No passado
dia 17 de Julho o Professor Michael Marmot, diretor do Institute of Health Equity, apresentou os “Marmot Indicators 2017” dedicados à análise da
esperança de vida entre 2012 – 2015 no Reino Unido. (aqui)
Os resultados
apresentados mostraram uma desaceleração no aumento da esperança de vida, que
nas palavras de Marmot levaram praticamente a uma paragem “the increase has
more or less ground to a halt”, contrariando a tendência de crescimento
contínuo, de 1 ano a cada 3 anos e meio nos homens e de 1 ano a cada 5 anos nas
mulheres, verificada no Reino Unido ao longo do século XX.
Ao
contrário do que tinha vindo a acontecer desde o final da II Guerra Mundial até
2010, com um crescimento contínuo da esperança de vida, passando de 64.1 anos
para os homens e 68.7 para as mulheres em 1946, para 77.1 anos para os homens e
81.4 para as mulheres em 2005 e novamente para 78.7 anos para os homens
e 82.6 para as mulheres em 2010, verificou-se um abrandamento se não mesmo uma
paragem deste crescimento, desde que tomou posse em 2010 o governo de coligação
(conservador-liberal) chefiado por David Cameron, uma vez que em 2015 a
esperança de vida para os homens atingiu os 79.6 anos e os 83.1 anos para as
mulheres.
Rise in life expectancy in England |
Considerado
como causa para alarme por Michael Marmot “ There is cause for alarm. Something has happened to slow health improvement in the UK.”, uma vez que o Reino Unido
ainda não atingiu os resultados obtidos pelos países nórdicos, pelo Japão ou
por Hong-Kong onde a esperança de vida é maior e continua a aumentar, Marmot
aponta para as desigualdades e para os determinantes sociais como causas para
este abrandamento, já anteriormente verificados no estudo de Anne Case e Angus
Deaton nos Estados da Unidos da América, onde se encontrou um aumento
significativo na mortalidade entre os norte-americanos brancos não hispânicos
dos 45 aos 54 anos (aqui) e os resultados obtidos pelo Glasgow Centre for Population
Health, onde se encontrou um excesso de mortalidade na cidade de Glasgow, quando
comparada com a verificada em cidades como Liverpool e Manchester (aqui).
No estudo
agora apresentado, também se verificaram importantes desigualdades entre as
regiões mais ricas e as mais pobres do Reino Unido, uma vez que enquanto no
bairro mais rico de Londres, Kensington & Chelsea, os homens vivem até aos
83 e as mulheres até aos 86 anos, no Norte do Reino Unido em Blackpool, os
homens vivem até aos 74 e em Manchester as mulheres vivem até aos 79 anos.
Para além
destes resultados, confirmaram-se ainda profundas desigualdades entre a
população de uma mesma área residencial, assim em Kensigton & Chelsea
verificou-se uma diferença de 14 anos na esperança de vida entre as áreas mais ricas
e mais pobres da área residencial. Em Kensington e Chelsea o rendimento médio é
de 137.070 euros, mas a mediana é 36.441 euros, ou seja mais de metade das
pessoas têm menos de 32.700 euros. Pelo que não será difícil adivinhar em que
local de Kensigton & Chelsea se encontrava a Grenfell Tower (aqui).
Durante a
apresentação foram ainda sublinhados os aspetos relacionados com a redução de
rendimentos verificada entre 2008/9 e 2014/2015, e os cortes verificados nas
áreas da saúde e social, que no caso do Reino Unido afetaram particularmente os
mais velhos.
Apesar de
Marmot ter resistido até agora a ligar a redução da esperança de vida à
política de austeridade desenvolvida desde 2010, conclui que os cortes nas despesas
públicas socias e de saúde, terão um importante impacto na qualidade de vida
nos idosos e que é urgente continuar a estudar o impacto da austeridade na vida
das pessoas.
“What I would conclude, though, is that less generous
spending on social care and health will have adverse impacts on quality of life
of the elderly. It is urgent to determine whether austerity also shortens
lives.”
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