domingo, 29 de outubro de 2017

QUANDO OS INTERESSES DA INDÚSTRIA QUÍMICA PREVALECEM SOBRE A SAÚDE E A SEGURANÇA DAS PESSOAS


Ao longo dos últimos meses a imprensa americana tem dado relevo aos protestos das comunidades médica e científica americanas (aqui) (aqui)contra a decisão da administração Trump em autorizar a utilização do pesticida (aqui) “chlorpyrifos- CPSquer nas culturas agrícolas (soja, couves de bruxelas, frutos vermelhos, brócolos, couve-flor, nogueiras e árvores de fruto), quer nas atividades não agrícolas (campos de golfe, relvados, e tratamentos de madeira utilizada em casas de jardim e postes de vedação), contrariando a posição da Agência de Protecção Ambiental dos EUA ( United States Environmental Protection Agency) tomada em 2015 durante a administração Obama de banir o uso deste organofosforado nas atividades agrícolas exteriores.

O pesticida “chlorpyrifos- CPS” desenvolvido pela Dow Chemical Company e colocado no mercado desde 1965, pertence à classe dos pesticidas, compostos químicos desenvolvidos no princípio do século XX pela IG Farben (aqui), um conglomerado de empresas químicas alemãs, e utilizados pela Alemanha Nazi como armas químicas para exterminar os prisioneiros do campo de concentração.
Resultado de imagem para legacy brain new york times
Imagem de  Bradley Peterson, via New York Times
As partes coloridas da imagem as áreas do cérebro de uma criança ffisicamente alterado após a exposição a este pesticida.
Utilizado desde os anos 50 no interior das habitações como componente de insecticidas, o pesticida “chlorpyrifos- CPS” foi banido desta utilização no ano 2000, uma vez que estudos em humanos e animais demonstraram que a sua sua utilização provocava danos no cérebro e sistema nervoso, estando associado ao cancro do pulmão (aqui)(aqui).

Esta decisão da administração vista com preocupação pelos profissionais de saúde e pelos cientistas (aqui)(aqui), é um sinal do alinhamento do Presidente Trump com os intereses do lobby da indústria química, o American Chemistry Council, uma espécie de versão atual do Big Tobacco, acusada de manipular os cidadãos através da criação de uma organização denominada Citizens for Fire Safety, que tinha como objetivo pressionar a utilização de produtos químicos nos sofás para retardar incêndios domésticos. Tudo para salvar vidas, é claro.



A escolha política da administração Trump foi clara, no futuro “ Americans will be caring for victims of the chemical industry’s takeover of safety regulation”.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

O DIREITO DAS MULHERES A DECIDIREM POR SI MESMAS E O ACORDÃO DO TRIBUNAL DO PORTO

Quis o acaso que na semana em que a revista Lancet publicava na edição de 21 outubro o editorialDecisions only she should makededicado ao direito das mulheres decidirem sobre si próprias, e onde se descrevia o “ depressing context” criado pelas manchetes da imprensa internacionalFrom a teenager seeking safe abortion in the USA, to the multiple actresses with sexual harassment allegations against the film producer Harvey Weinstein”, e a crescente preocupação com “ the rights of women and girls share the familiar sense of objectification of female bodies by men in power and lost agency in sexual and reproductive rights”, a imprensa portuguesa dava a conhecer um acórdão do Tribunal de Relação do Porto (aqui)onde se decidia por manter as penas suspensas de dois homens que haviam sido condenados num Tribunal de instância local num caso de violência doméstica e perseguição a mulher, com a justificação de que a conduta dos arguidos ocorrera num contexto de adultério.
Num mundo em que 1 em cada 3 mulheres será vítima de violência por parte do seu parceiro, 1 em cada 4 mulheres casa-se durante a infância, 71% das vítimas de tráfico humano são mulheres, 200 milhões de meninas e mulheres foram submetidas a mutilação genital, 130 milhões de meninas não vão à escola, cerca de 60% dos jovens entre os 15 – 24 anos que vivem com VIH são raparigas e mulheres, 214 milhões das mulheres em idade reprodutiva dos países em desenvolvimento que não desejam engravidar não tem acesso a um método anti conceptivo efetivo, e em que metade das cerca de 25.5 milhões interrupções voluntárias de gravidez são inseguras, o acórdão do Tribunal da Relação do Porto é mais um sinal a juntar a muitos outros de que os direitos humanos em geral e o direito das mulheres a decidirem por si próprias, são violentamente atacados mesmo entre as elites sociais. (aqui) (aqui)

O acórdão de Outubro de 2017, em que os juízes justificam a sua decisão, citamos “ Ora o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte. Ainda não foi há muito tempo que a lei penal (Código Penal de 1886, artigo 372 punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse ato a matasse. Com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher. Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o ato de agressão, como bem se considerou na sentença recorrida” é bem o exemplo da violência sobre as mulheres, estando a par dos exemplos denunciados no editorial da Lancet.

Mas como escreve o editorialista da LancetIn this rather depressing context, is there need for a more positive way to talk about female bodily autonomy”. She Decides é o exemplo de um novo movimento, criado em janeiro de 2017 pela ministra holandesa do Comércio Externo e da Cooperação para o Desenvolvimento, Lilianne Ploumen, para promover, prover, proteger e fortalecer os direitos fundamentais de cada mulher (aqui), em resposta à aplicação pelo Presidente Trump da Global Gag Rule, também conhecida pela Mexico City Policy (aqui), que estipula que todas as organizações não-governamentais que recebem financiamento federal devem abster-se de promover o aborto seguro ou informações sobre o aborto em outros países.

“She Decides” é um movimento global para promover, providenciar, proteger e melhorar os direitos fundamentais de cada mulher.



Como disse Robin Gorna à Lancet “ É fácil desesperar no contexto dos Trumps e Weinsteins deste mundodos juízes do Tribunal de Relação do Porto, acrescentamos nós “mas tenho uma profunda convicção de que, quando as coisas ficam tão más, levam a um tempo de uma extraordinária mudança ".

sábado, 21 de outubro de 2017

EXCESSO DE PESO E OBESIDADE NO GANA E A CHEGADA DAS CADEIAS DE "FAST FOOD" - O CASO DO KFC

Recentemente o New York Times (NYT), publicou um reportagem intitulada “Obesity Was Rising as Ghana Embraced Fast Food. Then Came KFC” a propósito da mudança nos hábitos alimentares no Gana com a chegada da cadeia de comida rápida KFC e da sua crescente popularidade entre a população.

No artigo os autores descrevem a chegada da KFC ao Gana, como fazendo parte da estratégia de expansão da empresa em África, a partir da África do Sul, onde tem mais de 850 postos de venda, depois de ter chegado a Angola, à Tanzânia, ao Uganda, à Nigéria e ao Quénia, junto das classes médias emergentes.~
Obesity Was Rising as Ghana Embraced  Fast Food. Then Came KFC - NYT
Como refere o NYTThe company brings the flavors that have made it popular in the West, seasoned with an intangible: the symbolic association of fast food with rich nations”, levando as classes médias a consumirem, produtos processados ricos com alto teor de sal, açúcar e gordura.

À medida que a globalização se expandiu as classes médias do hemisfério sul, modificaram os seus estilos de vida, tornando-se mais sedentárias e obesas. Os dados recentes do Global Burden Disease mostram que uma alimentação inadequada é responsável por 1 em cada 5 mortes em todo o mundo, e que no Gana a obesidade passou de 2% em 1980 para 13% em 2016.
Global Burden Disesase Ghana

Também um estudo citado no NYT e publicado na BMC Medicine (aqui) confirma o aumento crescente da obesidade nas mulheres ganesas dos centros urbanos, onde já atinge os 34% em comparação com as mulheres do meio rural onde atinge os 8.3%.

Num país em desenvolvimento com cerca de 28 milhões de pessoas, com uma economia em expansão alavancada na exploração do petróleo, com um PIB per capita $3.880 e com bolsas de pobreza, a população fica à mercê das mudanças nos padrões alimentares provocados pela expansão das cadeias de comida rápida de KFC é exemplo. No Gana os medicamentos são caros, a cobertura de saúde não é universal, faltam os profissionais de saúde e os dispositivos para monitorizar a diabetes não são acessíveis, como se isso não fosse bastante uma refeição tipo da KFC, depois de preparada com óleo de palma faz ultrapassar numa única refeição o consumo diário recomendado de sal e açúcar.
Neste contexto é necessário que os diversos atores sociais atuem sobre os “determinantes comerciais da saúde” de forma a contrariar uma nova crise de saúde pública nos países de renda média ou baixa do hemisfério sul.

domingo, 15 de outubro de 2017

ACESSO A CLÍNICAS DE ABORTO NOS EUA, DESIGUALDADES GEOGRÁFICAS - O MUNDO RURAL PERDE

De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists (aqui), o aborto seguro e legal é um componente necessário dos cuidados de saúde prestados às mulheres, um direito e uma questão de saúde pública na opinião da American Public Health Association, (aqui)denunciando ambas as organizações as restrições legislativas impostas, tanto a nível federal como a nível estadual, as restrições financeiras públicas e privadas ao funcionamento das clínicas de aborto nos Estados Unidos (EUA) e a violência exercida sobre os profissionais de saúde pelos grupos contrários ao aborto.

Para além destas barreiras ao acesso, questões como o estigma sobre as mulheres que recorrem ao aborto (42% das gravidezes não planeadas nos EUA - 2,8 milhões em 2011 - terminam em aborto), a pobreza e as dificuldades económicas são desde há muito conhecidas como causas de desigualdades no acesso ao aborto seguro e legal elevando o risco de pobreza e violando os direitos de cidadania.

Neste contexto um grupo de investigadores do Instituto Guttmacher procurou estudar a desigualdade espacial no acesso às clínicas de aborto nos Estados Unidos, uma vez que estudos anteriores realizados no Canadá, na Nova Zelândia e na Austrália tinham concluído que a maioria das mulheres que recorriam ao aborto tinham recursos financeiros limitados, apresentando dificuldades acrescidas quando viviam em áreas rurais, uma vez que tinham dificuldades em suportar as despesas com as viagens, a perda de dias de trabalho e as estadias.
Deaigualdade geográfica nos EUA - distância a uma Clínica de Aborto

O estudo agora publicado na revista Lancet de 03 de Outubro, “Disparities and changeover time in distance women would need to travel to have an abortion in the USA: a spatial analysis” confirmou os estudos anteriores e encontrou dísparidades espaciais persistentes no acesso das mulheres ao aborto nos EUA, que no entender dos autores podem ser aplicáveis em outros países de renda alta.

De acordo com o estudo em 2014, as mulheres nos EUA tiveram que viajar uma distância média de 17 a 36 km para chegar à clínica de aborto mais próxima, embora 20% das mulheres tivessem que viajar 46 a 68 km ou mais. Distância que pode alcançar os 280 km ou mais nos estados do centro dos Estados Unidos, em particular nos estados de Montana, Wyoming, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nebrasca, Kansas e Texas, em áreas com grandes distâncias de viagem em alguns estados que fazem fronteira com o Canadá (Minnesota e Michigan), no Alasca e em bolsas na Califórnia, Nevada, Utah, Idaho e Missouri, afetando as zonas menos povoadas e as populações rurais em particular.


O estudo confirma assim que as disparidades espaciais devem ser consideradas como uma barreira ao acesso ao aborto seguro e legal nos EUA, a par das restrições legislativas impostas em alguns estados, do estigma, e das restrições financeiras podem impedir uma mulher de ter um aborto seguro e legal, independentemente da distância. 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ESPERANÇA DE VIDA À NASCENÇA - DIVISÃO NORTE - SUL

A esperança de vida é maior a Ocidente da Europa do que no Centro e no Leste, menor no Norte dos países a Norte e menor nos países do Sul da Europa.(aqui)

A esperança de vida aumentou mais de 6 anos nos Estados membros da União Europeia desde 1990, passando de 74,2 anos em 1990 para 80.6 anos em 2015, mas continuam a existir desigualdades, tanto entre países como no interior deles.(aqui)
Na União Europeia por regiões, os TOP 10 das regiões com esperança de vida mais alta e mais baixa. (aqui)


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

SMARTPHONES - DESIGUALDADES NA ATIVIDADE FÍSICA ENTRE PAÍSES E GÉNERO

Num estudo recentemente publicado na revista Nature, “Large-scale physical activity data reveal worldwide activity inequality”, um grupo de investigadores da Universidade de Stanford dedicados ao estudo da "Activity Inequality" , liderados por Jure Leskovec e Scott Delp, procurou perceber os princípios que governam a atividade física e a sua variabilidade na população.

Aproveitando a vasta utilização de aplicações instaladas em smartphones que rastreiam a atividade física dos seus utilizadores, os investigadores analisaram 68 milhões de dias de atividade física referentes a smartphones de 717.527 de pessoas em 111 países em todo o mundo, definindo um novo risco de saúde pública que denominaram de desigualdade de atividade. 
O estudo para além de confirmar que a desigualdade na atividade física é um bom preditor da prevalência da obesidade, uma vez que nos países onde essa desigualdade é maior são também os países onde a obesidade é mais prevalente, revelou ainda que o género desempenhava um papel influente nas desigualdades na atividade física, mostrando que para além da informação já anteriormente recolhida em estudos prévios de que os homens caminham mais do que as mulheres, existe também uma variação de país para país no que se refere às desigualdades na atividade física com consequências negativas para as mulheres.

De acordo com os resultados publicados registaram-se diferenças significativas entre os passos medidos entre homens e mulheres por países, variando entre uma diferença de 4% na Suécia e 38% no Catar. (aqui)
/data/countries_with_gender_gap
Estas diferenças que habitualmente são justificadas pelos diferentes papéis na cultura de género entre homens e mulheres e por questões ambientais, devem também ser explicadas pelo assédio e pelo medo das mulheres andarem sozinhas pelas ruas em muitos países e cidades. (aqui)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

REDUÇÃO DOS CONSUMOS DE ÁLCOOL, TABACO E DROGAS ENTRE ADOLESCENTES - O EXEMPLO DO MODELO ISLANDÊS

De acordo com o último relatório do estudo internacional patrocinado pela OMS Growing up unequal: gender and socioeconomic differences in young people's health and well-being. Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) study:international report from the 2013/2014 survey que fornece informações sobre a saúde, o bem-estar, o ambiente social e comportamento de saúde crianças e jovens de 11, 13, 15 anos de idade de 42 países, decorrendo desde há 30 anos, a Islândia ocupa o primeiro lugar no ranking dos estilos de vida saudável.

A título de exemplo e no que se refere ao consumo de álcool, consumo de tabaco e consumo de cannabis os resultados são os seguintes: a % de jovens dos 15 "who have been drunk on two or more ocasions" caiu de 42% em 1998 para 6% em 2014, no que se refere à pergunta "who smoke at least once a week" a % de jovens caiu de 23% em 1998 para 3%, e no que respeita ao consumo de cannabis a % de jovens que já usaram cannabis "who have ever used cannabis" caiu de 23% em 1998 para 7%.

Também no que se refere ao Bullying, a Islândia também se encontra entre os países onde os jovens de 11 e 15 anos menos referenciam ter sido vítimas de bulliyng " who have been bullied at school at least two or three times a month in the past couple of mounths" 8% aos 11 anos e 2% aos 15 anos.

Estes bons resultados levaram a Mosaic uma revista independente dedicada a difundir as ciências da vida, que tem como critério editorial a reprodução e distribuição livres dos seus artigos desde que referenciada a sua autoria, a publicar um artigo no passado mês de Janeiro, republicado na imprensa internacional, no “The Independent”, na “The Atlantic”, e no jornal "El País" recentemente.

No artigo intitulado " Iceland knows how to stop teen substance abuse but the rest of the world isn’t listening" a Mosaic dá a conhecer na primeira pessoa a história da criação do ICSRA, o Centro Islandês de Análise e Investigação Social criado em 1999, com o objetivo de investigar e analisar os determinantes sociais da saúde, bem-estar e comportamento dos jovens, melhorar a qualidade de vida dos jovens, a sua saúde e bem-estar através de um processo de educação e mudança social, através de 2 projetos principais "Juventude na Islândia" e "Juventude na Europa" e do desenvolvimento do denominado " Modelo de Prevenção Islandês".
Este modelo centra-se numa intervenção comunitária, através de programas centrados na redução de  riscoS atrvés da arte, da música, da dança ou da atividade física, desenvolvidos a partir da escola e da comunidade, ao mesmo tempo que são fortalecidas as relações entre os pais e as escolas, e entre e os filhos.