sábado, 26 de janeiro de 2019

MAIS DE 3 MILHÕES DE NORTE AMERICANOS FICARAM SEM SEGURO DE SAÚDE EM 2018.


Depois de ter diminuido o número de pessoas sem seguro com a implementação do Obamacare, o número de pessoas sem qualquer cobertura não para de aumentar sob a administração Trump.
Ao longo do ano de 2018 cerca de 3 milhões de norteamericanos ficaram sem seguro de saúde.

De acordo com a investigação da Gallup, verificou-se um aumento de 1.3% (3.000.000) em 2018 das pessoas não seguradas nos Estados Unidos tendo a % de não segurados passado de 12.2% em 2017 para 13.7 em 2018, e um aumento de 2.8% desde 2016 (momento em que o Affordable Act - Obamacare aprovado em 2014 entrou em velocidade de cruzeiro)no número de pessoas que ficaram sem seguro de saúde, este aumento representa um aumento de 7 milhões de pessoas sem seguro de saúde.
%  DE NORTE - AMERICANOS SEM COBERTURA DE SAÚDE
Ainda de acordo com o trabalho da Gallup, o numero de não segurados subiu entre as mulheres, nos adultos com menos de 35 anos entre as pessoas de mais baixos rendimentos (< $48.000 anuais).

Para os autores do estudo, os resultados não são uma surpresa dada a política desenvolvida pela administração Trump contra o Affordable Act – Obamacare, aqui explicada no New York Times, tentanto enfraquecê-lo legalmente, diminuindo o financiamento para a sua divulgação, reduzindo o prazo para as incrições e permitindo que em alguns Estados que os prémios aumentem sem que os beneficiários consigam comparticipação por parte do Estado “ Trump's decision in October 2017 to end cost-sharing reduction could also potentially have affected the uninsured rate. The cost-sharing payments were made to insurers in the marketplace exchanges to offset some of their costs for offering lower-cost plans to lower-income Americans.”

domingo, 20 de janeiro de 2019

"SAÚDE, UMA QUESTÃO DE CLASSE" - OS BAIRROS DE BARRACAS NO PORTUGAL DOS ANOS 60/70


No final dos anos 60 e início dos anos 70 milhares de portugueses viviam em condições habitacionais miseráveis. Em 1970 de acordo com o Censo 1970 os dados oficiais indicavam um total de 31 110 habitações precárias barracas e outros, no território continental. Nesta época, as estatísticas indicavam que, para um total de 2 164 965 alojamentos em Portugal, existia uma percentagem de 64,3% de habitações com energia elétrica, 47,1%, com abastecimento de água e 30% de habitações servidas por rede de esgotos, significando que 29,4% das famílias portuguesas estavam alojadas em condições abaixo dos padrões mínimos, considerando a presença de água, luz e casa de banho.(aqui)
Imagem de "SAÚDE, UMA QUESTÃO DE CLASSE"

Nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa acumulavam-se milhares de famílias em “ilhas” ou “barracas”. Na área metropolitana de Lisboa a população que vivia nos bairros de barracas situados no limite do concelho de Lisboa, na zona oriental da cidade, na zona da circunvalação Algés-Buraca e nos concelho de Loures, de Oeiras e da Amadora, era constituída na sua maioria por famílias oriundas de concelhos a norte do Tejo, que na sua maioria tinham emigrado para Lisboa para trabalharem na construção civil e na indústria (apenas cerca de 37% dos agregados familiares moradores nestes bairros nasceram em Lisboa). (aqui)(aqui)

Ao longo dos anos 60 e dos primeiros anos da década de 70, o número de bairros de barracas não para de crescer estimando a Polícia Municipal de Lisboa que na cidade cerca de 90.000 pessoas vivem-se em condições precárias. No caso do Bairro Chinês, o maior bairro de barracas de Lisboa, espalhado pela Quinta Marquês de Abrantes e quintas limítrofes na freguesia de Marvila, viviam cerca de 8000 pessoas oriundas dos concelhos de Viseu, Resende e Castro Daire maioritariamente empregues no polo industrial da zona oriental de Lisboa (Fábrica Nacional de Sabões, Fábrica da Borracha, Fábrica dos Fósforos, Petroquímica e armazéns de vinhos de Abel Pereira da Fonseca).

É desta realidade que fala o trabalho “Saúde, uma questão de classe”, disponível nos arquivos da RTP (aqui), das condições habitacionais e sanitárias em que viviam as classes trabalhadoras dos bairros de barracas dos concelhos da Amadora e de Lisboa devastadas pela mortalidade infantil e pela mortalidade por causas evitáveis, de que são exemplo a taxa de mortalidade infantil em 1973, 44.8/1.000 e os 67.6 anos de esperança de vida à nascença.



terça-feira, 15 de janeiro de 2019

MORRER DE FRIO E DE MÁS CONDIÇÕES HABITACIONAIS - EXCESSO MORTALIDADE NO INVERNO


Em 1949 Vitorino Nemésio no conto “Mau Agoiro” inserto no livro “O Mistério do Paço do Milhafre”, descrevia a casa da Cacena, uma velha e triste mulher, plantada na Canada do Búzio como um casebre que mais parecia um fojo de «bruxas do que tectos de gente baptizada. Se não fosse algum molhe de palha que o Menino Jesus acende, o Inverno era frio como a neve e negro como um tição» o mesmo frio que na “Casa de Hóspedes” de Raul Brandão (1926) era descrito como «o frio dos desgraçados».

Vem isto a propósito da responsabilidade da pobreza energética (quando uma pessoa ou família gasta mais de 10% do seu rendimento para manter a sua habitação numa condição térmica satisfatória, resultando da combinação de 3 fatores: rendimento, eficiência energética e custo da energia) e das condições habitacionais que ainda hoje afetam uma fatia importante da população portuguesa no excesso de mortalidade verificada em Portugal em todos os Invernos, uma espécie de «paradoxo» entre os países de clima temperado que faz com que Portugal apresenta a maior variação sazonal da mortalidade, 28% no trabalho de Healy em 2003 e 25.9% no trabalho de Fowler em 2014.

No caso português este excesso de mortalidade tem quase sempre atribuído à gripe sazonal deixando para segundo plano as outras causas (aqui), ao contrário das evidências descritas no trabalho de 2011 de Marmot e colaboradores “THE HEALTH IMPACTS OF COLD HOMESAND FUEL POVERTY” e no trabalho de 2012 dos investigadores portugueses Almendra et al. “EXCESSO DE MORTALIDADE NO INVERNO NOS PAÍSES DA EUROPA MEDITERRÂNEA” onde os autores reconhecem que o efeito da pobreza energética e das condições habitacionais são relevantes na atribuição do excesso de mortalidade às doenças cardiovasculares.

No trabalho de Marmot o excesso de mortalidade é atribuível em cerca de 40% e em cerca de 30% às doenças respiratórias. Avançando ainda que a saúde mental é afetada negativamente pela pobreza energética e pelas condições habitacionais em todas as idades, existindo no caso das crianças o dobro da probabilidade para as crianças que vivem em casas frias terem mais problemas respiratórios e que os adolescentes que vivem em casas frias apresentam maior risco para problemas de saúde mental dos que vivem em casa aquecidas, na proporção de 1 para 4 contra 1 para 20.

No caso do trabalho de Almendra et al, verificou-se uma maior taxa de incidência de enfarte agudo do miocárdio e um excesso de internamentos por enfarte agudo do miocárdio durante os meses de inverno.

Apesar de Portugal ser dos países da Europa com maior excesso de mortalidade durante o inverno as autoridades de saúde continuam a centrar a sua atenção em torno da vacinação antigripal, de conselhos à população para lidar com o frio e ao reforço do atendimento nos serviços de urgência, dando pouca atenção aos seus determinantes sociais.

Portugal precisa antes de mais de políticas que promovam a eficiência térmica, que melhorem as condições habitacionais pondo fim as vulnerabilidades das habitações, medidas em termos europeus pelas falhas nos telhados, humidades nas paredes, nos andares e nas fundações dos edifícios e ainda pelos apodrecimentos nas janelas e nos pisos, necessita de aprofundar as medidas de combate à pobreza energética que o atual governo tem vindo a desenvolver através da atribuição automática da tarifa social da energia a mais de 700.000 consumidores (aqui). Compete às autoridades de saúde desenvolver estudos que permitam conhecer a população em pobreza energética, influenciar legislação apropriada e programas de melhoria das condições habitacionais.

sábado, 5 de janeiro de 2019

DESIGUALDADES EM SAÚDE AFETAM O EMPREGO E A PRODUTIVIDADE - O CASO DA NORTHERN POWERHOUSE


No passado dia 20 de novembro de 2018, um consórcio das principais universidades e hospitais do norte de Inglaterra, o Northern Health Science Alliance (NHSA) publicou o relatório “Health for Wealth: Building a Healthier Northern Powerhouse for UK Productivity” com o objetivo de estudar a relação entre o estado de saúde da população e a produtividade, uma vez que é conhecida a lacuna entre os indicadores de saúde e de produtividade encontrados no Norte e no resto da Inglaterra, sempre desfavoráveis ao território do norte de Inglaterra afetado pela crise económica e social e alvo de um programa de intervenção do governo brtãnico desde 2010 denominado de North Powerhouse.

O trabalho produzido pelas Universidades de Newcastle, Manchester, Lancaster, York, Liverpool e Sheffield encontrou desigualdades regionais profundas e persistentes entre a população do Norte e do Sul de Inglaterra. Verificando-se uma diferença de dois anos na esperança de vida à nascença entre o Norte e o resto da Inglaterra e uma mortalidade prematura de cerca de 20% em todos os grupos etários nas populações do Norte de Inglaterra. O que significa que mais de 1.5 milhões de pessoas do norte de Inglaterra morreram prematuramente quando comparadas com o restante país.

No que se refere à produtividade, o relatório depois de analisar as relações entre as desigualdades em saúde, a produtividade, e as suas repercussões sobre o National Health Service (NHS) (Serviço Nacional de Saúde) o Serviço Nacional de Saúde conclui que a saúde é importante para a produtividade aportando novos conhecimentos, uma vez que até agora a baixa produtividade do Norte de Inglaterra tinha vindo a ser explicado apenas pelas competências e pelas capacidades da força de trabalho, pela tecnologia, pelo investimento ou pela conectividade (o que sugnifica estar constantemente conectado com os outros e com vastas fontes de informação)

A saúde é agora apontada como importante para a produtividade uma vez que uma melhoria dos indicadores de saúde permitiriam a redução das lacunas entre o Norte e o resto de Inglaterra em cerca de 30% gerando um adicional de £ 13,2 bilhões (14.73 bilhões euros) de valor acrescentado bruto ao Reino Unido e reduziria o número de pessoas em idade ativa com limitações para o trabalho em 10%.

O aumento da proporção de pessoas com boa saúde no Norte de Inglaterra em 3.5% reduziria o défice de emprego entre Norte e o resto de Inglaterra em 10%, colaborando ainda para um aumento salarial. Contrariando a situação atual em que 39% da população trabalhadora do norte pode perder o trabalho por se encontrar doente, ou ver o seu vencimento ser reduzido em cerca de 66% se voltarem ao trabalho, e uma diminuição de 0.7% no indicador mortalidade geral a par de uma redução de 1.2% nos indicadores de doença crónica permitiria uma redução de 10% valor acrescentado bruto na lacuna encontrada entre o norte e o resto da Inglaterra.

No que se refere ao National Health Service – NHS (Serviço Nacional de Saúde), o relatório conclui que um aumento de 10% no orçamento dedicado ao NHS diminuiria em 10% a incapacidade para o trabalho em cerca de 3%.
Relatório completo (aqui)