No passado
dia 8 de agosto, o New York Times publicava o artigo “Summer in the City Is Hot, but Some Neighborhoods Suffer More” abrindo as suas páginas aos trabalhos
do Professor Vivek Shandas da Escola de Planeamento e Estudos Urbanos da
Universidade de Portland, sobre o mapeamento dos efeitos das ilhas de calor em
algumas das cidades dos Estados Unidos e as suas consequências sobre os seus
habitantes.
No trabalho
liderado pelo professor Shandas, os investigadores identificaram os principais “pontos
quentes” urbanos e o seu potencial de risco sobre a saúde das pessoas, uma vez
que o efeito “ilha de calor” é caraterizado por temperaturas, em média,
superiores às que se verificariam em zonas rurais e com coberto vegetal
natural. Testaram variáveis sociodemográficas
e físicas dos bairros, incluindo o rendimento, o nível de escolaridade, a
densidade populacional e os espaços verdes, concluindo que os moradores mais
pobres se concentram nas áreas urbanas com maior índice de construção e menos espaços
verdes (aqui)(aqui).
Ilhas Urbanas de calor |
Os resultados
encontrados confirmam as evidências científicas publicadas desde que Klinenberg
estudou a Onda de Calor que afetou Chicago em 1995 concluindo que as 700 mortes
que aí ocorreram não eram consequência “natural” da Onda de Calor mas foram antes
causadas pelo contexto e pela organização social humana.
Também no
nosso país (aqui), tem sido dados alguns passos para um melhor conhecimento dos
efeitos das “ilhas de calor” ou “ilhas urbanas”, tendo recentemente sido dado a
conhecer os resultados preliminares do estudo “Cartografia da vulnerabilidade térmica: mapeamento dos efeitos das ondas de calor em Lisboa, face às projeções climáticas”, da iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa e executado pelo Instituto de Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Aveiro em parceria com a
Agência de Energia e Ambiente de Lisboa (Lisboa E-Nova), o Instituto de
Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) e o Instituto Português do Mar e
da Atmosfera (IPMA).
Diferenças térmicas na cidade de Lisboa |
O estudo, que
ainda decorre, procura prever o efeito cumulativo das ondas de calor, cada vez
mais frequentes e prolongadas em contexto de alterações climáticas e da chamada
“ilha de calor” que é tanto mais expressiva quanto mais densamente construídos
e menos verdes são os aglomerados urbanos. Recordamos que em agosto de 2017 a revista
Lancet Planetary Health, publicava o estudo “Increasing risk over time of weather-related hazards to the European population: a data-driven prognostic study” onde se concluía que o aquecimento global poderá provocar na Europa
catástrofes relacionadas com o clima que afetarão cerca de 2/3 da população no
ano de 2100 e multiplicarão por 50 as mortes verificadas no período de
1981-2100, prevendo-se que no Sul da Europa, a taxa de mortalidade prematura
devido ao clima extremo para os anos em estudo (2071-2100) possa atingir cerca
de 700 mortes anuais por milhão de habitantes tornando-se no maior fator de
risco ambiental para a saúde.
De acordo os
resultados preliminares apresentados pela Universidade de Aveiro em julho deste
ano verifica-se que nas zonas mais densamente construídas, ilhas urbanas, as temperaturas
possam ser superiores de 4 a 6 graus em relação a zonas rurais da mesma região.
São as zonas da cidade de Lisboa, como o aeroporto, a Baixa e uma faixa
contígua com essa que se prolonga pela margem do Tejo em direção a poente, as
que registam uma diferença de temperatura mais significativa em relação a zonas
rurais se não houvesse cidade naquela área.
Num mundo
cada vez mais quente, e em sociedades cada vez «mais frias» que voltam as costas
aos mais vulneráveis, o calor é um assassino invisível, que não liquida todos
por igual. A história das ondas de calor ou ilhas urbanas é uma história
económica e social, só compreendida à luz dos determinantes sociais da saúde.
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