Mostrar mensagens com a etiqueta INDIA. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta INDIA. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

OS OLHOS DA ÍNDIA E A BIG PHARMA

A Índia é olhada muitas vezes no ocidente, como um país exótico pobre e desigual, onde subsistem as castas, as vacas são sagradas e se encontra Bollywwood.

A Índia é um país complexo com cerca 1.25 bilhão de pessoas, a quarta maior economia do mundo. Um país jovem (28% da população abaixo dos 14 anos e 18% entre os 15-24 anos), multi-linguístico, com uma esperança de vida de 68 anos, em franco desenvolvimento e urbanização. Nos últimos, quase, 70 anos desde que a Índia se tornou independente (15-08-1947), o país sofreu uma profunda mudança, a esperança de vida mais do que duplicou, a taxa de alfabetização quadriplicou, as condições de saúde melhoraram e surgiu uma classe média considerável. A Índia passou a acolher hoje, empresas mundialmente reconhecidas nas áreas das tecnologias da informação, dos produtos farmacêuticos, do aço e da indústria aeroespacial. (aqui)

A revolução agrícola transformou o país, de importador de sementes e grãos em exportador de líquido de alimentos, ao mesmo tempo que se dava a maior migração rural-urbana deste século, gerando uma onda maciça de urbanização com a deslocação de 10 milhões de pessoas para as cidades à procura de empregos e oportunidades, ao mesmo tempo que se mantinham as desigualdades em todas as suas dimensões, incluindo o sistema de castas, o género e as regiões. Na Índia onde residem 1/3 dos pobres do mundo (400 milhões), a renda média per capita variava em 2011, entre 1.410 US$ (Índia) e os 436 US$ do Uttar Pradesh (que tem mais pessoas do que o Brasil) e os 294 US $ em Bihar. (aqui)

Mas a Índia também é conhecida (por alguns) por enfrentar as grandes empresas farmacêuticas ou por ser o palco de um dos mais exemplares programas de combate à cegueira evitavel do mundo.(aqui) (aqui)

No primeiro caso a Índia deu provas de enfrentar as multinacionais (Big Pharma) no processo que tem oposto o governo da Índia à Novartis, em torno da Lei das Patentes da Índia, em vigor desde Janeiro de 2005, o chamado “caso Novartis, Glivec”. O caso remonta a 2005, ano até ao qual os Estados eram livres de aplicar as sua s políticas de patentes. Mas, a partir desse ano com a entrada em vigor do acordo celebrado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio (TRIPS) o registo de patentes passou a estar efetivamente entregue à Big Pharma através da política exclusivas de patentes.

Antecipando-se à entrada em vigor do Acordo o Parlamento da ìndia aprovou uma disposição legal conhecida como a secção 3(d), exigindo que as patentes de novas formas de substâncias fosse concedida quando fosse evidenciado uma significativa melhoria na eficácia conhecida. No caso da Índia, um requerente de patente deve demonstrar que um novo fármaco, ou uma nova formulação, deve demonstrar uma melhoria no seu efito terapêutico ou na sua propriedade curativa, opondo-se a legislação à prática de aprovação de novas patentes sustentadas em pequenas “melhorias” , conhecidas internacionalmente como “perenização”. No caso “Novartis, Glivec” a decisão do Supremo Tribunal da Índia decidiu colocar a justiça social sobre os interesses comerciais, protegendo, através do patenteamento, os medicamentos realmente novos e inovadores com impacto terapêutico. (aqui)(aqui)




No segundo caso, trata-se do ambicioso programa conhecido como Aravind Care System, fundado em 1976, pelo Dr. G. Venkataswamy, conhecido como o DR. V, com o objetivo inicial de combater a principal causa de cegueira evitável no mundo, as cataratas. O projeto iniciado em 1976, sustentado numa abordagem semelhante a uma linha de montagem, desenvolveu-se ao longo dos anos, tratando desde essa data 29 milhões de pacientes e tornando-se no maior e mais produtivo do mundo, tendo realizado mais de 3,6 milhões de cirurgias do olho e procedimentos a laser. Ao longo dos anos espalhou-se por cinco hospitais, um instituto de investigação, um centro de formação, uma fábrica de produtos necessários para a atividade necessária ao desenvolvimento do diagnóstico e tratamento dos problemas de visão (consumíveis, lentes intra-oculares, fármacos, etc.) (aqui)(aqui), dando corpo ao Aravind Care System e tornando possível a fabricação de lentes intra-oculares de elevada qualidade de 2-30 dólares americanos contra 50-400 dólares do principal produtor.(aqui)






sexta-feira, 29 de julho de 2016

O BRILHO DA MICA: TRABALHO INFANTIL E TRABALHO SEM DIRETOS

Sabia que a beleza, o luxo e o glamour, de lábios, unhas e olhos a brilhar, dos carros cintilantes à luz do sol são originados pelo uso da mica, palavra de origem latina micare que significa brilhar ou piscar e que dá o nome a um grupo de minerais únicos na natureza devido às suas propriedades.

Inerte (não reage com a água, ácidos, ou solventes de petróleo) cristalina, leve, flexível e forte, capaz de resistir a altas temperaturas e às alterações da temperatura, capaz de suportar tensões elevadas e isolar com baixa perda de potência, capaz de absorver ou refletir a luz, permitindo efeitos decorativos e proteção contra os raios UV, a Mica tornou-se num ingrediente das indústrias de beleza, da construção, aeroespacial ou automóvel. Usada como pigmento perolizado no sector das tintas e revestimentos, nos cosméticos, como isolante na indústria de material elétrico, como elemento dos pneus de borracha, embraiagens, e pastilhas de travões, como produto de enchimento em produtos cosméticos e de higiene pessoal e na indústria da construção (usada regularmente como agente de enchimento de cimento de fibra e placas de gesso), na indústria do petróleo como elemento dos líquidos de perfuração utilizados em poços de petróleo.
Uso da Mica
Extraída principalmente na Índia e na China, ¾ da mineração ocorre na Índia nos estados de Jharkhand e Bihar, onde 90% da produção é extraída em minas ilegais, representando 25% da produção mundial. A mica extraída na Índia é depois exportada para a China (67%), Japão (9%), Bélgica (7%) e EUA (6%).


Pela área de mineração (uma área de 75 por 20 kms nos estados de Jharkhand/Bihar) espalham-se 300 aldeias, onde vivem cerca de 270.000 pessoas muito pobres, 52.000 delas crianças com menos de 7 anos, que trabalham na sua maioria em minas ilegais, onde os processos de mineração são de trabalho manual intensivo. A extração envolve a utilização de ferramentas simples, explosivos e martelos de ar comprimido, ocorre principalmente em pedreiras com buracos apertados de cerca de 10 metros de profundidade abertos pelos aldeões. A rocha é batida repetidamente com um martelo “cobbing” para remover a ganga, minerais como o quartzo, feldspato, e separá-los da mica. Segue-se o processo da separação, onde a mica é transformada em folhas finas, por mulheres, que utilizam facas afiadas para separar a mica na espessura necessária e as tesouras para remover as arestas irregulares. De acordo com os dados da organização não-governamental, SOMO/Terre des Hommes, (aqui) cerca de 20.000 crianças são empregues nos trabalhos de mineração e cobbing, apesar de estar proibida pela legislação laboral da Índia e da Organização Internacional do Trabalho e de US Department of Labor o considerarem como uma das piores formas de trabalho infantil no mundo.

The lost childhood of India's mica minors

Expostos a desmoronamentos, a colapsos das galerias, os trabalhadores das minas de mica, estão ainda expostos ao pó da sílica e do quartzo associados à silicose, à DPOC e ao cancro do pulmão. Vítimas de baixos salários por viverem num país pobre onde o salário médio de um mineiro ronda os € 3.7 por dia, os trabalhadores das minas de mica recebem ainda menos, cerca de € 1.7 a € 2.5 por dia conforme trabalhem fora ou dentro da mina, podendo uma criança de 5 anos receber € 0.3 dia.
Apesar dos esforços do governo da Índia (aqui), do trabalho das ONG (aqui), e do compromisso assumido por algumas das empresas produtoras e utilizadoras de mica para combaterem o trabalho infantil e promoverem as condições de trabalho e sociais nas áreas de mineração sucedem-se as denúncias da utilização por parte da indústria automóvel ou cosmética de fornecedores de matéria-prima ligados ao trabalho infantil (aqui) (aqui)(aqui).

O Brilho da Mica, não é magia é apenas exploração.