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terça-feira, 21 de junho de 2016

SABE O QUE É UM "PICKER", JÁ OUVIU FALAR DE RAMAZZINI - O TRABALHO COMO DETERMINANTE DE SAÚDE

Já alguma vez ouviu falar de Ramazzini e de “picking”. Sabe o que é um “picker” (em português “operador de picking”).

Pense num grande armazém do tamanho de 11 a 14 campos de futebol (7140 m2), daqueles a quem pode encomendar produtos online, imagine que está “armado” de uma pinça telescópica para agarrar objetos e de um scanner portátil, o scanner dá-lhe a indicação exata do que tem que pegar, do corredor e da prateleira onde está, coloca o objeto num carrinho, a prateleira certa pode estar ao virar da esquina ou a 100 metros de distância, você vai da linha A para pegar o item X e em seguida vai da linha P para pegar o item C, é esperado que pegue 100 a 110 item por hora, dois por minuto, ao longo de 9 a 10 horas de trabalho (pagas a 10/12 dólares/hora), ande cerca de 19 km até encher um carro de 250 Kg e levá-lo até ao setor onde os item são etiquetados e embalados, e continuar. Trabalha isoladamente e o seu tempo de intervalo de trabalho mal dá para chegar à cantina onde ingere uma refeição rápida. Os scanner´s portáteis para além do enviarem para o item seguinte, também permitem que os seus gestores controlem com precisão o tempo que leva a cumprir uma ordem, pode ser avisado se não mantiver o ritmo, este atraso pode valer-lhe uma penalidade, que também lhe pode ser aplicada por se ter enganado a pegar o item ou por se ter atrasado uns minutos na mudança de uma linha, causando uma redução na sua remuneração ou até ao seu despedimento. (aqui) (aqui) (aqui)

O seu trabalho pouco difere do “vagabundo”, personagem dos Tempos Modernos de Chaplin, tentando sobreviver num mundo industrializado. 

Ramazzini and worker´s health - Lancet
E Ramazzini diz-lhe alguma coisa? Bernardino Ramazzini nasceu em Carpi, uma pequena comuna perto de Modena no século XVII (1633), licenciou-se em medicina viveu uma longa vida de 81 anos, começando a ensinar Teoria da Medicina na Universidade de Modena aos 49 anos. Durante 20 dedicou o seu trabalho às doenças dos trabalhadores, investigou, visitou os locais de trabalho, observou as atividades dos trabalhadores e discutiu com eles as suas doenças e publicou a sua investigação na obra “ De Morbis Artificum Diatriba” em 1700. (aqui)

Descreveu mais de 50 profissões, acrescentando à abordagem recomendada por Hipócrates, (perguntar à cerca do tipo de dor ou de doença, da causa ou da duração) a natureza da ocupação profissional. A sua abordagem não se limitou a estabelecer uma relação entre as condições de trabalho e os riscos e as doenças profissionais, uma vez que pugnou por providenciar cuidados e estabelecer medidas preventivas, a sua análise inovadora estabelecendo as relações entre as atividades laborais e as doenças profissionais, aproxima-o da saúde ocupacional moderna que também se concentra na prevenção de riscos e na proteção pessoal, aborda as questões ambientais e sociais, e promove a saúde e segurança como um componente integral da saúde pública.


Ramazzini chamou a atenção para os perigos físicos e químicos, que hoje ainda prevalecem em muitas partes do mundo, na agricultura, nas minas, nas fábricas e na construção, mas não podia prever que na era pós-industrial, as situações mais preocupantes sejam as desigualdades no poder no local de trabalho e as condições psicossociais de um trabalho como “operador de picking”.

Às pesadas exigências físicas do trabalho de “operador de picking”, somam-se a falta de controlo sobre o seu próprio trabalho, um esforço elevado para uma fraca remuneração, o isolamento social no trabalho, a precaridade, o trabalho por turnos e a injustiça organizacional, criando condições para piorar a saúde. O trabalho ajuda a definir o nosso estatuto social e a nossa identidade, o que pensamos que somos e o que a sociedade acha que somos, o trabalho é um lugar de desenvolvimento de relações sociais, pode proporcionar oportunidades de autorrealização e de crescimento pessoal. (aqui)

O trabalho como agora o descrevemos é gerador de de doença e desigualdades, mas não acontece por acaso. Foi planeado e requere certas condições sociais, baixa sindicalização, falta de alternativas de emprego, um foco contínuo na margem de lucro, e a tolerância ou mesmo a promoção por parte da sociedade por este tipo de emprego. (aqui)

Se o trabalho e o emprego podem ser causas de problemas de saúde, temos de olhar para a causa das causas.



segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

INVERNO - MÁS CONDIÇÕES HABITACIONAIS - POBREZA ENERGÉTICA - A CAUSA DAS CAUSAS



Em 1853 Charles Dickens, escrevia em " Bleak House", com o título em português "A Casa Abandonada" edição de 1964 de Romano Torres a propósito das condições de vida nos "slums" do Reino Unido do século XIX:
“Jo lives—that is to say, Jo has not yet died—in a ruinous place, known to the like of him by the name of Tom-all-Alone. It is a black, dilapidated street, avoided by all decent people…Now, these tumbling tenements contain, by night, a swarm of misery…As, on the ruined human wretch, vermin parasites appear, so, these ruined shelters have bred a crowd of foul existence that crawls in and out of gaps in walls and boards; and coils itself to sleep, in maggot numbers, where the rain drips in; and comes and goes, fetching and carrying fever…”
Em Portugal, o médico Ricardo Jorge escrevia em 1899, acerca das condições de vida nas "Ilhas" da cidade do Porto, citado aqui:
“renques de cubículos, às vezes sobrepostos em coxias de travesso. Este âmbito, onde se empilham camadas de gente, é por via de regra um antro de imundíce; e as casinhas em certas ilhas, dessoalhadas e miseráveis, pouco acima estão da toca lôbrega dum trogolita. (...) São o acoito das classes operárias e indigentes que mercê dum aluguer usurário, pagam o seu direito de residência a preço mais subido do que as classes remediadas. Há no Porto 1048 ilhas com 11 129 casas, o que dá uma média de 10,6 casas por ilha. São pois 11 129 fogos de residência, o que corresponde aproximadamente a perto de 50 mil moradores (...) Vê-se que quase metade da gente do Porto mora e acama-se nas ilhas, gerando uma acumulação insalubérrima”

Vem isto a propósito das condições habitacionais que ainda hoje afetam os mais desfavorecidos em Portugal, sobretudo nas zonas urbanas das cidades do Porto e de Lisboa, e do "paradoxo da mortalidade de inverno" nos países de clima temperado como Portugal. De acordo com o trabalho de Raquel Nunes, (aqui) Portugal apresenta indicadores muito baixos no que se refere à qualidade energética das habitações em particular das pessoas mais idosas, ainda recentemente o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2015, revelava que 1 em cada 4 pessoas (24%) vive em agregados familiares sem capacidade para manter a casa aquecida adequadamente.

Com o aproximar do Inverno e o agravamento previsível das condições climatéricas não serão surpresa o agravamento das condições de saúde de uma parte significativa da população.
Necessitamos neste novo ciclo político que as autoridades de saúde pública assumam a sua responsabilidade para mobilizar as políticas públicas para o combate efetivo " A CAUSA DAS CAUSAS" definidas por Rose " Os determinantes da exposição a estas infeções, à má dieta, e a outras experiências não saudáveis. Estas são matéria de investigação social, económica e política"
BLEAK HOUSE















sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A VISÃO DE GEOFFREY ROSE

Passam 22 anos sobre a morte de Geoffrey Rose, médico, epidemiologista e investigador. Pioneiro no ensino da epidemiologia dedicou parte da sua obra à investigação sobre as Doenças Cardiovasculares, coautor do Manual “ Cardiovascular Disease Survey Methods,WHO Techincal n.º 56, Geneve, 1968”, dirigiu numerosos estudos sobre doenças cardiovasculares (DCV), e participou como investigador principal no estudo INTERSALT, que encontrou uma associação positiva entre a excreção urinária de sódio e a pressão arterial sistólica.


No ano de 1981 publica “Strategy of prevention: lessons from cardiovascular disease” e em 1985 “Sick Individuals and Sick Populations”, onde aborda “ as causas dos casos e as causas da incidência” distinguindo duas abordagens estratégicas de prevenção: a estratégia de alto risco, que procura identificar os indivíduos suscetíveis de alto risco e proporcionar-lhes uma cera proteção individual e a estratégia populacional, que procura controlar os fatores determinantes da incidência da população como um todo. 

Em 1993 publica “The Strategy of Preventive Medicine by Geoffrey Rose, reeditado e atualizado em 2008 com o título de “Rose's Strategyof Preventive Medicine”.


"A investigação médica concentra-se nas “causas próximas ou imediatas” das doenças. São causas relacionadas com agentes infeciosos, deficiências ou excessos nutricionais, o hábito de fumar, as exposições a tóxicos ou a alergénios” Rose 

"Por outro lado, existem as “causas das causas”, isto é, os determinantes da exposição a estas infeções, à má dieta, e a outras experiências não saudáveis. Estas são matéria de investigação social, económica e política" Rose