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domingo, 28 de fevereiro de 2021

ATLAS MORTALIDADE ESPANHA 1996-2015 - REVELA DESIGUALDADES GEOGRÁFICAS BAIRRO A BAIRRO

Foi recentemente atualizado o Atlas da Mortalidade em Espanha, uma aplicação disponível na web, que mostra os principais resultados do projeto de investigação MEDEA3, intitulado “Desigualdades socioeconómicas e ambientais na distribuição geográfica da mortalidade em (23) grandes cidades de Espanha entre 1996-2015”.

O novo Atlas da Mortalidade, mais detalhado que os 2 anteriores, mostra profundas desigualdades entre os moradores de uma mesma cidade, às vezes apenas separados por uma rua.

De acordo com os resultados apresentados, verifica-se sempre o mesmo padrão, que corresponde à privação socioeconómica e ao gradiente social.

Assim o risco de morrer pelas 15 causas analisadas: SIDA, cancro do estômago, cancro do cólon e reto, cancro do pulmão, cancro da mama, cancro da próstata, cancro da bexiga, cancro hematológico, Diabetes, Demência, Doença cardíaca isquémica, Doença cerebrovascular, DPOC, Doenças fígado e cirrose, Suicídio e lesões autoinfligidas, Acidentes de tráfego, concentram-se nos bairros mais pobres. Nos homens são mais relevantes o cancro do pulmão, a DPOC e a SIDA, nas mulheres a Diabetes e em ambos os sexos, as doenças do fígado e a cirrose e o cancro do estômago.

Os autores analisaram um milhão de mortes em 26 cidades espanholas entre 1996 e 2015, agrupando as mortes por setores censitários, pequenas áreas onde vivem cerca de 1.500 residentes que votam no mesmo colégio eleitoral. O atlas permite visualizar os efeitos da desigualdade socioeconómica em função dos rendimentos, da habitação, do desemprego e da marginalização social.

Os dados recolhidos através de um índice de privação, confirma o resultado de outros estudos, associando os baixos salários, a habitação e os trabalhos a uma pior alimentação, a uma menor atividade física e um maior consumo de tabaco e álcool.

Efeito da privação na mortalidade por DPOC - Bilbao 

Algumas ruas funcionam como uma fronteira entre dois mundos diferentes, um de cada lado da calçada, confirmando trabalhos anteriores já divulgados. (aqui) (aqui) (aqui)

No passado dia 20 de fevereiro a edição do jornal El País, num extenso trabalho dá a conhecer 10 exemplos de bairros que espelham bem o papel dos determinantes sociais nas desigualdades em saúde (aqui).

Terminamos citando Michael Marmot “Why treat people and send them back to the conditions that make them sick”

segunda-feira, 4 de maio de 2020

“A POBREZA É O PRINCIPAL DETERMINANTE DE DOENÇA”. ENTREVISTA A HENRIQUE BARROS - EXPRESSO


Tem trabalhado em casa, apesar da perda social que considera ser a “invasão do domicílio pelo espaço laboral”. Lá não encontra ninguém, “nem o vírus”. Entre as reuniões espelhadas no ecrã do computador, o epidemiologista e professor, de 62 anos, coordena o Conselho Nacional de Saúde, órgão consultivo do Governo na linha da frente da gestão da crise sanitária, e é presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Vive agora um dos maiores desafios profissionais da carreira. Não tem medo, mas respeito suficiente pela ciência para constatar que se lhe pede muitas vezes o que ela não pode oferecer.

Entrevista ao Expresso 30.04.2020

Numa crise de saúde pública como esta, é mais determinante a mortalidade de um vírus ou a sua propagação?

É uma discussão interessante, essencialmente filosófica. Tendemos a dar funcionalidades aos agentes. “O vírus faz isto porque quer aquilo." Mas, que eu saiba, nunca ninguém falou com ele. Pressupomos, numa lógica darwiniana, existir um interesse competitivo que leva um agente a não ter qualquer vantagem em dar cabo dos hospedeiros. Razão pela qual, quando o agente chega, tem uma virulência maior do que aquela com que vai sobreviver. Por isso, no início, as pandemias têm um caráter mais grave.

Foi coordenador nacional do combate à sida em Portugal. Considera este vírus simpático?

A covid-19 tem uma alta capacidade de contágio, transmite-se na ausência de sintomas, há várias gerações de infeção que se sucedem com relativa rapidez. Não me parece nada simpático. Depois de conhecido, o VIH é potencialmente mais simpático, se pensarmos que temos formas de acabar com as infeções transmitidas de mãe para filho e através do sangue. Só não controlamos melhor as infeções transmitidas sexualmente porque não gostamos de usar preservativo. Portanto, o coronavírus parece-me mais antipático hoje em dia. Agora, se pensarmos que, por ano, morrem mais de 700 mil pessoas com VIH, 40 anos depois do surgimento da doença, o VIH é muito mais antipático.

É expectável que este novo coronavírus, daqui a 40 anos, seja mais bem controlado?

Pode acontecer que, de tempo a tempo, apareça uma estirpe particularmente violenta, como acontece com o vírus da gripe. Mas ninguém pode honestamente dizer o que vai acontecer sequer no próximo ano.

Aproximam-se decisões complexas, que põem em cima da mesa um balancear entre saúde pública e economia. O que é presumível que se comece por desbloquear?

Os italianos estão a pensar abrir dois tipos de lojas o mais rapidamente possível: as livrarias e as de roupa para bebé. Por um lado, as pessoas precisam de ler. Por outro, as mães e os pais italianos cujos filhos continuam a nascer querem comprar roupa e não têm onde. Vamos ter de perceber até onde podemos ir e as alturas em que teremos de recuar um pouco, sem contar com o Governo para dizer “hoje fecha loja, amanhã abre loja”. Sabemos que a infeção em Portugal, como noutros países, está numa linha descendente em resposta a um conjunto de medidas. Mas as decisões de natureza social e económica são essenciais nas escolhas sanitárias.

Pelo que sabemos da História, a forma de vencer algumas pandemias foi manter alguma normalidade social, por forma a criar imunidade de grupo. Desta vez o mundo optou por não o fazer. A vida humana é agora mais valiosa?

Hoje em dia, como é evidente, a vida vale muito mais. E sobretudo há uma tensão muito grande entre o valor económico e o valor da saúde. Só que às vezes parece que as pessoas se esquecem de uma certeza: não há boa saúde sem boa economia.

E a pobreza económica gera pior saúde?

A pobreza é o principal determinante de doença. Podemos não saber muito sobre o vírus, mas sobre a relação da pobreza com a saúde temos conhecimento inequívoco. Podemos não gostar de falar disto, podemos sentir-nos impotentes para mudar a situação, mas não vale a pena fazermos de conta que não o sabemos.

Neste momento preocupa-o mais o vírus ou as consequências socioeconómicas que ele acarreta?

Não consigo responder. Podemos estar a prejudicar pessoas com necessidade de recorrer aos serviços de saúde, que não o fazem por medo ou porque esses mesmos serviços, focados na resposta aguda ao coronavírus, estão menos “amigáveis”. Este é um excelente exemplo de que há um balanço a fazer.

Na saúde mental - de que não se tem falado muito - qual é o prognóstico?

Uma preocupação muito sublinhada nas discussões do Conselho Nacional de Saúde tem sido não esquecermos, de um momento para o outro, as pessoas com problemas de saúde mental. Por outro lado, estas medidas excecionais têm impacto na saúde mental. Do que conhecemos, poderão aumentar os conflitos e as formas de violência interpessoal. Vai haver gente a precisar de ajuda profissional especializada e temos de estar preparados.

O "El País" chamou-nos os suecos do sul da Europa. Conhecendo o sistema de saúde sueco, porque foi lá investigador, até que ponto as medidas mais frouxas da Suécia caberiam num país como Portugal?

Quando trabalhei na Suécia, nunca fui ao quarto de banho do hospital que não tivesse papel, sabonete e toalha de limpar as mãos. Se é dessa Suécia que está a falar, gostaria que fizéssemos o mesmo. Mas não podemos mudar em meses séculos de cultura. Um japonês não se cumprimenta com a mão, baixa a cabeça. Não há sociedades melhores ou piores.

Estava a referir-me às medidas de combate à covid-19...

Na China, que foi brutalmente autoritária, entre o momento do anúncio do cerco sanitário a Wuhan, por volta das 2h da manhã, e o início da aplicação da medida, às 9h da manhã, cinco mil pessoas saíram da cidade. Se as pessoas não compreenderem as medidas, encontram sempre formas alternativas de tornear o problema.

As medidas aplicadas em Portugal foram as melhores para a sociedade?

Foram de certeza, porque não saberemos jamais se poderia ter sido de outra maneira. E olhando para o que se está a passar, tudo leva a crer que foi bem feito.

Disse que o tempo da informação científica não se podia confundir com o tempo da informação política.

O Governo - e muito bem - tomou as decisões que tinha de tomar. Ninguém pode honestamente dizer que há fundamentação científica para a generalidade delas.

O mundo pode chegar à conclusão de que esteve errado ao tomar certas atitudes?

É cedo para fazer esse balanço. Os políticos precisam de fazê-lo rapidamente e tomar atitudes. A ciência precisa de mais tempo. Convém não pedir à ciência aquilo que ela não pode dar. Mas começa a haver alguns sinais de que a informação vinda da China ter-nos-á levado a não considerar aspetos que um conhecimento mais profundo nos faria valorizar.

Como quais?

Aquando do SARS, em 2002, não houve este alarme todo que temos agora. Nos últimos 20 anos, o número de aeroportos da China multiplicou-se por mais de cinco vezes. O número de passageiros internacionais multiplicou-se mais do que essas vezes. Muita gente pensou que a situação seria parecida ao SARS, que ia haver alguma contenção local do problema. E é interessante sermos tão entusiasmados em relação à capacidade de contenção dos países daquela região e não nos perguntarmos porque diabo o vírus cá veio parar.

Houve medidas não tomadas no tempo devido?

É uma pergunta que se pode colocar. A infeção teve menos impacto em Pequim, que é a capital da China, do que em Milão. Se a contenção local tivesse sido feita como se diz que foi, esperávamos um vírus localmente contido.

Uma segunda curva é um cenário certo, por esta hora?

Ao raciocinarmos por analogia, se na China não houve segunda curva, porque haverá na Europa? Mas se me pergunta: ao abrirmos tudo, haverá um novo crescimento da infeção? Seguramente sim. Mas sairmos de casa não é só por si uma fatalidade. Voltando à experiência do VIH, a solução não foi deixar de ter relações sexuais, foi passar a ter relações sexuais com preservativo.

O nosso maior ganho, neste interregno, foi termos aprendido a defender-nos?

Gostaria de ser otimista, mas infelizmente, por exemplo, nos meios de comunicação social, gastamos mais tempo a falar do que não sabemos do que a usá-lo para atividades de caráter pedagógico.

Ainda lê notícias?

Sim. Mas noto os conteúdos opinativos pouco fundamentados. O relevo da opinião dos peritos é desvalorizado porque a opinião científica se deixou tingir por valores e escolhas que não têm nada de técnica. A ninguém interessa a minha opinião sobre construção civil ou sobre desporto motorizado.

A PANDEMIA DE COVID-19 APROFUNDA AS DESIGUALDADES SOCIAIS


Em pouco mais de 4 meses o COVID-19 tornou-se na crise mais rápida de saúde global conhecida até ao momento.

Várias características sistémicas, biológicas, políticas e de saúde pública convergiram para que isso acontecesse: a sua contagiosidade e letalidade populacional, a fragilidade de muitos sistemas de saúde nacionais e uma fraca resposta dos dispositivos de saúde pública mundiais, a globalização do transporte aéreo, a incapacidade para as elites mundiais ouvirem e atuarem perante as advertências que há muito instituições e cientistas iam efetuando.(aqui)(aqui)

Embora ninguém pudesse prever exatamente quando e onde começaria, que país ou que continente seria mais afetado há muito que sabíamos que isto poderia acontecer, não foi por falta de avisos. Da conhecida e repetida citação de Joshua LederbergThe single biggest threat to man’s continued dominance on the planet is the virus” ao artigo de Bill Gates no The New England Journal of Medicine “The Next Epidemic — Lessons from Ebola” ou ao relatório de Setembro de 2019 da Organização Mundial de Saúde “A world at risk: annual report onglobal preparedness for health emergencies” que previa a ocorrência de epidemias ou pandemias devastadoras que causariam não só perdas de vidas mas também destruiriam as economias e provocariam o caos social“ The world is at acute risk for devastating regional or global disease epidemics or pandemics that only cause loss of life but upend economies and create social chaos”, os avisos estavam aí.

Mas se o vírus se espalhou com uma aparência democrática atingindo de uma forma impensável o mundo rico e as classes sociais privilegiadas, desenganem-se os que pensam que o COVID19 afeta de forma igual toda a população, não ele antes exacerba as desigualdades sociais.

Bastaram algumas semanas para depararmos com alguns estudos ou notícias que já evidenciam a repercussão desigual que a pandemia tem sobre os mais pobres, seja na Índia onde o lockdown tem tido um efeito devastador sobre a economia informal que abrange mais de 85% dos trabalhadores, obrigando milhares de pessoas a abandonarem as grandes cidades e regressarem às suas aldeias sem qualquer meio de subsistência(aqui), seja na cidade de Barcelona, onde os bairros onde se concentra a população de menor rendimento, com piores condições habitacionais, má saúde e uma esperança de vida menor (aqui) ou no Algarve onde a população migrante oriunda da Índia, do Bangladesh, do Paquistão ou do Nepal, a trabalhar na agricultura concentrou uma grande parte das cadeias de transmissão em Faro, Tavira, Armação de Pera ou Albufeira (aqui)(aqui).

Vem tudo isto a propósito do trabalho conduzido pelos investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública no âmbito do Barómetro COVID-19, liderado por Carla Nunes, intitulado “Desigualdades, Diferenciação Geográfica, Perceção Social” onde se evidenciam desigualdades na distribuição dos casos de COVID19, verificando-se uma maior número de casos nos municípios com maior desigualdade salarial, maior desemprego, menor rendimento e menor poder de compra.



Terminamos com uma citação do artigo do professor Michael Marmot na revista de Lancet de 2 de maio Society and the slow burn of inequality, a propósito da pandemia de COVID19 e o aprofundar as desigualdades sociais.(aqui)


sábado, 4 de abril de 2020

2020 - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA - DESIGUALDADES SOCIAIS NO COMBATE AO #COVID19 E AS CONSEQUÊNCIAS PARA OS TRABALHADORES MAIS POBRES

A medida que o #COVID19 se espalha vêm ao de cima as Desigualdades Sociais e os Determinantes Sociais da Saúde Nas cidades dos EUA, muitos trabalhadores de baixos rendimentos continuam a ter que se movimentar para irem trabalhar, enquanto os 10% mais ricos ficaram mais cedo em casa e continuam a movimentar-se menos de acordo com dados de localização de smartphones analisados pelo The New York Times.

FOTO DE METRO EM DIA DE TRABALHO

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

O ESTADO DAS DESIGUALDADES EM SAÚDE NA EUROPA - HEALTH EQUITY STATUS REPORT - OMS 2019


Foi publicado ontem, 10 de setembro, o primeiro relatório da Região Europeia da Organização Mundial de Saúde(OMS) (aqui) sobre o estado da Equidade em Saúde na região.

O relatório intitulado “Healthy, prosperous lives for all: the European Health Equity Status Report” apresenta as principais conclusões sobre o estado atual da saúde na região europeia da OMS e as suas principais desigualdades:

·         No que se refere à esperança de vida à nascença, embora esta tenha aumentado em termos globais de 76,7 em 2010 para os 77,8 em 2015, tendo-se fixado nas mulheres em 82 anos e nos homens em 76,2 anos, continuam a existir desigualdades significativas entre os diversos grupos sociais, constatando-se que uma mulher dos grupos sociais mais desfavorecidos possa ver reduzida a sua esperança de vida até 7 anos e um homem de um grupo mais desfavorecido a sua esperança de vida até 15 anos, quando comparados com os grupos sociais mais favorecidos;
·         Quase o dobro dos 20% mais pobres descrevem doenças que limitam sua a capacidade para executar as atividades diárias, em comparação com as dos 20% mais ricos;
·         Em 45 dos 48 países da região europeia da OMS que forneceram dados, as mulheres e os homens com menor número de anos de escolaridade referiram que o seu estado de saúde era fraco ou razoável em comparação com mulheres e os homens com mais anos de escolaridade;
·         O local onde se habita, influencia quanto tempo se vive e quão bem se é capaz de viver: os resultados mostraram que em quase 75% dos países estudados, as diferenças na esperança de vida à nascença entre as regiões mais e menos favorecidas não mudaram na última década e, em alguns casos, pioraram.
·         Nas áreas mais desfavorecidas sobrevivem menos 4% de crianças no final do 1º ano de vida em comparação com as crianças nascidas nas áreas mais ricas.
·         O fosso em saúde entre grupos socioeconómicos mais pobres e mais ricos aumentam à medida que as pessoas envelhecem: mais de 6% de raparigas e mais de 5% dos rapazes relatam mais problemas de saúde nas famílias menos abastadas em comparação com as mais abastadas. Essa diferença aumenta para 19% nas mulheres e 17% nos homens durante a idade ativa, e atinge o pico entre as pessoas com 65 anos ou mais, com 22% para as mulheres e 21% para os homens.
·         A má condição de saúde dos que tem menos recursos económicos e sociais prediz um maior risco de pobreza e de exclusão social, a perda de uma vida independente e um rápido declínio da saúde.

O Relatório “Healthy, prosperous lives for all: the European Health Equity Status Report” também identificou grupos novos e emergentes com risco de cair nas desigualdades em saúde. Estes incluem, por exemplo, os jovens que abandonam a escola antes do final da escolaridade obrigatória, uma vez que correm maior risco de problemas de saúde mental e pobreza devido a mercados de trabalho inseguros e maior exposição a períodos frequentes de desemprego.

Aqueles que vivem com uma doença que limita as suas atividades diárias estão desproporcionalmente representados nos 20% mais pobres. As doenças incapacitantes reduzem a capacidade de permanecer no mercado de trabalho e aumentam o risco de pobreza e de exclusão social. Essa perda maciça de potencial humano afeta a sustentabilidade fiscal dos países, devido à perda de receitas fiscais e ao aumento dos custos de segurança social.

O Relatório identifica em seguida os 5 fatores críticos que explicam as desigualdades em saúde entre países e dentro dos países atribuindo a cada um deles uma % que reflete a sua contribuição para as desigualdades no geral.

Rendimento seguro e proteção social (35%)
Cerca de 35% das iniquidades em saúde resultam de “não conseguir sobreviver”. Este item inclui pessoas integradas no mercado de trabalho em tempo completo que lutam habitualmente para adquirir bens e serviços básicos necessários para viver uma vida digna, decente e independente; estes são os chamados trabalhadores pobres.

Condições de vida (29%)
Esse fator inclui questões como inacessibilidade ou indisponibilidade de habitação condigna, falta de comida e falta de combustível para aquecer a casa ou cozinhar uma refeição. Também se estende a bairros inseguros e à violência doméstica, à sobrelotação das habitações, às condições habitacionais (casas húmidas e insalubres) e a bairros instalados em zonas poluídos. Este fator corresponde a 29% das iniquidades em saúde.

Capital social e humano (19%)
Estes fatores, responsáveis por 19% das iniquidades em saúde, referem-se a sentimentos de isolamento, baixos níveis de confiança nos outros, à sensação de não ter ninguém para pedir ajuda, bem como sentimentos de ser menos capaz de influenciar as decisões políticas e mudar o rumo dos acontecimentos para melhor. Também incluem a violência contra as mulheres, a falta de participação na educação e falta de aprendizagem ao longo da vida.

Acesso e qualidade dos serviços de saúde (10%)
A incapacidade de fornecer em alguns países acesso universal a serviços de saúde de boa qualidade e, ou, os elevados níveis de pagamentos diretos para a saúde (Out-of-pocket payments) são responsáveis por 10% das iniquidades em saúde. Os Pagamentos diretos podem forçar as pessoas a escolher entre usar serviços essenciais de saúde ou atender a outras necessidades básicas.

Emprego e condições de trabalho (7%)
A incapacidade de participar plenamente no mercado de trabalho, afeta a qualidade de vida do dia-a-dia e as oportunidades na vida a longo prazo, responde por 7% das iniquidades em saúde. A qualidade do emprego é igualmente importante, pois empregos inseguros ou temporários e más condições de trabalho têm um efeito igualmente negativo sobre a saúde.

O relatório termina identificando 5 condições concretas para promover a equidade em saúde, permitindo que os cidadãos europeus possam alcançar uma boa saúde e conseguirem ter uma vida decente e segura:
·         Acesso universal a serviços de saúde acessíveis e de qualidade; 
·         Um rendimento seguro e proteção social;  
·         Condições de vida seguras e decentes;  
·         Construção de capital humano e social:  
·         Boas condições de trabalho e emprego;

O conjunto de políticas descritas no relatório que podem estimular o desenvolvimento sustentável e o crescimento económico, reduzindo as desigualdades em 50%, produziria benefícios financeiros para países que variam de 0,3% a 4,3% do produto interno bruto (PIB).

sábado, 16 de março de 2019

O IMPACTO DA DESIGUALDADE DE GÉNERO NA SAÚDE


Nos últimos dias e a propósito do Dia Internacional da Mulher muito se falou das desigualdades de género ao longo da vida em Portugal e um pouco por todo o mundo.

Mas antes de abordarmos as desigualdades de género e saúde, vale a pena lembrar as raízes operárias da celebração deste dia, voltando à Nova Iorque de 1909 ou à Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras de 1910 onde Clara Zetkin apresentou a ideia de um Dia Internacional da Mulher, celebrado pela primeira vez no dia 8 de março de 1917 quando as mulheres russas iniciaram uma greve por "pão e paz" em resposta à morte de mais de 2 milhões de soldados russos na Primeira Guerra Mundial. Foi necessário esperar algumas décadas para que o Dia Internacional da Mulher fosse oficializado pelas Nações Unidas em 1975 (aqui), deixando progressivamente o seu caráter de classe para passar a ter um teor mais feminista.

As diferenças em saúde entre homens e mulheres não são apenas biológicas, são também diferenças resultantes da construção social dos diferentes valores, atitudes e condutas, assim como das diferenças no acesso aos recursos, ao mercado de trabalho e ao poder. Sexo e género são importantes determinantes de saúde, mas são frequentemente confundidos, como assume a Organização Mundial de Saúde «o sexo biológico e o género construído socialmente interagem para produzir diferentes riscos e vulnerabilidades para problemas de saúde e de doença e diferenças no comportamentos e nos resultados de saúde para mulheres ehomens, “género” descreve as características de mulheres e homens que são socialmente criadas, enquanto 'sexo' engloba aquelas que são biologicamente determinadas”.

Mas as desigualdades, entendidas como diferenças, não devem ser confundidas como “iniquidades” desigualdades desnecessárias, injustas e evitáveis, resultantes de fatores estruturais das sociedades patriarcais em que vivemos. Fatores estruturais como o acesso ao ensino, a participação no mercado de trabalho, a independência económica, o trabalho em casa e fora de casa, a tomada de decisões, a violência de género, as oportunidades económicas e o poder político são disto exemplos, sempre desfavoráveis às mulheres com reportam os relatórios da União Europeia e do Fórum Económico Mundial respetivamente “2018 Report one quality between women and men in the EU” e o “ The Global Gender Gap Report 2018”.

Apesar destas desigualdades sociais de género, sabemos que em todo o mundo as mulheres vivem 4,4 anos mais que os homens, e que esta diferença resulta sobretudo de fatores não biológicos. As evidências publicadas mostram que os homens adotaram ao longo dos últimos 100 anos comportamentos sociais nocivos para a saúde, percebidos como masculinos como o consumo do tabaco, do álcool e de substâncias ilícitas, comportamentos que conduzem ao risco de acidentes e de violência, provocando uma mortalidade prematura por cancro, por doenças respiratórias e por lesões decorrentes de acidentes e de atos violentos.

No entanto, e paradoxalmente quando analisamos indicadores de saúde e de qualidade de vida percebemos que as mulheres apresentam pior condição de saúde, têm mais doenças crónicas, mais dias de incapacidade, mais consultas médicas e internamentos hospitalares do que os homens, ou seja, vivem mais anos mas com pior saúde do que os homens. Resultados ainda mais negativos quando se consideram apenas as mulheres das classes sociais mais desfavorecidas, as que acumulam piores condições de trabalho, salários mais baixos e cargas de trabalho doméstico e familiar, mais pesadas.

No caso de Portugal, as mulheres (esperança de vida à nascença de 84,3) vivem mais 6,1 anos do que os homens (esperança de vida à nascença de 76,2) mas vivem menos anos com saúde, uma vez que aos 65 anos, as mulheres portuguesas têm uma esperança de vida de 21,8 anos, mas 71% deles serão vividos com limitações, enquanto os homens têm uma esperança de vida de 18 anos, mas 57% deles serão vividos com limitações. (aqui)

No que se refere à autoapreciação sobre o seu estado de saúde 48.9% (1.7 milhões) das mulheres dos 25 aos 74 anos inquiridas no INSEF (aqui) consideraram o seu estado de saúde bom ou muito bom, enquanto no estudo “ As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem” publicado pela Fundação Manuel dos Santos e coordenado por Laura Sagnier e Alex Morell as mulheres quando questionadas acerca do grau de felicidade que sentem com a saúde 41% declararam que se sentem felizes ou muito felizes com a saúde (41%) contra 39% que sentem infelizes (39%). Neste este último estudo os valores mínimos de felicidade com a saúde estão relacionados com as frentes que as mulheres têm na vida e com o peso (índice massa corporal), o valor mínimo, 5.4% regista-se entre as mulheres que têm só a frente “filhos/as”, seguido de 5.9% para o índice “obesidade” e 7.1% para o índice “peso baixo”.

Finalmente e no que se refere à violência de género, as estimativas da Organização Mundial de Saúde (aqui) apontam para que 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo sofram de violência física ou sexual ao longo de vida, na maioria dos casos por parte do seu parceiro íntimo e que 38% dos assassinatos de mulheres em todo o mundo são cometidos pelo seu parceiro.

As mulheres são mais de metade do mundo mas continuam a ser discriminadas. Para combater esta discriminação necessitamos de um forte compromisso entre os cidadãos e a instituições, que ponham em prática os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável aprovados pelas Nações Unidades em 2015, uma vez que 1/5 dos objetivos fazem referência à igualdade de género, de forma a conseguirmos uma sociedade mais justa e igualitária.

quarta-feira, 6 de março de 2019

2019 - EM ITÁLIA VIVE-SE MENOS NO SUL QUE NO NORTE E EM TODA A ITÁLIA OS HOMENS QUE ESTUDARAM MENOS MORREM 3 ANOS MAIS CEDO. Atlas italiano das desigualdades de mortalidade por nível de educação


No passado dia 27 de fevereiro foi apresentado em Roma, pelo professor Michael Marmot o “ATLAS ITALIANO DAS DESIGUALDADES DE MORTALIDADE POR NÍVEL DE EDUCAÇÃO” na presença da ministra da saúde de Itália, Giulia Grillo.

O primeiro "Atlas italiano das desigualdades de mortalidade por nível de educação" foi produzido pelo Instituto Nacional para a Promoção da Saúde dos Migrantes e ao Combate das Doenças da Pobreza (aqui) e pelo Instituto nacional de Estatística (aqui) tendo como objetivos avaliar: as diferenças geográficas e socioeconómicas na mortalidade e na esperança de vida à nascença e a proporção de mortalidade na população atribuível a um nível médio-baixo de escolaridade através da utilização de mapas e indicadores, através de um estudo longitudinal da população recenseada no Censo italiano de 2011.

O estudo utilizou uma base de dados do Instituto Nacional de Estatística Italiano desenvolvida através da ligação do Censo 2011 ao Registo Nacional Italiano de Causas de Morte (2012-2014) para 35 grupos de causas de morte, cruzando-os com a idade, sexo, residência e nível de escolaridade. A esperança de vida à nascença foi calculada por sexo, região e nível de escolaridade, para a população dos 30 aos 89 anos, por sexo, foram criados mapas geográficos por causa de morte, anos de vida perdidos, distribuídas por quintis utilizando a razão de mortalidade padronizada para a idade e nível de escolaridade. (aqui)

Os principais resultados mostram que na Itália, as desigualdades sociais estão presentes em todas as regiões e dentro das próprias regiões. No que se refere à esperança de vida à nascença existe uma desvantagem clara entre as regiões do norte e do sul, independente do nível de escolaridade, desfavoráveis num 1 ano às populações do sul, atingindo na Campânia uma desvantagem de dois anos em comparação com as regiões do centro e do norte, tanto para os homens e para as mulheres.



Mas se tivermos em conta a escolaridade, os resultados mostram que as pessoas com baixa qualificação educacional apresentam uma probabilidade de morte prematura de 35% para os homens e 24% para as mulheres. A parcela de mortalidade atribuível às condições socioeconómicas e de vida associadas ao baixo nível de escolaridade é de 18% para os homens e de 13% para as mulheres.

Finalmente e no que se refere às principais causas de morte, as diferenças geográficas são maiores para as doenças cardiovasculares, para as respiratórias e para os acidentes, e menores para o cancro. O estudo mostrou pela primeira vez em Itália que existe um gradiente de mortalidade Este-Oeste com maior mortalidade no Noroeste, na costa sul do Tirreno por todas as causas, em especial para as doenças cerebrovasculares e tumores como um todo.


No caso da mortalidade por doenças cardiovasculares existe uma diferença clara entre as populações do norte e do sul da Itália, desfavorável às populações das regiões mais pobres do sul, onde em algumas áreas geográficas a mortalidade das pessoas com maior nível de escolaridade é maior do que a dos residentes no norte da Itália com baixo nível de escolaridade. Em contraste e no que se refere à mortalidade por cancro, a mortalidade cresce de sul para norte não apresentando contudo diferenças tão significativas.



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA COMO DETERMINANTE DE SAÚDE E DE DESIGUALDADES EM SAÚDE


As regiões da União Europeia mais pobres, menos escolarizadas e com maior nível de desemprego estão sujeitas a um maior impacto aos poluentes atmosféricos, ao ruído e às temperaturas extremas, de acordo com os resultados apresentados no relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA) “Exposição desigual e impactos desiguais: a vulnerabilidade social à poluição atmosférica, ao ruído e às temperaturas extremas na Europa”.

Apesar das melhorias registadas nas últimas décadas na União Europeia no que se refere à qualidade ambiental, mantêm-se desigualdades regionais e diferenças na distribuição das ameaças ambientais relacionadas com os níveis de rendimento, de desemprego e de educação na Europa.

O relatório da AEA avaliou as relações entre as desigualdades sociais e demográficas e a exposição à poluição atmosférica, ao ruído e às temperaturas extremas procurando perceber a forma com a poluição e os outros riscos ambientais determinam a saúde das pessoas, em função da idade, do estado de saúde, do rendimento, do estatuto profissional, do seu nível de escolarização ou do seu local de residência.

No que se refere a conclusões o estudo apresenta-as em dois item, a poluição atmosférica e sonora por um lado e as temperaturas extremas por outro, em ambas são as populações mais pobres, com maior nível de desemprego e menor escolaridade que são mais afetadas.

No que se refere à poluição atmosférica e sonora, as regiões da Europa Oriental (Polónia, Eslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária) e as regiões da Europa Meridional (incluindo Espanha, Portugal, Itália e Grécia), onde o nível de rendimento e de escolaridade são mais baixos e as taxas de desemprego são superiores à média europeia, foram as que mais foram expostas aos poluentes atmosféricos, incluindo partículas finas e ozono ao nível do solo (O3). Nas regiões mais ricas, incluindo as grandes cidades, registaram-se os maiores níveis de dióxido de azoto (NO2), devido à elevada concentração de tráfego rodoviário e de atividades económicas poluentes, observando-se profundas desigualdades dentro destas regiões/cidades desfavoráveis às comunidades mais pobres, uma vez que as pessoas com menores rendimentos e menores qualificações habitam ou trabalham nos locais em que a qualidade do ar está mais comprometida, seja pela proximidade a vias com muito tráfego, seja pela presença de indústrias, pela inexistência de espaços verdes ou pela fraca qualidade da construção.

No que se refere às temperaturas extremas são as regiões do Sul da União Europeia caracterizadas por menores rendimentos, menor escolarização e maiores índices de desemprego que são mais afetadas por temperaturas mais elevadas, criando condições para que as pessoas mais pobres e mais idosas tenham uma reduzida capacidade para responder ao calor ou para o evitar, dando origem a resultados negativos para a saúde.

No caso português o relatório sublinha as dificuldades já conhecidas das populações em manterem as suas casas climatizadas para responderem às temperaturas extremas e o papel da exposição ao ozono na saúde das pessoas, em particular nas de menores rendimentos e nas idosas. (aqui) (aqui)

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

NUM CONTINENTE (AMERICANO) MARCADO PELA DIVERSIDADE, O QUE FAZ COM QUE UM NORTE-AMERICANO VIVA MAIS 15 ANOS QUE UM HAITIANO E MENOS 4 ANOS QUE UM CANADIANO. "Sociedades Justas:Equidade em Saúde e Vida Digna" Comissão para o Estudo da Equidade e das Desigualdades em Saúde das Américas.


A Comissão para o Estudo da Equidade e das Desigualdades em Saúde das Américas, criada em maio de 2016 pela Organização Pan-Americana da Saúde, apresentou e publicou ontem, dia 24 se setembro, o sumário executivo do Relatório “SOCIEDADES JUSTAS: EQUIDADE EM SAÚDE E VIDA DIGNA” (aqui)onde apresenta o quadro conceptual para o estudo da equidade e das desigualdades nas Américas com base na estrutura utilizada pela Comissão da Organização Mundial de Saúde para os Determinantes Sociais da Saúde, coerente com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável definidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, aprofundando temas como o colonialismo, o racismo estrutural e a importância das relações com a terra, dando um maior ênfase ao meio ambiente e às mudanças climáticas e um maior relevo às iniquidades por razões de género, origem étnica, orientação sexual, ciclo de vida e incapacidade, reconhecendo as inter-relações entre estes fatores e sublinhando a necessidade de conseguir uma maior equidade em saúde e uma vida digna como resultado desejado.

O relatório apresenta para além do quadro conceptual, um resumo do diagnóstico das desigualdades em saúde no continente americano e 12 recomendações para ação política a desenvolver por cada um dos países do continente americano “As part of this process, each country should review the priority objectives, as set out by this Commission, adapt them to their specific context, and identify the resources, legislative changes, and capacity-building needed to take forward the specific actions. The achievement will be more just societies in which all people are enabled to lead dignified lives and in which health equity is a realizable goal.”

No dia 24 de setembro, o presidente da Comissão, o professor Michael Marmot, publicava um comentário na revista Lancet (aqui) onde antecipava alguns aspetos do relatório agora publicado. Começando por abordar as desigualdades entre países fazendo uso quer da esperança de vida à nascença quer do nível de rendimento, dando como exemplo as diferenças entre a esperança de vida à nascença do país mais rico do mundo os Estados Unidos (59.000 $US dólares por pessoa), quer para homens (76 anos) quer para mulheres (81 anos) e o país mais pobre das Américas, o Haiti (1.800 $US dólares por pessoa), onde a expetativa das mulheres se cifra nos 66 anos e a dos homens nos 61 anos, chamava a atenção para as exceções da Costa Rica e de Cuba (com rendimentos por pessoa na casa dos 16.000 $US dólares), com expetativas de vida superiores em um ano aos Estados Unidos e para as diferenças entre os Estados Unidos e o Canadá (o país com maior esperança de vida à nascença das Américas), favoráveis ao Canadá, mais 3 anos de vida para as mulheres e mais quatro para os homens, quando o rendimento por pessoa do Canadá é ¼ mais baixo do que nos EUA.


Mas as exceções não vêm apenas das diferenças entre países, elas também são visíveis dentro de cada país, dando a Comissão como exemplo as diferenças registadas entre a esperança de vida à nascença dos homens dos bairros mais pobres de Baltimore, próxima da verificada no Haiti, e a dos homens dos bairros mais ricos de Baltimore com uma esperança de vida maior que a dos homens da Canadá, e a esperança de vida mais desfavorável entre os homens com menor escolaridade no Chile, que podem esperar viver menos 11 anos do que um homem chileno com educação universitária.

Ao longo do relatório as evidências reunidas pela Comissão mostram que muitas doenças são socialmente determinadas, as desigualdades em saúde surgem devido às condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem. O efeito dos determinantes socais da saúde está patente desde o início da vida, na maioria dos países das Américas o desenvolvimento das crianças e os seus resultados em educação, rendimento, saúde e bem-estar estão alinhados com a situação dos pais. A possibilidade de uma criança morrer antes dos 5 anos está vinculada ao rendimento dos pais, quanto menor o rendimento maior a mortalidade, na Guatemala a taxa de mortalidade para menores de 5 anos era de 56/1.000 para o quintil mais pobre, enquanto a mesma taxa de mortalidade era no quintil mais rico de 7/.1000.

Mas para além de abordar as desigualdades sociais e económicas a Comissão identificou as mudanças climáticas, as ameaças ambientais, a relação com a terra e o contínuo impacto do colonialismo, do racismo e da história da escravatura como fatores que protelam o objetivo da maioria dos americanos levarem uma vida digna e desfrutarem do mais alto padrão de saúde possível.

A Comissão dá ainda uma atenção particular à situação dos povos indígenas e dos afrodescendentes, os primeiros representam 35 a 50 milhões de pessoas na América do Sul, do Caribe da América Central cerca de 13% da população, 5.2 milhões nos Estados Unidos e Alasca e 1.4 milhões no Canadá e os segundos cerca de 200 milhões de pessoas no continente americano, incluindo o Canadá e os Estados Unidos, sublinhando o papel do colonialismo e o racismo estrutural nas desigualdades em saúde. Ser pobre, nativo, mulher e sem terra, pode causar mais inequidades em saúde do que ser afetado isoladamente por qualquer um destes eixos de desigualdade.

Uma boa saúde requer não só acesso a cuidados de saúde de qualidade, mas também a ação sobre os determinantes sociais da saúde, as recomendações da Comissão para o Estudo da Equidade e das Desigualdades em Saúde das Américas seguem o quadro conceptual e exortam os países a reduzirem as desigualdades em saúde, a enfrentarem os problemas da educação, do emprego, dos rendimentos e da segurança, ao mesmo tempo que devem olhar de forma determinada para a defesa dos direitos humanos e para o colonialismo intrínseco à história do continente americano.