domingo, 6 de agosto de 2017

AS ONDAS DE CALOR MATAM SILENCIOSAMENTE AS PESSOAS INVISÍVEIS E SEM VOZ

Na semana em que o serviço meteorológico europeu (Meteoalarm) alertava para uma onda de calor que afetava em particular a Itália e a região dos Balcãs, colocando dez países em alerta vermelho, devido ao aumento das temperaturas máximas, atribuindo-lhe o nome de Lúcifer, a revista Lancet Planetary Health de Agosto de 2017, publicava o estudo “Increasing risk over time of weather-related hazards to the European population: a data-driven prognostic study” onde se concluía que o aquecimento global poderá provocar na Europa catástrofes relacionadas com o clima que afetarão cerca de 2/3 da população no ano de 2100 e multiplicarão por 50 as mortes verificadas no período de 1981-2100.
Meteoalarm
De acordo com a investigação verificar-se-á um gradiente latitudinal, desfavorável ao Sul da Europa, onde a taxa de mortalidade prematura devido ao clima extremo entre os anos em estudo (2071-2199) poderá atingir cerca de 700 mortes anuais por milhão de habitantes tornando-se no maior fator de risco ambiental para a saúde.
Lancet Planetary Health
O estudo conclui ainda que alguns grupos sociais podem ser mais afetados do que outros, “In particular, the most vulnerable will be elderly people and those with diseases..., as well as the poor...”, confirmando a evidência científica publicada desde que Klinenberg estudou a Onda de Calor que afetou Chicago em 1995 (aqui), descobrindo que as 700 mortes verificadas só podiam ser explicadas através de uma “autópsia social” e concluindo que estas mortes não eram consequência “natural” da Onda de Calor mas eram antes moldadas pelo contexto e pela organização social humana.

De acordo com Klinberg, em Chicago morreram as pessoas idosas, as pobres e as isoladas, concluindo que sem a “desnaturalização” do evento a relação das desigualdades sociais e políticas com a mortalidade observada continuaria escondida.

Ainda recentemente no Arizona (aqui), no passado mês de Junho, as “ ilhas de calor” afetaram em particular os mais vulneráveis, as pessoas idosas, as pessoas doentes, com capacidade fisiológica e comportamental reduzida para termorregulação, e os mais pobres, arredados dos meios tecnológicos que possam mitigar os efeitos das ondas de calor.

Num mundo cada vez mais quente, e em sociedades cada vez "mais frias" que voltam as costa aos mais vulneráveis, o calor é um assassino invisível, que não liquida todos por igual. A história das ondas de calor é uma história económica e social, só compreendida à luz dos determinantes sociais da saúde

Sem comentários:

Enviar um comentário