No passado dia 28 de Outubro o Instituto Nacional de Saúde, Ricardo Jorge, dava a conhecer os resultados
reportados pelos países que participam na rede EuroMOMO (Rede European
Monitoring Excess Mortality for Public Health Action), durante o inverno de
2015, que demonstraram um excesso de mortalidade, na população com 65 ou mais
anos, em todos os países europeus que participam nesta rede, com exceção da
Estónia e da Finlândia, estando Portugal entre os países mais atingidos, apontando
as conclusões desse trabalho para que o excesso de mortalidade tenha ocorrido
em simultâneo com a epidemia de gripe sazonal e um período de vagas de frio
extremo. Conclusões que estão em linha com as posições públicas assumidas pelas
autoridades portuguesas de saúde pública, Direção Geral de Saúde, que atribuiu
o excesso de mortalidade no Inverno de 2015 à gripe, às doenças relacionadas
com o frio e ao crescimento da população idosa e das suas próprias patologias.
Será esta a explicação, apenas
uma parte da explicação, e, que peso terá no excesso de mortalidade ocorrida no
Inverno?
% of households unable to afford to keep their home adequately warm |
Constantino Sakellarides, emérito
médico de saúde pública, põe o “dedo na ferida” em declarações ao jornal “O
Público” (aqui) a quando da apresentação do estudo realizado para OMS Europa “O impacto da crise financeira no sistema de saúde e na saúde em Portugal”, cito
“ Nos primeiros meses de 2012, um excesso de mortalidade associado à gripe e ao
frio foi reportado em Portugal, tal como em muitos outros países europeus em
pessoas com mais de 65 anos. No entanto, um excesso de mortalidade nas faixas
etárias entre os 15 e os 64 anos apenas ocorreu em Portugal e em Espanha… «Como
se explica esta diferença entre países? … Portugal tem uma das mais baixas
capacidades de aquecimento das casas durante o Inverno no conjunto dos países
europeus, o que pode ter influência na mortalidade”, é que há muito que
Portugal apresenta excesso de mortalidade no inverno, sendo apontado como um
paradoxo, uma vez que é o exemplo do país com um clima ameno no inverno que
apresenta a maior variação sazonal da mortalidade 28% no trabalho de Healy em
2003 e 25.9% no trabalho de Fowler em 2014.
Map of 9-year country-level EWDI in 31 European countries, grouped by quintiles of equal count. |
O "paradoxo da mortalidade de
inverno" explica-se afinal pela pobreza energética determinada por “baixos
rendimentos, custos elevados de energia e falta de eficiência energética nas habitações”.
De acordo com o trabalho de
Raquel Nunes, Portugal apresenta indicadores muito baixos no que se refere à
qualidade energética das habitações, “ casas com paredes duplas (6%),
isolamento do telhado (6%) e vidros duplos (3%) ” e uma elevada incapacidade
para manter as casas aquecidas entre os agregados familiares com um adulto com
mais de 65 anos, o que mostra que as pessoas idosas em Portugal estão em maior
risco de sofrer os efeitos de viver em casas frias (OMS 2012).
De acordo com os estudos publicados (aqui) (aqui)as pessoas com menos rendimento, têm mais propensão a estar em "pobreza energética" ficando mais expostas a problemas de saúde, incluindo problemas circulatórios, respiratórios e a uma menor qualidade da saúde mental, de acordo com estudos ingleses “10% of excess winter deaths are directly attributable to fuel poverty
and a fifth of excess winter deaths are attributable to the coldest quarter of
homes”. A pobreza energética também pode afetar os determinantes mais vastos da
saúde, tais como o desempenho escolar entre crianças e jovens, ou as ausências ao
trabalho.
Portugal necessita que as autoridades
de saúde ao invés de centrarem apenas as suas prioridades em torno da vacinação
antigripal e do reforço do atendimento nos serviços de urgência, desenvolvam
estudos que permitam conhecer a população em pobreza energética e influenciem
políticas de combate à pobreza energética.
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