domingo, 25 de novembro de 2018

2019 - HEALTH AT A GLANCE, 1 EM CADA 6 PESSOAS NA UNIÃO EUROPEIA SOFRE DE PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL.


O relatório anual “Health at Glance 2018” publicado pela OCDE no passado dia 22 de novembro apresenta análises comparativas do estado de saúde dos cidadãos europeus e do desempenho dos sistemas de saúde dos 28 países da União Europeia (UE), de cinco países candidatos (Albânia, Macedónia, Montenegro, Sérvia e Turquia), e de 3 países (Islândia, Noruega e Suécia).

O relatório de 2018 dá um enfoque especial à Saúde Mental, defendendo a sua melhoria como uma prioridade para o bem-estar individual dos cidadãos e das sociedades e chamando à atenção para estimativas recentes que revelaram que uma em cada seis pessoas da UE teve um problema de saúde mental em 2016, o equivalente a 84 milhões de pessoas e para o facto de em 2015 terem morrido cerca de 84000 pessoas de causas atribuídas a doenças mentais ou ao suicídio.

Para além destes aspetos, o “Health at Glance 2018” sublinha os custos económicos e sociais dos problemas de saúde mental cifrados em mais de 4% do produto interno bruto (PIB), mais de 600 milhões nos 28 países da UE, repartidos pelos 190 milhões de euros (1.3% PIB) de despesa direta nos cuidados de saúde, pelos 170 milhões de euros (1.2% PIB) de despesa em programas de segurança social, e, pelos 240 milhões de euros de custos indiretos (1.6% PIB) resultantes da redução de emprego e de produtividade no mercado de trabalho.
De acordo com os dados citados no relatório, provenientes do IHME 2018, os problemas de saúde mental mais prevalentes são as perturbações de ansiedade (5.4% da população – 25 milhões), as perturbações depressivas (4.5% da população – 21 milhões) e as doenças mentais mais severas como as perturbações bipolares (1.1% da população – 5 milhões) e a esquizofrenia (0.3% -1.5 milhões), estimando-se, ainda, que os problemas de saúde mental relacionados com o consumo do álcool e de drogas atinjam cerca de 11 milhões na UE.

No que se refere à sua distribuição entre a população, os dados provenientes do 2014 European Health Interview Survey, confirmam uma diferença substancial na depressão crónica auto-relatada, entre homens e mulheres, com cerca de 1 em cada 12 (8.8%) mulheres a reportarem uma depressão crónica, contra 1 em cada 19 homens (5.3%, um aumento da ocorrência da depressão em ambos os sexos à medida que a idade avança, sendo particularmente elevada entre os 55 e os 64 anos e acima dos 75 anos.
No que se refere à escolaridade a depressão crónica atinge particularmente as pessoas com menos escolaridade, e no que se refere ao trabalho e ao rendimento, atinge as pessoas de menores rendimentos.

O relatório chama ainda à atenção para o facto do trabalho e o emprego, terem um papel relevante na saúde mental das pessoas estando o desemprego associado ao agravamento das condições de saúde mental, enquanto o trabalho tem um papel positivo na saúde mental, registando-se melhorias na autoestima e nos sintomas de depressão quando as pessoas regressam ao mundo do trabalho.

A ESPERANÇA DE VIDA À NASCENÇA ESTAGNA EM ALGUNS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL

O “Health at Glance 2018” também observou uma desaceleração no crescimento da esperança de vida à nascença em alguns dos países europeus, incluindo a França, a Alemanha e o Reino Unido, apesar de se ter verificado uma melhoria de 3 anos entre 2001 e 2011 em todos os países da UE.
Este abrandamento no crescimento da esperança de vida verificada em 2015, em muitos países da Europa Ocidental, em que se incluem a Alemanha, a França, a Holanda, a Itália e o Reino Unido, em particular entre a população maior de 75 anos, foi atribuída ao excesso de mortalidade verificado no Inverno de 2015 e ao aumento das doenças cardiovasculares. Estes dados confirmam o abrandamento do crescimento da esperança de vida no Reino Unido já anteriormente reportado por Marmot (aqui) e Raleigh (aqui), e atribuído às medidas de austeridade e aos cortes nas despesas públicas.
O relatório confirma ainda grandes desigualdades na esperança de vida à nascença atribuídas aos determinantes sociais da saúde, quer sejam medidos pelo rendimento, pela ocupação profissional ou pela escolaridade, utilizando na secção “INEQUALITIES IN LIFE EXPECTANCY” o indicador escolaridade (por ser aquele que está quase sempre disponível) para estudar as desigualdades na distribuição da esperança de vida à nascença.



domingo, 18 de novembro de 2018

AS PESSOAS QUE VIVEM NAS ÁREAS MAIS POBRES ADOECEM 10 ANOS MAIS CEDO DO QUE AS PESSOAS QUE VIVEM NAS ÁREAS MAIS RICAS


O estudo "Understanding the health care needs of people with multiple health conditionspublicado no dia 13 de novembro pela “Health Foundation” envolvendo cerca de 300.000 pessoas concluiu que as pessoas que vivam nas áreas mais pobres (último quintil) adoecem 10 anos mais cedo que as pessoas que vivem nas áreas mais favorecidas (1º quintil), o que significa que as pessoas que vivem nas áreas mais favorecidas podem esperar ter dois ou mais problemas de saúde aos 71 anos, enquanto as pessoas que vivem nas áreas de maior privação têm 2+ problemas de saúde aos 61 anos.
 O estudo realizado pela “Health Foundation” analisou os dados de saúde de 300.000 ingleses durante os anos de 2014 a 2016 com o objetivo de estudar a multimorbilidade, uma vez que as pessoas que apresentam múltiplos problemas de saúde têm pior qualidade de vida, correm maior risco de morte prematura e necessitam de maior suporte dos serviços de saúde. Com esse objetivo o estudo considerou 36 condições de saúde, incluindo ocorrência de doença crónica, fatores de risco, sintomas como a dor crónica, deficiências sensoriais e ainda o uso indevido de substâncias, a sua distribuição entre a população e a utilização dos serviços de saúde, tanto ao nível dos centros de saúde como dos Hospitais, incluindo internamento e urgência, tendo encontrado como principais conclusões:



- 1 em cada 4 adultos tinha 2+ problemas de saúde, o que equivale a aproximadamente 14,2 milhões de pessoas na Inglaterra.
- As pessoas das áreas mais desfavorecidas correm maior risco de ter múltiplos problemas e em idades mais jovens. Cerca de 28% das pessoas nas áreas mais desfavorecidas tem 4+ problemas de saúde em comparação com 16% das pessoas mais favorecidas.
- 30% das pessoas com 4+ problemas de saúde têm menos de 65 anos de idade, e essa % é maior nas áreas mais desfavorecidas.
- Em 2015/2016 1 em cada 3 doentes internados num hospital tinha 5+ problemas de saúde, enquanto em 2006/07, a proporção era de 1 em cada 10 doentes.
- As pessoas com multimorbilidades têm múltiplas consultas e tratamentos. Os doentes com 4 ou mais problemas tiveram uma média de 8,9 consultas em 2,8 especialidades médicas. Durante o período do estudo, esses doentes (4+) visitaram um médico de família 24.6 vezes (1 vez por mês em média) tendo-lhe sido prescritos 20,6 medicamentos diferentes. Enquanto um doente com 1 problema de saúde, teve 2,8 consultas com especialista, 8,8 consultas de medicina geral e familiar, e 5,6 medicamentos prescritos. No entanto, os doentes com mais problemas de saúde não tiveram tempos de consulta mais longos com o seu médico de família, apesar de suas necessidades mais complexas.
- 82% das pessoas com cancro, 92% das pessoas com doença cardiovascular, 92% das pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica e 70% das pessoas com problemas de saúde mental têm pelo menos mais um problema de saúde adicional.
- Os cuidados de saúde com as pessoas com 2+ problemas de saúde são responsáveis por mais de metade dos custos dos cuidados primários e secundários, e ¾ dos custos das prescrições dos cuidados primários.

O estudo chama ainda à atenção para o aumento previsível das despesas em saúde resultante do crescimento nos próximos 5 anos da atividade hospitalar em cerca de 14% por via do aumento do número de pessoas com múltiplos problemas de saúde e para o fato das estratégias clínicas continuarem a privilegiar o enfoque num único problema de saúde.

Propondo a “Health Foundation” que o planeamento de longo prazo para o Serviço Nacional de Saúde inglês deva ter um foco claro nas pessoas com múltiplos problemas de saúde.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

GLOBAL BURDEN DISEASE 2017 - MOSTRA DEFICE DE PROFISSIONAIS DE SAUDE E REGRESSÃO NOS GANHOS EM SAÚDE


A revista Lancet de 10 de Novembro (aqui) apresenta os resultados de 2017 da Carga de Doença Global (GBD), que também podem ser explorados de uma forma interativa no sítio da internet do Institute for Health Metrics and Evaluation (aqui), estando disponíveis para os 195 países estudados.

Dos trabalhos apresentados salientamos o estudo “Measuring progress from 1990 to 2017 and projecting attainment to 2030 of the health-related Sustainable Development Goals for 195 countries and territories: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017” onde os autores analisam 41 dos 52 indicadores relacionados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Setembro de 2015, para 195 países e territórios entre 1990 e 2017, tendo incluído pela primeira vez na história do GBD, estimativas sobre o número de profissionais de saúde existentes.

No Editorial desta edição da revista Lancet intitulado “GBD 2017: a fragile world”, o editorialista chama à atenção dos leitores, dos governos e das agências internacionais para a iminente perda de ganhos em saúde que se vinham a registar desde que os resultados da Carga de Doença Global(GBD) tem vindo a ser publicados, sugerindo uma leitura cuidadosa do “Global Burden of Disease Study 2017”, uma vez que os resultados apresentados, mostram taxas globais de mortalidade estagnadas ou a diminuir em plateau, chamando à atenção para o aumento de 118% das causas de morte resultantes de conflitos armados e ações terroristas nos últimos 10 anos.

Ao contrário do que era habitual com a apresentação dos resultados anuais da Carga de Doença Global caracterizados até aqui por progressos significativos, os resultados de 2017 mostram um crescimento preocupante da dependência de opiáceos, do dengue, da depressão e das doenças crónicas. Aumentam a prevalência da obesidade, os transtornos depressivos e as mortes por dengue (de 24.500 em 2007 para 40.500 em 2017).

No caso da dependência dos opiáceos, 2017 apresenta 4 milhões de novos casos e 110.000 mortes, resultados sem precedentes, e no caso das doenças crónicas, responsáveis ​​por 73% de todas as mortes globais em 2017, apenas quatro fatores de risco: pressão alta, tabagismo, glicemia elevada e índice de massa corporal elevado, são responsáveis por mais de metade de todas as mortes (28,8 milhões).

A estes menos bons resultados soma-se a escassez global e a distribuição desigual dos profissionais de saúde. Os autores estimam que apenas metade dos 195 países estudados tenha os profissionais de saúde necessários para prestar cuidados de saúde de qualidade (estimados em 30 médicos, 100 enfermeiras ou parteiras e cinco farmacêuticos por cada 10 000 pessoas), estimando-se os maiores défices nos países da África subsaariana, do sudeste asiático, do sul da Ásia e de alguns países da Oceânia.

Resultados que a revista classifica de perturbadores, uma vez que tanto os dados globais como os parcelares mostram que nenhum país está no caminho certo para cumprir todos os ODS relacionados com a Saúde até 2030.


domingo, 11 de novembro de 2018

NASCER E PERMANECER NA "WORKING CLASS" É MAU PARA A SAÚDE


Num artigo "Intergenerational social mobility and allostatic loadin Great Britainrecentemente publicado no “Journal of Epidemiology and Community Health” por dois investigadores da Universidade de Oxford, que tinha como objetivo testar a hipótese da mobilidade social intergeracional ser um processo causador de stress com efeito negativo na saúde das pessoas, os autores concluíram que tanto a origem como a classe de destino são importantes para a saúde dos indivíduos, e que a mobilidade social por si só não tem impacto na sua saúde.


No estudo os autores utilizaram os dados (relação entre a classe social parental aos 14 anos, a classe social dos respondentes e a carga alostática no momento da entrevista) recolhidos um grupo de 9851 adultos participantes no “Understanding Society – The UK Household Longitudinal Study” (aqui).

No decurso da investigação concluíram que a carga alostática (inclui como indicadores: o perímetro abdominal, o colesterol total, o colesterol de alta densidade, os triglicerídeos, a hemoglobina glicada, a proteína C reativa, o fibrinogénio, pressão arterial sistólica, a frequência cardíaca em repouso e o índice de massa corporal), uma medida do desgaste do corpo resultante do stress crónico, que pode provocar doenças crónicas, como a diabetes e as doenças cardíacas, afeta sobretudo e de forma negativa aqueles que nasceram e se mantiveram naworking class”.

No que se refere à mobilidade social, verifica-se que ela afeta de forma diferente os que estão numa classe social mais elevada (topo) e descem na escala social e aqueles que começaram a vida entre as “working class” e sobem na classe social, enquanto no primeiro caso as pessoas oriundas das classes sociais mais favorecidas veem a sua saúde protegida pela sua origem, no segundo caso as pessoas oriundas da “working class” e sobem na classe social apresentam uma melhor carga alostática do que as pessoas que nasceram e permaneceram na “working class” mas muito acima daquela que afetará as pessoas que começaram numa classe social mais elevada (top) e que lá permanecem.

Concluindo os autores que a mobilidade social por si só não afeta a carga alostática, mas é antes a origem social que melhora ou prejudica a carga alostática, favorecendo sempre as classes mais favorecidas mesmo quando estas descem na escala social e prejudicando aqueles que permamecem nas classes trabalhadoras.