Em 1838 Charles Dickens, no seu segundo
romance "Oliver Twist”, publicado em fascículos entre 1837-1839, escrito após a aprovação da nova "Lei dos Pobres" em 1834, que considerava a pobreza como uma "falha moral" e obrigava os pobres a ingressar nas "workhouse" para receberem qualquer apoio, retratava
a vida de um órfão no submundo da Londres industrial e empobrecida do século XIX, onde as crianças eram
recrutadas e utilizadas no mundo do crime, como mão-de-obra nas
fábricas, vivendo em orfanatos ou pelas ruas. Em “Oliver Twist” Dickens descreve a
vida dos pobres e as condições em que viviam nos bairros de lata “slums” no
Inverno frio da Inglaterra vitoriana.
Anti-Poor Law poster, c. 1837.The National Archives/Heritage-Images |
Vem isto a propósito do trabalho realizado pelo
CENSE (Centre for Environmental and Sustainability Research) da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (aqui)que fez o mapeamento da
pobreza energética (de acordo com os critérios da OMS vivem em pobreza
energética as famílias que têm de consagrar mais de 10% dos seus rendimentos à
eletricidade e ao aquecimento) em Portugal, tendo em conta o clima, a tipologia
de construção e a condição socioeconómica para climatização das casas. O estudo
que integrou o projeto ClimAdaPT.local, concluiu que, em média, 29 por cento da
população não tem capacidade de aquecer as casas no Inverno nem arrefecê-las no
Verão, verificando-se os piores resultados nas zonas rurais (Bragança é o
concelho do país onde existe mais pobreza energética entre a população com mais
de 65 anos, em particular na freguesia de Rio de Onor, onde 75 por cento dos
habitantes estão nesta situação) e em bolsas urbanas onde a disponibilidade
económica é reduzida.
O estudo citado confirma as investigações anteriormente
publicados, revelando uma vez mais que Portugal apresenta indicadores muito
baixos no que se refere à qualidade energética das habitações em particular das
pessoas mais idosas, ainda recentemente o Inquérito às Condições de Vida e
Rendimento, realizado em 2016, revelava que 22,5% das pessoas viviam em agregados
sem capacidade para manter a casa adequadamente aquecida adequadamente.(aqui)
De acordo com a evidência publicada são os mais
pobres e em particular os mais velhos (especialmente os que têm idade superior
a 85 anos) que são os mais propensos a terem em simultâneo as casas mais frias
e húmidas e a menor capacidade para as manterem aquecidas, gerando condições
propícias ao agravamento da sua condição de saúde. (aqui)
Temperatura
interior
|
Efeito
|
21.ºC
|
Temperatura
recomendada no interior da habitação
|
18.ºC
|
Temperatura
interior mínima sem risco para a saúde, embora se possa sentir frio.
|
<18.º
C
|
A
resistência às doenças respiratórias pode estar diminuída
|
09
- 12 º C
|
Aumento
da pressão arterial e do risco cardiovascular
|
5.ºC
|
Risco
elevado de hipotermia
|
Sem comentários:
Enviar um comentário