Na semana em
que mais de 2500 líderes mundiais, pertencentes às elites políticas e
empresariais se reúnem em Davos a Oxfam Internacional publica o seu relatório
anual, este ano intitulado “Premiar o Trabalho, Não a Riqueza” (aqui)onde revela entre
outros dados que 82% da riqueza mundial criada em 2017, 4 em cada 5 dólares,
foi parar aos bolsos do 1% mais rico da população mundial, enquanto, que 3.700
milhões de pessoas não obtiveram qualquer benefício do referido crescimento, ao
mesmo tempo que a riqueza dos milionários crescia 6 vezes mais que os salários
médios (entre 2006 e 2015 os salários aumentavam em média 2%, contra 12% da
riqueza dos milionários).
Este ano em
Davos, nos Alpes Suíços mais uma vez, algumas centenas de bilionários, capitães
de indústria, banqueiros, empregadores de milhões de trabalhadores, representando
vários bilhões de dólares abordarão como tópico, as desigualdades e da pobreza (aqui).
Tal como em
anos anteriores, durante as sessões oficiais, estarão de acordo com o que deve
ser feito: aumentar os impostos sobre o 1% dos mais ricos e as grandes
heranças, proporcionar salários dignos, reduzir a distância entre os
vencimentos dos Diretores Executivos (CEO) e os salários médios, despender mais
dinheiro na educação pública, tornar o acesso aos ativos financeiros mais
atraente para a classe média e trabalhadora, equiparar os impostos sobre o
capital e o trabalho, minorar a corrupção nos contratos governamentais e nas
privatizações. A pobreza e as desigualdades “não sairão das suas cabeças”.
Lamentarão
que nada tenha sido feito, que nunca se tenha encontrado o dinheiro suficiente,
ou o tempo, ou os intervenientes capazes dispostos a ajudar e a implementar as
políticas com que todos tinham concordado.
De passagem
e à margem da Cimeira, talvez de forma secreta, poderão trocar opiniões acerca
da maneira como poderão fugir aos impostos, como afastar os sindicatos das suas
empresas, como conseguir impostos entre 0 a 12% ou atrasar os pagamentos de
salários por vários meses e investir esses fundos em elevadas taxas de juros. Se
tiverem interesses em mercados emergentes, discutirão como economizar na proteção
do trabalho, como criar empresas-fantasmas nas Ilhas do Canal ou do Caribe ou
como comprar empresas privatizadas por tuta-e-meia.
Este regresso
ao passado, aos primórdios do século XIX e às suas relações laborais e fiscais,
é agora liderado por pessoas que falam a linguagem da igualdade, do respeito, da
participação e da transparência.
No tempo em que riqueza acumulada em 12 meses pela elite mundial aumentou mais de 762 nil milhões de dólares, o equivalente a acabar a pobreza extrema mundial por sete vezes, o filantrocapitalismo distribui de forma caritativa aquilo que não paga no comércio justo e aos trabalhadores.
Como referia
o editorial do Guardian de 21 de janeiro, (aqui)“É hora de reconhecer que a globalização
do comércio mundial abriu a porte a demagogos como o Sr. Trump”. A globalização
falhou quando colocou os interesses corporativos em primeiro lugar em vez de
entender os danos que causariam a competição por empregos baratos em países com
baixos padrões de direitos humanos, ambientais ou de trabalho (aqui). Agora que a
crise financeira e económica se atenuou, que os governos resgataram os grandes
negócios, torna-se claro que as regras que foram desenhadas para favorecerem os
mais ricos em detrimento das classes trabalhadoras (aqui). Na ausência de uma ação internacional
concertada sobre o dumping social, o populismo espalhar-se-á, ajudado pela
egoísmo das elites e pela sua capacidade de capturar o processo político.
Como
escreveu Branko Milanović (aqui), perito e investigador em desigualdades “Eles não
estão dispostos a pagar um salário digno, mas irão financiar uma orquestra
filarmónica. Eles vão proibir os sindicatos, mas organizarão um workshop sobre
transparência na governação”
Como se lê no editorial do Guardian “The political and
economic crisis requires the balance to be restored between the nation-state
and an open global economy. The rich need to drop the idea that they are a
class apart and take a broader interest in society. Otherwise, growing
inequality will see more people living in fear and fewer in hope. That would be
a disaster for democracy and see Trumpism become a permanent feature of the
political landscape.”