quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O BAIXO NÍVEL SOCIOECONÓMICO REDUZ MAIS A ESPERANÇA DE VIDA DO QUE O ÁLCOOL, A OBESIDADE OU A HIPERTENSÃO

A revista Lancet publicou na sua edição de 31 de Janeiro de 2017, um estudo multicoorte e uma meta-análise envolvendo 48 estudos prospetivos com informação sobre o nível socioeconómico e sobre os fatores 25x25 (consumo excessivo de álcool, inatividade física, tabagismo, hipertensão, diabetes e obesidade) (aqui) abrangendo uma população de mais de 1.7 milhões de pessoas (1.751.479), estimando a associação entre o nível socioeconómico e os fatores de risco 25x25 com a mortalidade por todas as causas, a mortalidade por cada uma das causas, e os anos de vida perdidos.

O estudo “Socioeconomic status and the 25×25 risk factors as determinants of premature mortality: a multicohort study and meta-analysis of 1·7 million men and women” (aqui) liderado pela Dra. Silvia Stringhin do Instituto de Medicina Social e Preventiva e Departamentos de Psiquiatria e Medicina Interna do Hospital Universitário de Lausanne, contou com coautoria de dois investigadores portugueses, o Prof. Henriques de Barros e da Dra. Sílvia Fraga do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e com o financiamento da Fundação Portuguesa para a Ciência e a Tecnologia, entre outras entidades.

Os resultados apresentados demonstraram que o baixo nível socioeconómico da população reduz a esperança de vida em 2 anos (entre os 40 e os 85 anos), quase tanto como o sedentarismo (2.4 anos), e muito mais que o consumo excessivo do álcool (0.5 anos), a obesidade (0.7 anos) e a hipertensão (1.6 anos). Os fatores de risco 25x25 que apresentam piores resultados são a diabetes (3.9 anos) e o consumo do tabaco (4.8 anos).


O estudo confirma que o baixo nível socioeconómico é um dos mais fortes preditores de morbilidade e mortalidade prematura em todo o mundo, devendo ser considerado como um fator de risco para as doenças não transmissíveis, a par dos fatores de risco 25x25.

Na discussão final do artigo os investigadores criticam a exclusão deste determinante social da saúde das estratégias e das ações definidas no “The 2013–20 World Health Organization (WHO) Global Action Plan for the Prevention and Control of Non-Communicable Diseases” no programa de vigilância dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, o Global Burden Disease, defendendo que o nível socioeconómico deve ser “included as a modifiable risk factor in local and global health strategies, policies, and health-risk surveillance”, sublinhando que apesar da importância crescente que os determinantes sociais da saúde têm assumido ao nível das agências internacionais nos últimos anos “as evidenced in the report of the WHO Commission on the Social Determinants of Health (CSDH) in 2008 and in the Rio Political Declaration on the Social Determinants of Health”, as estratégias globais continuam centradas no tratamento dos fatores de risco proximais e não na “causa das causas”.

Num comentário ao artigo (aqui), Martin Tobias, afirma que os argumentos dos autores não são políticos ou ideológicos mas ciência rigorosa “ their argument not on political ideology but on rigorous science”, terminando com um apelo para que se coloque os determinantes sociais no centro do desenvolvimento sustentável.


What is needed is strong advocacy from the health professions, led by doctors, for this wider view of risk factors. Does this mean that it is no longer enough for us, as doctors, to know about clinical medicine and human biology? Must we in the health professions also become adept at macroeconomics and sociology? Let us hope so” 

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