quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DESIGUALDADES - O CASO DO FUTEBOL DE CLUBES

Nos últimos dias a imprensa portuguesa deu a conhecer os contratos sobre os direitos televisivos celebrados pelos clubes portugueses de futebol com os dois principais operadores de TV por cabo (aqui), animando as redes sociais e o coração dos adeptos dos principais emblemas nacionais, no final do jogo entre o Nacional e o Benfica para a Taça da Liga desta semana Manuel Machado treinador do Nacional declarou à imprensa que O que se passa no futebol português não é diferente daquilo que se passa noutras áreas. As estatísticas dizem-nos que as grandes fortunas aumentam e o grosso da população continua com dificuldades … A realidade é que a canalização de meios vai quase na totalidade para os três "grandes", fica uma migalha para o resto."

A este propósito vale a pena citar Branko Milanovic, no capítulo do seu livro “ Ter ou Não Ter” intitulado “Quer saber o vencedor antes de começar a partida?” quando explica que o futebol europeu ao nível de clubes está organizado como “ um puro empreendimento capitalista … sem restrições com total liberdade de movimento de capital de trabalho (jogadores e treinadores)”.

Com a globalização os clubes de futebol perderam o seu carácter local ou nacional, adquiriram em termos de adeptos, jogadores ou capital um carácter universal, tornaram-se marcais globais, os grandes emblemas não têm muitas vezes, nem sequer no banco nacionais do seu país, os seus treinadores são muitas vezes estrangeiros e os seus proprietários internacionalizaram-se.

Os primeiros 20 clubes europeus
A separação entre o interesse por um clube e o apoio por parte dos seus adeptos disseminou-se, ganhou dimensão internacional diminuindo os entusiasmos locais, nacionais, religiosos ou classistas.
A desigualdade nas riquezas dos clubes, combinada com a retirada das limitações à contratação de jogadores estrangeiros, levou à concentração da riqueza e de jogadores nos países mais ricos de tradição futebolística conforme podemos verificar nas listas publicadas anualmente (aqui) (aqui). O mesmo se passa no âmbito nacional com a concentração em três emblemas.

Com a concentração de qualidade nos clubes mais ricos, não é necessário mais saber quais os jogadores que vão alinhar pelas equipas, se são bons ou não ou se estão em forma física, as leis da economia vão garantir que se saiba, quase sempre, o vencedor antes de a partida começar, acabando com a imprevisibilidade dos resultados, com o afastamento dos adeptos dos clubes da sua comunidade.

Citando Branko Milanovic “ Hoje em dia, à medida que aumenta a diferença entre os Golias e os Davides, as surpresas são menos prováveis. O Golias ganha sempre, e, pior, raramente se digna a jogar com o David”.

Sem comentários:

Enviar um comentário