No passado
mês de Março a Fundação Amâncio Ortega, anunciou a doação de 320 milhões de
euros aos hospitais públicos de todas as autonomias espanholas para renovação dos
equipamentos de diagnóstico e de tratamento de radioterapia do cancro (aqui), um
anúncio generoso que alarga a toda a Espanha o programa da Fundação do fundador
da Zara (Inditex), o homem mais rico da Europa e o segundo mais rico do mundo (aqui),
iniciado em 2015 com a doação de 17 milhões de euros ao sistema público da
Galiza (Servizo Galego de Saúde) para adquirir 16 mamógrafos digitais e 12
aceleradores lineares.
Agora no
início do mês de Junho quando entre o apoio entusiasmado dos diversos responsáveis
das Comunidades Autónomas, da Sociedad Española de Oncologia Radioterápica ou
dos pacientes, Grupo Español de Pacientes con Cáncer, a Fundação Amâncio Ortega
se preparava para assinar os diversos protocolos (aqui), surgem várias críticas de
organizações de pacientes e profissionais liderados pela Federación de
Asociaciones para la Defensa de la Sanidad Pública (aqui) e pela Plataforma No Gracias (aqui) que criticam esta iniciativa filantrocapitalista, chamando a atenção,
nomeadamente para a estratégia de deslocalização das empresas têxteis para
regiões onde os trabalhadores são sujeitos a exploração e a trabalho escravo ou
à deslocalização das empresas para regiões onde os impostos são mais baixos.
Irish Times |
No caso da
Inditex, a empresa tem-se visto envolvida em casos de trabalho sem direitos na
Turquia (aqui) ou no Brasil (aqui) e acusada de utilizar expedientes para fugir aos impostos
localizando as suas empresas em países, como a Irlanda, a Holanda e a Suíça
onde os regimes de impostos lhe são mais favoráveis (aqui)(aqui).
A aceitação
acrítica do filantrocapitalismo permite que figuras de sucesso empresarial,
como Amâncio Ortega, apareçam aos olhos dos cidadãos com autoridade moral
sustentada na sua eficiência empresarial, inovação e ganhos financeiros, para
desenvolverem e apoiarem projetos e programas na área da saúde, sem nunca terem
demonstrado que tenham qualquer capacidade ou experiência no desenvolvimento
social e de saúde, passando a dispor do poder de influenciar a tomada de
decisões de instituições e impor as suas agendas particulares, para além de os proteger
das críticas sobre a forma como construíram as suas riquezas, as práticas
laborais que aplicam e a sua conduta pública para perturbar a aplicação da
legislação, ou mesmo modifica-la quando estas não corresponde aos seus interesses
particulares. (aqui)
Necessitamos
de sociedades que criem condições para que se gere riqueza e de mecanismos
democráticos que permitam a sua distribuição de uma forma equitativa.
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