quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DESIGUALDADES - O CASO DO FUTEBOL DE CLUBES

Nos últimos dias a imprensa portuguesa deu a conhecer os contratos sobre os direitos televisivos celebrados pelos clubes portugueses de futebol com os dois principais operadores de TV por cabo (aqui), animando as redes sociais e o coração dos adeptos dos principais emblemas nacionais, no final do jogo entre o Nacional e o Benfica para a Taça da Liga desta semana Manuel Machado treinador do Nacional declarou à imprensa que O que se passa no futebol português não é diferente daquilo que se passa noutras áreas. As estatísticas dizem-nos que as grandes fortunas aumentam e o grosso da população continua com dificuldades … A realidade é que a canalização de meios vai quase na totalidade para os três "grandes", fica uma migalha para o resto."

A este propósito vale a pena citar Branko Milanovic, no capítulo do seu livro “ Ter ou Não Ter” intitulado “Quer saber o vencedor antes de começar a partida?” quando explica que o futebol europeu ao nível de clubes está organizado como “ um puro empreendimento capitalista … sem restrições com total liberdade de movimento de capital de trabalho (jogadores e treinadores)”.

Com a globalização os clubes de futebol perderam o seu carácter local ou nacional, adquiriram em termos de adeptos, jogadores ou capital um carácter universal, tornaram-se marcais globais, os grandes emblemas não têm muitas vezes, nem sequer no banco nacionais do seu país, os seus treinadores são muitas vezes estrangeiros e os seus proprietários internacionalizaram-se.

Os primeiros 20 clubes europeus
A separação entre o interesse por um clube e o apoio por parte dos seus adeptos disseminou-se, ganhou dimensão internacional diminuindo os entusiasmos locais, nacionais, religiosos ou classistas.
A desigualdade nas riquezas dos clubes, combinada com a retirada das limitações à contratação de jogadores estrangeiros, levou à concentração da riqueza e de jogadores nos países mais ricos de tradição futebolística conforme podemos verificar nas listas publicadas anualmente (aqui) (aqui). O mesmo se passa no âmbito nacional com a concentração em três emblemas.

Com a concentração de qualidade nos clubes mais ricos, não é necessário mais saber quais os jogadores que vão alinhar pelas equipas, se são bons ou não ou se estão em forma física, as leis da economia vão garantir que se saiba, quase sempre, o vencedor antes de a partida começar, acabando com a imprevisibilidade dos resultados, com o afastamento dos adeptos dos clubes da sua comunidade.

Citando Branko Milanovic “ Hoje em dia, à medida que aumenta a diferença entre os Golias e os Davides, as surpresas são menos prováveis. O Golias ganha sempre, e, pior, raramente se digna a jogar com o David”.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

RECURSOS SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE - o "CREIS"

RECURSOS SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE - o "CREIS"

O "CREIS", centro de recursos para avaliação do impacto em saúde, é uma plataforma de difusão e informação gerida pela Escola Andaluza de Saúde Pública, onde pode encontrar informação sobre Determinantes Sociais em Saúde.





A Escola Andaluza de Saúde Pública fundada em 2 de Maio de 1985 teve como seu primeiro Diretor Académico entre 1985-1987 o Professor Constantino Sakellarides

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

POR UM MUNDO JUSTO - NATAL DE 2015

NATAL DE 2015




Natal de quê? De quem?

Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?

in NATAL DE 1971
             Jorge de Sena



terça-feira, 22 de dezembro de 2015

PARA TODAS AS CRIANÇAS, UMA OPORTUNIDADE - FOR EVERY CHILD A FAIR CHANCE - NATAL 2015

NATAL 2015


Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?

     
  in Natal de 1971
  
Jorge de Sena



segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

INVERNO - MÁS CONDIÇÕES HABITACIONAIS - POBREZA ENERGÉTICA - A CAUSA DAS CAUSAS



Em 1853 Charles Dickens, escrevia em " Bleak House", com o título em português "A Casa Abandonada" edição de 1964 de Romano Torres a propósito das condições de vida nos "slums" do Reino Unido do século XIX:
“Jo lives—that is to say, Jo has not yet died—in a ruinous place, known to the like of him by the name of Tom-all-Alone. It is a black, dilapidated street, avoided by all decent people…Now, these tumbling tenements contain, by night, a swarm of misery…As, on the ruined human wretch, vermin parasites appear, so, these ruined shelters have bred a crowd of foul existence that crawls in and out of gaps in walls and boards; and coils itself to sleep, in maggot numbers, where the rain drips in; and comes and goes, fetching and carrying fever…”
Em Portugal, o médico Ricardo Jorge escrevia em 1899, acerca das condições de vida nas "Ilhas" da cidade do Porto, citado aqui:
“renques de cubículos, às vezes sobrepostos em coxias de travesso. Este âmbito, onde se empilham camadas de gente, é por via de regra um antro de imundíce; e as casinhas em certas ilhas, dessoalhadas e miseráveis, pouco acima estão da toca lôbrega dum trogolita. (...) São o acoito das classes operárias e indigentes que mercê dum aluguer usurário, pagam o seu direito de residência a preço mais subido do que as classes remediadas. Há no Porto 1048 ilhas com 11 129 casas, o que dá uma média de 10,6 casas por ilha. São pois 11 129 fogos de residência, o que corresponde aproximadamente a perto de 50 mil moradores (...) Vê-se que quase metade da gente do Porto mora e acama-se nas ilhas, gerando uma acumulação insalubérrima”

Vem isto a propósito das condições habitacionais que ainda hoje afetam os mais desfavorecidos em Portugal, sobretudo nas zonas urbanas das cidades do Porto e de Lisboa, e do "paradoxo da mortalidade de inverno" nos países de clima temperado como Portugal. De acordo com o trabalho de Raquel Nunes, (aqui) Portugal apresenta indicadores muito baixos no que se refere à qualidade energética das habitações em particular das pessoas mais idosas, ainda recentemente o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2015, revelava que 1 em cada 4 pessoas (24%) vive em agregados familiares sem capacidade para manter a casa aquecida adequadamente.

Com o aproximar do Inverno e o agravamento previsível das condições climatéricas não serão surpresa o agravamento das condições de saúde de uma parte significativa da população.
Necessitamos neste novo ciclo político que as autoridades de saúde pública assumam a sua responsabilidade para mobilizar as políticas públicas para o combate efetivo " A CAUSA DAS CAUSAS" definidas por Rose " Os determinantes da exposição a estas infeções, à má dieta, e a outras experiências não saudáveis. Estas são matéria de investigação social, económica e política"
BLEAK HOUSE















domingo, 20 de dezembro de 2015

1 EM CADA 4 PORTUGUESES VIVEM ABAIXO DO LIMIAR DE POBREZA. OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE.

EM 2014 1 EM CADA 4 PORTUGUESES VIVEM ABAIXO DO LIMIAR DE POBREZA

O INE divulgou, em 18 de Dezembro, os resultados provisórios do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2015(aqui)sobre rendimentos do ano de 2014, mostrando que a proporção de pessoas em risco de pobreza em Portugal aumentou desde 2009, passando 17.9% em 2009 para 24.2 % em 2014 tendo em conta a linha de pobreza ancorada em 2009 “ limiar do rendimento abaixo do qual se considera que uma família se encontra em risco de pobreza. Este valor foi convencionado pela Comissão Europeia como sendo o correspondente a 60% da mediana do rendimento por adulto equivalente de cada país.”


EM 2014 1 EM CADA 10 PORTUGUESES EMPREGADOS ERA POBRE E 4 EM CADA 10 PORTUGUESES DESEMPREGADOS ERA POBRE

Também no que se refere à população ativa manteve-se a tendência para o aumento da pobreza entre a população empregada e desempregada, passando a taxa de risco de pobreza de 10.7% para 11% na população empregada e de 40.5% para 42% em 2014.



EM 2014 17 EM CADA 100 PORTUGESES COM MAIS DE 65 ANOS ERA POBRE

Em 2014, a taxa de risco de pobreza para a população idosa (65 + anos) foi de 17,1%, superior em 2 pontos percentuais ao valor registado em 2013 (15,1%). Assim, 2014 é o segundo ano consecutivo em que se registou um aumento do risco de pobreza para a população idosa, contrariando os valores registados desde 2003.




Estes resultados deverão alertar as autoridades nacionais para a necessidade de desenvolverem políticas públicas de combate à pobreza e em particular as autoridades de saúde, pela sua obrigação em chamar à atenção para o mais que provável agravamento das condições de saúde dos portugueses nos próximos anos, atendendo à relação conhecida, desde há muito, entre pobreza e saúde. Uma vez que os pobres têm pior saúde de que os ricos, mas também porque a saúde segue um gradiente social, isto é, que aqueles que estão abaixo de um nível social mais elevado têm pior saúde do que aqueles que lhe estão acima, o que significa que com o aumento da pobreza e da pobreza entre os trabalhadores a saúde dos portugueses deteriorar-se-á.

Mas não será só a saúde dos portugueses que piorará, também a sociedade no seu conjunto sofrerá uma vez que as desigualdades sociais provocam danos à coesão social. 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

SHIP-BREAKERS " UM CEMITÉRIO DE HOMENS E NAVIOS"

De acordo com os dados da Organização Internacional do Trabalho a frota mundial de navios é composta por cerca de 90 mil embarcações, com uma vida média de 20 a 25 anos. Todos os anos são desmantelados cerca de 500 a 700 navios de grande tonelagem, número que pode atingir os três milhares (3.000) se, se tiver em conta os navios de todos os tamanhos, 90% destes são desmantelados no Bangladesh, na China, na Índia, no Paquistão e na Turquia.


Em 2014, a organização não governamental Shipbreaking Platform, uma plataforma mundial de organizações ambientais e de direitos humanos que tenta prevenir as más práticas ligadas ao desmantelamento de navios em todo o mundo, publicou a lista completa de todos os proprietários de embarcações e dos seus navios vendidos para desmantelamento num total de 1026 navios, 641 dos quais (74% do total de tonelagem bruta desmantelada) foram vendidos a instalações precárias em países como a Índia, o Paquistão e o Bangladesh, onde as embarcações são desmanteladas diretamente nas praias.

A indústria de desmantelamento de navios tornou-se numa parte essencial da economia destes países, pois serve-se de mão-de-obra intensiva, e é uma importante fonte de emprego. Na medida em que promove a reciclagem de metais e reduz a necessidade de exploração mineira e a produção de metais sob a forma de matéria-prima, a indústria de desmantelamento de navios poderia ser classificada como uma potencial fonte de «emprego verde».

Classificada pela Convenção de Genebra como uma atividade especialmente perigosa devido às características dos navios e dos materiais altamente poluentes que contêm substâncias e resíduos perigosos, como o amianto, os óleos e resíduos de hidrocarbonetos, as tintas tóxicas, os PCB, as isocianidas, o ácido sulfúrico, o chumbo e o mercúrio. A atividade de desmantelamento cria graves riscos ambientais e de saúde, pelo que deveria ser desenvolvida no respeito pelas condições de trabalho e segurança.

Mas na prática não é isso que acontece, uma vez que o desmantelamento dos navios é efetuado no setor informal, em locais que não preenchem os requisitos internacionais para que a reciclagem de navios seja ecológica e segura, utilizando mão de obra intensiva com salários de miséria (menos de 2 euros por dia), que em países como o Bangladesh pode envolver cerca de 20% de trabalhadores com menos de 15 anos, em condições que levam ao envenenamento de homens e do ambiente, dando corpo à expressão de “ um cemitério de navios e de homens”, uma vez que os trabalhadores deste sector da Ásia do sul não ultrapassam os 40 anos de esperança média de vida.



Apesar da legislação internacional existente, são muitos os armadores e companhias que vendem os seus navios para os estaleiros existentes nas praias, obtendo um lucro consideravelmente maior que o obtido numa venda para instalações equipadas para a reciclagem das embarcações.

De acordo com a ONG  Shipbreaking Platform, " A União Europeia, tem a particular responsabilidade de atuar uma vez que 34% da tonelagem bruta desmantelada no sul da Ásia, em 2014 era europeia. As grandes nações marítimas europeias, como a Grécia e a Alemanha, estão no topo da lista de 2014 dos piores jumpers, tendo vendido respectivamente 70 e 41 grandes navios para breakers no Sul da Ásia... Apesar da nova Regulamentação de Reciclagem de Naviosda União Europeia, que entrou em vigor a 30 de dezembro de 2013 eque exclui o uso do método de despejo para desmontar embarcações europeias, 41 navios registados sob as bandeiras de países membros da União Europeia como Malta, Itália, Chipre, Reino Unido e Grécia acostaram nas praias da Ásia em 2014. Outros 15 navios mudaram a sua bandeira Europeia para não Europeia pouco tempo antes de chegarem à Ásia Meridional.”

Photo Gallery " The Ship-Breakers" - National Geographic

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A SAÚDE EM TEMPOS DE CRISE, XENOFOBIA E RACISMO

Nos últimos anos por toda a Europa gerou-se um clima de confronto contra os emigrantes e os estrangeiros, que tem vindo a amentar nos últimos meses por causa da crise dos refugiados da Guerra da Síria.
Este ambiente de crispação começou a crescer com o aumento do desemprego e da pobreza em muitos países da Europa em resultado das medidas de austeridade em resposta à crise das dívidas públicas, alimentando-se nos momentos seguintes do crescente fluxo de pessoas verificado no último ano, composto por refugiados da guerra da Síria e emigrantes vindos da África subsariana, do Iraque ou do Afeganistão e dos atos criminosos e terroristas cometidos em Paris em nome do Daech.

ROTAS DE MIGRAÇÃO
Por toda a Europa surgiram declarações xenófobas e racistas, por toda a Europa surgiram posições nacionalistas, por toda a Europa as forças de extrema-direita procuraram estigmatizar os emigrantes.
Neste contexto, se nada for feito para combater a xenofobia e o racismo, agravar-se-ão as condições de saúde destas comunidades (aqui), anteriormente já atingidas por restrições no acesso aos cuidados de saúde anteriormente relatadas pela organização governamental “Médicos do Mundo” no seu relatório de 2013 “Access to healthcare in Europe in a time of crisis and rising xenofobia”, seja pelo colapso dos serviços de saúde, como na Grécia, seja pela restrição na utilização dos serviços por se encontrarem em situação ilegal.
A SELVA DE CALAIS


Estes milhares de pessoas, refugiadas e emigrantes, perderam todas as suas referências, os seus pais, as suas famílias, os seus vizinhos, as suas casas, as suas escolas, as suas cidades, as suas credenciais (académicas e profissionais), os seus locais de culto, os seus recursos e as suas soluções. Enfrentam as barreiras linguísticas e as tensões culturais e religiosas. Merecem a nossa solidariedade e o nosso acolhimento. 

Propomo-vos a visita à exposição promovida pelos "Médecins du Monde"

"Ils sont comme vous et nous. Venus de partout. De là-bas, d’ici.Ils ont tous les âges, tous les genres, toutes les conditions, toutes les cultures.Ils partagent une même conviction. Le monde est plus beau, la vie est plus belle, plus riche, plus intéressante, plus humaine, quand les portes sont ouvertes ou s’ouvrent à l’autre.Cette exposition, organisée par Médecins du Monde en appui aux programmes d’aide et de soutien que l’association mène partout au service des plus vulnérables, leur donne la parole.C’est une parole de solidarité, un antidote contre la peur et la haine."
        Ouvrons nos portes ! (AQUI)

sábado, 12 de dezembro de 2015

HEALTH FOR ALL - 12.12.2015 - UNIVERSAL HEALTH COVERAGE DAY



VEJA AQUI O vÍDEO:

HEALTH FOR ALL - THE WALK

Chanceline, 26 anos, casada mãe de 2 filhos, vive em Mulamba na República Democrática do Congo, está grávida, e tem que andar 27 km e voltar para uma simples consulta de vigilância. Junte-se a ela durante 27 kms e veja aqui o vídeo " THE WALK - DECEMBER 12 TH " na página da internet da Cordaid (aqui)


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

12.12.2015 - UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, UNIVERSIDADE DO ALGARVE E SAÚDE EM PORTUGÊS ADEREM AO " UNIVERSAL HEALTH COVERAGE DAY"

NOBODY SHOULD GO BANKRUPT WHEN THEY GET SICK.


Comemora-se à manhã dia 12.12.2015 o Universal Health Coverage Day, 2015, assinalando o dia 12 de Dezembro de 2012, data em que as Nações Unidas aprovaram por unanimidade a cobertura de saúde universal como um dos pilares do desenvolvimento sustentável e da segurança global. 

Comemorado pela primeira vez em 2014, ganhou este ano mais visibilidade mundial através da publicação na revista Lancet na sua edição de 21 de de Novembro do manifesto “ECONOMISTS’ DECLARATION ON UNIVERSAL HEALTH COVERAGE” subscrito por 267 economistas de 44 países, apelando aos responsáveis políticos de todo o mundo para colocarem como primeira prioridade, a cobertura universal de saúde para todos os cidadãos. Afirmando que assegurar serviços de saúde essenciais e de qualidade a todos, sem barreiras financeiras, é a decisão certa, inteligente e acessível, “that ensuring everyone can obtain high quality essential health services without suffering financial hardship is right, smart and affordable”.


Neste ano de 2015, três instituições portuguesas, a Universidade Nova de Lisboa, Universidade do Algarve e a associação "Saúde em Português" decidiram associar-se à organização deste dia, juntando-se as mais prestigiadas instituições mundiais 

HEALTH IS A RIGHT, NOT A PRIVILEGE.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

ESCRAVATURA MODERNA - DIREITOS HUMANOS

Assinalam-se esta semana duas datas importantes para a humanidade, no passado dia 06 de Dezembro, os 150 anos da ratificação da abolição da escravidão pelos Estados Unidos da América iniciada num processo começado em 1863 com a apresentação da 13.ª Emenda Constitucional pelo Presidente Abraham Lincoln durante a Guerra Civil norte-americana (1860-1865), e hoje dia 10 de Dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos, proclamada em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que em 2015 tem como lema “ Os Nossos Direitos. As Nossas Liberdades”. Lema escolhido pela Organização das Nações Unidas para recordar as “quatro Liberdades” que são a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos e duas convenções internacionais que, em 2016, assinalam o seu 50.º aniversário: o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais e o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos.
As Nações Unidas decidiram sublinhar este ano as “ quatro liberdades “ pela primeira vez anunciadas no discurso do President Franklin D. Roosevelt  ao Congresso dos EUA em Junho de 1941 intitulado four freedoms speech”.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos coloca no 4.º lugar entre 30 artigos o príncipio de que, Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos
Hoje passados 67 anos sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos estima-se que existam 35,8 Milhões de pessoas submetias à moderna escravidão (aqui)



A escravatura moderna é hoje um crime oculto, está de baixo dos nos olhos, mas é por muitos ignorada ou desconsiderada, parece coisa do passado e não dos nossos dias, no entanto está em toda a parte,
De acordo com os dados mais recentes estima-se que os cerca de 38.5 milhões de escravizados originam anualmente 150 $ biliões de dólares americanos em lucros ilícitos para os traficantes (aqui).
  • ESCRAVIDÃO LABORAL - Cerca de 78% encontra-se no trabalho forçado e escravo em indústrias onde o trabalho manual é necessário, como a agricultura, a pecuária, a exploração madeireira, a mineração, a fabricação de tijolos, a pesca, e o trabalho nas indústrias de serviços - como os serviços de lavagem (dish washers), de portaria, de jardinagem e o trabalho doméstico.
  • ESCRAVIDÃO SEXUAL – Cerca de 22% estão presos na prostituição forçada e na escravidão sexual.
  • ESCRAVIDÃO INFANTIL – Cerca de 26% dos escravos de hoje são crianças.
O número estimado de pessoas escravizadas nos dias de hoje (35,8 milhões) é quase 3 vezes mais do que o número de pessoas raptadas de Africa e levadas como escravas para as Américas Ship records make it possible to estimate the number of slaves transported from Africa to the Americas and the Caribbean, from the 16th Century until the trade was banned in 1807 - and the figure is about 12.5 million people.”

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

MIA COUTO " MORREU DE QUEM OU DE QUÊ ?" - DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE

No passado dia 16 de Novembro o escritor moçambicano Mia Couto, foi o convidado do Seminário Internacional " Determinantes Sociais da saúde, intersetorialidade e equidade social na América Latina" para proferir a Conferência de Abertura.


A sua conferência de abertura é aqui relatada pela jornalista Tatiane Vargas jornalista da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (aqui).

Mia Couto
Morreu de quem ou de que?

Mia Couto continuou brindando a plateia com a beleza de suas narrativas. Prosseguiu com mais uma história, afinal, como ele mesmo afirmou, “somos feitos de histórias assim como somos feitos de células”. O escritor falou sobre uma província no norte de Moçambique, chamada Niassa, onde também trabalhou por um tempo. Ele explicou que o povo local se reúne para uma cerimônia religiosa, organizada pelos sacerdotes – que também são líderes políticos –, e passam fome durante todo o ano para homenagear os macacos babuínos. Isso acontece porque eles acreditam que há muito tempo seus antepassados todos morreram afogados em uma lagoa e voltaram materializados nesses animais. “Para eles é um momento de retribuição, pois esses animais protegem um lugar sagrado. Então, é preciso mostrar essa gratidão”, contou.


Após contar a história dos costumes de Niassa, Mia explicou que nas regiões por onde anda, as pessoas fazem um questionamento que aqui no Brasil pode parecer estranho quando alguém morre. A pergunta é: “morreu de quem?” Ao invés de “morreu de que?”. “Morrer de alguém é uma coisa que faz muito sentido em um universo em que a fronteira da vida – o entendimento daquilo que é vida, que é morte, que é doença –, é algo completamente distinto. Nesse universo está ausente a dualidade que separa o somático, o psicológico, o corpo, a alma, o espírito e a matéria, tudo isso é ausente e não existe uma palavra para expressar a natureza. Por isso, quando se procuram as causas naturais de uma doença, surge algo estranho, pois não há sequer uma palavra para dizer isso”, definiu o escritor.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

OS ENFERMEIROS E OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE - O CASO DO CANADÁ

Numa recente tomada de posição sobre Determinantes Sociais da Saúde a associação nacional dos enfermeiros canadianos, a Canadian Nurses Association, (aqui) reconheceu a responsabilidade ética e profissional que as enfermeiras e os enfermeiros têm para promover a equidade em saúde através da ação sobre os determinantes sociais de saúde.

A Canadian Nurses Association (CNA) acredita que a redução das desigualdades em saúde deve ser uma prioridade em todos os domínios da prática da enfermagem, em colaboração com os outros profissionais de saúde, devendo as enfermeiras e os enfermeiros inclui-las nas suas ações e intervenções com os indivíduos, as famílias e as comunidades.
CANADIAN FACTS - SHD

É essencial que as enfermeiras e os enfermeiros compreendam o impacto desses fatores sobre as pessoas e os grupos com quem trabalham devendo integrá-los nas suas avaliações. Esta informação pode influenciar a escolha da intervenção e a necessidade de recorrer a outros recursos da comunidade. De modo mais geral, os enfermeiros devem saber como melhorar a saúde de seus pacientes defendendo políticas progressistas que atuem sobre os determinantes sociais da saúde.


A CNA advoga pela inclusão do estudo dos determinantes sociais da saúde, começando pela compreensão crítica dos fatores políticos, económicos e sociais que são as causas das desigualdades em saúde.


"Better Health: An analysis of public policy and programming focusing on the determinants of health and health outcomes that are effective in achieving the healthiest populations" é um dos exemplos da contribuição da Canadian Nurses Association para o estudo dos determinantes sociais da saúde no Canadá e no mundo.


sábado, 5 de dezembro de 2015

EXCESSO DE MORTALIDADE NO INVERNO - GRIPE OU POBREZA ENERGÉTICA

No passado dia 28 de Outubro o Instituto Nacional de Saúde, Ricardo Jorge, dava a conhecer os resultados reportados pelos países que participam na rede EuroMOMO (Rede European Monitoring Excess Mortality for Public Health Action), durante o inverno de 2015, que demonstraram um excesso de mortalidade, na população com 65 ou mais anos, em todos os países europeus que participam nesta rede, com exceção da Estónia e da Finlândia, estando Portugal entre os países mais atingidos, apontando as conclusões desse trabalho para que o excesso de mortalidade tenha ocorrido em simultâneo com a epidemia de gripe sazonal e um período de vagas de frio extremo. Conclusões que estão em linha com as posições públicas assumidas pelas autoridades portuguesas de saúde pública, Direção Geral de Saúde, que atribuiu o excesso de mortalidade no Inverno de 2015 à gripe, às doenças relacionadas com o frio e ao crescimento da população idosa e das suas próprias patologias.
Será esta a explicação, apenas uma parte da explicação, e, que peso terá no excesso de mortalidade ocorrida no Inverno?


% of households unable to afford to keep their home adequately warm
Constantino Sakellarides, emérito médico de saúde pública, põe o “dedo na ferida” em declarações ao jornal “O Público” (aqui) a quando da apresentação do estudo realizado para OMS Europa O impacto da crise financeira no sistema de saúde e na saúde em Portugal, cito “ Nos primeiros meses de 2012, um excesso de mortalidade associado à gripe e ao frio foi reportado em Portugal, tal como em muitos outros países europeus em pessoas com mais de 65 anos. No entanto, um excesso de mortalidade nas faixas etárias entre os 15 e os 64 anos apenas ocorreu em Portugal e em Espanha… «Como se explica esta diferença entre países? … Portugal tem uma das mais baixas capacidades de aquecimento das casas durante o Inverno no conjunto dos países europeus, o que pode ter influência na mortalidade”, é que há muito que Portugal apresenta excesso de mortalidade no inverno, sendo apontado como um paradoxo, uma vez que é o exemplo do país com um clima ameno no inverno que apresenta a maior variação sazonal da mortalidade 28% no trabalho de Healy em 2003 e 25.9% no trabalho de Fowler em 2014. 


Map of 9-year country-level EWDI in 31 European countries, grouped by quintiles of equal count.
O "paradoxo da mortalidade de inverno" explica-se afinal pela pobreza energética determinada por “baixos rendimentos, custos elevados de energia e falta de eficiência energética nas habitações”.
De acordo com o trabalho de Raquel Nunes, Portugal apresenta indicadores muito baixos no que se refere à qualidade energética das habitações, “ casas com paredes duplas (6%), isolamento do telhado (6%) e vidros duplos (3%) ” e uma elevada incapacidade para manter as casas aquecidas entre os agregados familiares com um adulto com mais de 65 anos, o que mostra que as pessoas idosas em Portugal estão em maior risco de sofrer os efeitos de viver em casas frias (OMS 2012).

De acordo com os estudos publicados (aqui) (aqui)as pessoas com menos rendimento, têm mais propensão a estar em "pobreza energética" ficando mais expostas a problemas de saúde, incluindo problemas circulatórios, respiratórios e a uma menor qualidade da saúde mental, de acordo com estudos ingleses “10% of excess winter deaths are directly attributable to fuel poverty and a fifth of excess winter deaths are attributable to the coldest quarter of homes”. A pobreza energética também pode afetar os determinantes mais vastos da saúde, tais como o desempenho escolar entre crianças e jovens, ou as ausências ao trabalho.

Portugal necessita que as autoridades de saúde ao invés de centrarem apenas as suas prioridades em torno da vacinação antigripal e do reforço do atendimento nos serviços de urgência, desenvolvam estudos que permitam conhecer a população em pobreza energética e influenciem políticas de combate à pobreza energética.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

EM PORTUGAL AS MULHERES VIVEM MAIS ANOS QUE OS HOMENS, MAS VIVEM MENOS ANOS COM SAÚDE.

Em Portugal no período de 2012-2014 a esperança de vida à nascença foi estimada em 80,24 anos para ambos os sexos, 77.16 para os homens e 83.03 anos para as mulheres, o que representa um ganho de 1.32 anos para os homens e de 1.16 para as mulheres, quando comparada com os resultados de 2007 – 2009. Entre os anos de 2007 – 2009 e 2012-2014, a diferença de esperança de vida entre homens e mulheres diminuiu de 6.03 anos para 5.87 anos.



Em 2013, de acordo com os dados do Eurostat a esperança de vida à nascença para homens e mulheres nos países da União Europeia era de 80.6 anos, ocupando Portugal a 8.ª posição nos países da UE28 na esperança de vida ao nascer no que se refere às mulheres e a 17.ª posição no que se refere aos homens. A Espanha é o país com maior esperança de vida feminina 86.1 anos, mais 2.1 anos que em Portugal e no caso dos homens a primeira posição é para a Itália com 80.3 anos, mais 2,7 que em Portugal.



No indicador número de anos vividos com saúde, para o ano de 2013, Portugal apresenta resultados acima do valor média da UE28, 63.9 anos para os homens contra 61.4 para UE28 e 62.2 para as mulheres contra 61.5 para UE28, ocupando respetivamente o 9.º lugar no ranking para os homens e o 14.º para as mulheres. No entanto e ao contrário do que acontecia com o indicador a esperança de vida ao nascer em que as mulheres apresentavam um ganho de 5.87 anos em relação aos homens, o número de anos vividos com saúde é favorável aos homens em 1.7 anos.


Consultar Estatísticas Demográficas 2014, INE (aqui)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

ENCICLÍCA " LAUDATO SI" DO PAPA FRANCISCO - PARIS 2015 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SAÚDE

No momento em que decorre em Paris 21.ª Conferência do Clima (#COP21) vale a pena dar a conhecer a enciclíca " Laudato Si" do Papa Francisco, lançada em Junho de 2015 sobre "O Cuidado da Casa Comum", que versa o conceito " ecologia integral" (AQUI)

As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, constituindo actualmente um dos principais desafios para a humanidade. Provavelmente os impactos mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento"

Extratos:

A QUESTÃO DA ÁGUA

" Outros indicadores da situação actual têm a ver com o esgotamento dos recursos naturais. É bem conhecida a impossibilidade de sustentar o nível actual de consumo dos países mais desenvolvidos e dos sectores mais ricos da sociedade, onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge níveis inauditos. Já se ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza.

A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. As fontes de água doce fornecem os sectores sanitários, agro-pecuários e industriais. A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências a curto e longo prazo. Grandes cidades, que dependem de importantes reservas hídricas, sofrem períodos de carência do recurso, que, nos momentos críticos, nem sempre se administra com uma gestão adequada e com imparcialidade.

A pobreza da água pública verifica-se especialmente na África, onde grandes sectores da população não têm acesso a água potável segura, ou sofrem secas que tornam difícil a produ- ção de alimento. Nalguns países, há regiões com abundância de água, enquanto outras sofrem de grave escassez. Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por microorganismos e substâncias químicas. A diarreia e a cólera, devidas a serviços de higiene e reservas de água inadequados, constituem um factor significativo de sofrimento e mortalidade infantil. Em muitos lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados pela poluição produzida por algumas actividades extractivas, agrícolas e industriais, sobretudo em países desprovidos de regulamentação e controles suficientes.


Não pensamos apenas nas descargas provenientes das fábricas; os detergentes e produtos químicos que a população utiliza em muitas partes do mundo continuam a ser derramados em rios, lagos e mares. Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável.

Esta dívida é parcialmente saldada com maiores contribuições económicas para prover de água limpa e saneamento as populações mais pobres. Entretanto nota-se um desperdício de água não só nos países desenvolvidos, mas também naqueles em vias de desenvolvimento que possuem grandes reservas. Isto mostra que o problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade destes comportamentos num contexto de grande desigualdade. Uma maior escassez de água provocará o aumento do custo dos alimentos e de vários produtos que dependem do seu uso. Alguns estudos assinalaram o risco de sofrer uma aguda escassez de água dentro de poucas décadas, se não forem tomadas medidas urgentes. Os impactos ambientais poderiam afectar milhares de milhões de pessoas, sendo previsível que o controle da água por grandes empresas mundiais se transforme numa das principais fontes de conflitos deste século."

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" A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana. A salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente cura. A crise financeira dos anos 2007 e 2008 era a ocasião para o desenvolvimento duma nova economia mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da actividade financeira especulativa e da riqueza virtual. Mas não houve uma reacção que fizesse repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo. A produção não é sempre racional, e muitas vezes está ligada a variáveis económicas que atribuem aos produtos um valor que não corresponde ao seu valor real. Isto leva frequentemente a uma superprodução dalgumas mercadorias, com um impacto ambiental desnecessário, que simultaneamente danifica muitas economias regionais. Habitualmente, a bolha financeira é também uma bolha produtiva. Em suma, o que não se enfrenta com energia é o problema da economia real, aquela que torna possível, por exemplo, que se diversifique e melhore a produ- ção, que as empresas funcionem adequadamente, que as pequenas e médias empresas se desenvolvam e criem postos de trabalho."