quarta-feira, 11 de julho de 2018

ADMINISTRAÇÃO TRUMP OPÕE-SE A RESOLUÇÃO DA OMS SOBRE ALEITAMENTO MATERNO. UM EXEMPLO DOS DETERMINANTES COMERCIAIS DA SAÚDE

No dia 8 de julho o jornal New York Times (NYT) (aqui) denunciava a posição tomada pela delegação norte americana durante a 71.ª Assembleia Mundial de Saúde, que decorreu em Genebra de 21 a 26 de maio, pelo facto de esta tentar manobrar para que da resolução WHA71.9 “Infant and young child feeding”(aqui) não constasse a frase que incitava os governos “ to protect, promote and support breast-feeding” e outra passagem que chamava as administrações de saúde a restringirem a promoção de produtos alimentares com efeitos negativos para as crianças e jovens.

De acordo com a investigação do New York Times, a delegação norte americana defendeu os interesses das grandes empresas de produtos alimentares norte-americanas dirigidas às crianças, em particular às que fabricam fórmulas para lactentes, recorrendo a ameaças sobre diversas delegações que participavam na discussão sobre o texto final da resolução, dando como exemplo a pressão realizada sobre a delegação do Equador, ameaçada de retaliações comerciais e da retirada da ajuda militar “The showdown over the issue was recounted by more than a dozen participants from several countries, many of whom requested anonymity because they feared retaliation from the United States.”

Patti Rundall diretora da organização governamental Baby Milk Action citada pelo NYT que participou nas reuniões mostrou-se “astonished, appalled and also saddened,” acrescentando que a delegação norte-americana chantageou outras delegações e rompeu com 40 anos de consenso sobre a melhor maneira de proteger saúde das crianças e dos jovens no campo da nutrição.A declaração acabou por ser aprovada depois da delegação russa ter avançado com a versão final que viria a ser aprovada.

Esta disputa em torno da aprovação da resolução WHA71.9 “Infant and young child feeding”, e a posição da administração Trump a favor dos interesses das empresas que produzem e comercializam substitutos do Leite Materno, é um bom exemplo daquilo que Kickbusch, Allen & Franz definiram como Determinantes Comerciais da Saúde (aqui), “estratégias e abordagens utilizadas pelo setor privado para promover produtos e escolhas que são prejudiciais à saúde”. Este conceito único abarca um nível micro “include consumer and health behaviour, individualisation, and choice” e um nível macro “the global risk society, the global consumer society, and the political economy of globalisation.”


Os acontecimentos agora denunciados, demonstram um exemplo claro de oposição entre os interesses privados e a saúde pública, confirmando o comportamento das empresas que produzem e comercializam substitutos do Leite Materno, denunciado por uma investigação conjunta do Guardian e da organização “Save the Children”(aqui) que no início de 2018 tinha descoberto o comportamento agressivo destas empresas em países de renda baixa, com o objetivo de contornar a recomendações internacionais, expressas na Declaração de Innocenti e no Código Internacional de Marketing de Substitutos do Leite Materno, com o objetivo de pressionar mães e profissionais de saúde a escolher fórmulas comerciais durante o período da amamentação. As medidas foram particularmente intensas nas regiões mais pobres do mundo, onde a maior parte do crescimento do negócio de leite infantil está agora concentrado.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

CUIDADOS DE SAÚDE DE BAIXA QUALIDADE AUMENTAM O PESO DA DOENÇA E OS CUSTOS COM OS CUIDADOS DE SAÚDE


A OCDE, a Organização Mundial de Saúde e o Banco Mundial publicaram dia 05 de julho, o relatório “Delivering Quality Health Services – a Global Imperative for Universal Health Coverage” onde se salienta que serviços de saúde de baixa de qualidade prejudicam a Saúde das populações e provocam perdas económicas e sociais avaliadas em trilhões de dólares americanos, em particular nos países de renda média e baixa.

De acordo com presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim. "O atendimento de baixa qualidade afeta desproporcionalmente os pobres, o que não é apenas moralmente repreensível, mas economicamente insustentável para as famílias e para países inteiros … a Saúde é a base do capital humano de um país, e nenhum país pode pagar cuidados de saúde inseguros e de baixa qualidade”.

Alguns aspetos chave do Relatório: (aqui)
  • ·  Healthcare workers in seven low and middle-income African countries were only able to make accurate diagnoses one third to three quarters of the time, and clinical guidelines for common conditions were followed less than 45 percent of the time on average.
  • ··         Research in eight high-mortality countries in the Caribbean and Africa found that effective, quality maternal and child health services are far less prevalent than suggested by just looking at access to services. For example, just 28 percent of antenatal care, 26 percent of family planning services and 21 percent of sick-child care across these countries qualified as 'effective'.
  • ·  Around 15 percent of hospital expenditure in high-income countries is due to mistakes in care or patients being infected while in hospitals.



quinta-feira, 5 de julho de 2018

5 JULHO 2018 - 70 ANOS DE SERVIÇO NACIONAL SAÚDE BRITÂNICO -#70NHS


Hoje 5 de julho de 2018, comemora-se o 70.º aniversário do nascimento do National Health Service, serviço nacional de saúde britânico.(aqui)

Fundado em 1948, depois da estrondosa vitória do parido trabalhista nas eleições de 1945 (aqui), o Serviço Nacional de Saúde britânico nasce sob a extraordinária liderança, determinação e capacidade negocial de Aneurin Beaven, conhecido popularmente como Nye Beaven, nascido no País de Gales, no seio de uma família de mineiros, conhecedor dos problemas da pobreza e de doença com que se debatiam as classes trabalhadoras do Reino Unido.

Nye Bevan teve de enfrentar a escassez de recursos humanos, a oposição do Partido Conservador, a resistência e oposição inicial da Associação Médica Britânica (BMA) e da maior parte da imprensa britânica para implementar o NHS em Julho de 1948. Apoiado num forte apoio popular consegue finalmente o apoio do Presidente da BMA e funda o NHS, aquilo que os Britânicos classificam " the most civilised thing in the world" um sistema de saúde para todos, universal, geral e gratuito.(aqui)




terça-feira, 3 de julho de 2018

DESIGUALDADES VISTAS DO AR - UNEQUAL SCENES


Unequal Scenes é um projeto do fotógrafo e cineasta John Miller, sediado na cidade do Cabo, África do Sul, que mostra imagens aéreas das desigualdades, obtidas através de fotografias realizadas a partir de um drone.
Durban - África do Sul - ©John Miller


USA - ©John Miller


La Malinche - México City - ©John Miller
As imagens vistas do céu são esmagadoras, não mostram as pessoas mas apenas as imagens das desigualdades em que seres humanos do mesmo país, da mesma cidade ou do mesmo território vivem.



segunda-feira, 2 de julho de 2018

1927 - 2018, JULIAN TUDOR HART - UM GIGANTE DA CLÍNICA GERAL E AUTOR DA LEI DOS CUIDADOS INVERSOS


Faleceu ontem dia 01 de julho, aos 91 anos, o médico inglês Julian Tudor Hart, um “gigante da clínica geral” nas palavras do Professor Graham Watt. (aqui)

Julian Tudor Hart nasceu em Londres em 1927, no seio de uma família de médicos com fortes preocupações sociais e antifascistas, um ‘red diaper child’ nas suas próprias palavras, uma vez que o pai Alexander Tudor-Hart era um membro ativo do Partido Comunista da Grã-Bretanha, voluntário nas Brigadas Internacionais de ajuda ao Governo Republicano durante a guerra civil espanhola e a mãe Alison Macbeth, uma médica ativista do Partido Trabalhista (Labour), crescendo numa casa que o próprio classificou como “our home among other things a transit camp for anti-Fascist refugees from Austria, Germany and Italy.” (aqui)

Ingressou na Universidade de Cambridge em 1947, licenciando-se em 1952, iniciando a sua atividade como médico júnior em vários Hospitais e em consultórios de medicina geral, trabalhou durante dois anos com Richard Doll e Archie Cochrane na área da epidemiologia, estabelecendo-se em 1961 na vila de Glyncorrwg uma pequena localidade mineira do Sul de Gales, onde trabalhou durante cerca de 30 anos.

Durante os 30 anos que dedicou à comunidade Glyncorrwg, Hart desenvolveu a sua atividade como um médico de clínica geral, suportado num forte conhecimento epidemiológico da comunidade, e em fortes preocupações comunitárias e sociais, e inovando em diversas áreas (foi o primeiro médico de medicina geral a controlar de uma forma sistemática a pressão arterial aos seu pacientes), provando que o seu foco nos determinantes sociais e nos estilos influenciaram significativamente a saúde de Glyncorrwg quando comparada com a população de Blaengwynfi, uma comunidade próxima onde a mortalidade era mais elevada. (aqui)(aqui)

Em 1971 publica na revista Lancet o seu artigo mais conhecido “The Inverse Care Law” (aqui) onde descreve a relação perversa entre a necessidade de cuidados de saúde e a sua utilização real, explicitando por outras palavras que os que mais precisam de cuidados de saúde são os menos propensos a recebê-los, enquanto aqueles que têm menos necessidades de cuidados de saúde tendem a usar mais os serviços de saúde (e de forma mais eficaz), “ The availability of good medical care tends to vary inversely with the need for the population served. This inverse care law operates more completely where medical care is most exposed to market forces, and less so where such exposure is reduced.  The market distribution of medical care is a primitive and historically outdated social form, and any return to it would further exaggerate the maldistribution of medical resources.”

Julien Tudor Hart deixou-nos na semana em que se comemora o 70.º aniversário da criação do serviço nacional de saúde britânico, o #70NHS.