Na madrugada de 24 de agosto, pelas 03:36 horas, um sismo de 6.2 de
magnitude na escala de Ritcher, fazia-se sentir no centro de Itália, na região
de Lazio, na província de Rieti, atingindo em particular os municípios montanhosos
de Amatrice, Accumoli e Arquata del Tronto, onde vive uma população envelhecida
e de baixo rendimento. (aqui) Causando até ao dia de hoje 290 mortos, na sua maioria
em Almatrice (230) em Amatrice, 49 em Arquato e 11 de Accumoli. (aqui)
260 Anos passaram sobre o terramoto de Lisboa, considerado como o “
primeiro” desastre natural da história moderna, um sismo de 9.0 na escala de
Ritcher, seguido de um tsunami,
causando entre 60.000 a 100.000 e a destruição de Lisboa.
Passaram quase três séculos sobre a discussão ocorrida em pleno “Século das Luzes”, acerca das causas de desastres naturais como responsabilidade de
Deus (castigo de Deus), aqui sintetizadas na carta de Rousseau a Voltaire sobre
a Providência em resposta às ideias expressas no poema de Voltaire «Poème sur
le désastre de Lisbonne», “Sans quitter votre sujet de Lisbonne, convenez, par
exemple, que la nature n’avoit point rassemblé là vingt mille maisons de six à
sept étages, & que si les habitans de cette grande ville eussent été
dispersés plus également & plus légérement logés, le dégât eût été beaucoup
moindre & peut-être nul. Tout eût fui au premier ébranlement, & on les
eût vus le lendemain à vingt lieues de-là tout aussi gais que s’il n’étoit rien
arrivé” (aqui) e da abordagem moderna conduzida pelo primeiro-ministro de Portugal,
Sebastião José de Carvalho e Melo (aqui) , fazendo com que um Estado aceitasse pela
primeira vez na história a responsabilidade das tarefas de busca e de resgate
da população, ao mesmo tempo que desenvolvia um plano de reconstrução
sustentado na descrição científica e objetiva das causas e consequências de um
terramoto. (aqui)
Agora como há quase 300 anos, o procurador da república de Rieti,
Giuseppe Saieva procura uma explicação para a ligação entre o “natural e o
social”, afirmado ao jornal “La Repubblica” «Não, o que aconteceu não pode ser
considerado como meramente o resultado de destino». (aqui)
Campanile di Amatrice |
Ao longo dos anos, a investigação publicada mostram que os eventos
classificados como “naturais” põem a nu as desigualdades que atravessam a sociedade.
A partir do trabalho de Eric Klinenberg (aqui)sobre os efeitos da Onda de Calor de
Chicago em 1995, ficou claro que a “desnaturalização” dos desastres mostraram
que muitas das consequências e dos efeitos ocorridos estão moldadas pelo
contexto e pela organização social humana, não afetando todos da mesma maneira.
Na revisão publicada na Plos: Currents Disasters " The Human Impact of Earthquakes: a Historical Review of Events 1980-2009 and Systematic Literature Review” foram encontradas desigualdades que afetam em particular as crianças,
os idosos, e as populações mais desfavorecidas dos países mais pobres e das
regiões mais pobres dos países de maior rendimento.
Parafraseando Leon Eisenberg no seu
ensaio “Does social medicine still matter in an era of molecular medicine?” (aqui) « The
developments in molecular biology highlight the salience of the social
environment and underscore the urgency of rectifying inequity and injustice. All medicine is inescapably social medicine.», os desastres continuam a
ser como Virchow nos ensinou, a serem sociais.