sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

3 TRANSNACIONAIS DA CARNE - JBS, CARGILL E TYSON, PRODUZEM MAIS GASES DE EFEITO DE ESTUFA QUE A FRANÇA.

No passado mês de Novembro a Fundação Heinrich Böll, a GRAIN e a IATP deram a conhecer o valor das emissões de gases com efeitos de estufa emitidos pelas 20 maiores empresas mundiais de produção de carne e leite, colmatando a falta de informação nesta área, uma vez que poucas são as empresas de produção de carne e leite que publicam informação sobre as emissões de gases com efeito sobre o clima.

De acordo com os dados conhecidos e agora publicados, as 3 maiores multinacionais de produção de carne, a JBS,SA, a Cargill e a Tyson, emitiram no ano de 2016, mais gases com efeito de estufa que toda a França, e quase tanto como três das maiores companhias petrolíferas, a Exxon, a BP e a Shell.


No cômputo geral a totalidade dos gases emitidos pelas 20 principais empresas de produção de carne e leite, estaria ao nível das emissões produzidas pelo sétimo país do mundo, ultrapassando a totalidade das emissões de gases com efeito de estufado produzidos na Alemanha, o maior país emissor da Europa.

Ao longo das últimas décadas, as empresas de carne e leite cavalgaram políticas de incentivo à produção que tinham como preocupação a segurança alimentar mundial, tornando-se cada vez mais poderosas, contribuindo para a perda de diversidade genética animal, para o uso excessivo da água, para a destruição das florestas, para a utilização de herbicidas e de antibióticos, para o desaparecimento dos pastores e pequenos produtores, para o desaparecimento dos talhos a favor das grandes cadeias de supermercados, para o uso de fundos públicos para subsidiar a produção animal, e para a concentração corporativa de toda a fileira da produção animal com tudo o que isso significa para a saúde pública.

Mas a contrário da indústria petrolífera, a sua atividade tem passado incólume, longe do escrutínio público, sempre alavancada na necessidade de expandir a sua atividade para “matar a fome ao mundo”, sendo hoje responsável por quase 15% das emissões globais de gases de estufa, ultrapassando o setor mundial do transporte.

Quando se trata de carne as aparências iludem. O gado produz alguns dos gases mais perigosos para a mudança de clima, o metano e o óxido nitroso. No seu total o contingente mundial de gado é responsável pela produção de 15% destes gases, mais potentes do que o dióxido de carbono e mais nocivos para o ambiente. No que respeita à água vale a pena lembrar que 8% do seu uso mundial se destina ao cultivo de alimentos para o gado e que em todo o mundo se produzem cerca de 42 Kg de carne por pessoa. Produzidas em larga escala, em países onde a produção é altamente subsidiada, são depois exportadas para todo o mundo, provocando um elevado consumo de carne e produtos processados, pondo em risco a sobrevivência de milhares de agricultores e criadores de gado responsáveis por alimentar milhões de pessoas.


É tempo de impedir as transnacionais da Big Food de destruírem o clima e os sistemas alimentares tradicionais que munem as comunidades de uma base racional para as políticas que protegem a saúde pública.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

DESEMPREGO, POBREZA, SOLIDÃO E DEPRESSÃO SÃO PREDITORES DE DOENÇA CARDIOVASCULAR - RÚSSIA

No início do mês de dezembro de 2017, a revista PlosMedicine publicou um estudo de Tillmann e colaboradores, “Psychosocial and socioeconomic determinants of cardiovascular mortality in Eastern Europe: A multicentre prospective cohort study” (aqui) realizado com o objetivo de conhecer os fatores psicossociais e socioeconómicos associados à mortalidade por doença cardiovascular (DCV), referenciados nas diretrizes europeias de 2016 como fatores alvo de intervenção (aqui), nos países da Europa Oriental uma vez que estes têm das maiores taxas de mortalidade por DCV do mundo. (aqui)
GBD Compare IHME

O estudo que envolveu 28.945 homens e mulheres com idades compreendidas entre os 43 e os 72 anos da Rússia, da República Checa e da Polónia, com uma taxa de resposta global de 59% (61% na Rússia e Polônia e 55% na República Checa),confirmou que na coorte Russa os fatores de risco convencionais como o tabaco, a pressão arterial alta, a diabetes, a inatividade física e a obesidade estavam fortemente associados ao risco de morrer por doença cardíaca e concluiu que os fatores socioeconómicos e psicossociais como o estar desempregado, viver sozinho, ser pobre e ter depressão estavam associados a um maior risco de morrer por doença cardíaca.

Apesar dos resultados encontrados, quer para os fatores convencionais, quer para os fatores relacionados com stress, os autores não conseguiram explicar o porquê do risco de morte cardiovascular ser duas vezes maior na Rússia do que na Polónia ou na República Checa.

domingo, 24 de dezembro de 2017

ESPERANÇA DE VIDA NOS ESTADOS UNIDOS CAI PELO 2.º ANO CONSECUTIVO - O ABUSO DAS DROGAS CONTRA A DOR

De acordo com os dados publicados na passada quinta-feira, 21 de dezembro pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) “Mortality in the United States, 2016” (aqui), a esperança de vida nos EUA diminuiu pelo segundo ano consecutivo em mais de 20 anos. Os dados agora publicados referentes a 2016 mostram uma diminuição de 1 décima na esperança de vida entre 2016 e 2015, isto é, uma diminuição da esperança de vida à nascença de 78.7 em 2015 para 78.6 em 2016.
Este decréscimo resulta do aumento da mortalidade por causas externas “unintentional injuries” de 9.7%, da mortalidade por doença de Alzheimer de 3.1% e da mortalidade por suicídio de 1.5%.

Os dados agora apresentados revelam um crescimento da mortalidade por abuso de drogas de 21% entre 2016 e 2015 (63.600 mortes em 2016 contra 52.000 em 2015), envolvendo sobretudo drogas sintéticas como o fentanilo e o tramadol, de 2015 para 2016, as mortes por overdose aumentaram nos grupos etários dos 45–54, dos 55–64, e dos 65 e mais respetivamente em 15%, 17%, e 7% respetivamente.(aqui)

The pattern of drugs involved in drug overdose deaths has changed in recent years. The rate of drug overdose deaths involving synthetic opioids other than methadone (drugs such as fentanyl, fentanyl analogs, and tramadol) doubled in a single year from 3.1 per 100,000 in 2015 to 6.2 in 2016. Rates of drug overdose deaths involving heroin increased from 4.1 in 2015 to 4.9 in 2016. Rates of drug overdose deaths involving natural and semisynthetic opioids increased from 3.9 in 2015 to 4.4 in 2016.
Apesar da prudência com que estes resultados têm se ser encarados por se referirem aos anos de 2015 e 2016, os dados preliminares referentes a 2017 preveem um agravamento das mortes por overdose por opióides sintéticos como o fentanilo, seus similares e tramadol (aqui), confirmam os resultados do estudo publicado em 2015, por Anne Case1 e Angus Deaton “ Rising morbidity and mortality in midlife among white non-Hispanic Americans in the 21st century” (aqui), que mostrava que a taxa de mortalidade dos brancos de meia-idade tinha aumentado desde 1998 nos problemas de saúde relacionados com o consumo de drogas e álcool, com o suicídio, com a doença hepática crónica e a cirrose, especialmente entre os brancos com um baixo grau de escolaridade (ensino médio ou inferior).

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

DIA COBERTURA UNIVERSAL 2017

Comemora-se hoje dia 12.12.2017 o Universal Health Coverage Day, 2016, #UHCDAY assinalando o dia 12 de Dezembro de 2012, data em que as Nações Unidas aprovaram por unanimidade uma resolução  pedindo que todos os países forneçam cuidados de saúde acessíveis e  de qualidade a todas as pessoas e em todos os lugares 








segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

QUAL É O PESO REAL DOS ESTILOS DE VIDA NA SAÚDE DAS PESSOAS?

"When we just target the individual behaviours, we're neglecting to look at these systemic factors."

Em entrevista ao sítio na internet da Upstream: Institute for a Healthy Society, organização sem fins lucrativos, com sede no Canadá, Denis Raphael Professor de Health Policy and Management at York University em Toronto, investigador na área dos determinantes sociais da saúde e editor dos “Canadian Facts” chama à atenção para importância de uma abordagem sistémica centrada nos determinantes sociais da saúde, recusando a abordagem centrada nos estilos de vida "When we just target the individual behaviours, we're neglecting to look at these systemic factors."

Ao longo da entrevista o Professor Denis Raphael, fala sobre os determinantes sociais da saúde, defendendo uma abordagem sistémica uma vez que o enfoque numa abordagem centrada nos estilos de vida apenas representam, na melhor das hipóteses 10 a 15% da variação dos resultados em saúde.

“What they should be doing is recognizing, as Randolph Virchow pointed out, that medicine is actually a political activity, and that certainly, all things considered, you don't want people, if they have some control, to smoke. We much prefer that people have a balanced diet, and certainly all things considered, we'd want people to be more active than less active, but these factors themselves play a rather small role in health outcomes. The danger to all of this is that what it does is diverts attention from these far more important issues of living and working conditions. Also, the evidence that these so-called lifestyle approaches will actually improve the health of the most vulnerable is completely lacking.
What actually happens, with all this attention to the so-called lifestyle approach, all it really does is actually increase health inequalities, because the people that are in the best condition to actually make these changes in their lives are already the ones that are going to live longer anyway, and it's an insidious process whereby even when governmental and other agencies recognize the broader determinants of health, what they do is in their practical recommendations they drift, such that the term "lifestyle drift" has come to refer to the tendency of all of these public health, health agencies and governmental agencies, to rather than raise the issues of income and democracy and political control and power, they end up ignoring all of those and telling and implying that the causes of disease and illness are people's adverse behaviours.”

sábado, 2 de dezembro de 2017

EM 2016 - PORTUGAL A TAXA DE RISCO DE POBREZA BAIXOU PARA NÍVEIS INFERIORES A 2011

Na semana em que a OCDE publicou a 4.ª edição do “How's Life? 2017” (em português «Como vai a Vida?2017») documento que faz parte do “OECD Better Life Initiative” e que avalia o “Bem-estar” em 41 países o INE publicou os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2017 sobre rendimentos do ano de 2016 (aqui), que revela uma diminuição do risco de pobreza em 2016 e uma diminuição do coeficiente de Gini, coeficiente que reflete as diferenças de rendimentos, para valores abaixo do início da crise financeira mundial que entrou no país em 2009.

O inquérito mostrou ainda que há menos pessoas em privação material (18,0%, que compara com 19,5% em 2016) e em privação material severa (6,9%, que compara com 8,4% em 2016). Resultado que no entender de Carlos Farinha Rodrigues, coordenador científico do Observatório das Desigualdades do CIES-IUL, resulta da descida da taxa de desemprego, que recuou para os valores pré-crise, e da reposição dos rendimentos das famílias.(aqui)

Apesar destas melhorias Portugal continua a ser um dos países da OCDE com elevados níveis de desigualdade vertical na satisfação coma vida e com os salários, “For example, the top 10% of earners make on average almost 4 times more than the bottom 10%”.

De acordo com “How's Life? 2017” o rendimento doméstico disponível em 2016 encontrava-se ao nível de 2005, e depois de ter melhorado ligeiramente entre 2006 e 2010, caiu fortemente em 2011-12.

Também no que se refere ao risco de pobreza e de exclusão social o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2017 mostrou uma redução na população em situação de “pobreza e exclusão”, 23,3% da população em 2017, contra 25,1% em 2016 e 27,5% em 2014.


Apesar desta melhoria, 2,4 milhões de portugueses continuavam em risco de pobreza e exclusão social em 2016, subsistindo os baixos salários e a precariedade laboral mantendo-se em 11% a taxa de trabalhadores pobres.

domingo, 26 de novembro de 2017

2017 - PERFIL DA SAÚDE DE PORTUGAL - OCDE E COMISSÃO EUROPEIA - Portugal gasta per capita cerca de 70 % da média da UE em despesas em saúde

A OCDE e o Observatório Europeu Sobre Sistemas e Políticas de Saúde apresentaram no passado dia 23 de Novembro os Perfis de Saúde dos Países da União Europeia, trabalho realizado em cooperação com a Comissão Europeia.(aqui)


No caso português o Perfil de Saúde (aqui) salienta um aumento da esperança de vida acima da média da UE, com um crescimento da esperança de vida de 2000 (76.8) para 2015 (81.3), taxas de tabagismo e de consumo esporádico excessivo de álcool muito abaixo da média da EU, uma avaliação mais pessimista da sua saúde em comparação com outros países com grandes disparidades na autoavaliação do estado de saúde entre os escalões de rendimentos, com 59,4 % do quintil de rendimentos mais elevados a afirmar estar de muito boa ou boa saúde, contra apenas 37,4 % no quintil de rendimentos mais baixos.

No que se refere às despesas com a saúde o relatório refere que em 2015 Portugal gastou 1 989 euros per capita em cuidados de saúde (ajustados para as diferenças de poder de compra), cerca de 30 % abaixo da média da UE de 2 797 euros em virtude das medidas de ajustamento orçamental negociadas com a Troika, tendo a despesa pública com a saúde diminuído  mais do que em outros setores da Administração Pública, com a parcela das despesas com a saúde nas despesas da Administração Pública a descer de 13,8 % em 2009 para 12,3 % em 2015. A parte pública das despesas com a saúde diminuiu desde 2011, equivalendo atualmente a 66% do financiamento total da saúde, bem abaixo da média da UE de 79 %, representando os pagamentos diretos 28% das despesas com cuidados de saúde, bem acima dos 15% da média da UE.

O documento reconhece ainda no que se refere aos recursos humanos e citamos “Outro desafio diz respeito aos salários dos profissionais de saúde no setor público. Embora, na sua maior parte, os cortes salariais aplicados em 2012, no âmbito do PAE, estejam atualmente a ser invertidos, as remunerações do pessoal de saúde do SNS, nomeadamente dos médicos, são inferiores às do setor privado. Os salários mais elevados praticados no setor privado incentivam médicos e enfermeiros a sair do SNS, ou mesmo a emigrar para outros países. Efetivamente tem-se assistido nos últimos anos a uma vaga emigratória de profissionais de saúde, em especial de enfermeiros. Futuramente, o SNS tem como desafio conseguir manter a motivação dos seus profissionais, bem como conter e inverter a sua saída."

Finalmente salientamos ainda os efeitos das medidas de austeridade tomadas entre 2012 e 2015,apoiadas pela OCDE e pela Comissão Europeia, que fizeram com que as necessidades de cuidados médicos não satisfeitas por razões financeiras ultrapassassem a média da UE

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

BIG SUGAR AMERICANA OCULTA DADOS SOBRE OS EFEITOS NEGATIVOS DO CONSUMO DE AÇÚCAR

Novas evidências publicadas na Plos Biology em 21 de Novembro mostram que a indústria do açúcar (Big Sugar) ocultou os resultados de uma investigação científica realizada nos anos 60 do século passado em animais (ratos) que ligava o consumo do açúcar (sacarose) às doenças cardíacas e ao cancro. (aqui)

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Sugar consumption at a crossroads
De acordo com os dados agora revelados a Sugar Research Foundation (SRF) suspendeu um projeto por ela financiado nos anos 60 e ocultou os resultados resultantes de uma investigação financiada secretamente em 1965 para a publicação de uma revisão no New England Journal of Medicine que estudava a ligação entre o consumo de sacarose e os níveis de gorduras no sangue e, portanto, a sua ligação à doença coronária, problema de grande magnitude nos anos 60.
Resultado de imagem para world consumer sugar

Os investigadores com base na documentação interna da indústria açucareira, concluíram que o estudo “Project 259: Dietary Carbohydrate and Blood Lipids in Germ-Free Rats,” liderado pelo Dr. W.F.R. Pover da Universidade de Birmingham, Reino Unido, entre 1967 e 1971 tinha encontrado uma diferença estatisticamente significativa nos valores dos triglicerídeos (gorduras) no sangue entre os ratos alimentados com uma dieta equilibrada e livre de açúcar e os outros ratos alimentados com uma dieta rica em açúcar, mostrando que os ratos expostos uma dieta com alto teor de açúcar estavam em maior risco de sofrer de doenças cérebro-cardiovasculares por terem níveis de gordura (triglicerídeos) mais elevados no sangue.

Num segundo momento os investigadores compararam duas populações de ratos, submetidos a dietas diferentes, uma rica em amido e outra com alto teor de açúcar, concluindo que os ratos que consumiam açúcar eram mais propensos a terem níveis elevados de uma enzima associada ao cancro da bexiga em pessoas adultas. Apesar dos resultados a investigação nunca foi publicada e a Sugar Resarch Foundation cortou o orçamento e desinteressou-se do projeto.

O artigo agora publicado8 assume particular relevância pelo facto da indústria açucareira (Big Sugar) sempre ter negado a relação entre o consumo do açúcar e o cancro, classificando de "sensacionalistas" os estudos como o da Universidade do Texas que ligava o consumo de açúcar ao desenvolvimento do cancro da mama. (aqui)

O artigo assume particular importância, uma vez que se aproxima a data limite (2021) estabelecida pela US Food & Drug Administration para incluir em todos os rótulos nutricionais o valor diário de açúcar adicionados "“Added sugars,” in grams and as percent Daily Value, will be included on the label", ao mesmo que retira do rótulo a menção às calorias provenientes da gordura, substituindo-a pelas referências à “gordura total”, à “gordura saturada” e à “gordura trans”. (aqui)
Nutrition Facts Label - What

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

NOVEMBRO 2017 - AVALIAÇÃO DO PROGRESSO DOS OBJETIVOS PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA UNIÃO EUROPEIA,

O Eurostat publicou hoje o relatório de progresso dos avanços ocorridos na União Europeia, no que respeita aos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (aqui), "Sustainable Development in the European Union — Monitoring report on progress towards the SDGs in an EU context”.

De acordo com os resultados publicados a União Europeia progrediu em todos os 17 objetivos fazendo-o de forma diferente ao longo dos últimos 5 anos.

Entre os resultados onde a União Europeia realizou progressos moderados, encontram-se os Objetivos relacionados com a redução das desigualdades, com a pobreza, com o trabalho precário, com o desemprego de longa duração e com a igualdade de género.

Such moderate trends can be seen in SDG 4 ‘quality education’, SDG 17 ‘partnership for the goals’, SDG 9 ‘industry, innovation and infrastructure’, SDG 5 ‘gender equality’, SDG 8 ‘decent work and economic growth’, SDG 1 ‘no poverty’, SDG 2 ‘zero hunger’ and SDG 10 ‘reduced inequalities
Progressão dos 17 Objetivos Desenvolvimento Sustentável na União Europeia 
Estes indicadores confirmam as críticas efetuadas ao longo dos últimos anos acerca das políticas desenvolvidas pela Comissão Europeia e pelos principais líderes europeus, incapaz de melhorar os Objetivos Desenvolvimento Sustentável relacionados com o desenvolvimento humano e social.(aqui) (aqui)


















domingo, 19 de novembro de 2017

A "BIG SODA" EM GUERRA CONTRA A TAXA SOBRE AS BEBIDAS AÇUCARADAS - O CASO DA COLOMBIA

Na semana em que se assinala o Dia Mundial da Diabetes o New York Times (NYT) publicava no passado dia 13 de Novembro uma reportagem (versão em língua esapnhola) intitulada “Nos silenciaron’: La lucha en Colombia por gravar las bebidas azucaradasonde retrata a luta de um grupo de cidadãos organizados em torno da associação de defesa dos consumidoresEducar Consumidores” que defendiam a aprovação de um imposto sobre as bebidas açucaradas como medida para combater a obesidade e os problemas de saúde daí resultantes, como a diabetes, e a violenta resposta por parte das autoridades colombianas pressionadas pelos interesses ligados à indústria de refrigerantes e bebidas açucaradas.

Num processo descrito pelo NYT como “atroz” que “recordaba la intimidación que se usaba contra quienes desafiaban a los carteles de la droga que en el pasado dominaron a Colombia”, os ativistas da “Educar Consumidores” foram alvo de ameaças telefónicas e por correio eletrónico, viram os seus computadores atacados e foram vigiados ostensivamente pelas ruas. Durante a campanha pela aprovação de uma taxa sobre o açúcar a “Educar Consumidores” produziu e divulgou um anúncio de televisão (aqui) onde se advertiam os consumidores dos efeitos do consumo excessivo de bebidas açucaradas, provocando uma forte reação por parte da indústria de refrigerantes junto das autoridades colombianas.

A resposta da “Superintendencia de Industria y Comercio” da Colômbia retratada pelo NYT, foi feroz, decidindo aquele departamento proibir a difusão do anúncio, submeter a “control previo toda pieza publicitaria que la ASOCIACIÓN EDUCAR CONSUMIDORES pretenda trasmitir en cualquier medio de comunicación sobre el consumo de bebidas azucaradas”, e ameaçar com a aplicação de multa até 250.000 $USA se esta decisão fosse infringida.

No momento em que a taxa sobre bebidas açucaradas (na maioria das vezes adoçadas com xarope de milho rico em frutose) se expande por todo o mundo, abrangendo mais de 30 países, incluindo Portugal (aqui) onde a medida foi inscrita no orçamento de 2017, com o apoio da Organização Mundial de Saúde (aqui), trava-se uma dura batalha em muitas partes do mundo e em particular nos países emergentes onde se concentram a maioria dos consumidores e dos potenciais consumidores. (aqui) (aqui)


Muitas as vezes as medidas legais e ficais que facilitam escolhas saudáveis, como o controlo da publicidade do tabaco e do álcool, a proibição do consumo de tabaco em espaços fechados, o aumento das taxas fiscais sobre o álcool ou tabaco, a redução do sal nos alimentos, ou a promoção de espaços públicos que favoreçam a mobilidade ativa (espaços pedonais e ciclovias) são vistas de forma contraditória entre os cidadãos dos países desenvolvidos, preocupados com as questões da fiscalidade, ignorando muitas vezes que as medidas descritas são efetivas para promover hábitos saudáveis e ao mesmo tempo diminuir as desigualdades em saúde, necessitando de muita coragem política para as levar a cabo, face às dificuldades em enfrentar as poderosos e gigantescos interesses da “Big Soda”. (aqui)

Durante muitos anos as grandes corporações fomentaram um quadro ideológico, em que a crença prevalente se centra na conceptualização de que os hábitos pouco saudáveis dependem de puras decisões individuais, fazendo com que o foco das políticas públicas se concentrem em ações de controlo, iludindo as evidências científicas que tem mostrado a forma como a indústria tem vindo a influenciar as decisões políticas de forma a defender os seus interesses.(aqui)


Perante esta realidade há que conhecer melhor os determinantes políticos e comerciais da saúde e trabalhar a todos os níveis para que os diferentes setores da administração e da sociedade civil possam desde o nível individual até um nível mais global promover e favorecer hábitos saudáveis e a cidadania. 

domingo, 12 de novembro de 2017

1 EM CADA 10 PORTUGUESES NÃO PUDERAM COMPRAR MEDICAMENTOS EM 2016 - HEALTH AT A GLANCE 2017

Os dados publicados, no passado dia 10 de Novembro, pela OCDE no seu relatório anual “Health at Glance 2017” mostram que as necessidades não satisfeitas de cuidados de saúde devido ao custo são elevadas, e mesmo “surpreendentes” de acordo com o relatório «relatively high numbers of people reporting to forego consultations is somewhat surprising», afetando principalmente as pessoas de rendimento mais baixos em países como a Suiça, o Canadá ou a França, que a par dos Estados Unidos da América apresentam valores inesperadamente elevados nas desigualdades entre pessoas de baixo e alto rendimento no que se refere às necessidades não satisfeitas em saúde, o relatório apresenta como exceção o Reino Unido, onde as necessidades não satisfeitas devido ao custo são semelhantes quer para as pessoas de mais baixos rendimentos quer para o restante população.
Health at Glance 2017
No que se refere a Portugal e num dos dois items considerados no relatório sobre cuidados não satisfeitos em saúde, “Consultations skipped due to cost” em 17 países considerados, Portugal situa-se em 9.º lugar entre a França e o Canadá com um valor de 8.3%, abaixo da média da OCDE (10.5%), no outro item “Prescribed medicines skipped due to cost”, Portugal situa-se em 4.º lugar num total de 15 países, bem acima da média da OCDE (7.15) com um valor de 10.1%, o que significa que 1 em cada 10 portugueses não pode comprar medicamentos por falta de rendimento, confirmando o impacto que as políticas de austeridade têm tido na vida dos portugueses e em particular nos grupos sociais de mais baixos rendimentos (aqui).
Health at a Glance 2017
No caso português o “Health at Glance 2017” confirma um elevado peso das despesas com a saúde no consumo final das famílias, uma vez que representa 3.8% das despesas totais contra 3% da média da OCDE e que as despesas privadas no total das despesas públicas em saúde(out-of-pocket expenditure) representam 27,5% do produto interno bruto (PIB).


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

SAÚDE E MUDANÇAS CLIMÁTICAS - LANCET COUNTDOWN 2017

A revista Lancet publica na sua edição de 04 de novembro, o relatório “The Lancet Countdown on health and climate change: from 25 years of inaction to a global transformation for public health”, elaborado pela “Lancet Commission on Health and Climate Change”, uma comissão composta por 24 instituições académicas e organizações não-governamentais de todos os continentes, envolvendo especialistas de diversas áreas disciplinares (peritos em clima, ecologistas, economistas, engenheiros, especialistas em sistemas energéticos, de alimentação e transporte, geógrafos, matemáticos, cientistas sociais, políticos, profissionais da saúde pública, médicos).
  
Este relatório que dá continuidade ao trabalho da Comissão Lancet de 2015 conclui que os efeitos das mudanças climáticas nos seres humanos são indiscutíveis e potencialmente irreversíveis, afetando a população mundial e em particular as comunidades mais vulneráveis da sociedade.  A Comissão sublinha ainda os impactos das mudanças climáticas nas populações dos países de renda média e baixa e o seu impacto negativo nos determinantes sociais e ambientais da saúde, agravando as desigualdades demográficas, económicas e sociais.

De acordo com o relatório as alterações climáticas produziram uma exposição às ondas de calor cada vez mais frequenta e intensa, afetando em 2016 mais 125 milhões de pessoas adultas do que em 2000 e um aumento de temperatura que causou efeitos adversos sobre o trabalho, provocando uma diminuição de 5.3% na produtividade laboral entre 2016 e 2000.


Apesar de a Comissão ter registado que o aumento de 44% na ocorrência de desastres naturais desde 2000, não alterou a letalidade na ocorrência destes eventos, podendo sugerir o princípio de uma resposta adaptativa às alterações climáticas, tem-se verificado um agravamento das condições climáticas ao longo do tempo que tornarão os níveis atuais de adaptação insuficientes no futuro. A Comissão dá ainda o exemplo da influência das mudanças climáticas mo aumento da capacidade de propagação do mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, mostrando um aumento de 9,4% desde 1950.


A Comissão conclui o relatório “The Lancet Countdown on health and climate change: from 25 years of inaction to a global transformation for public health”, « Overall, the trends elucidated in this Report provide cause for deep concern, highlighting the immediate health threats from climate change and the relative inaction seen in all parts of the world in the past two decades. However, more recent trends in the past 5 years reveal a rapid increase in action, which was solidified in the Paris Agreement. These glimmers of progress are encouraging and reflect a growing political consensus and ambition, which was seen in full force in response to the USA's departure from the 2015 climate change treaty. Although action needs to increase rapidly, taken together, these signs of progress provide the clearest signal to date that the world is transitioning to a low-carbon world, that no single country or head of state can halt this progress, and that until 2030, the direction of travel is set.»

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A SAÚDE HUMANA, QUALIDADE DO AR E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Resultado de imagem para changing in the air harvard fallA “HARVARD PUBLIC HEALTH MAGAZINE” do Outono (aqui) editada pela HARVARD T.H. CHAN SCHOOL OF PUBLIC HEALTH publica uma importante reportagem intitulada “Changing in the Hair” onde se descrevem um conjunto de investigações sobre a ação das mudanças climáticas na qualidade do ar, interior e exterior, desenvolvidas por aquela escola.
Na primeira das experiências os cientistas da Harvard T.H. Chan School of Public Health, simularam as condições atmosféricas previstas no final do século XX e estudaram a sua previsível ação sobre as culturas de soja, de trigo, de arroz e de milho, concluindo que retém menos micronutrientes essenciais, como minerais de zinco e ferro, minerais essências para a saúde humana.

If global emissions and concomitant climate change continue at current rates, by 2050 hundreds of millions of people who depend on these staple crops for nutrition—especially in poorer societies where meat is rarely consumed—could suffer devastating health problems, from stunted growth to diminished cognitive function.”
Source: “Climate change, indoor environments, and health,” Indoor Air, 2012.
Na segunda das experiências os investigadores estudaram a ação das mudanças climáticas na qualidade do ar interior, bem como a sua ação sobre os materiais usados no interior das casas, sejam nos materiais de construção utilizados seja no mobiliário interior, e os seus efeitos sobre a saúde das pessoas.

Climate change exacerbates the peril. Toxic fumes and carcinogens often leach out of common materials used in furniture, paint, and construction. Alone, these chemicals include known carcinogens, asthma-inducing substances, and endocrine disrupters, posing significant health risks.”

De acordo com os investigadores a solução para estes problemas passa por reduzir as emissões que estimulam as mudanças climáticas e eliminar os materiais prejudiciais dos interiores das habitações.

domingo, 29 de outubro de 2017

QUANDO OS INTERESSES DA INDÚSTRIA QUÍMICA PREVALECEM SOBRE A SAÚDE E A SEGURANÇA DAS PESSOAS


Ao longo dos últimos meses a imprensa americana tem dado relevo aos protestos das comunidades médica e científica americanas (aqui) (aqui)contra a decisão da administração Trump em autorizar a utilização do pesticida (aqui) “chlorpyrifos- CPSquer nas culturas agrícolas (soja, couves de bruxelas, frutos vermelhos, brócolos, couve-flor, nogueiras e árvores de fruto), quer nas atividades não agrícolas (campos de golfe, relvados, e tratamentos de madeira utilizada em casas de jardim e postes de vedação), contrariando a posição da Agência de Protecção Ambiental dos EUA ( United States Environmental Protection Agency) tomada em 2015 durante a administração Obama de banir o uso deste organofosforado nas atividades agrícolas exteriores.

O pesticida “chlorpyrifos- CPS” desenvolvido pela Dow Chemical Company e colocado no mercado desde 1965, pertence à classe dos pesticidas, compostos químicos desenvolvidos no princípio do século XX pela IG Farben (aqui), um conglomerado de empresas químicas alemãs, e utilizados pela Alemanha Nazi como armas químicas para exterminar os prisioneiros do campo de concentração.
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Imagem de  Bradley Peterson, via New York Times
As partes coloridas da imagem as áreas do cérebro de uma criança ffisicamente alterado após a exposição a este pesticida.
Utilizado desde os anos 50 no interior das habitações como componente de insecticidas, o pesticida “chlorpyrifos- CPS” foi banido desta utilização no ano 2000, uma vez que estudos em humanos e animais demonstraram que a sua sua utilização provocava danos no cérebro e sistema nervoso, estando associado ao cancro do pulmão (aqui)(aqui).

Esta decisão da administração vista com preocupação pelos profissionais de saúde e pelos cientistas (aqui)(aqui), é um sinal do alinhamento do Presidente Trump com os intereses do lobby da indústria química, o American Chemistry Council, uma espécie de versão atual do Big Tobacco, acusada de manipular os cidadãos através da criação de uma organização denominada Citizens for Fire Safety, que tinha como objetivo pressionar a utilização de produtos químicos nos sofás para retardar incêndios domésticos. Tudo para salvar vidas, é claro.



A escolha política da administração Trump foi clara, no futuro “ Americans will be caring for victims of the chemical industry’s takeover of safety regulation”.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

O DIREITO DAS MULHERES A DECIDIREM POR SI MESMAS E O ACORDÃO DO TRIBUNAL DO PORTO

Quis o acaso que na semana em que a revista Lancet publicava na edição de 21 outubro o editorialDecisions only she should makededicado ao direito das mulheres decidirem sobre si próprias, e onde se descrevia o “ depressing context” criado pelas manchetes da imprensa internacionalFrom a teenager seeking safe abortion in the USA, to the multiple actresses with sexual harassment allegations against the film producer Harvey Weinstein”, e a crescente preocupação com “ the rights of women and girls share the familiar sense of objectification of female bodies by men in power and lost agency in sexual and reproductive rights”, a imprensa portuguesa dava a conhecer um acórdão do Tribunal de Relação do Porto (aqui)onde se decidia por manter as penas suspensas de dois homens que haviam sido condenados num Tribunal de instância local num caso de violência doméstica e perseguição a mulher, com a justificação de que a conduta dos arguidos ocorrera num contexto de adultério.
Num mundo em que 1 em cada 3 mulheres será vítima de violência por parte do seu parceiro, 1 em cada 4 mulheres casa-se durante a infância, 71% das vítimas de tráfico humano são mulheres, 200 milhões de meninas e mulheres foram submetidas a mutilação genital, 130 milhões de meninas não vão à escola, cerca de 60% dos jovens entre os 15 – 24 anos que vivem com VIH são raparigas e mulheres, 214 milhões das mulheres em idade reprodutiva dos países em desenvolvimento que não desejam engravidar não tem acesso a um método anti conceptivo efetivo, e em que metade das cerca de 25.5 milhões interrupções voluntárias de gravidez são inseguras, o acórdão do Tribunal da Relação do Porto é mais um sinal a juntar a muitos outros de que os direitos humanos em geral e o direito das mulheres a decidirem por si próprias, são violentamente atacados mesmo entre as elites sociais. (aqui) (aqui)

O acórdão de Outubro de 2017, em que os juízes justificam a sua decisão, citamos “ Ora o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte. Ainda não foi há muito tempo que a lei penal (Código Penal de 1886, artigo 372 punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse ato a matasse. Com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher. Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o ato de agressão, como bem se considerou na sentença recorrida” é bem o exemplo da violência sobre as mulheres, estando a par dos exemplos denunciados no editorial da Lancet.

Mas como escreve o editorialista da LancetIn this rather depressing context, is there need for a more positive way to talk about female bodily autonomy”. She Decides é o exemplo de um novo movimento, criado em janeiro de 2017 pela ministra holandesa do Comércio Externo e da Cooperação para o Desenvolvimento, Lilianne Ploumen, para promover, prover, proteger e fortalecer os direitos fundamentais de cada mulher (aqui), em resposta à aplicação pelo Presidente Trump da Global Gag Rule, também conhecida pela Mexico City Policy (aqui), que estipula que todas as organizações não-governamentais que recebem financiamento federal devem abster-se de promover o aborto seguro ou informações sobre o aborto em outros países.

“She Decides” é um movimento global para promover, providenciar, proteger e melhorar os direitos fundamentais de cada mulher.



Como disse Robin Gorna à Lancet “ É fácil desesperar no contexto dos Trumps e Weinsteins deste mundodos juízes do Tribunal de Relação do Porto, acrescentamos nós “mas tenho uma profunda convicção de que, quando as coisas ficam tão más, levam a um tempo de uma extraordinária mudança ".