sábado, 27 de maio de 2017

RISCOS REAIS e RISCOS PERCEBIDOS

Os recentes ataques terroristas de Manchester, de Londres ou de Nice, farão com que muitos de nós, confrontados com a necessidade de viajar para essas paragens, por razões de trabalho, familiares ou de lazer pensemos na sua concretização. Há dias um colega de trabalho pedia-me opinião a propósito da deslocação de um filho para uma destas cidades, onde “existem muitos terroristas” para frequentar um curso de verão, deveria deixá-lo ir ou não?


Postos os dois perante o problema, procurámos ultrapassar os nossos medos, e tentar perceber se não estávamos assustados por motivos equivocados. Percebemos rapidamente que o filho deste meu amigo deveria era ter cuidado era com os riscos associados aos acidentes de trânsito, a principal causa de morte em todo o mundo entre adolescentes da sua idade, fosse como peão, ciclista, motociclista ou passageiro ou condutor de um automóvel. (aqui)

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Vem tudo isto a propósito dos riscos reais e dos riscos percebidos, tão bem representados no trabalho de Sussana Hertrich (aqui), que leva a que muitos dos que tem um medo atroz de viajar de avião se esqueçam de pôr o cinto de segurança (em 2015 morreram em Portugal 473 pessoas em acidentes de viação e apenas uma em acidentes com aeronaves), não tenham medo das escadas da sua habitação (aqui), ou de escorregar no banho (aqui), é que somos péssimos no momento de calcular as probabilidades relativas de se produzirem acontecimentos raros, os “cisnes negros”de Nassim Taleb (aqui).

Sussana Hertrich - Risk I

segunda-feira, 22 de maio de 2017

2017 - 27% DA OBESIDADE NA EUROPA É ATRIBUIDA A DESIGUALDADES SOCIOECONÓMICAS

No passado dia 17 de maio foi apresentado no Porto, durante o ECO2017, o 24.º Congresso Europeu sobre a Obesidade (aqui), o relatório da Organização Mundial de Saúde da região europeia Adolescent obesity and related behaviours: trends and inequalities in the WHO European Region, 2002-2014”, que compara 27 países e regiões da região europeia da OMS. (aqui)

De acordo com a investigação agora publicada um em cada três adolescentes tem excesso de peso ou obesidade, apresentando as regiões do Sul da Europa e do Mediterrâneo as taxas mais elevadas, e, estando a epidemia a aumentar nos países da Europa Oriental.

A obesidade infantil considerada como um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI integra um das metas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas (aqui), uma vez que as crianças obesas estão em maior risco de diabetes tipo 2, asma, alterações do sono, problemas músculo-esqueléticos e doenças cardiovasculares, para além de dificuldades na integração social.

De acordo com o Diretor do Programa de Nutrição, Atividade Física e Obesidade da OMS para a Europa, João Breda, "a maioria dos jovens não superará a obesidade: cerca de quatro em cada cinco adolescentes que se tornam obesos continuarão a ter problemas de peso como adultos. Como tal, eles carregam o risco da doença, o estigma e a discriminação. Além disso, a natureza crónica da obesidade limita a mobilidade social e ajuda a sustentar um ciclo intergeracional negativo de pobreza e de doença” (aqui)


O documento destaca as persistentes desigualdades socioeconómicas associadas à atividade física e às escolhas alimentares, fazendo com que as crianças e os jovens que vivem em famílias de baixos rendimentos sejam mais propensos a ser obesos.

De acordo com os dados publicados no HBSC de 2014 (aqui) 27% de toda a obesidade é atribuída às diferenças socioeconómicas, tendo aumentado 9% desde 2002 (18%). No atual documento da OMS Europa, no seu capítulo 6 dedicado às diferenças socioeconómicas, o relatório cita vários estudos publicados, na Noruega, na França, Eslováquia e Reino Unido, afirmando que as famílias menos abastadas estão mais vulneráveis à insegurança alimentar, tem menos acesso a alimentos mais nutritivo, vivendo em áreas urbanas degradadas com falta de espaços verdes e desportivos e com maiores concentrações de lojas de conveniência e de “fast-food”.

Research has found that less affluent families are more vulnerable to food insecurity and have relatively poorer access to nutritious foods. Adolescents from lower socioeconomic backgrounds are also more likely to reside and attend schools in deprived neighborhoods that have higher concentrations of fast-food restaurants and convenience stores, fewer sports facilities and less accessible green space. Social stratifications in these material and environmental risk factors for obesity go a long way to explaining why disadvantaged young people have less access to fruit and vegetables and poorer aerobic fitness”.

Terminando por afirmar que os efeitos combinados do ambiente urbano e social explicam porque 20 a 40% de toda a obesidade pode ser atribuída a fatores socioeconómicos.

Adolescent obesity and related behaviours: trends and inequalities in the WHO European Region, 2002-2014” (aqui)

sábado, 13 de maio de 2017

A DIFERENÇA ENTRE A ESPERANÇA DE VIDA DAS REGIÕES MAIS RICAS E MAIS POBRES DOS EUA É MAIS DE 20 ANOS

Na sua edição de 8 de maio, a JAMA Internal Medicine, publicava o artigo “Inequalities in Life Expectancy Among US Counties, 1980 to 2014 - Temporal Trends and Key Drivers” (aqui) onde os autores concluíam que existia uma diferença de 20 anos na esperança de vida entre as regiões mais pobres e as regiões mais ricas dos Estados Unidos.

Assim e enquanto os Estados Unidos apresentavam uma esperança de vida à nascença de 79,1 anos nos condados do Dakota (região onde se situam as reservas dos nativos americanos),da região leste do Kentucky, do sudoeste da Virgínia e da parte inferior do Mississippi apresentavam uma reduzida expectativa de vida em comparação com o resto do país (66 anos de esperança de vida) e menos 20 anos do que a esperança de vida à nascença verificada nos condados do Colorado central que apresentavam os valores mais elevados para a esperança de vida (87 anos) à nascença dos Estados Unidos.
ESPERANÇA DE VIDA À NASCENÇA POR CONDADO - 2014
De acordo com os dados agora publicados, a magnitude dessas disparidades deve-se às diferenças entre os fatores socioeconómicos, a raça/etnia, a disponibilidade e o acesso a cuidados de saúde, e os "fatores de risco evitáveis" como o tabagismo, o consumo de álcool e o sedentarismo.


A large body of previous research documents a relationship between socioeconomic and race/ethnicity factors and various measures of survival.25-28 Consistent with this research, this study found that socioeconomic and race/ethnicity factors alone explained 60% of the variation in life expectancy. At the same time, 74% of the variation was explained by behavioral and metabolic risk factors alone, while only marginally more variation was explained by socioeconomic and race/ethnicity factors, behavioral and metabolic risk factors, and health care factors combined.”  

domingo, 7 de maio de 2017

ENTRE 2011 - 2015 AUMENTARAM AS DESIGUALDADES EM SAÚDE E OS ENCARGOS DAS FAMÍLIAS COM A SAÚDE

No passado dia 27 de Abril, foi apresentado em Lisboa, no Instituto de Higiene e Medicina Tropical o Relatório português do Health Systems in Transition 2017 (aqui), uma coprodução conjunta daquele Instituto com o European Observatory on Health Systems and Policies (aqui).

O grupo de investigadores liderados pelo Professor Doutor Jorge Simões, analisou as transformações ocorridas no sistema de saúde em Portugal desde 2011, determinadas pela crise financeira e económica mundial, e pelas medidas previstas no programa de ajustamento (MoU), sustentado pela Troika - Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, concluindo que as medidas tomadas, centradas principalmente na contenção de custos e na melhoria da eficiência para assegurar a sustentabilidade financeira do sistema, afetaram negativamente a qualidade e a acessibilidade aos cuidados de saúde, prejudicados pelos enormes cortes orçamentais efetuados no Serviço Nacional de Saúde (durante a vigência do MoU o orçamento do Serviço Nacional de Saúde regrediu 8 anos) e conduziram a um aumento das desigualdades na saúde.
Os autores afirmam que o impacto real das medidas previstas no MoU, não podem ser completamente compreendidas, uma vez que não podem ser dissociadas dos efeitos da crise económica. A comparação de Portugal no contexto internacional no que se refere à relação entre os recursos alocados (despesas de saúde) e os resultados obtidos (esperança de vida ao nascimento e aos 65 anos) mostram que o sistema de saúde português está entre os mais eficientes da Europa e que os principais indicadores de saúde estão a melhorar.

O relatório confirma, que ao longo dos anos de crise económica, 2010 a 2015, ao mesmo tempo que se verificava uma forte diminuição do Produto Interno Bruto do país (menos 5.4% entre 2010 e 2013) e das despesas totais em saúde em % do PIB de 12.5% no mesmo período, as medidas propostas pela Troika e implementadas pelo governo português faziam aumentar no mesmo período os encargos financeiros das famílias, ao mesmo tempo que diminuía a despesa pública em saúde e diminuíam de uma forma significativa as despesas em cuidados de saúde per capita, para $US 2689.9 dólares per capita em 2014, muito abaixo dos $US 3379 dólares da média da União Europeia.
Concluindo que o equilíbrio entre as medidas de austeridade, a manutenção do estado de saúde da população e o acesso aos cuidados de saúde foram conseguidos através da diminuição das despesas públicas em saúde.

Assim se já antes da crise económica e social, os encargos financeiros para as famílias portuguesas já eram muito significativos, tendo em conta a universalidade dos cuidados de saúde em Portugal, com as medidas aplicadas pelo XIX Governo Constitucional (Passos Coelho) entre 2011 e 2015, essa tendência agravou-se. Em 2015 os pagamentos diretos dos bolsos das famílias portuguesas (out-of-pocket payments) cifraram-se em 27.6% (23% no início da crise), o mais elevado da União Europeia.

Os autores terminam afirmando que o atual governo português (XX Governo Constitucional), enfrenta um novo desafio, uma vez que as medidas tomadas pelo XIX Governo Constitucional (Passos Coelho), baseadas em cortes: dos salários dos profissionais de saúde, dos preços dos medicamentos e dos exames complementares de diagnóstico e terapêutica, não são mais possíveis.

Reconhecendo a necessidade de aumentar a dotação orçamental do Serviço nacional de Saúde a par do aumento da eficiência das suas unidades e de futuros investimentos em recursos humanos e infra-estruturas.