Num mundo
cada vez mais quente, e em sociedades cada vez "mais frias" que
voltam as costas aos mais vulneráveis, o calor é um assassino invisível, que
não liquida todos por igual. As estórias das vagas e das ondas de calor pertencem à história
económica e social, só compreendidas à luz dos determinantes sociais da saúde.
Portugal continental
esteve nos primeiros dias de Agosto sobre uma vaga de calor extremo, em muitas
estações meteorológicas a temperatura ultrapassou mais de 40 graus Celsius, levando
a um aumento da mortalidade em particular entre as pessoas de mais de 70 anos,
registando-se no dia 05 de janeiro 482 óbitos. (aqui)
Em post´s (aqui)(aqui) anteriores chamávamos à atenção para os efeitos do aquecimento global e para
ocorrência cada vez mais frequentes de catástrofes relacionadas com o clima. Em
Agosto de 2017 a revista Lancet Planetary Health publicava o estudo “Increasing risk over time
of weather-related hazards to the European population: a data-driven prognostic
study” (aqui) onde se concluía que o aquecimento global poderá provocar na Europa
catástrofes relacionadas com o clima que afetarão cerca de 2/3 da população no
ano de 2100 e multiplicarão por 50 as mortes verificadas no período de
1981-2100.
De acordo
com a investigação a situação será altamente desfavorável ao Sul da Europa,
onde a taxa de mortalidade prematura devido ao clima extremo entre os anos em
estudo (2071-2199) poderá atingir cerca de 700 mortes anuais por milhão de
habitantes tornando-se no maior fator de risco ambiental para a saúde.
O estudo
conclui ainda que alguns grupos sociais podem ser mais afetados do que outros,
“In particular, the most vulnerable will be elderly people and those with
diseases..., as well as the poor...”, confirmando a evidência científica
publicada desde que Klinenberg (aqui) estudou a Onda de Calor que afetou Chicago em
1995 descobrindo que as 700 mortes verificadas não eram consequência “natural”
da Onda de Calor mas eram antes moldadas pelo contexto e pela organização
social humana. De acordo com Klinberg, em Chicago morreram as pessoas idosas,
as pobres e as isoladas, concluindo que sem a “desnaturalização” do evento a
relação das desigualdades sociais e políticas com a mortalidade observada
continuaria escondida.
As mudanças
climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais,
económicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais
desafios para a humanidade, o Acordo de Paris 2015 foi a mais recente tentativa
para tentar travar o aquecimento global (aqui). Aprovado por 194 países, ratificado por
mais de 150, incluindo a China e os países da União Europeia, sofreu um
importante revés quando a administração Trump informou em junho de 2017 que os
Estados Unidos iriam abandonar o Acordo. (aqui)(aqui)
Mas o risco
de assegurar que o aumento da temperatura média global fique abaixo de 2°C prosseguindo
os esforços para limitar o aumento da temperatura até 1,5°C acima dos níveis
pré-industriais, pode não ser suficiente conforme propõe um estudo publicado na
revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” PNAS, onde os
investigadores (aqui) (aqui) afirmam que “ o grande receio é que, mesmo que se consiga travar
as emissões nos dois graus, alguns daqueles fenómenos já não sejam reversíveis
e façam aumentar a temperatura, desencadeando um efeito dominó” apontando como “
a única forma de tentar impedir isso é «descarbonizar imediatamente o sistema
mundial de energia, e alcançarmos um mundo livre de combustíveis fósseis o mais
tardar em 2040-2050».
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