segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CALCULADORA DA DESIGUALDADE/ CALCULADORA DE LA DESIGUALDAD - AMÉRICA LATINA E CARIBE

Na América Latina e no Caribe, 10% da população mais rica concentra 71% da riqueza da região (aqui)

El 10% de la población más rica en América Latina y el Caribe concentra el 71% de la riqueza (aqui)

A OXFAM - Internacional e Ojo Público desenvolveram uma calculadora que permite comparar a renda familiar de qualquer pessoa que viva nos seguintes países da América Latina do Caribe: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, com o que ganham os multimilionários desses mesmos países.

La Calculadora de la desigualdad de Oxfam y Ojo Público permite a cualquier ciudadano de 16 países América Latina y Caribe comparar los ingresos de su familia con lo que ganan los multimillonarios de esos mismos países y con el resto de la sociedad del país. Compara aquí los ingresos de tu hogar. (aqui)


Veja, a seguir, o que sua renda familiar representa neste cenário: (aqui)


este cenário:

CONSIDERA-SE RICO, POBRE OU ESTÁ NA MÉDIA? CALCULADORA DA OCDE.

As desigualdades têm vindo a aumentar desde os anos 80 do século passado, ameaçando a coesão social e o crescimento.



Deixo-vos aqui uma ferramenta (aqui) que podem usar para compararem o vosso rendimento familiar com o rendimento das restante população do país se residirem num dos países da OCDE.

domingo, 28 de agosto de 2016

TERRAMOTO DE AMATRICE - DESASTRE NATURAL OU SOCIAL

Na madrugada de 24 de agosto, pelas 03:36 horas, um sismo de 6.2 de magnitude na escala de Ritcher, fazia-se sentir no centro de Itália, na região de Lazio, na província de Rieti, atingindo em particular os municípios montanhosos de Amatrice, Accumoli e Arquata del Tronto, onde vive uma população envelhecida e de baixo rendimento. (aqui) Causando até ao dia de hoje 290 mortos, na sua maioria em Almatrice (230) em Amatrice, 49 em Arquato e 11 de Accumoli. (aqui)

260 Anos passaram sobre o terramoto de Lisboa, considerado como o “ primeiro” desastre natural da história moderna, um sismo de 9.0 na escala de Ritcher, seguido de um tsunami, causando entre 60.000 a 100.000 e a destruição de Lisboa.

Passaram quase três séculos sobre a discussão ocorrida em pleno “Século das Luzes”, acerca das causas de desastres naturais como responsabilidade de Deus (castigo de Deus), aqui sintetizadas na carta de Rousseau a Voltaire sobre a Providência em resposta às ideias expressas no poema de Voltaire «Poème sur le désastre de Lisbonne», “Sans quitter votre sujet de Lisbonne, convenez, par exemple, que la nature n’avoit point rassemblé là vingt mille maisons de six à sept étages, & que si les habitans de cette grande ville eussent été dispersés plus également & plus légérement logés, le dégât eût été beaucoup moindre & peut-être nul. Tout eût fui au premier ébranlement, & on les eût vus le lendemain à vingt lieues de-là tout aussi gais que s’il n’étoit rien arrivé” (aqui) e da abordagem moderna conduzida pelo primeiro-ministro de Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo (aqui) , fazendo com que um Estado aceitasse pela primeira vez na história a responsabilidade das tarefas de busca e de resgate da população, ao mesmo tempo que desenvolvia um plano de reconstrução sustentado na descrição científica e objetiva das causas e consequências de um terramoto. (aqui)


Agora como há quase 300 anos, o procurador da república de Rieti, Giuseppe Saieva procura uma explicação para a ligação entre o “natural e o social”, afirmado ao jornal “La Repubblica” «Não, o que aconteceu não pode ser considerado como meramente o resultado de destino». (aqui)
Campanile di Amatrice
Ao longo dos anos, a investigação publicada mostram que os eventos classificados como “naturais” põem a nu as desigualdades que atravessam a sociedade. A partir do trabalho de Eric Klinenberg  (aqui)sobre os efeitos da Onda de Calor de Chicago em 1995, ficou claro que a “desnaturalização” dos desastres mostraram que muitas das consequências e dos efeitos ocorridos estão moldadas pelo contexto e pela organização social humana, não afetando todos da mesma maneira. Na revisão publicada na Plos: Currents Disasters " The Human Impact of Earthquakes: a Historical Review of Events 1980-2009 and Systematic Literature Review” foram encontradas desigualdades que afetam em particular as crianças, os idosos, e as populações mais desfavorecidas dos países mais pobres e das regiões mais pobres dos países de maior rendimento.


Parafraseando Leon Eisenberg no seu ensaio “Does social medicine still matter in an era of molecular medicine?” (aqui) « The developments in molecular biology highlight the salience of the social environment and underscore the urgency of rectifying inequity and injustice. All medicine is inescapably social medicine.», os desastres continuam a ser como Virchow nos ensinou, a serem sociais.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

RIO 2016 - O LEGADO - VALEU A PENA ?

Os Jogos Olímpicos – Rio 2016, terminaram. De acordo com a imprensa internacional e a própria imprensa brasileira, tinham tudo para correr mal, era o zika vírus, a poluição da baía de Guanabara, os problemas detetados na aldeia olímpica, etc., mas no fim o Brasil e o Rio de Janeiro demonstraram que os brasileiros, entre muitas contradições, souberam organizar os primeiros Jogos Olímpicos de verão realizados na América do Sul. (aqui) (aqui) (aqui)

Durante os Jogos a vida continuou, como disse o presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, o Rio 2016 não ficou isolado do resto do Brasil. “Os Jogos não foram organizados numa bolha, mas numa cidade em que há problemas sociais, e onde a vida real continua durante a olimpíada”.
Rafaela Silva - Medalha de Ouro Judo - Instituto Reação - Cidade de Deus


A escolha do Rio como sede olímpica aconteceu em 2009 em Copenhaga, durante o segundo mandato do presidente Lula da Silva, quando o Brasil vivia um período de bom desempenho económico e social e uma projeção mundial crescente, enquanto a sua organização foi gerida pela presidente Dilma Rousseff, entretanto afastada pelo Senado após meses de campanha nos principais órgãos de imprensa brasileiros (nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, claramente conservadoras, que durante décadas usaram os meios de comunicação em favor das classes poderosas e favorecidas, mantendo e assegurando uma grande desigualdade social), mergulhando o Brasil numa grave crise política, económica e social, com o objetivo da velha elite voltar a impor uma agenda conservadora e neoliberal (aqui) a que o jornal Guardian classificou de “A lot of testosterone and little pigment", opondo-se a anos de redistribuição de rendimento e de combate à pobreza. O que se teria dito de Lula da Silva e Dilma Roussef se os Jogos – Rio 2016 tivessem fracassado.

Terminados os Jogos – Rio 2016, dar-se-á passo à discussão sobre o legado dos Jogos Olímpicos 2016 para o Rio e para o Brasil (aqui) (aqui) até que comecem os próximos Jogos Olímpicos de verão de 2020 (aqui). Ficará também a discussão sobre os Jogos, como um espelho das desigualdades entre países, espelhando as diferenças de rendimento e de oportunidades quer no que se refere ao número de participantes, quer no que se refere à distribuição de medalhas. (aqui)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

RIO 2016 - OS JOGOS OLÍMPICOS COMO ESPELHO DE UM MUNDO DE DESIGUALDADES

De 5 de Agosto a 18 de Setembro, o Rio de Janeiro será a cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Mais de 11.000 atletas olímpicos e mais de 4.000 atletas paralímpicos estarão no Brasil a representar os seus países, 206 nos jogos olímpicos e 176 nos jogos paralímpicos. (aqui)

Sustentado nos três valores olímpicos, da Amizade, do Respeito e da Excelência, e nos quatros valores paralímpicos, da Inspiração, Coragem, Determinação e Igualdade, o Movimento Olímpico apresenta-se como “… A PHILOSOPHY OF LIFE, EXALTING AND COMBINING IN A BALANCED WHOLE THE QUALITIES OF BODY, WILL AND MIND. BLENDING SPORT WITH CULTURE AND EDUCATION, OLYMPISM SEEKS TO CREATE A WAY OF LIFE BASED ON THE JOY FOUND IN EFFORT, THE EDUCATIONAL VALUE OF GOOD EXAMPLE AND RESPECT FOR UNIVERSAL FUNDAMENTAL ETHICAL PRINCIPLES” contribuindo para a construção de um mundo pacífico e melhor. (aqui)

Mas ao contrário dos ideais olímpicos e do antigo espírito olímpico, os Jogos são um local desigual. São o espelho das desigualdades entre países. Na realidade espelham as diferenças de rendimento e de oportunidades entre países, quer no que se refere ao número de participantes, quer no que se refere à distribuição de medalhas. (aqui)



São um bom momento para questionarmos acerca das desigualdades entre países (aqui) (aqui)




e dentro dos próprios países
Tuca Vieira - Favela de Paraisópolis
No final e com a exceção de algumas surpresas que preencheram noticiários e capas de jornais, o quadro de medalhas mostrará a distribuição da riqueza no mundo e expressará também a batalha pela supremacia política global. (aqui)


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

OS OLHOS DA ÍNDIA E A BIG PHARMA

A Índia é olhada muitas vezes no ocidente, como um país exótico pobre e desigual, onde subsistem as castas, as vacas são sagradas e se encontra Bollywwood.

A Índia é um país complexo com cerca 1.25 bilhão de pessoas, a quarta maior economia do mundo. Um país jovem (28% da população abaixo dos 14 anos e 18% entre os 15-24 anos), multi-linguístico, com uma esperança de vida de 68 anos, em franco desenvolvimento e urbanização. Nos últimos, quase, 70 anos desde que a Índia se tornou independente (15-08-1947), o país sofreu uma profunda mudança, a esperança de vida mais do que duplicou, a taxa de alfabetização quadriplicou, as condições de saúde melhoraram e surgiu uma classe média considerável. A Índia passou a acolher hoje, empresas mundialmente reconhecidas nas áreas das tecnologias da informação, dos produtos farmacêuticos, do aço e da indústria aeroespacial. (aqui)

A revolução agrícola transformou o país, de importador de sementes e grãos em exportador de líquido de alimentos, ao mesmo tempo que se dava a maior migração rural-urbana deste século, gerando uma onda maciça de urbanização com a deslocação de 10 milhões de pessoas para as cidades à procura de empregos e oportunidades, ao mesmo tempo que se mantinham as desigualdades em todas as suas dimensões, incluindo o sistema de castas, o género e as regiões. Na Índia onde residem 1/3 dos pobres do mundo (400 milhões), a renda média per capita variava em 2011, entre 1.410 US$ (Índia) e os 436 US$ do Uttar Pradesh (que tem mais pessoas do que o Brasil) e os 294 US $ em Bihar. (aqui)

Mas a Índia também é conhecida (por alguns) por enfrentar as grandes empresas farmacêuticas ou por ser o palco de um dos mais exemplares programas de combate à cegueira evitavel do mundo.(aqui) (aqui)

No primeiro caso a Índia deu provas de enfrentar as multinacionais (Big Pharma) no processo que tem oposto o governo da Índia à Novartis, em torno da Lei das Patentes da Índia, em vigor desde Janeiro de 2005, o chamado “caso Novartis, Glivec”. O caso remonta a 2005, ano até ao qual os Estados eram livres de aplicar as sua s políticas de patentes. Mas, a partir desse ano com a entrada em vigor do acordo celebrado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio (TRIPS) o registo de patentes passou a estar efetivamente entregue à Big Pharma através da política exclusivas de patentes.

Antecipando-se à entrada em vigor do Acordo o Parlamento da ìndia aprovou uma disposição legal conhecida como a secção 3(d), exigindo que as patentes de novas formas de substâncias fosse concedida quando fosse evidenciado uma significativa melhoria na eficácia conhecida. No caso da Índia, um requerente de patente deve demonstrar que um novo fármaco, ou uma nova formulação, deve demonstrar uma melhoria no seu efito terapêutico ou na sua propriedade curativa, opondo-se a legislação à prática de aprovação de novas patentes sustentadas em pequenas “melhorias” , conhecidas internacionalmente como “perenização”. No caso “Novartis, Glivec” a decisão do Supremo Tribunal da Índia decidiu colocar a justiça social sobre os interesses comerciais, protegendo, através do patenteamento, os medicamentos realmente novos e inovadores com impacto terapêutico. (aqui)(aqui)




No segundo caso, trata-se do ambicioso programa conhecido como Aravind Care System, fundado em 1976, pelo Dr. G. Venkataswamy, conhecido como o DR. V, com o objetivo inicial de combater a principal causa de cegueira evitável no mundo, as cataratas. O projeto iniciado em 1976, sustentado numa abordagem semelhante a uma linha de montagem, desenvolveu-se ao longo dos anos, tratando desde essa data 29 milhões de pacientes e tornando-se no maior e mais produtivo do mundo, tendo realizado mais de 3,6 milhões de cirurgias do olho e procedimentos a laser. Ao longo dos anos espalhou-se por cinco hospitais, um instituto de investigação, um centro de formação, uma fábrica de produtos necessários para a atividade necessária ao desenvolvimento do diagnóstico e tratamento dos problemas de visão (consumíveis, lentes intra-oculares, fármacos, etc.) (aqui)(aqui), dando corpo ao Aravind Care System e tornando possível a fabricação de lentes intra-oculares de elevada qualidade de 2-30 dólares americanos contra 50-400 dólares do principal produtor.(aqui)