Em Outubro
de 2016, Portugal superou os 10 milhões de hóspedes estrangeiros, tendo as
receitas turísticas chegado aos 11 mil milhões de euros, representando um
crescimento de 10,3%, face ao registado em 2015 (aqui)(aqui) (aqui), tendo criado mais de 45.000
postos de trabalho até ao final do 3.º trimestre deste ano nos setores da
Restauração e Bebidas e do Alojamento (aqui). Um resultado histórico que provavelmente
confirmará o anúncio feito em setembro de 2016 pelo Ministro da Economia de que
Portugal teria em 2016 “o melhor ano turístico de sempre”.(aqui)
Apesar dos
resultados apresentados muitas trabalhadoras e trabalhadores do setor hoteleiro
sofrem a precariedade laboral. Num setor que empregava em 2015 cerca de 57.000
trabalhadores, dos quais 54.000 a tempo completo, cerca de 31% dos que aí trabalham
têm vínculos precários ou contratos a termo certo (aqui). De acordo com os dados do Sindicato
dos Trabalhadores na Industria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares
do Sul nas unidades hoteleiras, encontra-se uma elevada percentagem de
trabalhadores “não efetivos” ou seja, trabalhadores com contratos a termo,
temporários, estagiários e em outras formas de contratação precária. “ No total
dos empreendimentos turísticos em 2012, o trabalho precário, aproxima-se dos
30%, sendo mais acentuado nos hotéis de 5 estrelas onde essa percentagem atinge
os 40% dos trabalhadores.”(aqui)
ilustração de "Las Kellys salen de la habitación para denunciar su explotación laboral" - Diagonal |
Num setor
em que a grande maioria destes trabalhadores, são invisíveis, o trabalho das
empregadas de andares é ainda mais invisível. Mas não se pense que este um
problema laboral exclusivamente português, ele atinge a grande maioria dos
países da União Europeia a 28, e em particular as principais regiões turísticas
como Espanha, onde esta situação tem sido motivo de investigação e de denúncias
quer por parte das organizações sindicais, quer por parte dos coletivos de
empregadas de andar, conhecidas em Espanha como Kellys “ las que limpian”.(aqui)(aqui)
Num
trabalho recente de Ernest Cañada, publicado em livro na editorial Icaria “Las
que limpian los hoteles“ (aqui), o investigador parte do testemunho de 26 empregadas
de quarto (aqui)para pôr a nu a precarização dos contratos, o aumento da carga de
trabalho, a desprofissionalização do trabalho e os problemas de saúde a que
estão sujeitas. Apesar da dureza e da invisibilidade do trabalho, este trabalho
foi executado durante muito tempo por trabalhadoras qualificadas, contratadas a
tempo completo e apoiadas nas suas tarefas por outro pessoal (carregadores e
pessoal de armazém), mas com o despoletar da crise de 2008, cresceu a
externalização, a desqualificação profissional, o aumento às vezes subtil da carga
de trabalho com a eliminação sucessiva da figura de carregadores/pessoal de armazém,
aumentando o número de habitações a cargo, a supervisão dos estagiários e das trabalhadoras
contratadas através das empresas fornecedoras de trabalho temporário. À medida
que aumenta a externalização, cresce a instabilidade profissional, não se
estabelece nem vínculo com a profissão nem com o local de trabalho, generaliza-se
o medo com a perda do posto de trabalho, e criam-se condições para uma diminuição
da organização sindical e a aceitação de baixos salários.
No que se
refere à saúde, aos comuns problemas músculo-esqueléticos (lombalgias, síndromes
canais cárpicos, tendinites), somam-se os problemas de saúde físicos e mentais,
determinados pela ansiedade, pelo stress, pelo baixo controlo do trabalho, insegurança
no trabalho, gerando comportamentos não saudáveis. (aqui)
Neste final
de ano em que muitos, optam por umas pequenas férias ou por uma festa de fim de
ano numa qualquer unidade hoteleira, lembre-se que NÃO PODE HAVER TURISMO DE QUALIDADE
SEM EMPREGO DECENTE.
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