De acordo
com o American College of Obstetricians and Gynecologists (aqui), o aborto seguro e
legal é um componente necessário dos cuidados de saúde prestados às mulheres,
um direito e uma questão de saúde pública na opinião da American Public Health
Association, (aqui)denunciando ambas as organizações as restrições legislativas impostas,
tanto a nível federal como a nível estadual, as restrições financeiras públicas
e privadas ao funcionamento das clínicas de aborto nos Estados Unidos (EUA) e a
violência exercida sobre os profissionais de saúde pelos grupos contrários ao
aborto.
Para além
destas barreiras ao acesso, questões como o estigma sobre as mulheres que
recorrem ao aborto (42% das gravidezes não planeadas nos EUA - 2,8 milhões em
2011 - terminam em aborto), a pobreza e as dificuldades económicas são desde há
muito conhecidas como causas de desigualdades no acesso ao aborto seguro e
legal elevando o risco de pobreza e violando os direitos de cidadania.
Neste
contexto um grupo de investigadores do Instituto Guttmacher procurou estudar a
desigualdade espacial no acesso às clínicas de aborto nos Estados Unidos, uma
vez que estudos anteriores realizados no Canadá, na Nova Zelândia e na Austrália
tinham concluído que a maioria das mulheres que recorriam ao aborto tinham
recursos financeiros limitados, apresentando dificuldades acrescidas quando
viviam em áreas rurais, uma vez que tinham dificuldades em suportar as despesas
com as viagens, a perda de dias de trabalho e as estadias.
Deaigualdade geográfica nos EUA - distância a uma Clínica de Aborto |
O estudo
agora publicado na revista Lancet de 03 de Outubro, “Disparities and changeover time in distance women would need to travel to have an abortion in the USA: a spatial analysis” confirmou os estudos anteriores e encontrou dísparidades
espaciais persistentes no acesso das mulheres ao aborto nos EUA, que no
entender dos autores podem ser aplicáveis em outros países de renda alta.
De acordo
com o estudo em 2014, as mulheres nos EUA tiveram que viajar uma distância
média de 17 a 36 km para chegar à clínica de aborto mais próxima, embora 20%
das mulheres tivessem que viajar 46 a 68 km ou mais. Distância que pode alcançar
os 280 km ou mais nos estados do centro dos Estados Unidos, em particular nos
estados de Montana, Wyoming, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nebrasca, Kansas e
Texas, em áreas com grandes distâncias de viagem em alguns estados que fazem
fronteira com o Canadá (Minnesota e Michigan), no Alasca e em bolsas na
Califórnia, Nevada, Utah, Idaho e Missouri, afetando as zonas menos povoadas e
as populações rurais em particular.
O estudo
confirma assim que as disparidades espaciais devem ser consideradas como uma
barreira ao acesso ao aborto seguro e legal nos EUA, a par das restrições
legislativas impostas em alguns estados, do estigma, e das restrições
financeiras podem impedir uma mulher de ter um aborto seguro e legal,
independentemente da distância.
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