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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

8 HOMENS POSSUEM A MESMA RIQUEZA QUE 3.6 BILHÕES DE PESSOAS

No passado dia 16 de Janeiro, a OXFAM publicou o relatório “ An economy for the 99 percent” (aqui)para marcar a realização da Cimeira de Davos (aqui), onde se reúnem líderes políticos de todo o mundo e os principais líderes empresariais.

O relatório publicado em 2017 confirma que o fosso entre ricos e pobres tem vindo a aumentar e que o património de apenas oito homens é igual ao da metade (3.6 bilhões de pessoas) mais pobre do mundo.

Estes dados confirmam os dados divulgados por Branko Milanovic no seu livro “Global Inequality: A New Approach for the Age of Globalization” publicado em Abril de 2016 (aqui), que apontam para a redução das desigualdades entre países ricos e pobres, por via do crescimento de países, como a China e a Índia, aproximando o mundo da situação vivida por volta de 1820, quando a principal fonte de desigualdade era a origem social (classe) em vez da localização geográfica. De acordo com Milanovic, enquanto nos países do Sul da Ásia as classes médias da China e da índia viram os seus rendimentos aumentar, nos países ricos as classes médias viram os seus rendimentos reduzidos ao mesmo tempo que a riqueza mundial se concentrava nos 1% mais ricos.

Ao longo do relatório a OXFAM detalha o comportamento dos super-ricos e das grandes corporações, alicerçados nas políticas neoliberais dos últimos 30 anos, tendo como base o Consenso de Washington e o desenvolvimento de um conjunto de ideias basilares do pensamento neoliberal, «hoje criticadas pelo próprio FMI (aqui)» como a crença inabalável no poder dos mercados, aliada à visão negativa da intervenção dos governos, e o mercado como instrumento poderoso para promover o crescimento e a prosperidade. Ao longo dos anos os super-ricos e as grandes corporações fugiram aos impostos usando uma rede de paraísos fiscaisuse a network of tax havens to avoid paying their fair share of tax and an army of wealth managers to secure returns on their investments that would not be available to ordinary savers”, reduziram salários e direitos dos trabalhadores e utilizaram o seu poder para influenciar as políticas públicas a seu favor.

A análise da OXFAM mostra que ao contrário da crença popular, que uma grande parte dos bilionários não são “self-made”, revelando que um terço da riqueza dos bilionários do mundo tem origem na riqueza herdada, em quanto que 43% dela tem algum vínculo com o favorecimento e o nepotismo.

domingo, 18 de setembro de 2016

GLOBALIZAÇÃO, DESIGUALDADES, CLASSES MÉDIAS, GANHADORES E PERDEDORES

Durante o primeiro semestre de 2016, foram publicados dois documentos que trouxeram dados novos para a discussão da pobreza no mundo. Em Fevereiro de 2016 o Stanford Center on Poverty and Inequality publicou o seu relatório anual “The Poverty and Inequality Report” (aqui)onde se conclui que os Estados Unidos da América são o país com os maiores índices de pobreza e de desigualdade, quando comparados com outros 09 países desenvolvidos e em Abril, Branko Milanovic publicou o seu livro “Global Inequality: A New Approach for the Age of Globalization” (aqui) que aporta novos dados que apontam para a redução das desigualdades entre países ricos e pobres, por via do crescimento de países, como a China e a Índia, aproximando o mundo da situação vivida por volta de 1820, quando a principal fonte de desigualdade era a origem social (classe) em vez da localização geográfica. De acordo com os dados publicados, enquanto nos países do Sul da Ásia as classes médias da China e da índia viram os seus rendimentos aumentar, nos países ricos as classes médias viram os seus rendimentos reduzidos ao mesmo tempo que a riqueza se concentrava nos 1% mais ricos
The Poverty and Inequality Report
Branko Milanovic propõe como explicação para esta situação, a globalização, o deslocamento do trabalho e a revolução digital. Numa entrevista ao “Estadão” Branko Milanovic (aqui)explica ao jornalista que o questiona: “ P - Por que não se deve separar globalização e tecnologia para aferir seus efeitos na desigualdade? R - Olhe à nossa volta e veja quantos exemplos de avanço tecnológico: tablet, computador, smartphones. Esses aparelhos nos tornam mais produtivos mas, para produzi-los, é necessário mão-de-obra barata, essencialmente asiática. Assim, o progresso tecnológico precisou da globalização para ser incorporado nos aparelhos. E, se não pudessem ser fabricados com mão- de-obra-barata, seu smartphone não teria aplicativos como o Uber. O número de pessoas que poderiam pagar por um iPhone fabricado na Suécia seria tão baixo que o Uber não teria razão de existir” e mais à frente referindo-se ao conceito de scalable job explicitado por Nassim Taleb no livro “Cisne Negro” «scalable jobs are those where a person´s same unit of labour can be solde many times over” responde “ P - Qual a relação da desigualdade com o trabalho em escala hoje? R - O chamado scalable job ocorre quando você pode vender a mesma unidade de trabalho inúmeras vezes. Quando faço uma palestra e ela é colocada à venda online, eu não continuo a proferir a palestra, só a ser remunerado por ela. De novo, a tecnologia e a globalização caminhando juntas para fazer com que mais ocupações sejam beneficiadas por escala. E isso leva a uma forte concentração de renda. O público global vai querer assistir só ao vídeo do tenista número um do ranking mundial. A Metropolitan Opera de Nova Iorque transmite seus concertos ao vivo para o mundo em salas de cinema. Como pode uma companhia de ópera regional competir com isso?
Global Inequality: A New Approach for the Age of Globalization
Mas ao mesmo tempo que diminuem as desigualdades entre países ricos e pobres, os dados das Nações Unidas, mostram que mais de 836 milhões de pessoas ainda vivem em pobreza extrema, que 1 em cada 5 vivem em regiões em desenvolvimento com menos de 1.25 dólares americanos (€1.12) concentrando-se a sua maioria no Sul da Ásia e na África Subsariana, acrescentando que a pobreza não afeta apenas os países de renda baixa, uma vez que os países de renda média como a China, a Indonésia, a Nigéria ou a Índia concentram metade dos pobres do mundo e que nos países desenvolvidos existem 30 milhões que crescem pobres nos países mais ricos do mundo.
Pobreza que não é apenas a falta de rendimento e de recursos para assegurar uma subsistência sustentável, mas tem antes uma natureza multidimensional que fez com que as Nações Unidas criasse o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), publicado pela primeira vez em 2010.

O índice identifica carências em três dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano, mostra o número de pessoas que são multidimensionalmente pobres (33% dos que apresentam carências em ou mais dos indicadores ponderados) e o número de privações com a qual as famílias pobres têm de lidar.

Assim e de acordo com os resultados obtidos através da aplicação do IPM, 29% da população mundial vive em pobreza multidimensional (1.5 bilhões de pessoas), ou seja, com pelo menos 33% dos indicadores que refletem a privação aguda em saúde, em educação e nos padrões de vida, e perto de 900 milhões de pessoas podem cair na pobreza se ocorrerem dificuldades - financeiras, naturais ou outras.
Multidimensional Poverty
O trabalho de Milanovic mostra que nos últimos 20 anos o crescimento simultâneo do mundo emergente (principalmente da Ásia), da classe média da China e da Índia e da plutocracia global, foi acompanhado do esvaziamento da classe média ocidental e da negligência dos mais pobres.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

AS DESIGUALDADES TÊM AUMENTADO NOS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS

De vez em quando a imprensa (aqui) dá-nos notícias das desigualdades, normalmente antes da Cimeira de Davos, organizada pelo World Economic Forum onde se reúne a elite mundial dos negócios. Este ano os principais jornais do mundo deram a conhecer o relatório da OXFAM, "WEALTH: HAVING IT ALL AND WANTING MORE" chamando a atenção dos seus leitores para esta "Era de Desigualdades", “Les 62 personnes les plus riches au monde possèdent autant que les 3,5 milliards les plus pauvres” titulava o “Le Monde”, ou “Wealth Inequality Rising Fast, Oxfam Says, Faulting Tax Havens” no "New York Times".


Mas raramente a imprensa internacional abre espaço para a discussão das suas causas. A este propósito vale a pena recordar que foi com as alterações económicas e sociais observadas mundialmente com a crise económica dos anos 70, e com o triunfo das receitas de Hayek e Friedman, implementadas por Margaret Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (EUA) e Deng Xiaoping (China) seguindo a mesma ideologia "to be rich is to be glorious” nos anos 80 e mais tarde consolidadas no Consenso de Washington (aqui), dando origem a um mundo marcado pela globalização, pela liberalização dos mercados financeiros e dos fluxos internacionais do capital (controlo da inflação, credito barato, “financeirização”), com um aumento do poder das empresas e uma concentração do poder económico privado.

Neste novo mundo retratado por Branko Milanovic, “... they have failed to deliver a much happier society. Money, very unequally distributed, has fuelled corruption, allowed ostentatious living, trivialized concern with poverty of others through often fake rich-owned toy organizations that are ostensibly supposed to help the poor, reduced essential social services in which the idea of citizenship was embodied, like education and health. Western societies have become much richer, but, to use the famous Thatcher’s quip, they have become much less societies: they are often just collections of mutually competing individuals. China has become immensely richer than in 1978, but it is one of the few countries in the world where people are every year becoming less happy, according to World Values Survey. And the same neoliberal programs, applied in Russia, after nearly failing to destroy the country, have led to massive increases in mortality and destroyed any social bonds and replaced them with anomie and cynicism." (aqui)

Mais do que nunca justifica-se a epígrafe deste Blog:

“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.”
 José Saramago

Por aqui continuaremos a desinquietar.




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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DESIGUALDADES - O CASO DO FUTEBOL DE CLUBES

Nos últimos dias a imprensa portuguesa deu a conhecer os contratos sobre os direitos televisivos celebrados pelos clubes portugueses de futebol com os dois principais operadores de TV por cabo (aqui), animando as redes sociais e o coração dos adeptos dos principais emblemas nacionais, no final do jogo entre o Nacional e o Benfica para a Taça da Liga desta semana Manuel Machado treinador do Nacional declarou à imprensa que O que se passa no futebol português não é diferente daquilo que se passa noutras áreas. As estatísticas dizem-nos que as grandes fortunas aumentam e o grosso da população continua com dificuldades … A realidade é que a canalização de meios vai quase na totalidade para os três "grandes", fica uma migalha para o resto."

A este propósito vale a pena citar Branko Milanovic, no capítulo do seu livro “ Ter ou Não Ter” intitulado “Quer saber o vencedor antes de começar a partida?” quando explica que o futebol europeu ao nível de clubes está organizado como “ um puro empreendimento capitalista … sem restrições com total liberdade de movimento de capital de trabalho (jogadores e treinadores)”.

Com a globalização os clubes de futebol perderam o seu carácter local ou nacional, adquiriram em termos de adeptos, jogadores ou capital um carácter universal, tornaram-se marcais globais, os grandes emblemas não têm muitas vezes, nem sequer no banco nacionais do seu país, os seus treinadores são muitas vezes estrangeiros e os seus proprietários internacionalizaram-se.

Os primeiros 20 clubes europeus
A separação entre o interesse por um clube e o apoio por parte dos seus adeptos disseminou-se, ganhou dimensão internacional diminuindo os entusiasmos locais, nacionais, religiosos ou classistas.
A desigualdade nas riquezas dos clubes, combinada com a retirada das limitações à contratação de jogadores estrangeiros, levou à concentração da riqueza e de jogadores nos países mais ricos de tradição futebolística conforme podemos verificar nas listas publicadas anualmente (aqui) (aqui). O mesmo se passa no âmbito nacional com a concentração em três emblemas.

Com a concentração de qualidade nos clubes mais ricos, não é necessário mais saber quais os jogadores que vão alinhar pelas equipas, se são bons ou não ou se estão em forma física, as leis da economia vão garantir que se saiba, quase sempre, o vencedor antes de a partida começar, acabando com a imprevisibilidade dos resultados, com o afastamento dos adeptos dos clubes da sua comunidade.

Citando Branko Milanovic “ Hoje em dia, à medida que aumenta a diferença entre os Golias e os Davides, as surpresas são menos prováveis. O Golias ganha sempre, e, pior, raramente se digna a jogar com o David”.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

MIGRAÇÃO COMO DETERMINANTE SOCIAL DE SAÚDE

A recente publicação do Relatório Anual sobre a Emigração Portuguesa por parte do Observatório da Emigração veio mais uma vez chamar a atenção da comunidade para o fenómeno das migrações no Mundo e em Portugal.
Branko Milanovic no seu livro “Ter ou Não Ter: uma breve história da desigualdade” afirma que “é possível explicar o rendimento de uma pessoa no mundo através de apenas dois fatores, ambos os quais são fornecidos à nascença: a sua cidadania e a classe de rendimento de seus pais. Estes dois fatores explicam mais de 80 por cento dos rendimentos de uma pessoa. Os restantes 20 ou menos por cento derivam de outros fatores sobre os quais os indivíduos não têm controlo (género, idade, raça, sorte) e alguns que podem controlar esforço ou muito trabalho.)"

Branko Milanovic
Para Branko Milanovic os fluxos migratórios são explicados como uma resposta racional dos cidadãos às grandes diferenças nos padrões na qualidade de vida “ Num mundo desigual, onde as diferenças entre países são tão grandes, e a informação sobre estas diferenças viaja por todo o lado, as migrações não são uma casualidade, um acidente, uma anomalia ou uma curiosidade. Constituem apenas uma resposta racional às grandes diferenças nos padrões de qualidade de vida”.
Assim e à luz das proposições de Branko Milanovic é mais fácil perceber os fluxos migratórios ocorridos em Portugal desde o final da II Guerra Mundial.
De acordo com o Observatório da Emigração, viverão hoje no mundo mais de 2 milhões portugueses. Esta população resulta da acumulação de migrações que ocorreram em Portugal desde o final da II Guerra Mundial numa primeira fase dirigida aos continentes americanos (Brasil, EUA, Canadá e Venezuela), numa segunda fase (anos 60) dirigida à Europa (França, Alemanha e Luxemburgo) e numa terceira fase dirigida à Suíça (anos 80) e ao Reino Unido (2011), ainda em fase de crescimento. Contando com os descendentes diretos destes emigrantes, a população de origem portuguesa nos países de emigração ultrapassará os cinco milhões.
Observatório da Emigração com base nos dados sobre as entradas de portugueses nos países de destino

O efeito da crise económica despoletada em 2008, veio aumentar o volume da emigração portuguesa a partir de 2012 atingindo uma valor de 110 mil portugueses que emigraram nos anos de 2013 e 2014, valores só antes observados nos anos 60/70.  


Apesar da nova migração portuguesa ser hoje mais qualificada do que no passado, tendo crescido o número de licenciados na última década entre os emigrantes, “ De facto, segundo os dados provisórios da OCDE, na primeira década do século XXI cresceu a percentagem dos diplomados do ensino superior na população portuguesa emigrada nos países da OCDE. Esse crescimento foi superior a 50%, passando a percentagem de diplomados entre os imigrantes naqueles países de 6%, em 2001, para 10%, em 2011. No mesmo período, porém, cresceu ainda mais (cerca de 80%) a taxa de qualificação da população residente em Portugal: a percentagem de diplomados passou de cerca de 8%, em 2001, para quase 14%, em 2011 Em consequência, a qualificação da população portuguesa mantém-se superior à da população emigrada, pelo menos à que reside nos países da OCDE”, mantém-se um baixo nível escolaridade na população emigrada nos países da OCDE, uma vez que mais de metade da população emigrada nestes países continua a ter apenas o nível básico de escolaridade (61%).


Nestas circunstâncias vale a pena ainda relembrar que as migrações são desde há muito consideradas como uma determinante social da saúde e uma forte determinante da saúde física e psicossocial daqueles que migram. Os desafios que se colocam à saúde dos migrantes, tanto no processo de migração como no país de destino ilustram bem a razão por que a migração em si pode ser considerada como uma determinante social de saúde. A gestão da saúde dos migrantes vai muito para além da gestão tradicional de doenças entre populações em movimento e está intimamente ligada aos determinantes sociais da saúde e à distribuição desigual dos serviços sociais e de saúde. Ao longo do tempo tem-se verificado que entre os migrantes são mais prevalentes as desigualdades sociais, a pobreza e o isolamento social, circunstâncias que podem limitar a utilização dos serviços de saúde e sociais de forma adequada, mesmo quando disponível.