Nos últimos
dias e a propósito do Dia Internacional da Mulher muito se falou das
desigualdades de género ao longo da vida em Portugal e um pouco por todo o
mundo.
Mas antes
de abordarmos as desigualdades de género e saúde, vale a pena lembrar as raízes
operárias da celebração deste dia, voltando à Nova Iorque de 1909 ou à Conferência
Internacional de Mulheres Trabalhadoras de 1910 onde Clara Zetkin apresentou a
ideia de um Dia Internacional da Mulher, celebrado pela primeira vez no dia 8
de março de 1917 quando as mulheres russas iniciaram uma greve por "pão e
paz" em resposta à morte de mais de 2 milhões de soldados russos na
Primeira Guerra Mundial. Foi necessário esperar algumas décadas para que o Dia
Internacional da Mulher fosse oficializado pelas Nações Unidas em 1975 (aqui),
deixando progressivamente o seu caráter de classe para passar a ter um teor
mais feminista.
Mas as
desigualdades, entendidas como diferenças, não devem ser confundidas como
“iniquidades” desigualdades desnecessárias, injustas e evitáveis, resultantes
de fatores estruturais das sociedades patriarcais em que vivemos. Fatores
estruturais como o acesso ao ensino, a participação no mercado de trabalho, a
independência económica, o trabalho em casa e fora de casa, a tomada de
decisões, a violência de género, as oportunidades económicas e o poder político
são disto exemplos, sempre desfavoráveis às mulheres com reportam os relatórios
da União Europeia e do Fórum Económico Mundial respetivamente “2018 Report one quality between women and men in the EU” e o “ The Global Gender Gap Report 2018”.
Apesar
destas desigualdades sociais de género, sabemos que em todo o mundo as mulheres
vivem 4,4 anos mais que os homens, e que esta diferença resulta sobretudo de
fatores não biológicos. As evidências publicadas mostram que os homens adotaram
ao longo dos últimos 100 anos comportamentos sociais nocivos para a saúde,
percebidos como masculinos como o consumo do tabaco, do álcool e de substâncias
ilícitas, comportamentos que conduzem ao risco de acidentes e de violência,
provocando uma mortalidade prematura por cancro, por doenças respiratórias e
por lesões decorrentes de acidentes e de atos violentos.
No entanto,
e paradoxalmente quando analisamos indicadores de saúde e de qualidade de vida
percebemos que as mulheres apresentam pior condição de saúde, têm mais doenças
crónicas, mais dias de incapacidade, mais consultas médicas e internamentos hospitalares
do que os homens, ou seja, vivem mais anos mas com pior saúde do que os homens.
Resultados ainda mais negativos quando se consideram apenas as mulheres das
classes sociais mais desfavorecidas, as que acumulam piores condições de trabalho,
salários mais baixos e cargas de trabalho doméstico e familiar, mais pesadas.
No caso de
Portugal, as mulheres (esperança de vida à nascença de 84,3) vivem mais 6,1
anos do que os homens (esperança de vida à nascença de 76,2) mas vivem menos
anos com saúde, uma vez que aos 65 anos, as mulheres portuguesas têm uma
esperança de vida de 21,8 anos, mas 71% deles serão vividos com limitações,
enquanto os homens têm uma esperança de vida de 18 anos, mas 57% deles serão
vividos com limitações. (aqui)
No que se
refere à autoapreciação sobre o seu estado de saúde 48.9% (1.7 milhões) das
mulheres dos 25 aos 74 anos inquiridas no INSEF (aqui) consideraram o seu estado de
saúde bom ou muito bom, enquanto no estudo “ As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem” publicado pela Fundação Manuel dos Santos e
coordenado por Laura Sagnier e Alex Morell as mulheres quando questionadas acerca
do grau de felicidade que sentem com a saúde 41% declararam que se sentem
felizes ou muito felizes com a saúde (41%) contra 39% que sentem infelizes
(39%). Neste este último estudo os valores mínimos de felicidade com a saúde estão
relacionados com as frentes que as mulheres têm na vida e com o peso (índice
massa corporal), o valor mínimo, 5.4% regista-se entre as mulheres que têm só a
frente “filhos/as”, seguido de 5.9% para o índice “obesidade” e 7.1% para o
índice “peso baixo”.
Finalmente e
no que se refere à violência de género, as estimativas da Organização Mundial
de Saúde (aqui) apontam para que 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo sofram de
violência física ou sexual ao longo de vida, na maioria dos casos por parte do
seu parceiro íntimo e que 38% dos assassinatos de mulheres em todo o mundo são
cometidos pelo seu parceiro.
As mulheres
são mais de metade do mundo mas continuam a ser discriminadas. Para combater
esta discriminação necessitamos de um forte compromisso entre os cidadãos e a
instituições, que ponham em prática os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável aprovados pelas Nações Unidades em 2015, uma vez que 1/5 dos
objetivos fazem referência à igualdade de género, de forma a conseguirmos uma
sociedade mais justa e igualitária.