Um
estudo publicado na revista “Jama Psychiatry” do passado dia 29
de
maio, conduzido por investigadores da Escola Médica Perelman de Filadélfia, Universidade da Pensilvânia e do Children's Hospital of Philadelphia,
mostrou que crescer
na pobreza e ser vítima de acontecimentos traumáticos stressantes como
acidentes graves, homicídios, violência doméstica ou agressões
sexuais afeta o desenvolvimento cerebral e o comportamento das
crianças e jovens.
Na
investigação que deu origem à publicação “ Burden of Environmental Adversity Associated With Psychopathology, Maturation, and Brain Behavior Parameters in Youths” os autores
procuraram perceber até que ponto é que a psicopatologia,
a neurocognição e os parâmetros cerebrais dos
jovens eram afetadas quando estes cresciam mum ambiente adverso que
incluí-se o baixo
nível socioeconómico e situações que provocassem stress traumático
com a psicopatologia, neurocognição e parâmetros cerebrais, para
esse fim usaram uma coorte denominada Philadelphia
Neurodevelopmental Cohort, composta por
9.498 crianças e jovens entre os 8 e 21 anos recrutados no
Children's Hospital of Philadelphia.
Os
resultados revelaram que a pobreza estava associada a um pequeno
aumento da gravidade dos sintomas psiquiátricos, incluindo o
humor/ansiedade, as fobias, os transtornos de conduta, as perturbações
de oposição e desafio, os transtornos de défice de atenção com
hiperatividade e as psicoses em comparação com as crianças e
jovens que não viviam em pobreza. No caso dos eventos traumáticos
stressantes a magnitude dos sintomas psiquiátricos foram
inesperadamente grandes para os investigadores, estando a associados a
transtornos de stres pós-traumático, realçando os autores que a
presença de 1 ou 2 eventos traumáticos eram suficientes para o
aumento da gravidade dos sintomas psiquiátricos avaliados, em
particular no caso do humor/ansiedade e das psicoses.
No
caso do funcionamento neurocognitivo, verificou-se que a pobreza
estava associada a défices cognitivos moderados a severos,
especialmente nas funções executivas (abstracção, flexibilidade
mental, atenção e memória operativa) e no raciocínio complexo,
enquanto que para os eventos traumáticos foram encontrados défices
ligeiros na cognição complexa, mas demonstrando um desempenho de
memória ligeiramente melhor.
L´IMMIGRATION PORTUGAISE |
Tanto
a pobreza como os eventos traumáticos foram associados a alterações
da normalidade na anatomia, fisiologia e conectividade do cérebro.
As associações com a pobreza foram generalizadas, enquanto que
eventos traumáticos foram associadas a diferenças mais centradas
nas regiões límbica e fronto-parietal do cérebro, que processam
emoções, memória, funções executivas e raciocínio complexo.
Finalmente,
o estudo encontrou evidências de que o crescimento num ambiente
adverso caracterizado pela pobreza e pelos eventos traumáticos
stressantes está associado a um início precoce da puberdade e a uma
maturidade física precoce.
Os
investigadores verificaram, ainda, que as crianças que tinham
sofrido mais eventos traumáticos stressantes tinham características
de cérebros adultos, a afetar o seu desenvolvimento, uma vez que a
estratificação cuidadosa da conectividade estrutural e funcional do
cérebro exige tempo, e a maturidade precoce pode impedir o
aprimoramento necessário das suas aptidões.