No passado mês de Setembro o jornal britânico “The Guardian” (aqui) noticiava que Mark Zuckerberg e a sua esposa, Priscilla Chan, tinham anunciado
no dia 21 desse mesmo mês, que tinham planos para investir 3 bilhões de dólares
americanos ao longo dos próximos 10 anos no combate contra todas as doenças. Uma
promessa generosa que se junta a outra já anunciada em 2015 por ocasião do
nascimento da filha do multimilionário co-fundador do Facebook, quando o casal
anunciou que iria doar 99% do valor do Facebook, cerca de 45 bilhões de dólares
para ações sociais e de saúde (aqui).
Este anúncio é o exemplo mais recente do número
crescente de promessas feitas por bilionários de doarem parte das suas fortunas
para causas sociais e em particular para a saúde.
Mas serão estas ofertas positivas para saúde dos
cidadãos e para o bem comum? Vamos a ver.
Para além da improbabilidade de 3 bilhões de dólares
americanos serem suficientes para gerir o “ combate a todas as doenças”, e dos
benefícios publicitários, Zuckerberg e Chan, decidiram criar uma “sociedade
responsabilidade limitada” denominada nos Estados Unidos por “Limited Liability Company (L.L.C.)” para gerirem os futuros fundos destinados à saúde ao invés da
criação do habitual modelo de Fundação.
A estrutura criada (L.L.C.) corresponde a uma organização
que age em parte como uma corporação e em parte como uma parceria de negócios. De
acordo com o New York Times (aqui) a L.L.C. pode proporcionar benefícios, e ser uma
vantagem particular para os jovens bilionários, proporcionando-lhes mais
controlo sobre as suas fortunas … mais flexibilidade em investir em empresas
sociais com fins lucrativos, possibilitando também apoiar causas políticas, e
deixando-lhes as mãos mais livres. Isto acontece porque a L.L.C. está sujeita a
menos regras do que uma fundação sem fins lucrativos, exigindo uma menor divulgação
de documentos fiscais públicos, permitindo o investimento em empresas com fins
lucrativos e o lobbying para pressionar
por exemplo por mudanças nas leis. Em suma a LLC permite que os seus acionistas
fiquem completamente livres para fazer o que quiserem com seu dinheiro.
Por outro lado, o filantrocapitalismo afeta os
dinheiros públicos, ao transferir a riqueza pessoal para uma fundação ou LLC,
os doadores evitam impostos, impostos sobre as heranças, que de outra forma,
fariam parte da receita fiscal dos Estados, podendo ser dirigidas para gastos
sociais. Por outras palavras os filantrocapitalistas estão a receber apoios
para as atividades que eles já se podem “dar ao luxo” de promover ou fazer,
acabando por beneficiar de apoio público às suas iniciativas empresariais podendo
estimular receitas das empresas rentáveis.
A aceitação acrítica do filantrocapitalismo permite
que figuras de sucesso empresarial, como Gates ou Richard Branson, Andrew Carnegie ou Rockefeller no passado, apareçam aos olhos dos cidadãos com autoridade
moral sustentada na sua eficiência empresarial, inovação e ganhos financeiros,
para desenvolverem e apoiarem projetos e programas na área da saúde, sem nunca
terem demonstrado que tenham qualquer capacidade ou experiência no
desenvolvimento social e de saúde, passando a dispor do poder de influenciar a
tomada de decisões de instituições como a Organização Mundial de Saúde e impor
as suas agendas particulares.(aqui)(aqui)
Global Health Philanthropy and Institutional Relationships: How Should Conflicts of Interest Be Addressed? |
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