sábado, 5 de dezembro de 2015

EXCESSO DE MORTALIDADE NO INVERNO - GRIPE OU POBREZA ENERGÉTICA

No passado dia 28 de Outubro o Instituto Nacional de Saúde, Ricardo Jorge, dava a conhecer os resultados reportados pelos países que participam na rede EuroMOMO (Rede European Monitoring Excess Mortality for Public Health Action), durante o inverno de 2015, que demonstraram um excesso de mortalidade, na população com 65 ou mais anos, em todos os países europeus que participam nesta rede, com exceção da Estónia e da Finlândia, estando Portugal entre os países mais atingidos, apontando as conclusões desse trabalho para que o excesso de mortalidade tenha ocorrido em simultâneo com a epidemia de gripe sazonal e um período de vagas de frio extremo. Conclusões que estão em linha com as posições públicas assumidas pelas autoridades portuguesas de saúde pública, Direção Geral de Saúde, que atribuiu o excesso de mortalidade no Inverno de 2015 à gripe, às doenças relacionadas com o frio e ao crescimento da população idosa e das suas próprias patologias.
Será esta a explicação, apenas uma parte da explicação, e, que peso terá no excesso de mortalidade ocorrida no Inverno?


% of households unable to afford to keep their home adequately warm
Constantino Sakellarides, emérito médico de saúde pública, põe o “dedo na ferida” em declarações ao jornal “O Público” (aqui) a quando da apresentação do estudo realizado para OMS Europa O impacto da crise financeira no sistema de saúde e na saúde em Portugal, cito “ Nos primeiros meses de 2012, um excesso de mortalidade associado à gripe e ao frio foi reportado em Portugal, tal como em muitos outros países europeus em pessoas com mais de 65 anos. No entanto, um excesso de mortalidade nas faixas etárias entre os 15 e os 64 anos apenas ocorreu em Portugal e em Espanha… «Como se explica esta diferença entre países? … Portugal tem uma das mais baixas capacidades de aquecimento das casas durante o Inverno no conjunto dos países europeus, o que pode ter influência na mortalidade”, é que há muito que Portugal apresenta excesso de mortalidade no inverno, sendo apontado como um paradoxo, uma vez que é o exemplo do país com um clima ameno no inverno que apresenta a maior variação sazonal da mortalidade 28% no trabalho de Healy em 2003 e 25.9% no trabalho de Fowler em 2014. 


Map of 9-year country-level EWDI in 31 European countries, grouped by quintiles of equal count.
O "paradoxo da mortalidade de inverno" explica-se afinal pela pobreza energética determinada por “baixos rendimentos, custos elevados de energia e falta de eficiência energética nas habitações”.
De acordo com o trabalho de Raquel Nunes, Portugal apresenta indicadores muito baixos no que se refere à qualidade energética das habitações, “ casas com paredes duplas (6%), isolamento do telhado (6%) e vidros duplos (3%) ” e uma elevada incapacidade para manter as casas aquecidas entre os agregados familiares com um adulto com mais de 65 anos, o que mostra que as pessoas idosas em Portugal estão em maior risco de sofrer os efeitos de viver em casas frias (OMS 2012).

De acordo com os estudos publicados (aqui) (aqui)as pessoas com menos rendimento, têm mais propensão a estar em "pobreza energética" ficando mais expostas a problemas de saúde, incluindo problemas circulatórios, respiratórios e a uma menor qualidade da saúde mental, de acordo com estudos ingleses “10% of excess winter deaths are directly attributable to fuel poverty and a fifth of excess winter deaths are attributable to the coldest quarter of homes”. A pobreza energética também pode afetar os determinantes mais vastos da saúde, tais como o desempenho escolar entre crianças e jovens, ou as ausências ao trabalho.

Portugal necessita que as autoridades de saúde ao invés de centrarem apenas as suas prioridades em torno da vacinação antigripal e do reforço do atendimento nos serviços de urgência, desenvolvam estudos que permitam conhecer a população em pobreza energética e influenciem políticas de combate à pobreza energética.

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