Na semana
em que o serviço meteorológico europeu (Meteoalarm) alertava para uma onda de
calor que afetava em particular a Itália e a região dos Balcãs, colocando dez
países em alerta vermelho, devido ao aumento das temperaturas máximas, atribuindo-lhe
o nome de Lúcifer, a revista Lancet Planetary Health de Agosto de 2017, publicava
o estudo “Increasing risk over time of weather-related hazards to the European population: a data-driven prognostic study” onde se concluía que o aquecimento
global poderá provocar na Europa catástrofes relacionadas com o clima que
afetarão cerca de 2/3 da população no ano de 2100 e multiplicarão por 50 as mortes
verificadas no período de 1981-2100.
Meteoalarm |
De acordo
com a investigação verificar-se-á um gradiente latitudinal, desfavorável ao Sul
da Europa, onde a taxa de mortalidade prematura devido ao clima extremo entre
os anos em estudo (2071-2199) poderá atingir cerca de 700 mortes anuais por
milhão de habitantes tornando-se no maior fator de risco ambiental para a
saúde.
Lancet Planetary Health |
O estudo
conclui ainda que alguns grupos sociais podem ser mais afetados do que outros, “In
particular, the most vulnerable will be elderly people and those with diseases..., as well as the poor...”, confirmando a evidência científica
publicada desde que Klinenberg estudou a
Onda de Calor que afetou Chicago em 1995 (aqui), descobrindo que as 700 mortes
verificadas só podiam ser explicadas através de uma “autópsia social” e concluindo
que estas mortes não eram consequência “natural” da Onda de Calor mas eram
antes moldadas pelo contexto e pela organização social humana.
De acordo
com Klinberg, em Chicago morreram as pessoas idosas, as pobres e as isoladas,
concluindo que sem a “desnaturalização” do evento a relação das desigualdades
sociais e políticas com a mortalidade observada continuaria escondida.
Ainda
recentemente no Arizona (aqui), no passado mês de Junho, as “ ilhas de calor” afetaram
em particular os mais vulneráveis, as pessoas idosas, as pessoas doentes, com
capacidade fisiológica e comportamental reduzida para termorregulação, e os
mais pobres, arredados dos meios tecnológicos que possam mitigar os efeitos das
ondas de calor.
Num mundo cada vez mais quente, e em sociedades cada vez "mais frias" que voltam as costa aos mais vulneráveis, o calor é
um assassino invisível, que não liquida todos por igual. A história das ondas
de calor é uma história económica e social, só compreendida à luz dos
determinantes sociais da saúde.
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