O British
Medical Journal publicou na sua edição de 14 de fevereiro o estudo “
Consumption of ultra-processed foods and cancer risk: results from NutriNet-Santé prospective cohort” liderado por investigadores da Sorbonne
(EREN) e realizado com o objetivo de conhecer e avaliar possíveis associações
entre o consumo de produtos ultraprocessados e risco de ter cancro.
Nesta
investigação os investigadores incluíram uma total de 104.980 participantes que
participam voluntariamente no estudo NutriNet-Santé, 21,7% homens e 78,3% mulheres,
com uma idade média de cerca de 43 ano, um estudo lançado em França em 2009 com
o objetivo de estudar as associações entre a nutrição e a saúde, o estado de
saúde dos participantes bem como os determinantes dos seus comportamentos
alimentares, baseia-se na utilização voluntária de uma plataforma on-line, usando
um site dedicado, www.etude-nutrinet-sante.fr,
concluindo que um aumento de 10% na proporção de alimentos ultraprocessados de
consumidos incluídos na dieta estava associado a aumentos significativos no
risco de ter cancro, 12%, e a um risco de 11% para o cancro da mama, não tendo
os investigadores encontrado aumentos significativos para o cancro do cólon e
reto e para o cancro da próstata.
Consumption of ultra-processed foods and cancer risk: results from NutriNet-Santé prospective cohort |
Os produtos
ultraprocessados (aqui), de acordo com o sistema de classificação NOVA (aqui), são
formulações industriais elaboradas a partir de substâncias derivadas de
alimentos ou sintetizadas de outras fontes orgânicas, são invenções da ciência
e da tecnologia alimentar industrial moderna. Requerem pouca ou nenhuma
preparação culinária, estão prontos para consumir ou para aquecer, contendo
poucos alimentos inteiros ou mesmo nenhuns. Algumas das substâncias usadas,
como as gorduras, os óleos, os amidos e o açúcar derivam diretamente dos
alimentos, outras obtém-se a partir do processamento adicional de certos
componentes alimentares, como a hidrogeneização dos óleos (gerando gorduras
trans) da hidrólise das proteínas e da “purificação” dos amidos.
A grande
maioria dos ingredientes na maior parte dos produtos ultraprocessados são
aditivos (aglutinantes, aumentadores de volume “bulkers”, estabilizadores,
emulsificantes, corantes, aromatizantes, potenciadores sensoriais e solventes) e
muitas vezes aos produtos ultraprocessados aumenta-se-lhes o volume com ar e
água. Podem ser “fortificados” com micronutrientes sintéticos. Incluem pastas
fritas vendidas em pacote como snacks/aperitivos, doces e salgadas; gelados,
chocolates, guloseimas; pão, bolos, tortas, bolachas empacotadas; cereais
adoçados para pequeno-almoço; compotas, geleias e marmeladas; barras “energéticas”
de cereais; refrigerantes, bebidas açucaradas à base de leite, iogurtes
líquidos, bebidas de chocolate, bebidas e néctares de fruta, leite
“maternizado”, papas e outros produtos para bebés, produtos “saudáveis” ou para
“emagrecer” em pó para “fortificar” ou substituir refeições.
Muito
destes produtos, estão prontos para comer, tanto em casa como em locais de
comidas rápidas, e, incluem pratos reconstituídos e preparados de carne, de
peixe, mariscos, vegetais ou queijo, pizzas, hambúrgueres, salsichas, batatas
fritas, nuggets ou palitos de peixe ou de aves, sopas, pastas e sobremesas, em
pó ou embaladas. Muitas vezes parecem-se com as refeições preparadas em casa
mas a lista dos ingredientes demonstram que o não são.
Guardian |
De acordo
com um estudo publicado recentemente na Public Health Nutrition em janeiro de
2018, “Household availability of ultra-processed foods and obesity in nineteen European countries”, o consume de produtos processados atingiu uma média de
26.4% nos 19 países estudados, apresentando variações significativas favoráveis
aos países do Sul da Europa, Portugal 10.2%, Itália 13.4%, Grécia 13.7% e França
14.2%, em contraste com os países do Norte da Europa, Alemanha 46.2%, Irlanda
45.9%, Reino Unido 59.4%.
Apesar das
limitações do estudo “ Consumption of ultra-processed foods and cancer risk:
results from NutriNet-Santé prospective cohort” discutidas pelos autores, os
resultados apresentados sugerem que o consumo de produtos ultraprocessados
contribuem para o aumento do risco de ter cancro no geral e cancro da mama no
particular, resultados que se somam aos já conhecidos riscos de aumento dos
transtornos cardiometabólicos, como a obesidade, a hipertensão e alterações do
metabolismo dos lípidos.
Estes
resultados confirmam a importância dos determinantes comerciais (aqui) e políticos da
saúde (aqui) tendo em conta que “ Three-fourths of world food sales involve processed
foods, for which the largest manufacturer shold over a third of the global
market. The world's food system isnot a competitive marketplace of small producers but an oligopoly. What people eat is increasingly driven by a few multinational food companies.”
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