No final
dos anos 60 e início dos anos 70 milhares de portugueses viviam em condições
habitacionais miseráveis. Em 1970 de acordo com o Censo 1970 os
dados oficiais indicavam um total de 31 110 habitações precárias barracas e
outros, no território continental. Nesta época, as estatísticas indicavam que,
para um total de 2 164 965 alojamentos em Portugal, existia uma percentagem de
64,3% de habitações com energia elétrica, 47,1%, com abastecimento de água e
30% de habitações servidas por rede de esgotos, significando que 29,4% das
famílias portuguesas estavam alojadas em condições abaixo dos padrões mínimos,
considerando a presença de água, luz e casa de banho.(aqui)
Imagem de "SAÚDE, UMA QUESTÃO DE CLASSE" |
Nas áreas
metropolitanas do Porto e de Lisboa acumulavam-se milhares de famílias em “ilhas”
ou “barracas”. Na área metropolitana de Lisboa a população que vivia nos
bairros de barracas situados no limite do concelho de Lisboa, na zona oriental
da cidade, na zona da circunvalação Algés-Buraca e nos concelho de Loures, de
Oeiras e da Amadora, era constituída na sua maioria por famílias oriundas de
concelhos a norte do Tejo, que na sua maioria tinham emigrado para Lisboa para
trabalharem na construção civil e na indústria (apenas cerca de 37% dos
agregados familiares moradores nestes bairros nasceram em Lisboa). (aqui)(aqui)
Ao longo
dos anos 60 e dos primeiros anos da década de 70, o número de bairros de
barracas não para de crescer estimando a Polícia Municipal de Lisboa que na
cidade cerca de 90.000 pessoas vivem-se em condições precárias. No caso do
Bairro Chinês, o maior bairro de barracas de Lisboa, espalhado pela Quinta
Marquês de Abrantes e quintas limítrofes na freguesia de Marvila, viviam cerca
de 8000 pessoas oriundas dos concelhos de Viseu, Resende e Castro Daire
maioritariamente empregues no polo industrial da zona oriental de Lisboa (Fábrica
Nacional de Sabões, Fábrica da Borracha, Fábrica dos Fósforos, Petroquímica e armazéns
de vinhos de Abel Pereira da Fonseca).
É desta
realidade que fala o trabalho “Saúde, uma questão de classe”, disponível nos arquivos
da RTP (aqui), das condições habitacionais e sanitárias em que viviam as classes
trabalhadoras dos bairros de barracas dos concelhos da Amadora e de Lisboa
devastadas pela mortalidade infantil e pela mortalidade por causas evitáveis,
de que são exemplo a taxa de mortalidade infantil em 1973, 44.8/1.000 e os 67.6 anos de esperança de vida à nascença.
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