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quarta-feira, 15 de julho de 2020

USA: 5,4 MILHÕES DE NORTE-AMERICANOS PERDERAM A COBERTURA DE SAÚDE DESDE O INÍCIO DA PANDEMIA COVID-19


No passado dia 13 de julho, a organização norte-americana Families USA publicou um estudo intitulado “ The COVID-19 Pandemic and Resulting Economic Crash Have Caused the Greatest Health Insurance Losses in American History” (aqui)onde aborda os efeitos da pandemia COVID-19 na economia americana, a perda de empregos daí resultante e os seus efeitos na cobertura de saúde e no estado de saúde desses cidadãos na ausência de medidas legislativas federais com vista à proteção do direito à saúde dos cidadãos.

De acordo com os dados recolhidos junto de fontes oficiais, pela USA Families, 21.9 milhões norte-americanos perderam o seu trabalho entre fevereiro e maio de 2020 devido à maior crise de saúde pública que ocorreu nos últimos 100 anos, causando o maior colapso económico verificado desde a II Guerra Mundial. Em poucos meses, milhões de trabalhadores perderam seus empregos e pelo menos 5.4 milhões deles deixaram de ter qualquer cobertura de saúde, uma vez perderam simultaneamente acesso ao seguro de saúde anteriormente fornecido por seus empregadores, provocando um aumento de 39% no número de pessoas que perderam o seguro de saúde, ultrapassando em apenas 3 meses o maior crescimento anual anteriormente verificado de 3.9 milhões durante a crise de 2008/2009.

Esta perda de cobertura de saúde atingiu principalmente os 5 estados mais afetados pela pandemia de COVID-19, Califórnia, Texas, Flórida, Nova Iorque e Carolina do Norte responsáveis por 49% do aumento total das pessoas que perderam acesso aos seguros de saúde. Em 8 estados, 20% ou mais dos adultos abaixo dos 65 anos não têm agora qualquer cobertura de saúde: o Texas, onde quase três em cada dez adultos com menos de 65 anos não têm seguro (29%); a Flórida (25%); o Oklahoma (24%); a Geórgia (23%); o Mississippi (22%); o Nevada (21%); a Carolina do Norte (20%); e a Carolina do Sul (20%).

Todos, com exceção do Oklahoma, também estão entre os 15 estados com o maior número de novos casos de SARS-CoV-2 durante a semana que terminou em 12 de julho.

Ao mesmo tempo 5 outros estados apresentaram aumentos no número de adultos sem seguro que excedem os 40%: Massachusetts, onde o número quase dobrou, aumentando em 93%; Havaí (72%); Rhode Island (55%); Michigan (46%); e New Hampshire (43%).

Sem nenhuma medida legislativa federal que reduza o impacto da perda de cobertura de saúde, os mais de 5.4 milhões cidadãos norte-americanos que perderam a cobertura de saúde veem assim a sua saúde posta em risco quer pela exposição à SARS-Cov-2, uma vez que sem cobertura de saúde as pessoas tendem a atrasar a procura de cuidados por causas dos custos, arriscando a sua saúde, a sua sobrevivência e acelerando a propagação do vírus para familiares e vizinhos, quer pela dificuldades em obter diagnósticos e tratamentos por condições crónicas como o cancro ou as doenças cardíacas ou cerebrovasculares, atrasando procedimentos e causando mesmo a morte precoce.

Sem cobertura de saúde que as protejam contra os riscos financeiros que as despesas extras em saúde podem provocar, mesmo em famílias da classe média, muitas famílias terão que optar entre pagar as despesas em saúde do seu próprio bolso ou suprir as suas necessidades básicas, quer com alimentação quer com a habitação, adiantando o documento que de acordo com números oficiais, em maio 26 milhões de famílias não tinham comida suficiente para se alimentar, e que 38 milhões de pessoas referiam ter pouca ou nenhuma capacidade para pagar a hipoteca ou a renda do próximo mês.

Sem cobertura universal de saúde, sem legislação federal que os proteja milhões de norte-americanos estarão condenados a sobreviver sem qualquer proteção de saúde.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

2020 - OS FACTOS CONTRA A DEMAGOGIA E O POPULISMO


Ao longo dos últimos 4 anos procurámos divulgar e dar a conhecer a “causa das causas”, a olhar para além do nosso alcance e não olhar uma só coisa (aqui). A olharmos (sempre) a relação entre as coisas e nós mesmos para melhor conhecermos os determinantes sociais da saúde e as desigualdades em saúde.

Dito isto, vale a pena relembrar a que quem nos leia que não temos uma visão negativa do mundo, antes pelo contrário, procuramos sustentar o nosso trabalho, num olhar centrado nos factos, numa visão construtiva, contrariando as notícias falsas, a ignorância e uma visão conservadora e irracionalista do mundo, que despreza os factos, incitando ao medo irracional, à desconfiança em relação “aos outros” por terem cultura, hábitos, ou religião diferentes, incitando à xenofobia, ao racismo, ao machismo, que constrói um discurso demagógico a partir de visão etnocentrista e anti-sistema, que as redes sociais amplificam, permitindo dizer as maiores barbaridades sem qualquer comprovação, de forma consequente e sem qualquer responsabilização.

Por tudo isto vale a pena dar a conhecer o trabalho da Fundação Gapminder fundada por Hans Roling em 2005 que tem como missão “Fighting devastating ignorance withfact-based worldviews everyone can understand

Esperança de Vida à Nascença/Produto Interno Bruto ajustado pelas diferenças do poder de compra


Mortalidade Infantil aos 5 anos

segunda-feira, 22 de julho de 2019

ENTRE AS 56 ECONOMIAS COM CUIDADOS DE SAÚDE MAIS EFICIENTES - PORTUGAL ESTÁ NO 18.º LUGAR


A notícia é de 19 de setembro de 2018, alguns dos dados até são de 2015, mas vale a pena divulgá-la agora que a agenda mediática foi tomada pela difusão diária de notícias negativas para o Serviço Nacional de Saúde. Não porque este não tenha prolemas ou dificuldades, mas apenas para relativizá-los.
Determinants of Healtb - Helath is more than medical care

A agência de notícias Bloomberg, para além de publicar o Ranking dos países mais saudáveis do mundo “Bloomberg Healthiest Country Index” divulgou em setembro de 2018 o “Blomberg Health Care Efficiency”. Um índice de eficiência em saúde criado pela Blomberg para classificar os sistemas de saúde das 56 maiores economias mundiais, que tenham cumulativamente uma esperança média de vida à nascença de pelo menos 70 anos, um PIB per capita superior a US$ 5.000 e uma população de pelo menos 5 milhões de habitantes.



De acordo com “Blomberg Health Care Efficiency” que coloca Portugal na 18.ª posição com uma subida de 8 lugares em relação à anterior edição, os cinco primeiros lugares são repartidos entre Hong Kong, Singapura, a Espanha, a Itália e a Coreia do Sul, nos primeiros 20 lugares encontram-se 7 países europeus (Noruega, Suíça, Irlanda, Grécia, França, Portugal e Finlândia), 2 do Médio Oriente (Israel e Emiratos Árabes Unidos)3 países da Ásia (Japão, Taiwan e China) 2 países da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia), 2 das Américas (Canadá e México).

Algumas das nações mais ricas do mundo como o Reino Unido (35.º) a Alemanha (39.º) ou os Estados Unidos da América (54.º) encontram-se em lugares inusitados para a maioria dos cidadãos, uma vez que a informação habitualmente divulgada raramente compara os resultados obtidos em saúde medidos pela esperança de vida à nascença com a riqueza da economia e os gastos em saúde.

sábado, 18 de maio de 2019

PORTUGAL 22.º PAÍS MAIS SAUDÁVEL DO MUNDO - Bloomberg Healthiest Country Index


A agência de notícias Bloomberg publicou recentemente o Ranking dos Países Mais Saudáveis do Mundo de 2019(Bloomberg Healthiest Country Index) que coloca Portugal na 22ª posição entre os 169 países analisados.
Bloomberg Healthiest Country Index
Os três primeiros lugares são repartidos entre a Espanha, a Itália e a Islândia e nos primeiros 20 lugares encontram-se 13 países europeus (Suíça, Suécia, Noruega, Luxemburgo, França, Áustria, Finlândia Holanda, Reino Unido e Irlanda), 3 países da Ásia (Japão, Singapura e Coreia do Sul) 2 países da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia), 1 das Américas (Canadá) e 1 do Médio Oriente (Israel).

A nação mais rica do mundo, o Estados Unidos da América do Norte encontra-se no 35.º lugar, atrás de Cuba (30.º), Chile (33.º) e Costa Rica (33.º).
Bloomberg Healthiest Country Index
O Bloomberg Healthiest Country Index publicado desde 2012 classifica os países com base num conjunto de variáveis que denomina de “ Health score” recolhidos nas estatísticas da Organização Mundial de Saúde, da Organização Nações Unidas e do Banco Mundial, que incluem as causas de mortalidade e a esperança de vida medidas em várias fases do ciclo de vida, e penalidades “Health risk” que incluem a título de exemplo a obesidade, o consumo de tabaco ou de álcool, a atividade física, a cobertura vacinal ou o saneamento básico.
Metodologia Bloomberg Healthiest Country Index

No caso de Portugal o país tendo vindo a melhorar o seu “Health Grade” desde 2012, passando da 23.ª posição em 2012 (Health grade 75.15 – 81.72-6.57) para 20.ªposição em 2017 (Health grade 82.97 – 88.24 – 5.27) e para 21.ª posição em 2019 (Health grade 83,10 - 87.95 – 4.85).
Bloomberg Healthiest Country Index 2012


sábado, 30 de março de 2019

A INFLUÊNCIA DA CLASSE SOCIAL NO ESTADO DE SAÚDE

Um estudo publicado na revista “Scientific Reports”, publicação online de acesso livre da Nature, no âmbito do projeto Europeu Lifepath que tem como objetivo investigar os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades sociais conduzem às desigualdades em saúde, mostrou que as pessoas que pertencem a uma classe social mais desfavorecida têm pior saúde, uma vez que apresentam maiores níveis de inflamação crónica, estando esta associada a problemas de saúde como o cancro, doença cardiovascular e a diabetes.

"O Almoço do Trolha" - Júlio Pomar
Na investigação que deu origem à publicação do artigo "A Comparative Analysis of the Status Anxiety Hypothesis of Socio-economic Inequalities in Health Based on 18,349 individualsin Four Countries and Five Cohort Studies" da autoria de um conjunto de investigadores europeus oriundos do  Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Portugal, do Imperial College of London, Reino Unido, do Trinity College Dublin, Irlanda, do Hospital Universitário de Lausanne, Suíça e do University College London, Reino Unido, os autores procuraram perceber por um lado, até que ponto as pessoas de classe social mais baixa apresentavam maiores níveis de inflamação e, por outro, se a população que vivia em países onde há maior desigualdade social também apresentava maior inflamação

Para testar estas duas hipóteses, os investigadores usaram dados de 18.400 indivíduos, com idades compreendidas entre os 50 e os 75 anos, de quatro países europeus – Portugal, Irlanda, Reino Unido e Suíça. Os indivíduos integravam cinco coortes (estudos longitudinais) dos referidos países: ELSA e Whitehall II (Reino Unido), TILDA (Irlanda), EPIPorto (Portugal) e SKIPOGH (Suíça), tendo sido considerados no estudo vários indicadores: Diabetes, Hipertensão Arterial, Fumar, Índice Massa Corporal, Marcador Inflamatório (Proteína C Reativa - PCR) Posição socioeconómica, Idade e Género. 

Os resultados mostram que os indivíduos situados nos grupos socioeconómicos mais baixos (a classe social foi harmonizada de acordo com a Classificação Socioeconómica Europeia (ESeC) e a Classificação Internacional Padrão da Educação (ISCED 2011) têm maiores níveis médios de inflamção(PCR),  e que quanto mais desigual é o país maior é o nível de inflamação dos indivíduos e mais pronunciado é o gradiente socioeconómico da inflamação, existindo uma diferença significativa entre os níveis de proteína C-reativa das classes mais desfavorecidas ("pobres") e mais favorecidas socioeconomicamente ("ricos").

O estudo confirma que a classe social é um fator de risco para saúde, não só do ponto de vista absoluto como também do ponto de vista relativo tendo em conta o gradiente social, definido como “o fenómeno pelo qual as pessoas que são menos favorecidos em termos de posição socioeconómica têm pior saúde (e vida mais curtas) do que aqueles que são mais favorecidos”.

A investigação revela ainda que Portugal é o país onde os níveis de inflamação crónica na população são mais elevados e onde existe uma diferença mais marcada entre os grupos socioeconomicamente mais desfavorecidos (pobres) e os mais favorecidos (ricos), resultado que está em linha com o facto de Portugal ser o país mais desigual em termos sociais entre os países estudados, Irlanda, Reino Unido e Suíça.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA COMO DETERMINANTE DE SAÚDE E DE DESIGUALDADES EM SAÚDE


As regiões da União Europeia mais pobres, menos escolarizadas e com maior nível de desemprego estão sujeitas a um maior impacto aos poluentes atmosféricos, ao ruído e às temperaturas extremas, de acordo com os resultados apresentados no relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA) “Exposição desigual e impactos desiguais: a vulnerabilidade social à poluição atmosférica, ao ruído e às temperaturas extremas na Europa”.

Apesar das melhorias registadas nas últimas décadas na União Europeia no que se refere à qualidade ambiental, mantêm-se desigualdades regionais e diferenças na distribuição das ameaças ambientais relacionadas com os níveis de rendimento, de desemprego e de educação na Europa.

O relatório da AEA avaliou as relações entre as desigualdades sociais e demográficas e a exposição à poluição atmosférica, ao ruído e às temperaturas extremas procurando perceber a forma com a poluição e os outros riscos ambientais determinam a saúde das pessoas, em função da idade, do estado de saúde, do rendimento, do estatuto profissional, do seu nível de escolarização ou do seu local de residência.

No que se refere a conclusões o estudo apresenta-as em dois item, a poluição atmosférica e sonora por um lado e as temperaturas extremas por outro, em ambas são as populações mais pobres, com maior nível de desemprego e menor escolaridade que são mais afetadas.

No que se refere à poluição atmosférica e sonora, as regiões da Europa Oriental (Polónia, Eslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária) e as regiões da Europa Meridional (incluindo Espanha, Portugal, Itália e Grécia), onde o nível de rendimento e de escolaridade são mais baixos e as taxas de desemprego são superiores à média europeia, foram as que mais foram expostas aos poluentes atmosféricos, incluindo partículas finas e ozono ao nível do solo (O3). Nas regiões mais ricas, incluindo as grandes cidades, registaram-se os maiores níveis de dióxido de azoto (NO2), devido à elevada concentração de tráfego rodoviário e de atividades económicas poluentes, observando-se profundas desigualdades dentro destas regiões/cidades desfavoráveis às comunidades mais pobres, uma vez que as pessoas com menores rendimentos e menores qualificações habitam ou trabalham nos locais em que a qualidade do ar está mais comprometida, seja pela proximidade a vias com muito tráfego, seja pela presença de indústrias, pela inexistência de espaços verdes ou pela fraca qualidade da construção.

No que se refere às temperaturas extremas são as regiões do Sul da União Europeia caracterizadas por menores rendimentos, menor escolarização e maiores índices de desemprego que são mais afetadas por temperaturas mais elevadas, criando condições para que as pessoas mais pobres e mais idosas tenham uma reduzida capacidade para responder ao calor ou para o evitar, dando origem a resultados negativos para a saúde.

No caso português o relatório sublinha as dificuldades já conhecidas das populações em manterem as suas casas climatizadas para responderem às temperaturas extremas e o papel da exposição ao ozono na saúde das pessoas, em particular nas de menores rendimentos e nas idosas. (aqui) (aqui)

sábado, 2 de fevereiro de 2019

1 EM CADA 5 PORTUGUESES INCAPAZES DE MANTER AS SUAS CASAS AQUECIDAS


Em 2017, de acordo o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento Europeu (EU-SILC), publicado pelo Eurostat no dia 31-01-2019, 41 dos cerca de 512,6 milhões de habitantes (8%) da União Europeia não tinha capacidade para manter a sua casa aquecida suficientemente, variando entre os 37% da Bulgária e os cerca de 2% do Luxemburgo, da Finlândia ou da Holanda. (aqui)
EU-SILC 2017
No caso Português em 2017 o país situava-se na 5.ª posição entre os países em que um maior número de cidadãos não tinha capacidade para manter a sua casa aquecida suficientemente, com cerca de 20.4% das pessoas (1 em cada 5 pessoas) a viver em agregados familiares sujeitos a pobreza energética (famílias que têm de consagrar mais de 10% dos seus rendimentos à eletricidade e ao aquecimento, definição da OMS). Resultado que representa uma melhoria de cerca de 2.1% em comparação com 2016 confirmando os progressos verificados nos ùltimos 12 anos.
De acordo com a evidência publicada (aquisão os mais pobres e em particular os mais velhos (especialmente os que têm idade superior a 85 anos) que são os mais propensos a terem em simultâneo as casas mais frias e húmidas e a menor capacidade para as manterem aquecidas, gerando condições propícias ao agravamento da sua condição de saúde, circunstâncias que no caso português tem contribuido para o excesso de mortalidade verificado durante os meses de Inverno, conhecido como “paradoxo da mortalidade de inverno” uma vez que é o exemplo do país que apesar de ter um clima ameno apresenta uma maior variação sazonal de mortalidade sendo apontado como um paradoxo.

Portugal necessita que as autoridades e em particular as de saúde ao invés de centrarem apenas as suas prioridades em torno da vacinação antigripal e do reforço do atendimento nos serviços de urgência, desenvolvam ações que permitam conhecer a população em pobreza energética e influenciem as políticas públicas de combate à pobreza energética, enquanto deterimante social de saúde.


domingo, 20 de janeiro de 2019

"SAÚDE, UMA QUESTÃO DE CLASSE" - OS BAIRROS DE BARRACAS NO PORTUGAL DOS ANOS 60/70


No final dos anos 60 e início dos anos 70 milhares de portugueses viviam em condições habitacionais miseráveis. Em 1970 de acordo com o Censo 1970 os dados oficiais indicavam um total de 31 110 habitações precárias barracas e outros, no território continental. Nesta época, as estatísticas indicavam que, para um total de 2 164 965 alojamentos em Portugal, existia uma percentagem de 64,3% de habitações com energia elétrica, 47,1%, com abastecimento de água e 30% de habitações servidas por rede de esgotos, significando que 29,4% das famílias portuguesas estavam alojadas em condições abaixo dos padrões mínimos, considerando a presença de água, luz e casa de banho.(aqui)
Imagem de "SAÚDE, UMA QUESTÃO DE CLASSE"

Nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa acumulavam-se milhares de famílias em “ilhas” ou “barracas”. Na área metropolitana de Lisboa a população que vivia nos bairros de barracas situados no limite do concelho de Lisboa, na zona oriental da cidade, na zona da circunvalação Algés-Buraca e nos concelho de Loures, de Oeiras e da Amadora, era constituída na sua maioria por famílias oriundas de concelhos a norte do Tejo, que na sua maioria tinham emigrado para Lisboa para trabalharem na construção civil e na indústria (apenas cerca de 37% dos agregados familiares moradores nestes bairros nasceram em Lisboa). (aqui)(aqui)

Ao longo dos anos 60 e dos primeiros anos da década de 70, o número de bairros de barracas não para de crescer estimando a Polícia Municipal de Lisboa que na cidade cerca de 90.000 pessoas vivem-se em condições precárias. No caso do Bairro Chinês, o maior bairro de barracas de Lisboa, espalhado pela Quinta Marquês de Abrantes e quintas limítrofes na freguesia de Marvila, viviam cerca de 8000 pessoas oriundas dos concelhos de Viseu, Resende e Castro Daire maioritariamente empregues no polo industrial da zona oriental de Lisboa (Fábrica Nacional de Sabões, Fábrica da Borracha, Fábrica dos Fósforos, Petroquímica e armazéns de vinhos de Abel Pereira da Fonseca).

É desta realidade que fala o trabalho “Saúde, uma questão de classe”, disponível nos arquivos da RTP (aqui), das condições habitacionais e sanitárias em que viviam as classes trabalhadoras dos bairros de barracas dos concelhos da Amadora e de Lisboa devastadas pela mortalidade infantil e pela mortalidade por causas evitáveis, de que são exemplo a taxa de mortalidade infantil em 1973, 44.8/1.000 e os 67.6 anos de esperança de vida à nascença.



sábado, 5 de janeiro de 2019

DESIGUALDADES EM SAÚDE AFETAM O EMPREGO E A PRODUTIVIDADE - O CASO DA NORTHERN POWERHOUSE


No passado dia 20 de novembro de 2018, um consórcio das principais universidades e hospitais do norte de Inglaterra, o Northern Health Science Alliance (NHSA) publicou o relatório “Health for Wealth: Building a Healthier Northern Powerhouse for UK Productivity” com o objetivo de estudar a relação entre o estado de saúde da população e a produtividade, uma vez que é conhecida a lacuna entre os indicadores de saúde e de produtividade encontrados no Norte e no resto da Inglaterra, sempre desfavoráveis ao território do norte de Inglaterra afetado pela crise económica e social e alvo de um programa de intervenção do governo brtãnico desde 2010 denominado de North Powerhouse.

O trabalho produzido pelas Universidades de Newcastle, Manchester, Lancaster, York, Liverpool e Sheffield encontrou desigualdades regionais profundas e persistentes entre a população do Norte e do Sul de Inglaterra. Verificando-se uma diferença de dois anos na esperança de vida à nascença entre o Norte e o resto da Inglaterra e uma mortalidade prematura de cerca de 20% em todos os grupos etários nas populações do Norte de Inglaterra. O que significa que mais de 1.5 milhões de pessoas do norte de Inglaterra morreram prematuramente quando comparadas com o restante país.

No que se refere à produtividade, o relatório depois de analisar as relações entre as desigualdades em saúde, a produtividade, e as suas repercussões sobre o National Health Service (NHS) (Serviço Nacional de Saúde) o Serviço Nacional de Saúde conclui que a saúde é importante para a produtividade aportando novos conhecimentos, uma vez que até agora a baixa produtividade do Norte de Inglaterra tinha vindo a ser explicado apenas pelas competências e pelas capacidades da força de trabalho, pela tecnologia, pelo investimento ou pela conectividade (o que sugnifica estar constantemente conectado com os outros e com vastas fontes de informação)

A saúde é agora apontada como importante para a produtividade uma vez que uma melhoria dos indicadores de saúde permitiriam a redução das lacunas entre o Norte e o resto de Inglaterra em cerca de 30% gerando um adicional de £ 13,2 bilhões (14.73 bilhões euros) de valor acrescentado bruto ao Reino Unido e reduziria o número de pessoas em idade ativa com limitações para o trabalho em 10%.

O aumento da proporção de pessoas com boa saúde no Norte de Inglaterra em 3.5% reduziria o défice de emprego entre Norte e o resto de Inglaterra em 10%, colaborando ainda para um aumento salarial. Contrariando a situação atual em que 39% da população trabalhadora do norte pode perder o trabalho por se encontrar doente, ou ver o seu vencimento ser reduzido em cerca de 66% se voltarem ao trabalho, e uma diminuição de 0.7% no indicador mortalidade geral a par de uma redução de 1.2% nos indicadores de doença crónica permitiria uma redução de 10% valor acrescentado bruto na lacuna encontrada entre o norte e o resto da Inglaterra.

No que se refere ao National Health Service – NHS (Serviço Nacional de Saúde), o relatório conclui que um aumento de 10% no orçamento dedicado ao NHS diminuiria em 10% a incapacidade para o trabalho em cerca de 3%.
Relatório completo (aqui)



segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

domingo, 2 de dezembro de 2018

ESPERANÇA DE VIDA NOS ESTADOS UNIDOS CAIU PELO 3.º ANO CONSECUTIVO - SOBRETUDO ENTRE A POPULAÇÃO BRANCA


De acordo com os dados publicados no passado dia 29 de novembro pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) “Mortality in the United States, 2017” (aqui), a esperança de vida nos Estados Unidos (EUA) caiu pelo terceiro ano consecutivo, situando-se em 78.6 anos, a muita distãncia do Canadá 82.3 anos, da Costa Rica 79.8 anos ou de Cuba com 79.7 anos (aqui). Os dados agora publicados referentes a 2017 (78.6) mostram uma diminuição de 1 décima em realação a 2016 (78.7) e confirmam a queda na descida da mortalidade nos EUA, verificada de forma contínua desde 2015.

Esta diminuição da esperança de vida ao nascer deveu-se em grande parte ao aumento da mortalidade de 4.2% por causas externas “unintentional injuries”, de 3.7% para a mortalidade por suicídio, de 5.9% para a mortalidade por gripe e pneumonia, de 2.4% para mortalidade por Diabetes e de 2.3% para a mortalidade por doença de Alzheimer.
O aumento das taxas de mortalidade ajustadas por idade para a população branca (homens e mulheres) não hispânica verificado nos últimos 3 anos, confirmam os confirmam os resultados do estudo publicado em 2015, por Anne Case1 e Angus Deaton“ Rising morbidity and mortality in midlife among white non-Hispanic Americans in the 21st century” (aqui), que tinham mostrado que a taxa de mortalidade entre os brancos americanos dos 45 aos 54 anos, com baixa escolaridade, “White Working Class” tinha aumentado entre 1999 e 2014, uma situação sem paralelo nos países de economia avançada e apenas registada nos EUA a quando da epidemia de VIH/SIDA.
Os autores apontavam como principais causas para esta situação, a privação económica e o stress financeiro da classe trabalhadora branca, provocado pela estagnação salarial verificada desde a década de 70, conjuntamente com a dificuldade lidar com a insegurança e a falta de proteção social na reforma.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

1927 - 2018, JULIAN TUDOR HART - UM GIGANTE DA CLÍNICA GERAL E AUTOR DA LEI DOS CUIDADOS INVERSOS


Faleceu ontem dia 01 de julho, aos 91 anos, o médico inglês Julian Tudor Hart, um “gigante da clínica geral” nas palavras do Professor Graham Watt. (aqui)

Julian Tudor Hart nasceu em Londres em 1927, no seio de uma família de médicos com fortes preocupações sociais e antifascistas, um ‘red diaper child’ nas suas próprias palavras, uma vez que o pai Alexander Tudor-Hart era um membro ativo do Partido Comunista da Grã-Bretanha, voluntário nas Brigadas Internacionais de ajuda ao Governo Republicano durante a guerra civil espanhola e a mãe Alison Macbeth, uma médica ativista do Partido Trabalhista (Labour), crescendo numa casa que o próprio classificou como “our home among other things a transit camp for anti-Fascist refugees from Austria, Germany and Italy.” (aqui)

Ingressou na Universidade de Cambridge em 1947, licenciando-se em 1952, iniciando a sua atividade como médico júnior em vários Hospitais e em consultórios de medicina geral, trabalhou durante dois anos com Richard Doll e Archie Cochrane na área da epidemiologia, estabelecendo-se em 1961 na vila de Glyncorrwg uma pequena localidade mineira do Sul de Gales, onde trabalhou durante cerca de 30 anos.

Durante os 30 anos que dedicou à comunidade Glyncorrwg, Hart desenvolveu a sua atividade como um médico de clínica geral, suportado num forte conhecimento epidemiológico da comunidade, e em fortes preocupações comunitárias e sociais, e inovando em diversas áreas (foi o primeiro médico de medicina geral a controlar de uma forma sistemática a pressão arterial aos seu pacientes), provando que o seu foco nos determinantes sociais e nos estilos influenciaram significativamente a saúde de Glyncorrwg quando comparada com a população de Blaengwynfi, uma comunidade próxima onde a mortalidade era mais elevada. (aqui)(aqui)

Em 1971 publica na revista Lancet o seu artigo mais conhecido “The Inverse Care Law” (aqui) onde descreve a relação perversa entre a necessidade de cuidados de saúde e a sua utilização real, explicitando por outras palavras que os que mais precisam de cuidados de saúde são os menos propensos a recebê-los, enquanto aqueles que têm menos necessidades de cuidados de saúde tendem a usar mais os serviços de saúde (e de forma mais eficaz), “ The availability of good medical care tends to vary inversely with the need for the population served. This inverse care law operates more completely where medical care is most exposed to market forces, and less so where such exposure is reduced.  The market distribution of medical care is a primitive and historically outdated social form, and any return to it would further exaggerate the maldistribution of medical resources.”

Julien Tudor Hart deixou-nos na semana em que se comemora o 70.º aniversário da criação do serviço nacional de saúde britânico, o #70NHS.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

OCDE 2018 - MOBILIDADE SOCIAL ESTAGNA E AUMENTAM AS DESIGUALDADES DE RENDIMENTOS


A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) publicou hoje, 15 junho de 2018, o relatório “Um elevador social quebrado? Como promover a mobilidade social” que apresenta como principais conclusões: o aumento da desigualdade de rendimentos desde 1990 e a estagnação da mobilidade social (aqui)

Os resultados agora apresentados mostram que uma criança de uma família pobre, leva em média 5 gerações (150 anos) para alcançar o rendimento de uma família média dos países incluídos no estudo da OCDE, contrariando o progresso verificado entre os anos de 1955 e 1975.

No período de quatro anos apresentado neste relatório, cerca de 60% das pessoas permaneceram aprisionadas à faixa dos 20% dos rendimentos mais baixos, enquanto 70% permaneceram no topo das classes de rendimentos. Ao mesmo tempo, uma em cada sete famílias de classe média e uma em cada cinco pessoas que vivem mais próximos dos rendimentos mais baixos perderam 20% dos seus rendimentos. “ Over the four year period observed in this report, about 60% of people remained stuck in the lowest 20% income bracket, while 70% remained at the top. At the same time, one-in-seven of all middle class households, and one-in-five of people living closer to lower incomes, fell into the bottom 20%.”

Os resultados apresentados mostram uma variação significativa entre países, apresentando os países nórdicos uma mobilidade social de 2 a 3 gerações (60 a 90 anos) enquanto os países de economias emergentes apresentam uma mobilidade social até 9 gerações 270 anos).

Portugal (aqui)situa-se entre os países da OCDE (Áustria, Coreia do Sul, Estados Unidos América, Irlanda, Itália, Reino Unido e Suíça) onde podem ser necessárias 5 gerações (150 anos) para que os descendentes de uma família de baixos rendimentos alcancem os rendimentos médios.

O estudo confirma que a mobilidade social entre gerações não é uniformemente distribuída, mostrando que os cidadãos que tem rendimentos mais baixos (20% inferiores) têm poucas possibilidades de subir durante um período de 4 anos (67% permanecem neste quintil) enquanto para os para os cidadãos dos rendimento mais altos (20% superiores) o valor é ainda mais forte uma vez que 69% permanecem neste classe de rendimentos.
A OCDE avança que a falta de mobilidade para as pessoas de rendimentos mais baixos em Portugal “ pode estar relacionada com o elevado nível de desemprego de longa duração e a segmentação do mercado de trabalho” uma vez que os desempregados de longa duração permanecem emperrados na parte inferior da escala de rendimentos e os trabalhadores sujeitos a contratos temporários não conseguem garantir estabilidade de rendimentos.

Os resultados agora apresentados confirmam as evidências já publicadas de que existe uma forte correlação entre a desigualdade actual e a desigualdade intergeracional, ou seja, entre a desigualdade e a baixa mobilidade social, fazendo com que quanto mais desigual é uma sociedade, menor é a probabilidade da próxima geração se elevar, confirmando que a mobilidade social é maior entre os países com menores desigualdades de rendimento, contrariando a metáfora de Schumpeter (aqui) que alimentou durante muitos anos o “sonho americano”, «social mobility will do: at every given moment of time there are rich and poor but as we extend the time period, today’s rich are yesterday’s poor and vice-versa. The guests from the ground floors (or at least their children) have made it to the top; those from the top might have tumbled down to the bottom. »

O estudo agora publicado confirma o trabalho apresentado por Alan B. Krueger em 2012 e conhecido pela “ Grande Curva de Gatsby”. (aqui)

A falta de mobilidade social e as desigualdades em geral estão fortemente associadas aos determinantes da “saúde-doença” (aqui), uma vez que desde há muito que se conhece que a disponibilidade e o acesso aos serviços de saude são menores para as populações com mais necessidades (as mais desfavorecidas e de pior saúde) - lei dos cuidados inversos, (aqui)(aqui), e que as desigualdades em saúde mostram claramente que a pobreza causa problemas de saúde.(aqui)

domingo, 13 de maio de 2018

HABITAÇÃO E SAÚDE - EM 2017 DIMINUIU A POPULAÇÃO COM SOBRECARGA DE DESPESAS EM HABITAÇÃO


O INE divulgou, em 07 de maio, os resultados definitivos do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, referente a 2017 (aqui), destacando que a privação habitacional severa (condições da habitação que corresponde à proporção de pessoas que viviam em 2017 num alojamento sobrelotado e que referiram pelo menos um dos seguintes problemas: a) inexistência de instalação de banho ou duche no interior do alojamento; b)inexistência de sanita com autoclismo, no interior do alojamento; c) teto que deixa passar água, humidade nas paredes ou apodrecimento das janelas ou soalho; d) luz natural insuficiente num dia de sol) diminuiu 2.5% entre 2016 e 2017, reduzindo-se principalmente nos agregados familiares com menores rendimentos.
O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento 2017 mostra ainda uma evolução positiva da taxa de sobrecarga das despesas em habitação, que atingiu 6,7% da população em 2017 e uma redução da condição de sobrelotação em todas as classes de rendimento, registando contudo um impacto mais expressivo (menos 2,5%) nos agregados familiares com menores rendimentos.

Estes resultados sublinham a importância da habitação como um dos fatores relacionados com a saúde da população, e um dos elementos essenciais para a saúde pública. O acesso à habitação é um direito expressamente reconhecido pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, já que todas as pessoas tem direito a um nível de vida que lhes garanta a saúde e o bem-estar, independentemente da sua condição.
"Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia"
A relação entre a habitação e a saúde pode-se explicar através de diferentes dimensões: pelos aspetos legais e económicos, pela importância que tem o acesso e a capacidade em manter a habitação e o risco de perdê-la; pelos aspetos emocionais, e sociais que as pessoas atribuem à sua casa e pelos aspetos relacionados com a sua localização, e ainda pelas características do seu bairro ou da sua vizinhança, saneamento básico, espaços verdes e segurança (aqui).

De acordo com a análise do Professor Carlos Farinha Rodrigues, para o projeto "Portugal Desigual" da Fundação Manuel dos Santos (aqui), os dados mais recentes publicados pelo INE confirmam o ciclo descendente da generalidade dos indicadores de pobreza e desigualdade verificado desde o período mais severo da crise económica e das políticas de austeridade, verificando-se no entanto, que muitos indicadores ainda estão aquém dos valores pré-crise, como é o caso da taxa de pobreza que em 2016 atingiu os 18.3%, mas ficou ainda acima do seu valor de 17,9% em 2008/09.