Ao longo do século XX o chocolate transformou-se num negócio
de bilhões de dólares. Em 2016 o negócio terá atingido 98.3 bilhões de dólares,
prevendo o “ Global Industrial Chocolate Market” (aqui) publicado no início de 2017 uma
taxa de crescimento anual de 3% para o período de 2017 a 2021.
Para alimentar a fabricação de chocolate, são produzidas
anualmente cerca de 3.5 milhões de toneladas de cacau, 75% das quais no
continente africano, a maior parte delas na Costa do Marfim (37%), no Gana
(19%), na Nigéria (15%) e nos Camarões (7%), produzido por 5
a 6 milhões de produtores de cacau em todo o mundo e processados a nível
mundial por quatro grandes multinacionais, a Barry Callebau, a Blommer
Chocolate, a Cargill e a CÉMOI Group.
De acordo com as organizações não-governamentais como a
“Slave Free Chocolate”, a Organização Internacional do Trabalho (aqui) ou a Universidade de Tulane
(EUA) cerca de 2 milhões de crianças correm o risco de serem
escravizadas na Costa do Marfim e no Gana, ao mesmo tempo que os pequenos
produtores de cacau estão presos a profundos ciclos de pobreza, ganhando cerca
de 0.24 a 0.48 euros por dia. Apesar de existirem leis internacionais que proíbem o
trabalho escravo e o trabalho escravo infantil e dos maiores produtores de
chocolate terem acordado em 2001 estabelecer um protocolo (Harkin-Engel) para
acabarem até 2005 com a utilização de cacau proveniente de explorações que
utilizassem trabalho escravo e trabalho escravo infantil, a situação mantém-se.
Num mercado dominado pela Mars, pela Mondeléz, pela Ferrero, pela
Meiji e pela Nestlé (aqui), em 2002 o jornalista holandês Teun Van Keuken durante um
trabalho de investigação sobre o trabalho escravo na produção de cacau e tendo
verificado que nenhum dos grandes produtores internacionais estavam a aplicar
Protocolo Harkin-Engel e a respeitar os acordos celebrados em 2001 que tinha
como objetivo a eliminação do trabalho escravo em 2005, decidiu tomar uma
decisão desconcertante, processar-se a si próprio por cumplicidade com a
escravatura, fato importante num país onde o cacau e o chocolate desempenham um
papel fulcral na sociedade holandesa desde que no século XIX os holandeses
descobriram o processo de separação da manteiga de cacau a partir do grão de
cacau tornando Amesterdão no maior porto do mundo no comércio de cacau e aquele
país no maior importador mundial de cacau e no 2.º maior da indústria de
processamento de cacau.
Teun (Toni) comeu algumas tabletes de chocolate e de seguida entregou-se às
autoridades como cúmplice de crime de escravatura, mas o Ministério Público holandês
não o iria processar. Toni não desistiu e foi à procura de testemunhas vítimas do consumo de chocolate, encontrou
4 meninos que trabalharam como escravos numa fazenda de cacau na Costa do
Marfim e se dispuseram a testemunhar contra si e outros 2.136 consumidores de
chocolate que entretanto se tinham juntado a Toni no seu processo. Em 29 de
novembro de 2005, quando ainda aguardava a decisão do juiz, Toni decidiu dar o
exemplo e fazer 5.000 tabletes de chocolate de Comércio Justo, tinha nascido a Tony´s
Chocolonely (aqui).
Hoje a Tony´s Chocolonely tem 5% da quota de mercado na Holanda, expandiu a sua atividade para os Estados
Unidos e está entre as marcas de chocolate que praticam comércio justo (aqui).
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