sábado, 30 de março de 2019

A INFLUÊNCIA DA CLASSE SOCIAL NO ESTADO DE SAÚDE

Um estudo publicado na revista “Scientific Reports”, publicação online de acesso livre da Nature, no âmbito do projeto Europeu Lifepath que tem como objetivo investigar os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades sociais conduzem às desigualdades em saúde, mostrou que as pessoas que pertencem a uma classe social mais desfavorecida têm pior saúde, uma vez que apresentam maiores níveis de inflamação crónica, estando esta associada a problemas de saúde como o cancro, doença cardiovascular e a diabetes.

"O Almoço do Trolha" - Júlio Pomar
Na investigação que deu origem à publicação do artigo "A Comparative Analysis of the Status Anxiety Hypothesis of Socio-economic Inequalities in Health Based on 18,349 individualsin Four Countries and Five Cohort Studies" da autoria de um conjunto de investigadores europeus oriundos do  Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Portugal, do Imperial College of London, Reino Unido, do Trinity College Dublin, Irlanda, do Hospital Universitário de Lausanne, Suíça e do University College London, Reino Unido, os autores procuraram perceber por um lado, até que ponto as pessoas de classe social mais baixa apresentavam maiores níveis de inflamação e, por outro, se a população que vivia em países onde há maior desigualdade social também apresentava maior inflamação

Para testar estas duas hipóteses, os investigadores usaram dados de 18.400 indivíduos, com idades compreendidas entre os 50 e os 75 anos, de quatro países europeus – Portugal, Irlanda, Reino Unido e Suíça. Os indivíduos integravam cinco coortes (estudos longitudinais) dos referidos países: ELSA e Whitehall II (Reino Unido), TILDA (Irlanda), EPIPorto (Portugal) e SKIPOGH (Suíça), tendo sido considerados no estudo vários indicadores: Diabetes, Hipertensão Arterial, Fumar, Índice Massa Corporal, Marcador Inflamatório (Proteína C Reativa - PCR) Posição socioeconómica, Idade e Género. 

Os resultados mostram que os indivíduos situados nos grupos socioeconómicos mais baixos (a classe social foi harmonizada de acordo com a Classificação Socioeconómica Europeia (ESeC) e a Classificação Internacional Padrão da Educação (ISCED 2011) têm maiores níveis médios de inflamção(PCR),  e que quanto mais desigual é o país maior é o nível de inflamação dos indivíduos e mais pronunciado é o gradiente socioeconómico da inflamação, existindo uma diferença significativa entre os níveis de proteína C-reativa das classes mais desfavorecidas ("pobres") e mais favorecidas socioeconomicamente ("ricos").

O estudo confirma que a classe social é um fator de risco para saúde, não só do ponto de vista absoluto como também do ponto de vista relativo tendo em conta o gradiente social, definido como “o fenómeno pelo qual as pessoas que são menos favorecidos em termos de posição socioeconómica têm pior saúde (e vida mais curtas) do que aqueles que são mais favorecidos”.

A investigação revela ainda que Portugal é o país onde os níveis de inflamação crónica na população são mais elevados e onde existe uma diferença mais marcada entre os grupos socioeconomicamente mais desfavorecidos (pobres) e os mais favorecidos (ricos), resultado que está em linha com o facto de Portugal ser o país mais desigual em termos sociais entre os países estudados, Irlanda, Reino Unido e Suíça.

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