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sábado, 15 de abril de 2017

CHOCOLATE NA PÁSCOA - MAS LIVRE DE ESCRAVATURA

Ao longo do século XX o chocolate transformou-se num negócio de bilhões de dólares. Em 2016 o negócio terá atingido 98.3 bilhões de dólares, prevendo o “ Global Industrial Chocolate Market” (aqui) publicado no início de 2017 uma taxa de crescimento anual de 3% para o período de 2017 a 2021.

Para alimentar a fabricação de chocolate, são produzidas anualmente cerca de 3.5 milhões de toneladas de cacau, 75% das quais no continente africano, a maior parte delas na Costa do Marfim (37%), no Gana (19%), na Nigéria (15%) e nos Camarões (7%), produzido por 5 a 6 milhões de produtores de cacau em todo o mundo e processados a nível mundial por quatro grandes multinacionais, a Barry Callebau, a Blommer Chocolate, a Cargill e a CÉMOI Group.

De acordo com as organizações não-governamentais como a “Slave Free Chocolate”, a Organização Internacional do Trabalho (aqui) ou a Universidade de Tulane (EUA) cerca de 2 milhões de crianças correm o risco de serem escravizadas na Costa do Marfim e no Gana, ao mesmo tempo que os pequenos produtores de cacau estão presos a profundos ciclos de pobreza, ganhando cerca de 0.24 a 0.48 euros por dia. Apesar de existirem leis internacionais que proíbem o trabalho escravo e o trabalho escravo infantil e dos maiores produtores de chocolate terem acordado em 2001 estabelecer um protocolo (Harkin-Engel) para acabarem até 2005 com a utilização de cacau proveniente de explorações que utilizassem trabalho escravo e trabalho escravo infantil, a situação mantém-se.
Num mercado dominado pela Mars, pela Mondeléz, pela Ferrero, pela Meiji e pela Nestlé (aqui), em 2002 o jornalista holandês Teun Van Keuken durante um trabalho de investigação sobre o trabalho escravo na produção de cacau e tendo verificado que nenhum dos grandes produtores internacionais estavam a aplicar Protocolo Harkin-Engel e a respeitar os acordos celebrados em 2001 que tinha como objetivo a eliminação do trabalho escravo em 2005, decidiu tomar uma decisão desconcertante, processar-se a si próprio por cumplicidade com a escravatura, fato importante num país onde o cacau e o chocolate desempenham um papel fulcral na sociedade holandesa desde que no século XIX os holandeses descobriram o processo de separação da manteiga de cacau a partir do grão de cacau tornando Amesterdão no maior porto do mundo no comércio de cacau e aquele país no maior importador mundial de cacau e no 2.º maior da indústria de processamento de cacau.

Teun (Toni) comeu algumas tabletes de chocolate e de seguida entregou-se às autoridades como cúmplice de crime de escravatura, mas o Ministério Público holandês não o iria processar. Toni não desistiu e foi à procura de testemunhas vítimas do consumo de chocolate, encontrou 4 meninos que trabalharam como escravos numa fazenda de cacau na Costa do Marfim e se dispuseram a testemunhar contra si e outros 2.136 consumidores de chocolate que entretanto se tinham juntado a Toni no seu processo. Em 29 de novembro de 2005, quando ainda aguardava a decisão do juiz, Toni decidiu dar o exemplo e fazer 5.000 tabletes de chocolate de Comércio Justo, tinha nascido a Tony´s Chocolonely (aqui).

Hoje a Tony´s Chocolonely tem 5% da quota de mercado na Holanda, expandiu a sua atividade para os Estados Unidos e está entre as marcas de chocolate que praticam comércio justo (aqui). 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

ÓLEO DE PALMA - GRANDES MARCAS COMO UNILEVER, NESTLÉ, PALMOLIVE OU PROCTOR AND GAMBLE - TRABALHO FORÇADO E TRABALHO INFANTIL

A Amnistia Internacional publicou no dia 30 de novembro o relatório “THE GREAT PALM OIL SCANDAL: LABOUR ABUSES BEHIND BIG BRAND NAMES”. Este documento aborda o trabalho nas plantações de dendenzeiros ou palmeiras de dendê, que fornecem óleo para a Wilmar, o maior produtor mundial de óleo de palma e de ácido dodecanóico ou ácido láurico e principal fornecedor de empresas como: a Colgate-Palmolive, a Unilever, a Nestlé, a Proctor & Gamble, a Kellogg’s, a Reckitt Benckiser, a AFAMSA, Archer Daniels Midland Company (ADM)e a Elevance. 

The great palm oil scandal: labour abuses behind Big Brands names
Para além da sua utilização como óleo de cozinha, o óleo de palma, e alguns dos seus componentes, é empregue em cerca de 50% dos produtos de consumo, desde produtos alimentares como o pão embalado, os cereais, a margarina, os gelados, ou os biscoitos, aos produtos de limpeza e cosmética, como os detergentes, os champôs, os sabonetes, os batons e aos biocombustíveis para os automóveis e para as fábricas, tendo a sua produção dobrado nos últimos 10 anos. A procura mundial tem vindo a crescer rapidamente, passando de 15 milhões de toneladas em 1990 para 61 milhões em 2015, tendo como principais importadores a Índia, a União Europeia e a China, que combinados representam 1/3 do total (20 milhões em 2016).

Produzido principalmente na Indonésia, onde atinge cerca de 35 milhões de toneladas/ano, 45% da produção anual, emprega cerca de 3 milhões de indonésios, muitos deles migrantes internos, representando cerca de 1/3 da mão-de-obra mundial em todo o sector desde as plantações da palmeira até à refinação do óleo.
The great palm oil scandal: labour abuses behind Big Brands names

Produzidas em extensas plantações, as palmeiras do óleo podem crescer até 20 metros de altura, tendo uma vida média de 25 anos. As árvores começam a dar os primeiros cachos de frutos frescos por volta dos três anos, atingindo o pico de produção entre o 6.º e o 10.º ano de produção. Os cachos que podem pesar entre 10 a 20 Kg têm de ser transportados num prazo de 24 horas até aos lagares de extração, sendo posteriormente transportado para as refinarias da Wilmar onde é posteriormente processado. O trabalho de colheita dos frutos de palma é extremamente exigente do ponto de vista físico, uma vez que é totalmente manual. Os trabalhadores tem que cortar os cachos de cerca 12 kg/média a 20 metros de altura (com uma longa haste com uma foice no final, Egrek) e transportá-los em carros de mão para os pontos de recolha.
The great palm oil scandal: labour abuses behind Big Brands names
De acordo com a investigação da Amnistia Internacional, em muitas plantações que fornecem a Wilmar, os trabalhadores são submetidos a trabalho forçado, expostos à utilização de produtos químicos tóxicos e a baixos salários (2.5 dólares/dia). As mulheres são discriminadas, empregues como trabalhadoras ocasionais, sem qualquer proteção social ou de saúde. Submetidos a duras condições de trabalho e a tarefas fisicamente muito exigentes, os trabalhadores são pressionados a trabalhar para além do seu horário, obrigados a cortar, transportar, pulverizar e recolher grandes quantidades de frutos de palma para cumprir os objetivos, sendo ainda penalizados se forem surpreendidos a apanhar os frutos de palma do chão ou colherem os frutos verdes. Face aos elevados objetivos traçados pelas empresas e ao trabalho esgotante a que são submetidos para conseguirem um salário suficiente, muitos trabalhadores trazem as suas famílias para os ajudarem. A maioria das crianças ajudam os seus pais à tarde, depois de saírem da escola, nos fins-de-semana e nos feriados, carregando sacos de 12 a 25 kg, expostos aos produtos químicos e a um ambiente perigoso.

De acordo com o relatório apresentado pela Amnistia Internacional, 9 grandes empresas mundiais, Colgate-Palmolive, a Unilever, a Nestlé, a Proctor & Gamble, a Kellogg’s, a Reckitt Benckiser, a AFAMSA, Archer Daniels Midland Company (ADM)e a Elevance, utilizam o óleo de palma produzido pela Wilmar com base no trabalho forçado e no trabalho infantil, ao contrário do que sustentam publicamente sete delas (exceção da Elevance e AFAMSA) que  se apresentam como empresas que respeitam os direitos humanos e utilizam “óleo de palma sustentável” produzido de acordo com as regras internacionais estabelecidas pela Organização Internacional do Trabalho.
Como diz a Amnistia Internacional, os abusos descobertos nas atividades de produção do óleo de palma pela Wilmar, não são incidentes isolados, mas fazem das práticas de trabalho utilizados pela Wilmar.

Algo não está bem quando nove multinacionais, que tiveram como receita conjunta de 325.000 milhões de dólares em 2015, não tomam medidas para abordar o trato desumano que recebem os trabalhadores da produção de óleo de palma, submetidos a trabalho forçado, a trabalho infantil, a baixos salários, sem respeito pelas leis do trabalho da Indonésia e da OIT.


A Amnistia Internacional afirma que fará campanha para pedir às empresas que digam aos seus clientes se o óleo de palma que contêm os seus produtos mais populares como os gelados Magnum, o dentífrico Colgate, os cosméticos Dove, o desodorizante AXE, a sopa Knorr, os KitKat, o champô Panténe, o Ariel, o creme Clerasil, as Pringle e muitos outros provém da Wilmar na Indonésia, que utiliza trabalho forçado e trabalho infantil (aqui).

sábado, 30 de julho de 2016

30 JULHO - DIA MUNDIIAL CONTRA O TRÁFICO HUMANO

Em 2013, a Assembleia Geral das Nações Unidas designou o dia 30 de Julho como o Dia Mundial Contra o Tráfico de Pessoas, como o dia em que é necessário "aumentar a conscientização sobre a situação das vítimas de tráfico de seres humanos e de promover e proteger os seus direitos." (aqui)
O tráfico de seres humanos é hoje conhecido como “ o comércio de escravos dos tempos modernos”. A escravatura moderna é hoje um crime oculto, que está de baixo dos nos nossos olhos, mas é por muitos ignorada ou desconsiderada, parece coisa do passado e não dos nossos dias, no entanto está em toda a parte. É um crime que explora as mulheres, as crianças e os homens para vários fins, incluindo o trabalho forçado e o sexo. De acordo com os dados da ONG “Free the Slaves“ estima-se que existam 38.5 milhões de pessoas escravizados no mundo, sendo 78% delas (21 milhões) vítimas de trabalho forçado e originando anualmente 150 $ biliões de dólares americanos em lucros ilícitos para os traficantes. (aqui)

Todos os países são afetados pelo tráfico, sejam como países de origem, sejam como países de trânsito ou de destino. Na Europa a situação dos refugiados, e em particular das crianças, merece uma atenção especial, uma vez que em 2013, cerca de 120 000 requerentes de asilo na UE eram menores, representando mais de um ¼ do número total dos requerentes de asilo e em 2015 havia quase 90.000 crianças desacompanhados entre os requerentes de asilo da União Europeia, estando desaparecidas cerca de 10.000, desde que começou a crise de refugiados. (aqui)


Na União Europeia de acordo com o último relatório do Eurostat “Trafficking in human beings” referente a 2014, 65% das vítimas registadas eram cidadãos da União Europeia e 80% das vítimas registadas eram mulheres, 60 % das vítimas eram traficadas para escravatura sexual, das quais 95% eram mulheres e 71% das vítimas registadas para escravatura laboral eram homens.

Em Portugal foram sinalizados em 2015, 193 pessoas vítimas de Tráfico de Seres Humanos, 135 cidadãos no território nacional e 58 cidadãos portugueses no estrangeiro. Destes 18 menores e 116 eram adultos. (aqui)


O Tráfico de Pessoas é um crime muitas vezes oculto, muitas vezes é ignorado ou desconsiderado, como aquele de que foi vítima um cidadão angolano escravizado durante 26 anos numa herdade do Alentejo (aqui), hoje já falecido, acolhido em 2013 num dos 3 centros de acolhimento em Portugal (aqui)(aqui).  O combate ao tráfico de pessoas humanas exige das autoridades nacionais e internacionais exige sem dúvida políticas coordenadas e medidas consistentes, mas exige também da comunidade, o redobrar de esforços para identificar e proteger as vítimas e interromper as redes criminosas.



sexta-feira, 29 de julho de 2016

O BRILHO DA MICA: TRABALHO INFANTIL E TRABALHO SEM DIRETOS

Sabia que a beleza, o luxo e o glamour, de lábios, unhas e olhos a brilhar, dos carros cintilantes à luz do sol são originados pelo uso da mica, palavra de origem latina micare que significa brilhar ou piscar e que dá o nome a um grupo de minerais únicos na natureza devido às suas propriedades.

Inerte (não reage com a água, ácidos, ou solventes de petróleo) cristalina, leve, flexível e forte, capaz de resistir a altas temperaturas e às alterações da temperatura, capaz de suportar tensões elevadas e isolar com baixa perda de potência, capaz de absorver ou refletir a luz, permitindo efeitos decorativos e proteção contra os raios UV, a Mica tornou-se num ingrediente das indústrias de beleza, da construção, aeroespacial ou automóvel. Usada como pigmento perolizado no sector das tintas e revestimentos, nos cosméticos, como isolante na indústria de material elétrico, como elemento dos pneus de borracha, embraiagens, e pastilhas de travões, como produto de enchimento em produtos cosméticos e de higiene pessoal e na indústria da construção (usada regularmente como agente de enchimento de cimento de fibra e placas de gesso), na indústria do petróleo como elemento dos líquidos de perfuração utilizados em poços de petróleo.
Uso da Mica
Extraída principalmente na Índia e na China, ¾ da mineração ocorre na Índia nos estados de Jharkhand e Bihar, onde 90% da produção é extraída em minas ilegais, representando 25% da produção mundial. A mica extraída na Índia é depois exportada para a China (67%), Japão (9%), Bélgica (7%) e EUA (6%).


Pela área de mineração (uma área de 75 por 20 kms nos estados de Jharkhand/Bihar) espalham-se 300 aldeias, onde vivem cerca de 270.000 pessoas muito pobres, 52.000 delas crianças com menos de 7 anos, que trabalham na sua maioria em minas ilegais, onde os processos de mineração são de trabalho manual intensivo. A extração envolve a utilização de ferramentas simples, explosivos e martelos de ar comprimido, ocorre principalmente em pedreiras com buracos apertados de cerca de 10 metros de profundidade abertos pelos aldeões. A rocha é batida repetidamente com um martelo “cobbing” para remover a ganga, minerais como o quartzo, feldspato, e separá-los da mica. Segue-se o processo da separação, onde a mica é transformada em folhas finas, por mulheres, que utilizam facas afiadas para separar a mica na espessura necessária e as tesouras para remover as arestas irregulares. De acordo com os dados da organização não-governamental, SOMO/Terre des Hommes, (aqui) cerca de 20.000 crianças são empregues nos trabalhos de mineração e cobbing, apesar de estar proibida pela legislação laboral da Índia e da Organização Internacional do Trabalho e de US Department of Labor o considerarem como uma das piores formas de trabalho infantil no mundo.

The lost childhood of India's mica minors

Expostos a desmoronamentos, a colapsos das galerias, os trabalhadores das minas de mica, estão ainda expostos ao pó da sílica e do quartzo associados à silicose, à DPOC e ao cancro do pulmão. Vítimas de baixos salários por viverem num país pobre onde o salário médio de um mineiro ronda os € 3.7 por dia, os trabalhadores das minas de mica recebem ainda menos, cerca de € 1.7 a € 2.5 por dia conforme trabalhem fora ou dentro da mina, podendo uma criança de 5 anos receber € 0.3 dia.
Apesar dos esforços do governo da Índia (aqui), do trabalho das ONG (aqui), e do compromisso assumido por algumas das empresas produtoras e utilizadoras de mica para combaterem o trabalho infantil e promoverem as condições de trabalho e sociais nas áreas de mineração sucedem-se as denúncias da utilização por parte da indústria automóvel ou cosmética de fornecedores de matéria-prima ligados ao trabalho infantil (aqui) (aqui)(aqui).

O Brilho da Mica, não é magia é apenas exploração.







domingo, 13 de março de 2016

ROUPA BARATA - "NÃO É MAGIA. É APENAS EXPLORAÇÃO"

Enquanto preparava um post sobre “trabalho precário como determinante social de saúde” na sequência das afirmações do presidente da CIP, António Saraiva à Antena 1 e ao Diário Económico, defendendo que “ Mas mais vale ter trabalho precário do que desemprego” deparei-me com um trabalho do jornal Guardian de hoje, 13 de Março intitulado “ Como pode o LIDL vender jeans a 7.60 euros (5.99£)? Fácil...pagar às pessoas 30 cêntimos (23p) à hora para fazê-los”. Ao longo do trabalho o jornalista descreve os custos da produção de calças numa fábrica do Bangladesh com base num estudo da Bloomberg de 2013 (figura abaixo)concluindo que os preços são esmagados ao longo de toda a cadeia de produção, em particular os salários dos trabalhadores.




Com a interrupção do crescimento económico mundial em meados dos anos 70, depois das duas crises do petróleo, a recessão económica, e a disseminação de novas tecnologias vieram permitir um conjunto de transformações nos processos de produção, enquadrados por novas políticas económicas e sociais neoliberais que vieram a transformar as relações entre empregadores e trabalhadores, nos países de economia avançada, levando à desregulação da contratação coletiva, favorecendo a contratação individual de trabalho, privatizando os serviços públicos, flexibilizando os postos de trabalho, disseminando o trabalho temporário, provocando despedimentos, achatando ou diminuindo o tamanho das organizações (downsizing) e terceirizando o trabalho (outsourcing).

As indústrias tornaram-se mais fragmentadas e dispersas geograficamente, criando redes industriais caraterizadas pela subordinação e dependência, das empresas periféricas às empresas-mães, absorvendo as mais periféricas os maiores risco do mercado e oferecendo piores condições de trabalho. A internacionalização da produção e a deslocalização dos processos produtivos foi feita sobretudo para os mercados, onde o trabalho tem menos custos e onde os trabalhadores não tem direitos.

Três anos passados sobre o desmoronamento do edifício Rana Plaza no Bangladesh, onde morreram mais de 1.100 trabalhadores, onde várias fábricas de roupa trabalhavam para marcas como a Primark, Tommy Hilfiger, C&A, Disney, GAP, H&M, Auchan, Benetton, Carrefour, El Corte Ingles, Inditex, Kappa, Mango, entre outras, pouco ou nada mudou (Aqui), mantém-se os mesmos riscos para a segurança no locais de trabalho e continua a exploração dos trabalhadores, parafrasenado o jornalista do Guardian.


Não é magia. É apenas exploração”


sexta-feira, 11 de março de 2016

PÁSCOA - CHOCOLATE - TRABALHO ESCRAVO - TRABALHO INFANTIL

Os ovos têm estado associados desde sempre à fertilidade, ao renascimento e ao início, tendo a cultura cristã contribuindo para a sua associação à festa da Páscoa. A partir do século XIX a indústria passou a produzi-los em chocolate, primeiro em chocolate negro maciço e mais tarde em chocolate fino depois da descoberta holandesa que permitiu a separação de manteiga de cacau a partir do grão de cacau em 1828 e a introdução de um cacau puro pela Cadbury Brothers em 1866. 

Company
Net Sales 2015 (US$ millions)
Mars Inc (USA)
18,400
Mondelēz International (USA)
16,691
Nestlé SA (Switzerland)
11,041
Ferrero Group (Luxembourg / Italy)
9,757
Meiji Co Ltd (Japan)
8,461*
Hershey Co (USA)
7,422
Chocoladenfabriken Lindt & Sprüngli AG (Switzerland)
4,171
Arcor (Argentina)
3,000
Ezaki Glico Co Ltd (Japan)
2,611*
Yildiz Holding (Turkey)
2,144
 Reference:
Candy Industry, January 2016

Com a industrialização do Chocolate no século XX o consumo em massa iniciou-se a partir da I Guerra Mundial, passando a Páscoa a ser uma das principais ocasiões em que a indústria do chocolate mais aposta, pelo menos em algumas regiões onde este hábito se tornou mais frequente, a exemplo do Reino Unido cada criança pode receber no período da Páscoa até 2,5 kg de ovos de chocolate no período da Páscoa (aqui) ou cerca de 71 euros em ovos de chocolate (aqui). Mesmo em Portugal (aqui), país onde se consome menos chocolate do que no Reino Unido, 1.7 Kg por pessoa contra 7.6 Kgs no Reino Unido é habitual oferecer chocolate e ovos de chocolate pela época da Páscoa que agora se avizinha.
Mas quando comprar chocolate para oferecer lembre-se de alguns fatos:

Apesar de existirem leis internacionais que proíbem o trabalho escravo e o trabalho escravo infantil e dos maiores produtores de chocolate terem acordado em 2001 estabelecer um protocolo para acabarem até 2005 com a utilização de cacau proveniente de explorações que utilizassem trabalho escravo e trabalho escravo infantil, um recente trabalho da Universidade de Tulane para US Department of Labour e para Organização Internacional do Trabalho estimou que “ almost 96 percent of the 2.12 million child laborers in cocoa production inthe two countries were involved in hazardous work in the 2013/14 harvest season, representing a 13 percent increase from the 2008/2009season. Despite these increases, children working in cocoa productionwere less likely to be exposed to multiple hazards in 2013/14 than in2008/09. Also, the number of children working in cocoa attending school rose from 59 percent to 71 percent in Côte d’Ivoire and from 91 percent to 96 percent in Ghana.
Em 2015 o Tribunal Supremo dos Estados Unidos deu como procedente queixas contra 3 dos principais produtores mundiais, Mars, Nestlé e Hershey por continuarem a “ turna blind eye" to human rights abuses by cocoa suppliers in West Africa while falsely portraying themselves as socially and ethically responsible.”

Se na Páscoa oferecer chocolates saiba quem são as grandes marcas que continuam a utilizar trabalho escravo (aqui) e as marcas éticas aqui)






quinta-feira, 19 de novembro de 2015

TABACO E DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE - OS FACTOS

O tabagismo é um dos mais importantes fatores de risco modificáveis para os resultados em saúde e uma das principais causas de doença e de morte.


A nível mundial o consumo do tabaco é uma das maiores ameaças à saúde pública mundial, matando cerca de 6 milhões de pessoas por ano. Mais de 5 milhões dessas mortes são resultado direto do consumo do tabaco, enquanto mais de 600.000 são o resultado de exposição passiva ao fumo do tabaco.

Destes quase 80% do bilhão de fumadores do mundo vivem em países de renda baixa ou média. Nestes países a carga de doenças e de mortes relacionadas com o tabaco é enorme, provocando morte prematura entre os fumadores, aumentando os custos em saúde, privando as suas famílias de rendimentos e prejudicando o desenvolvimento económico.

Como se isto não fosse suficiente, em muitos países as crianças são utilizadas para trabalhar nas explorações de tabaco, para melhorar os rendimentos familiares, ficando expostas à doença do “tabaco verde” que é causada pela nicotina que é absorvida através da pele a partir do tratamento das folhas de tabaco e a indústria tabaqueira dirige o seu marketing e publicidade para os grupos populacionais de mais baixos rendimentos, para os sem-abrigo, para os grupos minoritários e para os mais jovens, de que é exemplo o projeto SCUM (sub-culture urban marketing) da R. J. Reynolds dirigido aos sem-abrigo e à comunidade LGBT.



Também nos países industrializados (de renda alta) o consumo do tabaco é um bom exemplo das disparidades no consumo do tabaco e das desigualdades em saúde. Ao longo dos últimos anos ficámos a conhecer a distribuição dos consumidores para além da sua relação com a idade, o sexo, a raça, a etnia, o género ou o estado de saúde mental. Diversos estudos (aqui) e (aqui) demonstraram uma maior prevalência do consumo do tabaco, entre os grupos de população com menor escolaridade, entre os trabalhadores menos qualificados e com profissões com menor autonomia.

Infelizmente em Portugal continuamos sem dispor de informação que relacione a prevalência do consumo do tabaco com a ocupação profissional e o rendimento. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O AMARGO DOCE DO CHOCOLATE - DESIGUALDADES SOCIAIS – ESCRAVATURA – TRABALHO INFANTIL

Ao longo dos últimos 100 anos o chocolate transformou-se num negócio de 110 bilhões de dólares americanos. Todos os anos são produzidas cerca de 3.5 milhões de toneladas de cacau, 75% das quais no continente africano, a maior parte delas na Costa do Marfim (37%), no Gana (19%), na Nigéria (15%) e nos Camarões (7%). Mas se a grande maioria da produção de cacau se produz em África, esta apenas consome 3% do chocolate produzido no Mundo e a maioria dos milhares de pequenos agricultores africanos,entre os quais 200.000 crianças, nunca provaram o gosto do chocolate.


Num mercado controlado em cerca de 40% pela Mars, pela Mondelez e Nestlé, os pequenos agricultores são forçados a receber apenas 3.5% a 6.4% de uma barra chocolate. 
Cocoa-nomics & Chocolate - CNN Freedom Project