Estreou
ontem em 5 cidades portuguesas o filme português “Fábrica de Nada”, dirigido por Pedro Pinho, que conta a história de um grupo de operários em luta pelo seus postos de trabalho e pela sua dignidade
numa sociedade “de sentido único” onde o conformismo, o individualismo, a alienação e o “não há nada a fazer”, se sobrepõem aos princpíos e os valores, “Uma noite um grupo de operários percebe que
a administração está a roubar máquinas e matérias- primas da sua própria
fábrica. Ao decidirem organizar-se para proteger os equipamentos e impedir o
deslocamento da produção, os trabalhadores são forçados - como forma de
retaliação - a permanecer nos seus postos sem nada que fazer enquanto
prosseguem as negociações para os despedimentos. A pressão leva ao colapso
geral dos trabalhadores, enquanto o mundo à sua volta parece ruir.” (aqui)
Bem recebido
pela crítica internacional, depois de ter estreado no passado mês de maio no Festival
de Cannes, onde recebeu o prémio
FIPRESCI da Federação Internacional de Críticos de Cinema na Quinzena dos
Realizadores (na história da Quinzena
dos Realizadores de Cannes, Pedro Pinho foi o segundo cineasta português a
receber o prémio da crítica, depois de Manoel de Oliveira, em 1997, com “Viagem
ao Princípio do Mundo”, a “Fábrica do Nada” recebeu ainda o Prémio de Melhor Realização
na 5.ª edição do Duhok International Film Festival, no Iraque, o Grande Prémio do Júri no CineFest Miskolc
Internacional Film Festival, na Hungria e o Cine Vision do Festival de Cinema
de Munique. (aqui)(aqui)
Com quase 3
horas de duração, a “Fábrica do Nada” é um raro momento de cinema para falar dos de “baixo”,
dos invisiveís, de “Quem construiu Tebas
de sete portas”, e é para além disso um
grande filme português (aqui) (aqui), a NÃO PERDER.
Quem construiu Tebas de sete portas?
Quem construiu Tebas de sete portas?
Nos livros estão os nomes dos reis.
Foram os reis que arrastaram os blocos de pedra?
E as várias vezes destruída Babilónia —
Quem é que tantas vezes a reconstruiu?
Em que casas da Lima fulgente
de oiro moraram os construtores?
Para onde foram os pedreiros na noite em que ficou pronta
a Muralha da China? A grande Roma
está cheia de arcos de triunfo. Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os césares?
Tinha a tão cantada Bizâncio
Só palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu bramavam os
afogados pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os Gálios.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?
Filipe da Espanha chorou, quando a armada se afundou.
Não chorou mais ninguém?
Frederico II venceu na Guerra dos Sete Anos —
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhou o banquete da vitória?
Cada dez anos um Grande Homem.
Quem pagou as despesas?
Tantos relatos
Tantas perguntas.
Bertold Brecht
(Tradução de Paulo Quintela)
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