domingo, 27 de novembro de 2016

O CURIOSO CASO DE CUBA - SAÚDE 1959 - 2016

Cuba é uma pequena ilha do Caribe com uma população de 11 milhões de pessoas, caracterizada pelo Banco Mundial como um país de renda média (aqui)que nos últimos 50 anos tem feito assinaláveis progressos na saúde e na educação (aqui) (aqui). Em 1959 a sociedade cubana era dominada pelos grandes proprietários de plantações de açúcar, pelas grandes empresas americanas que detinham cerca de 40% das terras açucareiras, quase todas as fazendas de gado, 90% das minas e concessões de minério, 80% das “utilities”, praticamente toda a indústria do petróleo e 2/3 dos produtos que Cuba importava. A mafia americana, liderada por Meyer Lansky e Lucky Luciano, insatalada em Cuba controlava os casinos, a prostituição, as corridas de cavalos e os night-clubs, Havana era conhecida pela “Las Vegas” latina.

Fulgêncio Batista governava Cuba desde o golpe militar de 1952, tinha suspendido as liberdades civis, instituído a polícia política e transformado Cuba numa sociedade cada vez mais desigual, este era um retrato simplificado de Cuba quando a Revolução se tornou vitoriosa em 1 de Janeiro de 1959.

No campo da saúde, a disparidade entre a saúde rural e urbana era marcada, os médicos e os serviços de saúde estavam concentrados nas cidades, em Havana concentravam-se 50% dos médicos e das camas hospitalares, apenas 11% dos filhos das famílias de trabalhadores agrícolas bebia leite e a mortalidade infantil nas zonas rurais atingia 100/1.000 nados-vivos. (aqui)
Com o novo regime cubano, a saúde tornou-se uma prioridade, a Constituição de 1970, estabeleceu a Saúde como um direito universal, disponível para todos gratuitamente, da responsabilidade do Estado.
Apesar das dificuldades económicas e sociais com que Cuba se tem debatido desde os anos 90, resultantes da quebra nas relações bilaterais com a ex-União Soviética e do embargo económico, comercial e financeiro imposto a Cuba pelos Estados Unidos decretado nos anos 60 e agravado nos anos 90 pelo Congresso americano, os resultados de saúde em Cuba tem-se mantido como um exemplo para os países em desenvolvimento de todo o mundo, podendo ser comparados com países de economia avançada de todo o mundo.


An evaluation of 25 countries in the Americas measuring relative inequalities in health revealed that Cuba is the country with the best health situation in Latin America and the Caribbean. It is also the country which has achieved the most effective impact with resources, though scarce, invested in the health sector.” (aqui)
  
  • Primeiro país a eliminar a poliomielite-1962.
  • Primeiro país a eliminar o sarampo – 1996.
  • Programa mais eficaz de controlo do dengue nas Américas.
  • Cuidados de saúde abrangentes; 1 médico para cada 120-160 famílias.
  • Uma das maiores taxas de tratamento e controle da hipertensão no mundo.
  • Redução da taxa de mortalidade cardiovascular em 45%.
  • Taxa de mortalidade infantil <5 anos de 5,5/1000.
  • Desenvolvimento e implementação de um "plano de saúde abrangente para as Américas"
  • Educação médica gratuita para estudantes de África e América Latina.
  • Apoio de 50.000 profissionais da saúde em 67 países;
  • Rede biomédica nacional na Internet (INFOMED)
  • Indústria biotecnológica; Produzindo a primeira vacina de polissacarídeo humano.
  • Primeiro país do mundo a receber a validação da OMS de que eliminou a transmissão de mãe para filho do VIH e da sífilis. (aqui) (aqui) (aqui)
Gobal Burden Disease - Cuba



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

HEALTH AT A GLANCE 2016 - ENTRE 2008 - 2014 PORTUGUESES DE BAIXOS RENDIMENTOS DEIXARAM DE IR AO MÉDICO POR FALTA DE DINHEIRO

Os dados hoje publicados pela OCDE no seu relatório anual “Health at Glance: Europe 2016” (aqui) mostram que a percentagem de portugueses (com baixos rendimentos) que relataram ter ficado sem cuidados de saúde por razões financeiras, subiu de 2.2% em 2008 para 6.3% em 2014, confirmando os dados publicados pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde nos seus Relatórios da Primavera (aqui) e pelo estudo “O Sistema de Saúde Português no Tempo da Troika: A experiência dos médicos” (aqui) (aqui)e contrariando as conclusões do estudo “Políticas Públicas na Saúde: 2011-2015 Avaliação   do Impacto” da Nova School of Business and Economics para o Ministério da Saúde em 2015 (aqui) (aqui).
Health at a Glance Europe 2016

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O PAPA FRANCISCO E A FAO PEDEM AÇÃO CONTRA O TRÁFICO E A ESCRAVATURA LABORAL NA INDÚSTRIA DA PESCA

No passado dia 21 de Novembro, por ocasião do Dia Mundial da Pesca, realizou-se em Roma na sede da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), uma conferência internacional promovida por aquela organização e pela Santa Sé sobre o tema “A violação dos direitos humanos no sector da pesca e da pesca ilegal”. (aqui)

Durante a conferência o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, disse que embora a indústria da pesca forneça comida e rendimento para milhões de pessoas e ofereça múltiplas oportunidades aos mais de 50 milhões de pessoas que aí trabalham, também vitimiza os mais vulneráveis, sendo um dos setores onde se verifica um elevado número de trabalhadores escravizados.

Sustentando 1 em cada 10 pessoas no mundo, sendo um dos produtos mais comercializados à escala global, com um valor de 135 bilhões de dólares em receitas de exportação em 2015, proporcionando mais receita líquida do que o arroz, a carne e o açúcar combinados, a indústria da pesca envolve uma frota mundial de cerca de 4,6 milhões de embarcações, composta por 64.000 grandes navios de mais de 24 metros de comprimento e por uma enorme maioria de barcos de menos 12 metros de comprimento, onde milhares de pescadores são sujeitos à exploração, ao trabalho escravo e ao tráfico humano (aqui).

Na sua mensagem à Conferência o Papa Francisco (aqui), para além de lembrar algumas das ameaças que afetam e destroem os recursos marinhos inscritas na Encíclica Laudato Sí, e congratular-se com a entrada em vigor da PSMA (Port State Measures Agreement) com objetivo de acabar uma vez por todas com a pesca ilegal responsável por cerca de 11-26 milhões de toneladas de pescado, chama a atenção para a situação de exploração e abuso sofrida por muitos pescadores, “… hundreds of thousands of internal/transnational migrants who are smuggled/ trafficked for forced labor on board of fishing vessels” favorecidas pela intervenção de redes de organizações criminosas que se alimentam de pessoas em situação de pobreza, à procura de um emprego que as poderia ajudar a romper com o círculo da miséria em que se encontram, mas que em vez disso, acabam endividadas, traficadas e escravizadas.



Na sua mensagem o Papa Francisco afirma "O tráfico de seres humanos é um crime contra a humanidade, devemos unir os nossos esforços para libertar as vítimas e acabar com este crime cada vez mais agressivo que ameaça não só os indivíduos mas também os valores fundamentais da sociedade e da segurança e justiça internacionais" apelando para que os Governos ratifiquem a Convenção (n.º 188) sobre o Trabalho na Pesca, da Organização Internacional do Trabalho, de forma a garantir que os frutos do mar que chegam aos nossos pratos tenham sido produzidos de uma forma ambientalmente sustentável, e que os trabalhadores do setor da pesca que aí desenvolvem a sua atividade laboral, o façam num ambiente seguro, que lhes permita um descanso adequado, cuidados de saúde apropriados, e estejam protegidos por um contrato de trabalho escrito e uma proteção social semelhante à dos outros trabalhadores.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

ANGOLA - GLOBAL BURDEN DISEASE - RESULTADOS MUITO AQUÉM DO ESPERADO

No passado dia 21 de Setembro a revista Lancet publicou o estudo “Measuring the health-related Sustainable Development Goals in 188 countries: a baseline analysis from the Global Burden of Disease Study 2015” (aqui), onde os autores analisam 33 indicadores dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Setembro de 2015 relacionados com o “Global Burden of Disease (GBD)”.(aqui)

O GBD é o estudo de observação epidemiológica mais abrangente do mundo até esta data. Descreve a mortalidade e a morbilidade por doenças graves, lesões e fatores de risco para a saúde nos níveis global, nacional e regional. Produz estimativas por causas, idade, sexo e país desde 1990, examina tendências e faz comparações entre as populações, mede as características do sistema de saúde, a exposição a fatores de risco, e a mortalidade e morbilidade atribuíveis a esses riscos. Permite o cálculo de DALY´s (anos de vida ajustados à incapacidade), que representa os anos perdidos de vida saudável devido a doença, lesão ou fator de risco e resulta da soma de dois indicadores distintos: anos de vida perdidos (YLL, que mede a mortalidade prematura e os anos vividos com incapacidade (YLD).
Health-related index for all indicators


De acordo com dados publicados Angola, fica no 170º lugar entre 188.º países ficando muito aquém dos resultados esperados.(aqui)



domingo, 20 de novembro de 2016

NOVAS REVELAÇÕES SOBRE O GLASGOW EFFECT/EFEITO DE GLASGOW - PLANEAMENTO URBANO, CAPITAL SOCIAL E DÉFICE DEMOCRÁTICO

Um recente trabalho do Glasgow Centre for Population Health, da University of the West of Scotland e do University College London “ History, politics and vulnerability: explaining excess mortality in Scotland and Glasgow” (aqui) resume toda a investigação publicada, cerca de 40 trabalhos, acerca do denominado “efeito de Glasgow”, procurando encontrar as causas para o “excesso” de mortalidade verificado na Escócia (mais 5.000 mortes) em comparação com a mortalidade encontrada na Inglaterra e no País de Gales, ajustadas as diferenças de pobreza e privação.
Este excesso de mortalidade é particularmente acentuado em Glasgow, não sendo explicado apenas pelos elevados níveis de pobreza quando comparado com o verificado em cidades comparáveis como Liverpool e Manchester.


O estudo revela que para além da privação e da pobreza resultantes da desindustrialização “the loss of industrial jobs expressed in relation to the size of the industrial employment base in 1931) was 47% in Scotland compared with 30% in England” da Escócia e da cidade de Glasgow, o excesso de mortalidade verificado em comparação com as cidades de Liverpool, Manchester e Belfast, resulta de uma política urbana desenvolvida entre 1945 – 1980, que favoreceu a deslocação da população mais jovem e mais qualificada, o «skimming the cream», os “melhores cidadãos” para novas cidades nos arredores de Glasgow, como Cumbernauld (1955), Livingston (1962) and Irvine (1966), enquanto em Glasgow eram deixados os pobres, os mais velhos e a população desempregada, muitas vezes alojados em bairros sociais construídos em altura, como reconhecia o Scottish Office em 1970 “ Glasgow is in a socially… [and] economically dangerous position. The position is becoming worse because, although the rate of population reduction… is acceptable, the manner of it is destined within a decade or so to produce a seriously unbalanced population with a very high proportion of the old, the very poor and the almost unemployable…”, seguida nos anos seguinte por uma política de desenvolvimento urbano sustentada no lema “that “what’s good for business is good for Glasgow”, que levou ao aparecimento duma cidade dual, onde as zonas pobres, os bairros sociais isolados, ficarm sujeitas à degradação e ao baixo investimento público em conservação e manutenção. 

A par destas políticas urbanas, os autores do estudo identificam ainda duas outras explicações para a uma maior vulnerabilidade da população de Glasgow, o capital social e o défice democrático.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

MAIS DE 1 BILHÃO DE PESSOAS NO MUNDO TÊM HIPERTENSÃO ARTERIAL

De acordo com o estudo " Worldwide trends in blood pressure from 1975 to 2015: a pooled analysis of 1479 population-based measurement studies with 19.1 million participants" ontem publicado (15-11-2016) na Revista Lancet (aqui), liderado por investigadores do Imperial College de Londres, a pressão arterial elevada, definida como 140/90 mmHg ou superior, afeta em todo o mundo cerca 1.13 bilhões de pessoas, 597 milhões de homens e 529 milhões de mulheres, praticamente o dobro das que apresentavam valores elevados há 40 anos.
O estudo liderado pelo NCD-RisC, uma rede de cientistas de todo o mundo coordenados pelo "WHO Collaborating Centre on NCD Surveillance and Epidemiology at Imperial College London" cujo Diretor é o Professor Majid Ezzati (aqui), estudou as mudanças na pressão arterial em todos os países do mundo entre 1975 e 2015, tendo verificado um aumento da pressão arterial nos países de renda baixa e média, especialmente na Ásia onde se encontram praticamente metade dos adultos com hipertensão arterial, cerca de 226 milhões de pessoas na China e cerca de 200 milhões de pessoas na Índia.

De acordo com os dados agora publicados os países com a maior proporção de homens com hipertensão arterial, situam-se na Europa Central, na Europa de Leste e nos Balcãs, Croácia, Letónia, Lituânia, Hungria, Eslovénia, Roménia, Polónia, República Checa, Montenegro, Eslováquia, Estónia, Bósnia- Herzegovina, Servia, Moldávia e Bulgária. Portugal aparece em 42.º lugar e é primeiro dos países da Europa Ocidental elencados.
Globalmente a pressão sistólica média, padronizada por idade, manteve-se praticamente inalterada entre 1975 e 2015 nos homens e diminuiu ligeiramente nas mulheres, enquanto, a pressão diastólica média manteve-se inalterada.

O estudo conclui que “  Blood pressure is a multifaceted trait, affected by nutrition, environment, and behaviour throughout the life course, including fetal and early childhood nutrition and growth, adiposity, specific components of diet, especially sodium and potassium intakes, alcohol use, smoking, physical activity, air pollution, lead, noise, psychosocial stress, and the use of blood pressure lowering drugs. Changes in risk factors and improvements in detection and treatment of raised blood pressure have, at least partly, resulted in the decrease in blood pressure in high-income countries, although the decrease seems to have begun before or in the absence of specific interventions for risk factors and scale-up of treatment, and is only partly accounted for by the measured risk factors and treatment. In particular, the decrease in high-income and some middle-income countries has happened despite increasing body-mass index. The partly unexplained nature of these favorable trends necessitates speculation about their drivers, which might include unmeasured improvements in early childhood nutrition and year-round availability of fruits and vegetables, which might increase the amount and regularity of their consumption.”, confirmando a importância das vias de relacionamento entre os “residential environments” e os fatores de risco cardiovascular, desenvolvidos por Ana Diez Roux no seu trabalho “ Residential Environments and Cardiovascular Risk” publicado em 2003 no Journal of Urban Health: Bulletin of the New York Academy of Medicine. (aqui)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

14-11 - DIA MUNDIAL DA DIABETES - MIRAR A DIABETES E OS SEUS DETERMINANTES

O Dia Mundial da Diabetes é celebrado desde 1991 por iniciativa conjunta da Federação Internacional da Diabetes e da Organização Mundial de Saúde (OMS), no dia 14 de Novembro, (data em que nasceu o Dr.  Frederick Banting, o principal investigador da insulina)tendo sido oficializado em 2006 pela Resolução 61/225 das Nações Unidas (aqui).


A Diabetes é uma doença crónica, com uma enorme carga e um peso crescente na carga de doença mundial, atingindo em 2015 cerca de 415 milhões de adultos em todo o mundo, o número que se prevê que possa crescer para 642 milhões em 2040.(aqui)


Com o crescimento da má nutrição e da inatividade física, num ambiente mundial obesogénico, em que os sistemas globais de alimentos são fortemente influenciados pelas empresas multinacionais de alimentos e bebidas (Big Food), com enorme poder e concentração de mercado, levando ao aumento da produção e consumo de produtos ultraprocessados de alta densidade calórica e de refrigerantes, mais pessoas estão em risco de ficarem obesas e diabeticas. (aqui)

Ciclo Sociobiológico da Diabetes

Para fazer face a esta situação não basta diagnosticar a diabetes, são necessárias desenvolver políticas públicas, em que incorporem determinantes de saúde como o crescimento económico, a redução das desigualdades sociais e da pobreza, a educação, o desemprego e o acesso aos serviços de saúde, só um melhor do conhecimento do ciclo sociobiológico da Diabetes ou das diversas vias que conduzem à Diabetes. (aqui)(aqui)

domingo, 13 de novembro de 2016

ENTRE 2013 - 2014 - OS PORTUGUESES DE MAIS DE 65 ANOS PERDEM 3 ANOS DE VIDA SAUDÁVEL

A recente atualização dos “ Indicadores Essenciais de Saúde Europeus – European Core Health Indicators” no início do mês de Novembro, deu a conhecer um indicador “inesperado” para as autoridades de saúde portuguesas (aqui), o indicador relativo aos anos de vida saudável (ou "esperança de vida sem incapacidades") que indica o número de anos que uma pessoa pode esperar viver sem sofrer de incapacidades.

O indicador "Anos de Vida Saudável" (HLY - Healthy Life Years) faz parte do principal painel de indicadores estruturais europeus, e é utilizado para: analisar a saúde como fator económico e de produtividade; introduzir o conceito de qualidade de vida; avaliar a empregabilidade dos trabalhadores mais velhos; acompanhar os progressos realizados em termos de acesso, qualidade e sustentabilidade dos cuidados de saúde e é calculado a partir das tábuas da mortalidade e dos dados da limitação da atividade avaliados no EU-SILC do Eurostat (Inquérito às Condições de Vida e Rendimento das Famílias (EU-SILC) é realizado em Portugal desde 2004).(aqui)
ECHI Data Tool
Os dados agora publicados indicam uma retrocesso no indicador "Anos de Vida Saudável" entre os anos de 2013 e 2014 de cerca de 3 anos para ambos os sexos (de 9.3 anos para 5.6 anos nas mulheres (-3.7) e de 9.9 anos em 2012, para 9.6 anos em 2013 e 6.9 nos homens (-3), apontando para uma avaliação negativa realizada pelas pessoas com mais de 65 anos quando questionadas acerca do seu estado de saúde e do acesso aos serviços de saúde (De uma maneira geral, como considera o seu estado de saúde? Tem alguma doença ou problema de saúde prolongado? Tem há 6 ou mais meses as suas capacidades limitadas para fazer atividades consideradas habituais para a generalidade das pessoas, devido a um problema de saúde? Durante os últimos 12 meses, necessitou realmente de consultar um médico/dentista, fazer um exame ou um tratamento médico/tratamento dentário e se não o fez, Qual a principal razão para não ter efetuado a consulta médica, o exame ou o tratamento?) (aqui).

De certeza que necessitamos de mais estudos e investigação sobre o efeito dos determinantes sociais sobre a saúde das pessoas, vivamos sobre crise económica e financeira ou não, mas o que já não entendemos é como que as autoridades de saúde portuguesas são “apanhadas de surpresa” uma vez que os dados agora publicitados são tratados e recolhidos pelo INE.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

RIO 2016 - UM NOVO MODELO DE " SAUDE DA FAMÍLIA"

O município do Rio de Janeiro vive desde 2009 uma interessante experiência de desenvolvimento dos cuidados de saúde primários, através da criação das Clínicas da Família, da expansão do Programa Saúde Família e do reforço da figura do médico de família. Criado em 1993/1994, o Programa Saúde Família também conhecido como Estratégia Saúde Família, apoiado pela UNICEF, inicialmente dirigido às populações mais vulneráveis, aproveitando iniciativas do Programa Agentes Comunitários de Saúde e da Pastoral da Criança, foi incorporando recursos mais diferenciados e foi-se expandido nas zonas de poucos recursos municipais e de baixa cobertura. Em 1995, quando era Ministro Adib Jatene perde o seu caráter de programa vertical e passa a ter um papel primordial na reestruturação do Sistema Único de Saúde (SUS). (aqui)

O SUS, criado na Constituição de 1988 e operacionalizado em 1990, passou a coexistir com subsistemas criados antes de 1988, que cobrem cerca de 23% da população, seja através de subsistemas organizados para os trabalhadores de empresas como o Banco do Brasil ou a Petrobras, seja através de um forte sistema privado, também chamado de Sistema Supletivo de Assistência Médica.

Num país com cerca de 200 milhões de pessoas, em que as despesas totais em saúde representam cerca de 8.3% do Produto Interno Bruto, dos quais 42% são gastos públicos, os cuidados de saúde primários podem ter um papel fundamental na saúde dos cidadãos e em particular dos mais vulneráveis. (aqui)(aqui)

É neste contexto, que a experiência do Rio de Janeiro se tem desenvolvido desde 2009, quando a cidade se começou a preparar para os Jogos Olímpicos, e o Município decidiu criar um modelo de cuidados de saúde primários centrado na comunidade e na figura do médico de família e da comunidade, passando de uma cobertura de cerca de 3.5% da população para cerca de 45% em 2014 e um objetivo de chegar a 70% em 2016. (aqui)


Para isso a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, principiou por investir na construção de Clínicas de Família e centros municipais de saúde nas zonas com piores indicadores de desenvolvimento humano, alargando-as a outras zonas, num total de 89 novas clínicas e 118 centros e num ambicioso plano de formação de médicos de família, conhecido como o maior programa de internato (residência) de médicos de família do Brasil, atingindo hoje as 150 vagas. (aqui)

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

SAÚDE - CLINTON VERSUS TRUMP - A AMÉRICA DECIDE

Na próxima 3.ª feira, dia 8 de Novembro, os norte-americanos vão escolher o seu 45.º Presidente. No que respeita à Saúde, os americanos irão decidir se a política progressista do Presidente Obama, que levou a que mais de 20 milhões de americanos passassem a usufruir de seguro de saúde através do, Affordable Care Act – Obama Care (aqui), a uma aposta na investigação biomédica (aqui) e à contenção nas emissões de carbono (aqui) irá ou não continuar.

Na 3.ª feira estarão em confronto duas visões diferentes para o futuro da saúde da América, defendidas poe cada um dos dois candidatos Donald Trump e Hillary Clinton, e saberemos então se o legado de Obama será continuado e aprofundado, enfrentando as enormes desigualdades em saúde com que o país se debate e com os 30 milhões de americanos sem cobertura de saúde.

No caso do Affordable Care Act, enquanto Clinton a manteria, Trump iria revoga-la, o que faria com que, de acordo com o estudo Commonwealth Fund and the RAND Corporation (aqui), 20 milhões de pessoas perdessem o seu seguro de saúde em 2018, levando ainda a um aumento das despesas individuais com os prémios de seguro e as despesas “out-of-pocket” “increase average premium and out-of-pocket costs for people who buy insurance on their own”. No caso de Clinton, as propostas que aponta iriam aumentar o número de pessoas cobertas e reduzir as despesas em saúde para os americanos com rendimentos mais baixos.



Mas não é só nas questões da cobertura universal que os candidatos divergem, como no caso do aborto, das alterações climáticas ou da saúde internacional.

No caso do Aborto como no caso do Acordo sobre o Clima - COP21 – Paris, enquanto Clinton propõe comprometer a administração americana na defesa do Acordo, incluindo a redução das emissões de gases com efeito de estufa dos Estados Unidos em 30% até em 2025 e proteger o aborto legal e seguro e o acesso à contraceção de forma acessível, Trump, propõe reverter a decisão do Supremo Tribunal dos EUA de 1973 que reconhece às mulheres o direito à interrupção voluntária da gravidez (caso Roe contra Wade), nomeando juízes desfavoráveis a IVG (apesar das várias posições contraditórias que tem tomado ao longo dos anos) e abandonar o Acordo de Paris.

Na 3.ª feira a América decide, os americanos escolherão qual será o seu caminho para uma sociedade mais justa e equitativa.

Ainda
Clinton and Trump on healthcare - BMJ Blog (aqui)
e alternativas
Single-payer - Medicare for All (aqui)