Um estudo publicado na revista
“Scientific Reports”, publicação online
de acesso livre da Nature, no âmbito do projeto Europeu Lifepath que tem como
objetivo investigar os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades
sociais conduzem às desigualdades em saúde, mostrou que as pessoas que
pertencem a uma classe social mais desfavorecida têm pior saúde, uma vez que
apresentam maiores níveis de inflamação crónica, estando esta associada a
problemas de saúde como o cancro, doença cardiovascular e a diabetes.
"O Almoço do Trolha" - Júlio Pomar |
Para testar estas duas hipóteses,
os investigadores usaram dados de 18.400 indivíduos, com idades compreendidas
entre os 50 e os 75 anos, de quatro países europeus – Portugal, Irlanda, Reino
Unido e Suíça. Os indivíduos integravam cinco coortes (estudos longitudinais)
dos referidos países: ELSA e Whitehall II (Reino Unido), TILDA (Irlanda),
EPIPorto (Portugal) e SKIPOGH (Suíça), tendo sido considerados no estudo vários
indicadores: Diabetes, Hipertensão Arterial, Fumar, Índice Massa Corporal,
Marcador Inflamatório (Proteína C Reativa - PCR) Posição socioeconómica, Idade e
Género.
Os resultados mostram que os indivíduos situados nos grupos
socioeconómicos mais baixos (a classe social foi harmonizada de acordo com a
Classificação Socioeconómica Europeia (ESeC) e a Classificação Internacional
Padrão da Educação (ISCED 2011) têm maiores níveis médios de inflamção(PCR), e que quanto mais desigual é o país maior é o nível de inflamação dos indivíduos e mais
pronunciado é o gradiente socioeconómico da inflamação, existindo uma diferença
significativa entre os níveis de proteína C-reativa das classes mais desfavorecidas
("pobres") e mais favorecidas socioeconomicamente ("ricos").
O estudo confirma que a classe
social é um fator de risco para saúde, não só do ponto de vista absoluto como
também do ponto de vista relativo tendo em conta o gradiente social, definido
como “o fenómeno pelo qual as pessoas que são menos favorecidos em termos de
posição socioeconómica têm pior saúde (e vida mais curtas) do que aqueles que
são mais favorecidos”.
A investigação revela ainda que
Portugal é o país onde os níveis de inflamação crónica na população são mais
elevados e onde existe uma diferença mais marcada entre os grupos socioeconomicamente
mais desfavorecidos (pobres) e os mais favorecidos (ricos), resultado que está
em linha com o facto de Portugal ser o país mais desigual em termos sociais
entre os países estudados, Irlanda, Reino Unido e Suíça.
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