos anos 90) e o crescimento do mercado de trabalho em setores, como
a construção que absorveu muitos trabalhadores menos qualificados. Cresceu o emprego
formal e o salário mínimo sem provocar distorções do mercado de trabalho segundo o Banco
Mundial, permitindo a redução nas diferenças salariais, tendo em conta o sexo, a
raça e desigualdade espacial.
No âmbito
das políticas sociais, o governo promoveu o acesso: à energia elétrica (quase
universal até 2014), através do programa de eletrificação rural Luz para Todos,
que forneceu luz a 15.2 milhões de pessoas (iniciado em 2004); à rede de esgotos
(os 40% das famílias mais pobres passaram de 33% para 43% de cobertura); à
escolaridade primária (2014 perto de universal); ao Bolsa Família “Brazil’s
flagship conditional cash transfer (CCT) program”, responsável entre 2004 e
2014, por 10 a 15% da redução da pobreza, atingindo 56 milhões de pessoas e ainda a título de exemplo o Benefício de Prestação
Continuada, dirigido aos idosos e deficientes. De acordo
com relatório o Brasil tem ainda espaço para uma melhoria significativa do seu
sistema fiscal, permitindo melhorar a sua eficiência, a sua progressividade e o
seu sistema de transferências.
No entanto,
com a mudança na economia global, o fim do boom dos preços das "commodities", e
as mudanças políticas verificadas nos últimos anos, com a chegada ao poder
de forças conservadoras, no meio da instabilidade política criada com a
destituição da presidente Dilma Roussef, os ventos deixaram de ser favoráveis à continuação
da redução das desigualdades.
Assim não
foi preciso aguardar muito tempo para o que o Governo pelo Presidente Temer viesse
apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 241) com o objetivo de limitar
as despesas com saúde, educação, assistência social e previdência, nos próximos
20 anos (aqui). Esta proposta amplamente contestada pelas organizações de saúde, como
a ABRASCO, a Rede de Escolas de Saúde Pública do Brasil, a FIOCRUZ ou o Conselho Nacional de Saúde, a ser aprovada, é na opinião do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (aqui) um rude golpe para o SUS e para a política de combate às
desigualdades “… fica claro que a PEC 241 impactará negativamente o financiamentoe a garantia do direito à saúde no Brasil. Congelar o gasto em valores de 2016, por vinte anos, parte do pressuposto equivocado de que os recursos públicos para a saúde já estão em níveis adequados para a garantia do acesso aos bens e serviços de saúde, e que a melhoria dos serviços se resolveria a partir de ganhos de eficiência na aplicação dos recursos existentes. Ademais, o congelamento não garantirá sequer o mesmo grau de acesso e qualidade dos bens e serviços à população brasileira ao longo desse período, uma vez que a população aumentará e envelhecerá de forma acelerada. Assim, o número de idosos terá dobrado em vinte anos, o que ampliará a demanda e os custos do SUS. Caso seja aprovada, a PEC 241 tam pouco possibilitará a redução das desigualdades na ofertade bens e serviços de saúde no território nacional. Não só não haverá espaço no orçamento para tanto, como o teto das despesas primárias, em um contexto de aumento acelerado das despesas previdenciárias, levaria a um processo de disputa das diversas áreas do governo por recursos cada vez mais escassos. Como o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, a redução do gasto com saúde e dos gastos com políticas sociais de uma forma geral afetará os grupos sociais mais vulneráveis, contribuindo para o aumento das desigualdades sociais e para a não efetivação do direito à saúde no país.”
A COCA-COLA E A PEPSI DERAM MILHÕES DE DÓLARES A ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE AMERICANAS PARA MELHORAREM A IMAGEM DOS REFRIGERANTES E EVITAREM LEGISLAÇÃO DESFAVORÁVEL
De acordo
com a investigação publicada em 10 de Outubro no American Journal of Preventive Medicine, “Sponsorship of National Health Organizations by Two Major Soda
Companies” (aqui), a Coca-Cola e a PepsiCo gastaram milhões de dólares “Between 2011
and 2014, the Coca-Cola Company spent on average 4$6 million per year, PepsiCo
spent 4$3 million per year, and the American Beverage Association spent 4$1
million per year. All three expenditures spiked in 2009, when these groups
fought the 2009 federal soda tax; in that year, Coca-Cola spent $9.4 million, PepsiCo
spent $9.5 million, and the American Beverage Association spent $18.9 million” a
patrocinar um total de 96 organizações de saúde americanas com papéis importantes
quer na promoção de hábitos saudáveis quer na luta contra a obesidade ou a
diabetes, problemas de saúde potenciados pelo crescente aumento do consumo de
alimentos de alta densidade energética e de refrigerantes, “ From 2011 to 2015,
the Coca-Cola Company and PepsiCo were found to sponsor a total of 96 national health
organizations, including many medical and public health institutions whose
specific missions include fighting the obesity epidemic. During the study
period, these two soda companies lobbied against 29 public health bills
intended to reduce soda consumption or improve nutrition.”
De acordo
com o estudo os patrocínios tinham como objetivo melhorar a imagem das
companhias e dos seus produtos junto da população, usando o relacionamento com
as organizações de saúde para desenvolver ações positivas para as suas marcas e
neutralizar a sua potencial oposição a legislação que penalize ou restrinja as
bebidas com alto teor de frutose, como a redução do volume das bebidas
dispensadas ou a aplicação de “ sodas taxes” (aqui)invocando a reciprocidade
financeira por parte das organizações financiadas “Rather than supporting
public health, organizations may become unwitting partners that contribute to
corporate marketing strategy. Indeed,
sponsorship is considered as a marketing tool by both the Federal Trade
Commission and soda companies themselves”.
Das 96 organizações patrocinadas,
63 são organizações de saúde pública, 19 organizações médicas, sete fundações
de saúde, 5 organizações governamentais e duas organizações de ajuda alimentar,
da lista constam duas organizações ligadas à Diabetes, American Diabetes
Association e a Juvenile Diabetes Research Foundation, a Cruz Vermelha
Americana, importantes associações médicas como a American Medical Association
(AMA), a American Cancer Society, a American Academy of Pediatrics, o American
College of Cardiology ou a American Academy of Family Physicians e organizações
governamentais como o Centers for Disease Control (CDC) ou o National
Institutes of Health. Os autores dão como exemplo o comportamento da
organização Save The Children, organização que defendia a aplicação de “soda taxes”
que depois de receber um patrocínio de $5 milhões de dólares da Coca-Cola e da
PepsiCo, “ suddenly dropped this effort in 2010 after receiving more than $5 million
from the Coca-Cola Company and PepsiCo in 2009”.
O estudo
recomenda que as organizações de saúde rejeitem estes patrocínios e encontrem
fontes de financiamento alternativos, chamando a atenção para os conflitos de
interesse gerados e para os viés introduzidos a favor das corporações, “ Lessons
can be learned from the history of tobacco companies, which have long given
money to sympathetic organizations that deal with domestic abuse, hunger, and
minority advancement. Now, most
organizations refuse tobacco money. Perhaps soda companies should be treated
similarly. Leading the way in this
effort are the Academy of Nutrition and Dietetics, the American Academy of
Pediatrics, the American Academy of Family Physicians, and the American College
of Cardiology, all of which did not renew new contracts with Coca-Cola at the
end of 2015. Other organizations should consider following this lead and that
of the University of Colorado School of Medicine, which returned a $1 million
sponsorship in 2015”.
domingo, 9 de outubro de 2016
RISCO CARDIOVASCULAR - MAIS ALÉM DA ABORDAGEM INDIVIDUAL
Apesar da
“Carta europeia para a saúde do coração” reconhecer a doença cardiovascular
como “ uma condição multifatorial” e ser essencial “ que todos os determinantes
e fatores de risco sejam abordados tanto a nível social como a nível individual
”, a realidade tem demonstrado que grande parte da investigação epidemiológica
e das políticas públicas se têm concentrado nos fatores de risco a nível
individual, tanto comportamentais como biológicos, muitas vezes desligados dos
contextos sociais e ambientais, acabando por os valorizar e priorizar em
detrimento dos outros.
Esta
abordagem acaba por desembocar numa visão em que os fatores de risco
cardiovascular são uma questão de escolhas individuais ou um assunto dos
serviços de saúde, gerando um abordagem preventiva assente em duas estratégias
de abordagem individual: educação para a saúde e motivação das pessoas para
mudarem os seus hábitos individuais e a deteção precoce de fatores de risco e o
seu tratamento através dos serviços de saúde (campanhas para deteção e
tratamento da hipertensão arterial e do colesterol elevado.) (aqui)
No entanto,
é conhecida uma outra abordagem (aqui), desde a publicação de “Sick individuals and sick populations” de Geoffrey Rose nos anos 80, que destaca o fator
populacional e as diferenças na distribuição dos riscos dentro das populações e
entre elas, chamando a atenção para ação dos determinantes sociais sobre as
populações, “ a causa das causas”. Syme
no artigo “ The prevention of disease and promotion of health: the need for a new approach” publicado no European Journal of Public Health, chama a atenção
para a necessidade de uma abordagem populacional que tenha em conta as questões
sociais e ambientais “ The first problem is that after decades of epidemiologic
research, it has proven very difficult to identify disease risk factors...The
second problem is that even when we do identify disease risk factors, we have a
very difficult time in getting people to change their behavior. Many research
studies have shown that even when people know about risk factors for disease,
this often does not result in their changing behaviour to lower risk. Most behaviour
changes occur, in fact, in response to a variety of environmental and community
forces that constrain and modify behaviour...The third problem with our current
public health model, however, is the most challenging of all. Even if everyone
at risk did change their behaviour to lower their risk, new people would
continue to enter the at-risk population at an unaffected rate. This is because
we rarely identify and intervene on those forces in the community that cause
the problem in the first place. This is
a major issue for us in public health. If one of our goals is to prevent
disease and promote health, I do not think we can accomplish this mission by an
exclusive focus on individual diseases and risk factors.”
Vem tudo
isto a propósito do “esquecimento” sistemático dos determinantes sociais e
ambientais como fatores de risco cardiovascular e da contínua opção pelas
abordagens preventivas centradas no indivíduo em detrimento da abordagem
populacional e comunitária reveladas pelas autoridades de saúde (aqui) (aqui) e sociedades
científicas nacionais, de que são exemplos as ideias expressas em documentos da
Direção Geral de Saúde como “A Saúde dos Portugueses. Perspetiva 2015” (aqui)onde os
determinantes sociais são tratados de uma forma vaga, e sem qualquer sustentação
nacional «Os determinantes sociais constituem a principal abordagem de análise
de Saúde das populações. Pesquisas demonstraram a existência de um gradiente
social em função dos rendimentos familiares, isto é, relacionado com
desigualdades e iniquidades, em particular com as diferenças ocorridas entre
comunidades prósperas e pobres no que se refere, por exemplo, à esperança de
vida e outros indicadores (Marmot et Allen). Já em 1953, Arnaldo
Sampaio, num texto intitulado “A Saúde é Prosperidade”, afirmava “… A relação
entre pobreza e doença é flagrante (…) quanto mais pobre, mais doente, quanto
mais doente, mais pobre…” Outros determinantes sociais em interação com a
classe social são condicionantes do estado de Saúde das populações, como o
género, por exemplo.», ou na página “Eu Amo Viver” da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a
contrário da evidência publicada nos últimos anos e bem expressa por Ana Diez Roux no artigo seminal “ Residential Environments and Cardiovascular Risk” publicado em 2003 no Journal of Urban
Health: Bulletin of the New York Academy of Medicine, e nas suas vias de
relacionamento entre os “residential environments” e os fatores de risco
cardiovascular.
quarta-feira, 5 de outubro de 2016
OCDE - SOCIETY AT A GLANCE - 2016 " PORTUGAL REGISTOU A 2.º MAIOR DESCIDA NOS GASTOS COM SAÚDE ENTRE 2009- 2013
5 Outubro
2016 - A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) publica hoje a oitava edição do ”Society at a Glance – 2016”.
Este relatório dá uma visão geral dos 25 indicadores sociais recolhidos pela
OCDE, incluindo os dados dos 35 países membros da OCDE, e, quando disponíveis
dados para o Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia e África do Sul, e outros
dos países do G20.
Este ano o
relatório apresenta um capítulo especial sobre os NEEF, jovens que não estavam
a estudar nem a frequentar ações de formação, também conhecidos por NEM-NEM (nem
estudam, nem trabalham, cerca de 40 milhões em 2015. Destes, mais de dois
terços não estavam ativamente a procurar trabalho. A OCDE estima que o
rendimento bruto total que poderia ter sido criado pelos NEEF em 2014 se teria
cifrado entre USD 360‑605 mil
milhões de dólares americanos, ou 0,9‑1,5% do PIB
à escala da OCDE.
No que se
refere a Portugal, o ”Society at a Glance – 2016” sublinha o fato de Portugal
ter registado a 2. º maior descida nos gastos com a saúde entre 2009 – 2013 e a
3.ª maior descida nos gastos com a educação desde 2010, perante “High pressure
on public budgets has led to fiscal consolidation efforts over the last years”
durante o período de intervenção da Troika.(aqui)
À CONVERSA COM RICHARD WILKINSON - AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DAS DESIGUALDADES - LISBOA 2016
Richard Wilkison, Social Consequences Inequality, 2016
Lisbon, Be Well Global Health Conference, 01-10-2016terça-feira, 4 de outubro de 2016
DESIGUALDADE: O QUE PODE SER FEITO E PORQUÊ - AS PROPOSTAS DE ATKINSON
Para quem se
interessa pela “Desigualdade” as duas últimas semanas foram um pouco
inusitadas, uma vez que tivemos dois acontecimentos raros entre nós. A publicação
do estudo “DESIGUALDADE DO RENDIMENTO E POBREZA EM PORTUGAL: As consequências sociais do programa de ajustamento, 2009 - 2014” coordenado pelo Professor
Carlos Farinha Rodrigues, do ISEG da Universidade de Lisboa e colocado ao
dispor dos cidadãos e dos investigadores, no sítio da internet “Portugal Desigual” e a conferência do Professor Richard Wilkinson, no passado dia 1 de
Outubro em Lisboa, durante a “Be Well Global Health Conference”, organizada
pela MSD Portugal e pelo Jornal de negócios. (aqui)
Estando a
Desigualdade no centro do debate público mundial, lembrei-me das palavras do
professor Anthony Atkinson ao Toronto Star a propósito da publicação do seu livro
“ Desigualdade: O que fazer?” «Rising
income inequality has been described by President Barack Obama as the “defining
challenge of our time.” Pope Francis calls for governments to redistribute
wealth to the poor in a new spirit of generosity. Even IMF head Christine
Lagarde has said inequality threatens the stability of the world economic
system. But what world leaders have not said is what they would do about it. How is
equitable growth to be achieved?» (aqui), ou da citação de Richard Tawney, escrita há
mais de um século e referenciada no mesmo livro “ aquilo que os ricos ponderados chamam de problemas da
pobreza, os pobres ponderados chamam, com igual justiça, um problema de riqueza”.
Para quem
se interesse pela Desigualdade, vale a pena ler o livro de Anthony Atkinson publicado
Bertrand Editora em maio de 2016 “Desigualdade: O que fazer?” (aqui). Onde o autor tenta
responder a questões como: O que pode ser feito se pretendemos seriamente
reduzir a desigualdade de rendimentos? Como poderá a crescente perceção pública
ser traduzida em políticas e ações que realmente diminuam a desigualdade? Mas como comenta o Professor Michael Marmot na revista
Lancet “Atkinson does not simply wring his hands at growing inequalities of
income and wealth. He has solutions.” (aqui) Atkinson apresenta-nos 15
propostas de ação para a redução das dimensões da desigualdade que discute na
parte III do livro intitulada “ Será Exequível”: terminando com uma mensagem de
otimismo “ A conquista de uma sociedade menos desigual no período da Segunda
Guerra Mundial e nas décadas posteriores não foi completamente derrotada. A um
nível global, a grande divergência entre os países associados à Revolução
Industrial está a reduzir-se. É verdade que desde 1980 que vimos a assistir a
uma «Viragem da Desigualdade» e que o século XXI traz desafios em termos de
envelhecimento da população, alterações climatéricas e desequilíbrios globais.
Contudo, as soluções para esses problemas estão nas nossas mãos. Se estivermos
dispostos a usar a maior riqueza dos nossos dias para lidar com estes desafios,
e se aceitarmos que os recursos devem ser partilhados de uma forma menos
desigual, existem, realmente bases para otimismos.”
Subscrever:
Mensagens (Atom)