No dia 8 de
julho o jornal New York Times (NYT) (aqui) denunciava a posição tomada pela delegação norte
americana durante a 71.ª Assembleia Mundial de Saúde, que decorreu em Genebra de
21 a 26 de maio, pelo facto de esta tentar manobrar para que da resolução WHA71.9
“Infant and young child feeding”(aqui) não constasse a frase que incitava os governos
“ to protect, promote and support breast-feeding” e outra passagem que chamava
as administrações de saúde a restringirem a promoção de produtos alimentares
com efeitos negativos para as crianças e jovens.
De acordo
com a investigação do New York Times, a delegação norte americana defendeu os
interesses das grandes empresas de produtos alimentares norte-americanas
dirigidas às crianças, em particular às que fabricam fórmulas para lactentes,
recorrendo a ameaças sobre diversas delegações que participavam na discussão
sobre o texto final da resolução, dando como exemplo a pressão realizada sobre
a delegação do Equador, ameaçada de retaliações comerciais e da retirada da
ajuda militar “The showdown over the issue was recounted by more than a dozen
participants from several countries, many of whom requested anonymity because
they feared retaliation from the United States.”
Patti
Rundall diretora da organização governamental Baby Milk Action citada pelo NYT que participou
nas reuniões mostrou-se “astonished, appalled and also saddened,” acrescentando
que a delegação norte-americana chantageou outras delegações e rompeu com 40 anos
de consenso sobre a melhor maneira de proteger saúde das crianças e dos jovens
no campo da nutrição.A
declaração acabou por ser aprovada depois da delegação russa ter avançado com a
versão final que viria a ser aprovada.
Esta
disputa em torno da aprovação da resolução WHA71.9 “Infant and young child
feeding”, e a posição da administração Trump a favor dos interesses das empresas
que produzem e comercializam substitutos do Leite Materno, é um bom exemplo daquilo
que Kickbusch, Allen & Franz definiram como Determinantes Comerciais da
Saúde (aqui), “estratégias e abordagens utilizadas pelo setor privado para promover
produtos e escolhas que são prejudiciais à saúde”. Este conceito único abarca um nível micro “include consumer and health
behaviour, individualisation, and choice” e um nível macro “the global risk
society, the global consumer society, and the political economy of
globalisation.”
Os
acontecimentos agora denunciados, demonstram um exemplo claro de oposição entre
os interesses privados e a saúde pública, confirmando o comportamento das empresas
que produzem e comercializam substitutos do Leite Materno, denunciado por uma investigação
conjunta do Guardian e da organização “Save the Children”(aqui) que no início de 2018
tinha descoberto o comportamento agressivo destas empresas em países de renda
baixa, com o objetivo de contornar a recomendações internacionais, expressas na
Declaração de Innocenti e no Código Internacional de Marketing de Substitutos do Leite Materno, com o objetivo de pressionar mães e profissionais
de saúde a escolher fórmulas comerciais durante o período da amamentação. As
medidas foram particularmente intensas nas regiões mais pobres do mundo, onde a
maior parte do crescimento do negócio de leite infantil está agora concentrado.