sábado, 24 de março de 2018

"DEATHS OF DESPAIR" - VIRGÍNIA - AUMENTA A MORTALIDADE ENTRE A CLASSE MÉDIA BRANCA AMERICANA

No dia 21 de Março, o Center on Society and Health at Virginia Commonwealth University e a Graduate School of Public Health at the Universityof Pittsburgh, apresentaram o estudo “WHY ARE DEATH RATES RISING IN VIRGINIA’S WHITE POPULATION? The Role of Stress-Related Conditions” (aqui) realizado com o objetivo de conhecer as causas para o crescimento da mortalidade entre a população branca da Virgínia.

Apesar da população branca apresentar uma mortalidade inferior a outros grupos nos Estados Unidos (negros, nativos americanos e alguns grupos asiáticos) vários estudos publicados nos últimos anos têm demonstrado que a mortalidade têm vindo a crescer entre a população branca de meia-idade. (aqui)(aqui)(aqui)

No estudo agora publicado os autores encontraram um crescimento da taxa de mortalidade entre a população branca dos 25 e os 54 anos. Sendo mais de metade (55%) das mortes devidas a overdoses por drogas, a suicídios e a doenças hepáticas relacionadas com o álcool.
Os autores criaram um indicador composto, a que chamaram “condições relacionadas com o stress” relacionado quatro causas de mortes: overdoses por drogas, intoxicações alcoólicas, suicídios e doenças do fígado relacionadas com álcool.

Na Virgínia este indicador aumentou 83% na população branca dos 25 e os 54 anos entre 1995 e 2014, um excesso de 2.300 mortes, 2/3 das quais causadas por overdoses de drogas. Este valor cresceu sobretudo entre os jovens adultos (25-34 anos), com um aumento de 419% para as overdoses por drogas (1995 a 2014) e de 39% para a taxa de suicídio a partir de 2000.

O crescimento do indicador “condições relacionadas com o stress” entre os brancos com idades compreendidas entre os 25-54 anos ocorreu nas áreas rurais e nos territórios de baixa densidade, nos lugares com menor diversidade, nas comunidades que tinham menos anos de escolaridade, menor rendimento familiar, maiores desigualdades de rendimento, maior pobreza infantil, menor cobertura de saúde e escassez de profissionais de saúde. Três fatores regionais apresentaram um elevado coeficiente de correlação: ruralidade, % de adultos sem licenciatura e escassez de profissionais de saúde mental. Nas localidades com aumentos significativos do indicador “condições relacionadas com o stress”, este incremento estava correlacionado com o crescimento do desemprego.

Os autores concluem que o aumento do indicador “condições relacionadas com o stress” na população branca da Virgínia pode ser uma resposta direta ao stress económico. Apesar de considerarem a complexidade do fenómeno, os investigadores concluem que as gerações mais novas têm sérias dificuldades em enfrentar as dificuldades atuais resultantes da instabilidade económica e social.

“One theory is that this age group is experiencing life conditions that differ starkly from past expectations and may lack the resilience to endure the cumulative stress that comes with prolonged social and economic hardships. During the two decades this report studied (1995–2014), young and middle-class whites—the age group examined here—experienced economic and social instability unlike that of their parents and grandparents. In the post-World War II generation, loyal workers could often count on a job for life, with health insurance, a pension, and other benefits—and earnings were generally stable enough to finance a home, put children through college, and plan for retirement. Middleclass white households were largely protected from the social disadvantage and economic insecurity that are common today, and that people of color have experienced for generations.

Frustration and hopelessness over these conditions would be expected to increase anxiety and depression. Over time, chronic stress, despair, and the pain they produce can induce harmful coping behaviors. Some people turn to food, resulting in over-eating and the consumption of calorie-dense fast foods. Some people cope with stress by smoking, which increases the risk of tobacco-related diseases (e.g., emphysema). Some people are overcome by anxiety or depression; feelings of hopelessness can lead desperate individuals to commit suicide. Some people self-medicate with alcohol or drugs to relieve their psychic pain. And some people act out in violence, causing injury to others. It is a mistake to focus on (or blame) the behaviors that individuals adopt to cope with these stresses and ignore the policies and living conditions in communities that fuel these behaviors.


segunda-feira, 19 de março de 2018

COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE PARA TODOS E EM TODA A PARTE - DIA MUNDIAL DA SAÚDE - 7 ABRIL 2018

No ano em que a Organização Mundial de Saúde completa 70 anos, o lema escolhido para o Dia Mundial de Saúde de 2018, “Saúde para Todos – Cobertura Universal de Saúde”, celebra o compromisso assumido pelos líderes mundiais no do dia 27 de Setembro de 2015, quando na 70.ª Assembleia Geral das Nacções Unidas aprovaram os Objetivos para o desenvolvimento sustentável(aqui).


Dos 17 Objetivos aprovados incluidos na Agenda 2030, o 3.º Saúde e Bem Estar: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idade (aqui), desdobra-se em 9 outros objetivos específicos dos quais o 3.8, estabelece a cobertura universal, incluindo a proteção do risco finaceiro, o acesso a serviços de saúde essenciais de qualidade e o acesso a medicamento e vacinas essenciais seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis para todos até 2030.

No momento em que cerca de metade da população mundial carece de acesso integral a serviços básicos de saúde, em que 100 milhões de pessoas são empurradas para a “pobreza extrema – vivem com menos de 1.5 euros por dia” por terem de pagar os cuidados de saúde do seu próprio bolso e mais de 800 milhões de pessoas, 12% da população mundial gasta pelo menos 10% do orçamento familiar em cuidados de saúde, os líderes mundiais tem particular responsabilidade no cumprimento das promessas que fizeram quando aprovaram a Agenda 2030 para o desenvolvimento susutentável e se comprometeram a promover medidas concretas para que todas as pessoas, em todos os lugares, possam aceder a cuidados de saúde essenciais e de qualidade sem enfrentarem dificuldades financeiras.


A unversalização dos cuidados tal como propõe a OMS, deve abranger pelo menos 16 serviços em 4 categorias como indicadores do nível de equidade e cobertura.

Nunca é de mais lembrar que Portugal apenas universalizou os cuidados de saúde, após a Revolução de Abril de 1974, consolidando-os pela primeira vez na história do país na Constituição da República de 1976, no seu artigo 64. (aqui)




domingo, 11 de março de 2018

OUR WORLD DATA - OBJETIVOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O “Our World Data” é uma publicação online, fundada por Max Roser e produzida na Universidade de Oxford com o objetivo de mostrar como as condições de vida estão a mudar. Fundada em 2011 coloca todos os seus conteúdos ao serviço da comunidade como um bem público (aqui).


Abrangendo uma grande variedade de tópicos em muitas disciplinas académicas, “ Trends inhealth, food provision, the growth and distribution of incomes, violence, rights, wars, culture, energy use, education, and environmental changes” analisadas e visualizadas nesta publicação, o “Our World Data” decidiu recentemente criar uma ferramenta que permite monitorizar os Objetivos para oDesenvolvimento Sustentável definidos pela 70.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2015 com a aprovação de uma agenda para os próximos 30 anos " UN 2030 Agenda for Sustainable Development" em português "Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.


Lançada em Fevereiro de 2018, “Measuring progress towards the Sustainable Development Goals” apresenta os dados sobre todos os indicadores disponíveis que monitorizam o progresso dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável.



O TRANSPORTE COMO DETERMINANTE DE SAÚDE - EM PORTUGAL (2017) 800.000 CONSULTAS FICARAM POR FAZER DEVIDO AO CUSTO DO TRANSPORTE


Um estudo recente desenvolvido pela NOVA Information Management School (NOVA-IMS), da Universidade Nova de Lisboa, apresentado na 7ª conferência Abbvie/TSF/DN, no Centro Cultural de Belém no passado dia 06 de Março, concluiu que no ano de 2017, 793.142 consultas e 169.704 meios complementares de diagnóstico ficaram por realizar devido aos custos com transportes. (aqui)

Este estudo confirma as conclusões de um estudo de revisão publicado no Journal of Community Health em 2013, onde se conclui que “… the evidence supports that transportation barriers are an important barrier to healthcare access,particularly for those with lower incomes”, e sublinha a importância do transporte com determinante de saúde e em particular o transporte público como chave para as deslocações de média e longa distância verificada por Michael Marmot e Richard Wilkinson no capítulo 7 do livro "Social Determinants of Health" (aqui)(aqui). A Organização Mundial de Saúde considera os determinantes sociais da saúde como os fatores que impactam a saúde e o bem-estar: as circunstâncias em que nascemos, crescemos, vivemos, trabalhamos e envelhecemos (aqui).

Em Portugal de acordo com o Inquérito às Despesas das Famílias 2015/2016 publicado em 2017 pelo Instituto Nacional de Estatística, as despesas com o transporte representam 14.7% da despesa média das famílias portuguesas (aqui).

quinta-feira, 1 de março de 2018

CONSUMO DE PRODUTOS ULTRAPROCESSADOS LIGADO AO RISCO DE CANCRO


O British Medical Journal publicou na sua edição de 14 de fevereiro o estudo “ Consumption of ultra-processed foods and cancer risk: results from NutriNet-Santé prospective cohort” liderado por investigadores da Sorbonne (EREN) e realizado com o objetivo de conhecer e avaliar possíveis associações entre o consumo de produtos ultraprocessados ​​e risco de ter cancro.

Nesta investigação os investigadores incluíram uma total de 104.980 participantes que participam voluntariamente no estudo NutriNet-Santé, 21,7% homens e 78,3% mulheres, com uma idade média de cerca de 43 ano, um estudo lançado em França em 2009 com o objetivo de estudar as associações entre a nutrição e a saúde, o estado de saúde dos participantes bem como os determinantes dos seus comportamentos alimentares, baseia-se na utilização voluntária de uma plataforma on-line, usando um site dedicado, www.etude-nutrinet-sante.fr, concluindo que um aumento de 10% na proporção de alimentos ultraprocessados de consumidos incluídos na dieta estava associado a aumentos significativos no risco de ter cancro, 12%, e a um risco de 11% para o cancro da mama, não tendo os investigadores encontrado aumentos significativos para o cancro do cólon e reto e para o cancro da próstata.

Consumption of ultra-processed foods and cancer risk: results from NutriNet-Santé prospective cohort

Os produtos ultraprocessados (aqui), de acordo com o sistema de classificação NOVA (aqui), são formulações industriais elaboradas a partir de substâncias derivadas de alimentos ou sintetizadas de outras fontes orgânicas, são invenções da ciência e da tecnologia alimentar industrial moderna. Requerem pouca ou nenhuma preparação culinária, estão prontos para consumir ou para aquecer, contendo poucos alimentos inteiros ou mesmo nenhuns. Algumas das substâncias usadas, como as gorduras, os óleos, os amidos e o açúcar derivam diretamente dos alimentos, outras obtém-se a partir do processamento adicional de certos componentes alimentares, como a hidrogeneização dos óleos (gerando gorduras trans) da hidrólise das proteínas e da “purificação” dos amidos.

A grande maioria dos ingredientes na maior parte dos produtos ultraprocessados são aditivos (aglutinantes, aumentadores de volume “bulkers”, estabilizadores, emulsificantes, corantes, aromatizantes, potenciadores sensoriais e solventes) e muitas vezes aos produtos ultraprocessados aumenta-se-lhes o volume com ar e água. Podem ser “fortificados” com micronutrientes sintéticos. Incluem pastas fritas vendidas em pacote como snacks/aperitivos, doces e salgadas; gelados, chocolates, guloseimas; pão, bolos, tortas, bolachas empacotadas; cereais adoçados para pequeno-almoço; compotas, geleias e marmeladas; barras “energéticas” de cereais; refrigerantes, bebidas açucaradas à base de leite, iogurtes líquidos, bebidas de chocolate, bebidas e néctares de fruta, leite “maternizado”, papas e outros produtos para bebés, produtos “saudáveis” ou para “emagrecer” em pó para “fortificar” ou substituir refeições.

Muito destes produtos, estão prontos para comer, tanto em casa como em locais de comidas rápidas, e, incluem pratos reconstituídos e preparados de carne, de peixe, mariscos, vegetais ou queijo, pizzas, hambúrgueres, salsichas, batatas fritas, nuggets ou palitos de peixe ou de aves, sopas, pastas e sobremesas, em pó ou embaladas. Muitas vezes parecem-se com as refeições preparadas em casa mas a lista dos ingredientes demonstram que o não são.
Guardian
De acordo com um estudo publicado recentemente na Public Health Nutrition em janeiro de 2018, “Household availability of ultra-processed foods and obesity in nineteen European countries”, o consume de produtos processados atingiu uma média de 26.4% nos 19 países estudados, apresentando variações significativas favoráveis aos países do Sul da Europa, Portugal 10.2%, Itália 13.4%, Grécia 13.7% e França 14.2%, em contraste com os países do Norte da Europa, Alemanha 46.2%, Irlanda 45.9%, Reino Unido 59.4%.

Apesar das limitações do estudo “ Consumption of ultra-processed foods and cancer risk: results from NutriNet-Santé prospective cohort” discutidas pelos autores, os resultados apresentados sugerem que o consumo de produtos ultraprocessados contribuem para o aumento do risco de ter cancro no geral e cancro da mama no particular, resultados que se somam aos já conhecidos riscos de aumento dos transtornos cardiometabólicos, como a obesidade, a hipertensão e alterações do metabolismo dos lípidos.