quarta-feira, 29 de junho de 2016

BREXIT, O VOTO DOS MAIS VELHOS E DOS POBRES - THATCHER E AS INIQUIDADES EM SAÚDE

Nos últimos dias a opinião pública e a imprensa europeias deram mostras de terem sido surpreendidas pelo voto de 52% dos britânicos a favor da saída do Reino Unido da União Europeia, apontando-se entre outras razões para esse resultado: o voto dos mais velhos e dos mais pobres, as questões da imigração, da crise dos refugiados, da identidade cultural e do retomar do controlo da soberania contra uma integração política que os britânicos nunca tinham votado. (aqui)(aqui) (aqui)



Talvez valha a pena então recordar algumas das possíveis razões para que os mais velhos e os mais pobres tivesse votado pelo “Leave” relembrando ou dando a conhecer algumas das consequências sociais das profundas transformações que o Reino Unido sofreu nos últimos 35 anos, com a chegada de Margaret Thatcher ao poder. 

Margaret Thatcher (1925-2013) primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990, conjuntamente com Ronald Reagan, desempenhou um papel crucial na promoção da agenda neoliberal a nível internacional. Rompendo com o consenso keynesiano do pós-guerra, em torno do “ social wage”, do pleno emprego, do tamanho e do papel do sector público, das grandes empresas públicas como a British Steel, a British Rail, e a British Airways, Thatcher, responsabiliza o Estado de Bem Estar, os salários altos, a falta de produtividade e o poder dos sindicatos pela crise económica e financeira dos anos 70, critica o seu ex-primeiro-ministro Edward Heath (1970-1974) de quem tinha sido secretária de estado educação pelo chamado U-turn, isto é por ter voltado atrás nas medidas que tinha implementado e que levaram ao maior crescimento no desemprego desde 1947 (1 milhão de desempregados).

Em Outubro de 1980 em Brighton no seu discurso “the lady's not for turning" na Conferência do Partido Conservador, lança as bases do seu programa que podemos resumir aqui:
  •  deregulation of the labor and financial markets (including the “Big Bang” deregulation of the City of London in 1986);
  • privatization and marketization of the main utilities (water, gas, and electricity) and state enterprises ( British Steel, British Rail, and British Airways); 
  • promotion of home ownership (including the widespread sale of public housing stock under the “right to buy” scheme); 
  • curtailing of workers’ and trade union rights
  •  obligatory membership ballots before any industrial action
  • restrictions on the right to picket, including a ban on secondary picketing; and removal of trade union immunity from damages;
  •  promotion of free-market ideology in all areas of public life (including health care and the civil service);
  •  significant cuts to the social wage via welfare state retrenchment ( a 7% reduction in state expenditure on social assistance between 1979–1989; removal of 16- to 18-year-olds from entitlement; reductions in state pensions; abolition of inflation-link for welfare benefits);
  •  acceptance of mass unemployment as a price worth paying for the above policies;
  • large tax cuts for the business sector and the most affluent (during Thatcher’s premiership, the rate of income tax for the top tax bracket was reduced from 83% to 40%)
Nos anos seguintes, a desregulação financeira, a liberalização do comércio e a privatização de bens e serviços públicos, provocaram na sociedade britânica grandes mudanças.

Chamamos aqui a atenção para duas delas, talvez as mais relevantes, a desindustrialização e a privatização das casas municipais.

Com a desindustrialização, justificada pela reorganização industrial, levando à privatização das grandes empresas públicas e ao encerramento daquelas que não eram viáveis “lame ducks”, milhares de trabalhadores perderam o emprego, perdendo a esperança de voltar novamente ao mercado de trabalho, passando a ser considerados como doentes ( situação denunciada pela própria BMA) “ The consequences of deindustrialisation hit huge swaths of the UK, particularly Wales and northern England, hard. Unemployment soared from 5.3% in 1979 … to peak at 11.9% in 1984. In 1990, the year of Thatcher's departure, it stood slightly higher than when her era began, at 6.9%. In 1981, 772,000 people classed themselves as being out of the labour force because they were "permanently sick". A decade later, this figure had risen to 1.6 million. In numerous towns across the country, the increases were markedly higher – with those signed off sick tripling or even quadrupling in a decade. Twenty years later, in the 2011 census, the figure remained largely unchanged, despite the UK's growing population: 1.7 million people were classed as long-term sick or disabled.” (aqui)
Fonte: Guardian
Com a privatização das casas municipais, (esta foi uma das mais emblemáticas medidas do thatcherismo, transformar os inquilinos das casas municipais em proprietários, fazer com que os britânicos tivessem casa própria) milhares de pessoas passaram a ter a sua própria casa, criando  um florescente mercado da habitação, que levou a que a população mais favorecida viesse a beneficiar  com a especulação imobiliária ao mesmo tempo que a população mais desfavorecida acabou por perder as suas casas, por não conseguir pagar as suas hipotecas, ou por ter de vende-las para não terminar na miséria extrema na falta de emprego e apoios sociais “ In England alone, more than 970,000 local authority-owned houses were sold through the scheme during Thatcher's premiership, more than have been sold in the two decades since. Such changes clearly came with a cost, and one of the most direct costs was the gradual decrease in the amount of social housing – and the resultant long waits on housing lists today – from a country with a growing population and atomising households (the number of people per household in the UK is slowly but steadily falling, as more of us live alone).
In 1981, England and Wales had 5.4m households in social housing. By 1991, this had dropped by 900,000 to 4.5m. In the post-Thatcher years, this gradual drop-off has endured, with 4.1m households living in social housing at the last census. That was only the most direct effect. In addition, many of the first people to buy their council homes through right to buy almost immediately started to struggle with their mortgages.” (aqui)
Fonte: Guardian
Ancorando-nos nestes dois exemplos e nas conclusões de um estudo recentemente publicado no International Journal of Health Services “THE IMPACT OF THATCHERISM ON HEALTH AND WELL-BEING IN BRITAIN” onde os autores confirmam o aumento das iniquidades em saúde durante o período do thatcherismo.

 “… the combination of policies implemented under Thatcher led to a rapid rise in unemployment rates. Since 1980, the number of unemployment claimants rose from approximately 1 million to 3 million in 1983; a further peak was seen in the early 1990s. Meanwhile, there was a steady rise in the number of claimants of long-term sickness (disability) benefits. The rise in the number of disability benefit claimants has been attributed to a government desire to move people off the unemployment register and to the lack of jobs in the economy. Figure 3 also shows that the 1980s saw a rapid increase in income inequalities and poverty rates. By the 1990s and 2000s, these new high levels became normalized. The rises in cause-specific mortalities such as alcohol- and drug-related deaths, suicide, and violence, and the widening health inequalities, occurred during the same time period in which unemployment, poverty, and income inequality all rose …  Given what we know about the impact of Thatcher’s neoliberal reforms on the social and economic landscape of Britain, it seems clear that Thatcher’s legacy includes the unnecessary and unjust premature death of many British citizens, together with a substantial and continuing burden of suffering and loss of well-being.

Talvez agora se perceba porque é que para alguns o “ Brexit was no surprise



domingo, 26 de junho de 2016

SALVADOR ALLENDE - UM MÉDICO À FRENTE DO SEU TEMPO

Passam hoje 108 anos sobre o nascimento de Salvador Allende Gossens (26 de Junho de 1908), figura maior do século XX, Presidente do Chile de 4 de Setembro de 1970 até ao dia da sua morte no dia 11 de Setembro de 1973, durante a ocorrência de um golpe de estado liderado pelo general Pinochet (aqui).

Revista "Cuadernos Médico Sociales"
Recordado pelo mundo inteiro, em dezenas de monumentos, praças, scolas, hospitais, ruas e avenidas, de oeiras a ramalá, de montreal a sidney, de paris a havana, Salvador Allende é mais conhecido como político do que como médico, sanitarista, pioneiro da medicina social e da saúde pública.

Em 1926, com a idade de 18 anos, ingressa na Escola de Medicina da Univeridade do Chile, desenvolve atividades de carácter político e associativo, tornando-se presidente do centro de alunos e vicepresidente da Federação de Estudantes. Suspenso dos estudos e da actividade política e associativa em 1931, termina o curso de medicina em 1933. Durante a sua estadia na universidade desempenha atividades docentes, quer como monitor de anatomia patológica quer como professor das Escolas Noturnas para Operários.

Influenciado por Max Westenhofer, patologista alemão discípulo de Rudolf Virchow´s, que durante anos dirigiu o departamento de patologia da escola médica da universidade do Chile, incentivando os seus alunos a conhecerem a visão de Virchow acerca das determinantes sociais das doenças, Salvador Allende, nomeado ministro da “ Salubridad, Previsión y Asistencia Social” do governo de Frente Popular (1939 - 1942) (aqui) publica em 1939 o livro “ Realidad médico-social chilena “. (aqui)

Neste trabalho descreve as condições de saúde do povo chileno, identifica os principais problemas de saúde: mortalidade materna e infantil, a tuberculose, as doenças venéreas e outras doenças transmissíveis, o alcoolismo, os distúrbios emocionais e as doenças profissionias.
Conclui que as taxas de mortalidade materna e infantil eram muito mais elevadas que nos países desenvolvidos, que o aborto ilegal (em particular entre as classes trabalhadoras), a desnutrição e a falta de saneamento são as principais explicações para este excesso de mortalidade. Designa a tuberculose como “doença social”, analisa os problemas sociais e psicológicos que motivam as pessoas a usarem drogas que causam dependência, dando especial atenção ao alcoolismo. Propõe um conjunto de reformas que vão muito além da intervenção médica ou dos cuidados de saúde e que se centram na melhoria das condições sócioeconómicas, através daquilo que chamou como abordagem “ médico-social”, sugerindo modificações nos salários, melhorias na habitação e no acesso à habitação, um plano para melhorar a rede de refrigeração, e a oferta de leite e peixe. Sugere a reorganização do Ministério da Saúde, o controlo da produção e dos preços dos medicamentos, o planeamento em saúde, políticas de saúde e segurança no trabalho, medidas de apoio à medicina preventiva e programas sanitários.

Ao longo dos anos seguintes, e a par de uma forte e intensa atividade política enquanto Senador da República, (1945 – 1970) dirigente do Partido Socialista chileno, candidato derrotado à Presidência da República em 1952, 1958 e 1964, assume-se como o político médico mais influente, dirigindo o Colégio Médico do Chile de 1949 a 1963 e contribuindo ao longo desses anos para a expansão da saúde pública e para o lançamento do serviço nacional de saúde (1952). Anima apoia e ajuda a fundar a Revista “ Cuadernos Médicos Sociales “ em 1959, pelo Colégio dos Médicos do Chile, que ainda hoje se publica como Revista de Saúde Pública do Colégio dos Médicos do Chile (aqui).

Considerado por muitos, como um idealista e um romântico, encarnando a esperança de uma sociedade mais justa, foi eleito Presidente da República em 1970 com um programa de transformações do capitalismo em socialismo, num processo que vai ficar conhecido como a "a via chilena para o socialismo".

Citando o Professor Howard Waitzkin da Universidade do Novo México “ Many years later, the insight that the social origins of illness demand social solutions is not particularly surprising. Like Engels and Virchow before him, Allende saw major origins of illness in the structure of society. This vision implied that medical intervention without political activism would remain ineffectual and, in a deep sense, misguided.” (aqui)





sábado, 25 de junho de 2016

QUEM DEVE FINANCIAR A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

Num artigo hoje publicado na revista Lancet, intitulado “Who should finance WHO's work on emergencies?” os autores discutem as fontes de financiamento necessárias para a operacionalização do programa para emergências e epidemias de saúde, através do Fundo de Contingência para acompanhamento de Emergências aprovado em maio de 2015 durante a 68ª Assembleia Mundial da Saúde, calculando que as necessidades iniciais para o referido programa serão de 100 milhões de dólares para o capital inicial e cerca 300 milhões por ano para o seu funcionamento.
No artigo os autores discutem a necessidade de clarificar as fontes de financiamento, tendo em conta que 75% do orçamento da Organização Mundial de Saúde provém de contribuições voluntárias e apenas 25% das contribuições dos estados-membros.
Esta distribuição das fontes de financiamento contraria o imaginário coletivo de que as organizações internacionais como a OMS são financiadas pelos governos dos estados membros que a constituem, e põe em causa a conotação de neutralidade das suas decisões em busca do bem comum.
Num artigo recente publicado no blog Crítico (iniciativa de: Medicusmundi Catalunya, - Farmacèutics Mundi, Quepo e Greds-Emconet) (aqui) os autores fazem eco da preocupação manifestada por peritos internacionais acerca da “privatização da OMS” (aqui)e do peso crescente dos doadores privados, principalmente fundações e empresas farmacêuticas questionando a forma como são determinadas as prioridades da organização em particular no que respeita a vacinas e medicamentos, bem como o papel crescente da Organização Mundial do Comércio na regulação das patentes e no comércio de medicamentos.

Bill & Melinda Gates Foundation
375,5 milhões de dólares
GAVI – Vaccine Alliance
138,8 milhões de dólares
Club Rotary Internacional
66 milhões de dólares
Unitaid
33,5 milhões de dólares
African Development Bank
33 milhões de dólares
National Philanthropic Trust
22,7 milhões de dólares
GlaxoSmithKline
18 milhões de dólares
Centre Carter
13,2 milhões de dólares
The Task Force for Global Health (Pfizer,  Merck, GSK rBill & Melinda Gates Foundation)
11,6 milhões de dólares
Merck
10,7 milhões de dólares
 Fonte: Desmuntant la neutralitat de l’Organització Mundial de la Salut



Fica a pergunta até que ponto o atual modelo de financiamento da OMS permite que esta trabalhe para o bem comum.

terça-feira, 21 de junho de 2016

SABE O QUE É UM "PICKER", JÁ OUVIU FALAR DE RAMAZZINI - O TRABALHO COMO DETERMINANTE DE SAÚDE

Já alguma vez ouviu falar de Ramazzini e de “picking”. Sabe o que é um “picker” (em português “operador de picking”).

Pense num grande armazém do tamanho de 11 a 14 campos de futebol (7140 m2), daqueles a quem pode encomendar produtos online, imagine que está “armado” de uma pinça telescópica para agarrar objetos e de um scanner portátil, o scanner dá-lhe a indicação exata do que tem que pegar, do corredor e da prateleira onde está, coloca o objeto num carrinho, a prateleira certa pode estar ao virar da esquina ou a 100 metros de distância, você vai da linha A para pegar o item X e em seguida vai da linha P para pegar o item C, é esperado que pegue 100 a 110 item por hora, dois por minuto, ao longo de 9 a 10 horas de trabalho (pagas a 10/12 dólares/hora), ande cerca de 19 km até encher um carro de 250 Kg e levá-lo até ao setor onde os item são etiquetados e embalados, e continuar. Trabalha isoladamente e o seu tempo de intervalo de trabalho mal dá para chegar à cantina onde ingere uma refeição rápida. Os scanner´s portáteis para além do enviarem para o item seguinte, também permitem que os seus gestores controlem com precisão o tempo que leva a cumprir uma ordem, pode ser avisado se não mantiver o ritmo, este atraso pode valer-lhe uma penalidade, que também lhe pode ser aplicada por se ter enganado a pegar o item ou por se ter atrasado uns minutos na mudança de uma linha, causando uma redução na sua remuneração ou até ao seu despedimento. (aqui) (aqui) (aqui)

O seu trabalho pouco difere do “vagabundo”, personagem dos Tempos Modernos de Chaplin, tentando sobreviver num mundo industrializado. 

Ramazzini and worker´s health - Lancet
E Ramazzini diz-lhe alguma coisa? Bernardino Ramazzini nasceu em Carpi, uma pequena comuna perto de Modena no século XVII (1633), licenciou-se em medicina viveu uma longa vida de 81 anos, começando a ensinar Teoria da Medicina na Universidade de Modena aos 49 anos. Durante 20 dedicou o seu trabalho às doenças dos trabalhadores, investigou, visitou os locais de trabalho, observou as atividades dos trabalhadores e discutiu com eles as suas doenças e publicou a sua investigação na obra “ De Morbis Artificum Diatriba” em 1700. (aqui)

Descreveu mais de 50 profissões, acrescentando à abordagem recomendada por Hipócrates, (perguntar à cerca do tipo de dor ou de doença, da causa ou da duração) a natureza da ocupação profissional. A sua abordagem não se limitou a estabelecer uma relação entre as condições de trabalho e os riscos e as doenças profissionais, uma vez que pugnou por providenciar cuidados e estabelecer medidas preventivas, a sua análise inovadora estabelecendo as relações entre as atividades laborais e as doenças profissionais, aproxima-o da saúde ocupacional moderna que também se concentra na prevenção de riscos e na proteção pessoal, aborda as questões ambientais e sociais, e promove a saúde e segurança como um componente integral da saúde pública.


Ramazzini chamou a atenção para os perigos físicos e químicos, que hoje ainda prevalecem em muitas partes do mundo, na agricultura, nas minas, nas fábricas e na construção, mas não podia prever que na era pós-industrial, as situações mais preocupantes sejam as desigualdades no poder no local de trabalho e as condições psicossociais de um trabalho como “operador de picking”.

Às pesadas exigências físicas do trabalho de “operador de picking”, somam-se a falta de controlo sobre o seu próprio trabalho, um esforço elevado para uma fraca remuneração, o isolamento social no trabalho, a precaridade, o trabalho por turnos e a injustiça organizacional, criando condições para piorar a saúde. O trabalho ajuda a definir o nosso estatuto social e a nossa identidade, o que pensamos que somos e o que a sociedade acha que somos, o trabalho é um lugar de desenvolvimento de relações sociais, pode proporcionar oportunidades de autorrealização e de crescimento pessoal. (aqui)

O trabalho como agora o descrevemos é gerador de de doença e desigualdades, mas não acontece por acaso. Foi planeado e requere certas condições sociais, baixa sindicalização, falta de alternativas de emprego, um foco contínuo na margem de lucro, e a tolerância ou mesmo a promoção por parte da sociedade por este tipo de emprego. (aqui)

Se o trabalho e o emprego podem ser causas de problemas de saúde, temos de olhar para a causa das causas.



sexta-feira, 17 de junho de 2016

BRASIL - GOVERNO TEMER ANUNCIA CORTES PARA A SAÚDE E ATACA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O governo do Presidente interino do Brasil, Temer, resultante do afastamento temporário da Presidente Dilma Rousseff após o Senado brasileiro ter iniciado o processo de julgamento da Presidente, com o fim de decidir se há ou não razões para o seu “impeachment”, ficou envolto em polémica desde o seu início, quer por ser um governo de “homens brancos” citados em “processos por corrupção” quer pela contestação à forma como a Câmara de Deputados aprovou o processo de destituição do presidente, naquilo que é conhecido como um “golpe parlamentar” ou ainda pelas sucessivas demissões de ministros acabados de nomear.(aqui) (aqui) (aqui)(aqui)

Mas no que se refere à Saúde as notícias do lado de lá (Brasil) são preocupantes, uma vez que as propostas do presidente Temer e do ministro das finanças Henrique Meirelles, anunciadas pelo ministro Ricardo Barros prevêem cortes para a saúde e para o Sistema Único de Saúde, ‘Não contem com mais dinheiro’ o ‘tamanho do SUS precisa ser revisto’ disse o novo ministro da Saúde. (aqui)(aqui)

De acordo com a denúncia de entidades ligadas à saúde (Associação Nacional do Ministério Público de Contas, o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de Contas, a Associação Brasileira de Economia da Saúde, Associação Nacional do Ministério Público em Defesa da Saúde e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva) o Sistema Único de Saúde (SUS) perderá R$ 80 bilhões com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) proposta pelo governo de Temer. (aqui)


Aqui fica a posição do recém-eleito Presidente do Conselho Nacional de Saúde do Sistema Único de Saúde do Brasil “O Conselho Nacional de Saúde (CNS) instância máxima de deliberação do Sistema Único de Saúde – SUS - de carácter permanente e deliberativo, que tem como missão a deliberação, fiscalização, acompanhamento e monitoramento das políticas públicas de saúde.” Ronald Ferreira dos Santos. (aqui)

" Na condição de presidente do Conselho Nacional de Saúde, e de coordenador nacional do Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública (SAÚDE+10), tenho a obrigação de reafirmar o posicionamento de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras que atuam no controle social dos SUS: O povo brasileiro precisa, tem o Direito de MAIS SAÚDE!

A democracia participativa, através dos conselhos de saúde, é parte das conquistas que integram o SUS, sistema que os movimentos populares e da reforma sanitária escreveram na Constituição de 1988, um Sistema Único, de acesso universal, de atenção integral e público, um sistema que retirou milhões de brasileiros da indigência e lhes trouxe cidadania.

Entre as políticas sociais, a de Saúde foi fortemente restringida pelo processo de subfinanciamento crônico do SUS, desde os anos 90. Foram muitas as batalhas em que participaram o Conselho Nacional de Saúde, o CONASEMS (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), o CONASS (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde), os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, entidades da sociedade civil e movimentos populares para aumentar e garantir fontes estáveis de financiamento, entre as quais, destacamos a aprovação da Emenda Constitucional nº 29/2000 e da Lei Complementar nº 141/2012, bem como o projeto de lei de iniciativa popular (PLP 321/2013) que reuniu mais de 2,2 milhões de assinaturas a favor da alocação de 10% das receitas brutas da União para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde.

Agora, lutamos pela aprovação da PEC 01/2015 para aumentar os recursos do SUS até atingir 19,4% da receita corrente líquida a partir do sétimo ano da aprovação, já votada em primeiro turno na Câmara dos Deputados mediante acordo entre governo e oposição. Lutamos contra a PEC 143/2015, votada em primeiro turno no Senado Federal, porque se aprovada ela poderá retirar, segundo estimativas de especialistas, de R$ 40 bilhões a R$ 80 bilhões de recursos do SUS, provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Lutamos, também, contra a PEC 451, de iniciativa do Deputado Eduardo Cunha, cujo objetivo é acabar com o SUS público e universal em benefício dos Planos de Saúde Privados." 



quarta-feira, 15 de junho de 2016

2016 - RELATÓRIO DA PRIMAVERA - OPSS - DESIGUALDADES, INIQUIDADES EM SAÚDE

No dia 14 de Junho, o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) (parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública, o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, a Universidade de Évora e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa) apresentou o Relatório de Primavera 2016, intitulado “ Saúde: Procuram-se novos caminhos”. Partindo dos efeitos da crise financeira, económica e social de 2008 mundial a que seguiu a crise das dívidas públicas soberanas e um conjunto de políticas austeritárias desenvolvidas nos países europeus para a combater, originando cortes nas despesas públicas sociais e de saúde, bem como a discussão da sustentabilidade dos sistemas de saúde, o Relatório desenvolve-se em seis capítulos: CRISE NA SAÚDE: seis anos de análise e de propostas; DESIGUALDADES SOCIAIS EM SAÚDE: evidência recente para Portugal; A VULNERABILIDADE EM SAÚDE MENTAL; A PARTICIPAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES NAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA DO DOENTE; UMA VEZ MAIS, O ACESSO AO MEDICAMENTO e o OS CUIDADOS PALIATIVOS EM PORTUGAL. (aqui)

Salientamos pela sua importância o capítulo sobre “DESIGUALDADES SOCIAIS EM SAÚDE” quer pela sua relevância mediática (aqui) (aqui) quer pela sua relevância para as políticas públicas dando a conhecer as suas principais conclusões e aproveitando para aclarar alguns conceitos:
  • O que são desigualdades e o que são iniquidades? (aqui)


  • O conceito dos determinantes de desigualdades sociais em saúde? (aqui)(aqui)


terça-feira, 14 de junho de 2016

2001 - 2014. NOS ESTADOS UNIDOS, OS MAIS RICOS VIVEM MAIS 15 ANOS QUE OS MAIS POBRES

Num estudo rentemente publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) liderado por Raj Chetty, economista do Department of Economics da Standford University, " The Association Between Income and Life Expectancy in the United States, 2001-2014os autores concluem que as desigualdades em saúde medidas pela relação entre a esperança de vida e o rendimento aumentaram nos Estados Unidos.


No período estudado a esperança de vida aumentou continuamente à medida que aumenta o rendimento. Aos 40 anos, a diferença na esperança de vida entre os indivíduos mais ricos (1% mais rico) e os mais pobres (1% mais pobres) nos Estados Unidos é de 15 anos para homens e 10 anos para as mulheres. De acordo com os dados publicados os homens com rendimentos anuais de cerca de 228.000 dólares americanos têm boas hipóteses de viver até aos 89 anos, enquanto, que os homens com um rendimento anual de cerca de 6.551 dólares americanos ficar-se-ão pelos 74 anos de vida.

O estudo revelou ainda um aumento entre 2001 e 2014 da diferença na esperança de vida entre a população mais desfavorecida (5% mais pobres) e a população mais favorecida (5% mais ricos), uma vez que a esperança de vida aumentou cerca de 3 anos entre os 5% mais ricos (homens e mulheres), mantendo-se entre os 5% mais pobres.

domingo, 12 de junho de 2016

"OBRIGADOS A USAR FRALDAS" - O CUSTO HUMANO DA CARNE FRANGO

De acordo com os dados da organização não governamental OXFAM – América, publicado em Maio de 2016, a grande maioria dos 250.000 trabalhadores dos aviários dos Estados Unidos, são submetidos a condições de trabalho próprias do século XIX, sendo obrigados a urinar e a defecar na linha de trabalhoWorkers urinate and defecate while give you a break. standing on the line; they wear diapers to work; they restrict intake of liquids and fluids to dangerous degrees; they endure pain and discomfort while they worry about their health and job security.” (aqui)

Trabalhando mais de 100.000 deles nas grandes empresas multinacionais que controlam quase 60% do mercado mundial, Tyson Foods, Pilgrim’s, Perdue, and Sanderson Farms, lutam para sustentar as famílias face aos baixos salários que auferem e aos escassos benefícios que usufruem. São submetidos a condições de trabalho inseguras, e não tem qualquer voz no mundo do trabalho. Muitos são refugiados, imigrantes, pertencem a minorias énticas e alguns deles são mesmo reclusos de estabelecimentos prisionais. Ao mesmo a indústria aviária apresenta lucros e uma expansão nunca vista“ the fastest growing and most quickly changing segment of a highly globalized livestock industry. By 2020, 124 million tonnes of poultry will be produced globally – an increase of 25 percent in just 10 years”. (aqui)

OXFAM - AMERICA

Compelidos a usar fraldas durante o trabalho “ Although they are reluctant to talk about it, workers from across the country report that they and their coworkers have made the uncomfortable decision to wear adult diapers to work. Not only do the diapers absorb accidents, they provide a degree of protection from the danger of asking permission to leave the line. Many workers are afraid of being mocked, punished,or fired. Betty, who works at a Tyson plant in Arkansas, says that on her own line, two people regularly wear diapers. One woman does so,Betty says, “because she can’t go to the bathroom when she needs to because they don’t let her.” Marta, from a Pilgrim’s plantin Texas, also reports that people in her plant wear diapers to work.” os trabalhadores dos aviários americanos processam anualmente 8.5 milhões de aves por ano.

OXFAM - AMERICA

Dependendo da sua posição na linha de trabalho, cada trabalhador processa cerca de 35 a 45 aves por minuto, repetindo a mesma tarefa a cada 2 segundos, processando 2.000 aves por hora e 14.000 por dia, de acordo com a o estudo “Lives on the Line” “ a conservative estimate is that the average worker repeats forceful motions—cutting, pulling, slicing—over 20,000 times per day.” Resultante deste trabalho repetitivo, submetidos a constantes pressões, os trabalhadores dos aviários americanos sofrem 5 vezes mais acidentes que os outros trabalhadores, 7 vezes mais sindromes do canal cárpico e muitas outras lesões osteo articulares (aqui):
  • pain in hands, swelling, numbness, loss of grip;
  • carpal tunnel syndrome and tendinitis;
  • claw hand" (injured fingers lock in a curled position);
  • ganglionic cysts (fluid deposits under the skin);
  • trigger finger (a finger gets stuck in a bent position, and straightens with a snap—like a trigger being pulled and released);

Entretanto:

"While the real value of poultry workers’ wages has dropped to poverty level, compensation for executives has skyrocketed. The CEO of Pilgrim’s earned over $9 million in 2014.In just five hours, he earned the annual salary of a line worker."
L



sexta-feira, 10 de junho de 2016

IN MEMORIAN - BARBARA STARFIELD

5 Anos passados (2011-06-10) da morte da Professora Barbara Starfield, recordamos o seu extraordinário percurso e a sua contribuição para a afirmação dos cuidados de saúde primários e dos sistemas orientados para os cuidados de saúde primários (aqui).


Pediatra, investigadora, Professora de «Health Policy and Management» na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, trabalhou ao longo da sua vida na avaliação do estado de saúde, na qualidade do atendimento, nos cuidados de saúde primários e na equidade em saúde. Foi co-fundadora e primeira Presidente da Sociedade Internacional para a Equidade em Saúde, uma sociedade científica dedicada ao conhecimento e à promoção da equidade na distribuição de Saúde.

Nos seus últimos dez anos de vida, a professora Barbara Starfield, concentrou a sua investigação sobre o papel que os cuidados de saúde primários têm nos sistemas de saúde e na gestão das doenças crónicas dos cidadãos.


Nos trabalhos “Policy relevant determinants of health: an international perspective” de 2002, “The Contribution of Primary Care Systems to Health Outcomes within Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) Countries, 1970–1998” de 2003, “Contribution of Primary Care to Health Systems and Health“de 2005 e no “The hidden inequity in healthcare” de 2011, Barbara Starfield e colaboradores concluem os que cuidados de saúde primários estão associados a melhores resultados em saúde para a população (mortalidade por todas as causas, mortalidade prematura para todas as causas e a mortalidade prematura específica para as doenças cardiovasculares e respiratórias), apresentam custos mais baixos e uma distribuição mais equitativa da saúde na população.



Mais de Barbara Starfield
WONCA - The Barbara Starfield Collection (aqui)
John Hopkins/Barbara Starfield course (aqui)