A revista
Lancet publicou na sua edição de 31 de Janeiro de 2017, um estudo multicoorte e
uma meta-análise envolvendo 48 estudos prospetivos com informação sobre o nível
socioeconómico e sobre os fatores 25x25 (consumo excessivo de álcool,
inatividade física, tabagismo, hipertensão, diabetes e obesidade) (aqui) abrangendo uma
população de mais de 1.7 milhões de pessoas (1.751.479), estimando a associação
entre o nível socioeconómico e os fatores de risco 25x25 com a mortalidade por
todas as causas, a mortalidade por cada uma das causas, e os anos de vida
perdidos.
O estudo “Socioeconomic status and the 25 × 25 risk
factors as determinants of premature mortality: a multicohort study and
meta-analysis of 1·7 million men and women” (aqui) liderado pela Dra. Silvia
Stringhin do Instituto de Medicina Social e Preventiva e Departamentos de Psiquiatria
e Medicina Interna do Hospital Universitário de Lausanne, contou com coautoria
de dois investigadores portugueses, o Prof. Henriques de Barros e da Dra.
Sílvia Fraga do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e com o
financiamento da Fundação Portuguesa para a Ciência e a Tecnologia, entre
outras entidades.
Os
resultados apresentados demonstraram que o baixo nível socioeconómico da
população reduz a esperança de vida em 2 anos (entre os 40 e os 85 anos), quase
tanto como o sedentarismo (2.4 anos), e muito mais que o consumo excessivo do
álcool (0.5 anos), a obesidade (0.7 anos) e a hipertensão (1.6 anos). Os fatores
de risco 25x25 que apresentam piores resultados são a diabetes (3.9 anos) e o
consumo do tabaco (4.8 anos).
O estudo
confirma que o baixo nível socioeconómico é um dos mais fortes preditores de
morbilidade e mortalidade prematura em todo o mundo, devendo ser considerado como
um fator de risco para as doenças não transmissíveis, a par dos fatores de
risco 25x25.
Na
discussão final do artigo os investigadores criticam a exclusão deste
determinante social da saúde das estratégias e das ações definidas no “The
2013–20 World Health Organization (WHO) Global Action Plan for the Prevention
and Control of Non-Communicable Diseases” no programa de vigilância dos
Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, o Global Burden Disease,
defendendo que o nível socioeconómico deve ser “included as a modifiable risk
factor in local and global health strategies, policies, and health-risk
surveillance”, sublinhando que apesar da importância crescente que os
determinantes sociais da saúde têm assumido ao nível das agências
internacionais nos últimos anos “as evidenced in the report of the WHO Commission on the Social Determinants of Health (CSDH) in 2008 and in the Rio Political Declaration on the Social Determinants of Health”, as estratégias
globais continuam centradas no tratamento dos fatores de risco proximais e não
na “causa das causas”.
Num
comentário ao artigo (aqui), Martin Tobias, afirma que os argumentos dos autores não
são políticos ou ideológicos mas ciência rigorosa “ their argument not on
political ideology but on rigorous science”, terminando com um apelo para que
se coloque os determinantes sociais no centro do desenvolvimento sustentável.
“What is needed is strong advocacy from the health
professions, led by doctors, for this wider view of risk factors. Does this
mean that it is no longer enough for us, as doctors, to know about clinical
medicine and human biology? Must we in the health professions also become adept
at macroeconomics and sociology? Let us hope so”
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