domingo, 22 de dezembro de 2019

2019 - NATAL DOS SIMPLES E DOS ANDARILHOS DESTE MUNDO


Jorge de Sena  - Natal de 1971




"Operários do Natal" - Carlos Mendes, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho álbum LP 1978 Textos de Ary dos Santos e Joaquim Pessoa. Músicas e vozes de Carlos Mendes, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho. Narrativa: Maria Helena D'Eça Leal. Arranjos de orquestra: Joaquim Luís Gomes e José Luís Simões.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

12.12.2019 KEEP THE PROMISE - DIA INTERNACIONAL DA COBERTURA DE SAÚDE UNIVERSAL

Comemora-se hoje dia 12.12.2019 o Universal Health Coverage Day, 2019, assinalando o dia 12 de Dezembro de 2012, data em que as Nações Unidas aprovaram por unanimidade uma resolução pedindo que todos os países forneçam cuidados de saúde acessíveis e de qualidade a todas as pessoas e em todos os lugares.

Em 2019 o Dia da Cobertura Universal de Saúde tem como lema “MANTENHA A PROMESSA” remetendo para os compromissos aprovados no seguimento da reunião de alto nível sobre a cobertura de saúde universal pela Assembleia Mundial das Nações Unidas de 10 de outubro de 2019 aprovou no decurso da reunião de alto nível sobre a cobertura de saúde universal uma Declaração política onde os participantes assumiram que a cobertura universal de saúde é essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados com a saúde e o bem-estar.(aqui)

" Recognize that universal health coverage is fundamental for achieving the Sustainable Development Goals related not only to health and well-being, but also to eradicating poverty in all its forms and dimensions, ensuring quality education, achieving gender equality and women’s empowerment, providing decent work and economic growth, reducing inequalities, ensuring just, peaceful and inclusive societies and to building and fostering partnerships, while reaching the goals and targets included throughout the 2030 Agenda for Sustainable Development is critical for the attainment of healthy lives and well-being for all, with a focus on health outcomes throughout the life course;"



domingo, 8 de dezembro de 2019

AS DESIGUALDADES SOCIOECONÓMICAS E DE GÉNERO CONDICIONAM O FINAL DA VIDA, OS RICOS MORREM EM CASA OS POBRES NO HOSPITAL

De acordo com os dados recolhidos pelo Observatório da Morte, entidade criada em 2017 pelo Parlamento da Catalunha (aqui) no âmbito do Observatório do Sistema de Saúde da Catalunha as desigualdades sociais persistem até ao último momento de vida. As inequidades socioeconómicas e as desigualdades de género condicionam não só quando se morre, mas também como e onde falece uma pessoa.

Criado em 2017 por decisão do Parlamento da Catalunha o Observatório da Morte tem como objetivo analisar as circunstâncias em que ocorrem os óbitos da população da Catalunha de forma a fazer propostas que visem melhorar os cuidados às pessoas em fim de vida e a garantir uma morte digna (aqui). 

Assim e de acordo com os dados apresentados publicamente pela direção do Observatório do Sistema de Saúde para além das conhecidas desigualdades de género na esperança média de vida, uma vez que as mulheres tem uma maior esperança de vida à nascença e no número de anos vividos com saúde, uma vez que os homens vivem menos anos, mas esse anos são vividos com mais saúde. (aqui)

Regista-se também uma diferença entre géneros no que se refere ao local da morte, falecendo mais os homens em casa e as mulheres em unidades residenciais para idosos, vulgo Lares, uma vez que as mulheres ao viverem mais anos acabam por terem menos cuidadores e sofrerem mais de demências, situação que implica maior dependência no fim da vida. (aqui)

Também no que se refere às desigualdades sociais verificaram-se diferenças significativas entre os grupos mais favorecidos e menos favorecidos, uma vez que as pessoas mais pobres morrem sobretudo nos Hospitais e as pessoas mais ricas morrem nas suas casas, diferenças que os autores não foram capazes de atribuir a uma causa específica. Colocando como possibilidades a estudar: a capacidade das pessoas mais favorecidas poderem pagar mais cuidados no domicílio ou a sua capacidade para reivindicar mais cuidados domiciliários aos serviços públicos de saúde.(aqui)

Com o objetivo de reduzir as mortes nos Hospitais e também a ajudar a reduzir as desigualdades em saúde verificadas, o Observatório defende a melhoria dos cuidados paliativos quer na sua extensão quer na diminuição da imprevisibilidade dos eventos no final da vida, melhorando o planeamento dos cuidados de modo a que nos últimos dias de vida só ocorram aos serviços de urgência dos Hospitais as situações imprevisíveis, podendo as outras situações serem encaminhas para unidades de internamento em cuidados paliativos se de todo não for possível manter as pessoas nas suas casas ou se as próprias ou as suas famílias ou cuidadores não o desejarem.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

PORTUGAL BEM NA MORTALIDADE EVITÁVEL E NA VACINAÇÃO, MAL NAS DESPESAS NÃO REEMBOLSADAS E NO INVESTIMENTO EM PROMOÇÃO DA SAÚDE - RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO DA COMISSÃO EUROPEIA


A Comissão Europeia publicou no passado dia 28 de novembro um Relatório de Acompanhamento “State of Health in the EU” de 2019 (aqui) sobre a situação da saúde na União Europeia (UE), onde apresenta cinco conclusões para toda a UE resultantes da análise subjacente a todos os perfis de saúde, bem como as principiais conclusões para cada país.

O Relatório de Acompanhamento abrange as áreas da eficácia, da acessibilidade e da resiliência, sendo acompanhado pela publicação dos Perfis de Saúde de cada um dos países, trabalho realizado pela OCDE e pelo Observatório Europeu Sobre Sistemas e Políticas de Saúde (aqui).

Na dimensão da eficácia, o documento aborda as reticências à vacinação e a transformação digital, na dimensão da acessibilidade o relatório procura obter uma imagem dos obstáculos que os cidadãos da UE enfrentam para aceder a cuidados de saúde, tendo em conta os seus perfis de saúde e as características socioeconómicas, finalmente na dimensão da resiliência o relatório aborda os temas da transferências de tarefas na prestação de cuidados de saúde e examina as possíveis implicações do ciclo de vida dos produtos farmacêuticos na existência de medicamentos seguros, eficazes e a preços acessíveis.

Portugal destaca-se pela positiva na mortalidade evitável e na vacinação. No caso da vacinação Portugal está entre os 5 países da UE (Portugal, Hungria, Eslováquia, Suécia e Malta) que reportaram uma taxa de cobertura de 95% para 2 doses da vacinação do sarampo, papeira e rubéola, sendo um dos 3 países da UE (Portugal, Dinamarca e Espanha) onde os cidadãos mostram mais confiança na segurança das vacinas e também um dos 3 países, a par da Suécia e da Finlândia, onde a esmagadora maioria dos cidadãos concorda com a afirmação de que a vacinação de outras pessoas na sociedade é importante para proteger aqueles que não se podem vacinar, Portugal (96%), Suécia (95%) e Finlândia (95%).


Apresentando como aspetos negativos o reduzido investimento na promoção da saúde, situando-se abaixo dos 3% nas despesas em saúde no 25.º lugar entre os 30 países considerados europeus considerados nos estudos, e a elevada % pagamentos diretos efetuados pelos cidadãos cerca de 27,5 % das despesas totais de saúde, o que ultrapassa substancialmente a média da UE que é de 15.8% prejudicando em particular as famílias mais desfavorecidas.


sexta-feira, 29 de novembro de 2019

2019 - PERFIL DE SAÚDE DE PORTUGAL - OCDE E COMISSÃO EUROPEIA - TAXAS MUITO BAIXAS DE HOSPITALIZAÇÕES EVITÁVEIS SUGEREM CUIDADOS PRIMÁRIOS EFICAZES


A OCDE e o Observatório Europeu Sobre Sistemas e Políticas de Saúde publicaram ontem 28 de Novembro os Perfis de Saúde dos Países da União Europeia, trabalho realizado em cooperação com a Comissão Europeia (Aqui).

No caso português o Perfil de Saúde salienta que a esperança de vida tem aumentado continuamente desde 2000, chegando aos 81,6 anos em 2017 e situando-se acima da média europeia, sublinhado que esta diminuição se deve sobretudo à queda das taxas de mortalidade por AVC e doença cardíaca isquémica.

Aponta ainda no que se refere à esperança de vida uma mudança no padrão mortalidade com o crescimento das mortes causadas por cancro do pulmão (relacionadas com o tabagismo) e pelas Demências, ao mesmo tempo que salienta as disparidades na esperança de vida não só entre homens e mulheres (com as mulheres a viverem mais 6,2 anos do que os homens em 2017, o que é superior à média europeia – 5.2 anos) mas também em função do estatuto socioeconómico.

No que se refere à contribuição dos fatores de risco para a mortalidade em Portugal o documento mostra que cerca de 1/3 das mortes registadas em 2017 podem ser atribuídas a riscos comportamentais contra 39% na EU. Com diferenças favoráveis a Portugal nos riscos alimentares e no tabaco e desfavoráveis no consumo de álcool entre a população adulta.

No que se refere às despesas em saúde o documento salienta que do programa de ajustamento económico (Troika) aplicado entre 2011 e 2014 resultou na aplicação de medidas no sector da saúde que levaram a enormes cortes no financiamento público da saúde, levando à diminuição das despesas de saúde em % do PIB que passaram de 69.8% em 2010 para 66.4% em 2017 (contra 79.3% na UE), situação que só se começou a inverter em 2018, provocando um % de pagamentos diretos mais alta do que a média da EU (27,5 % das despesas totais de saúde, o que ultrapassa substancialmente a média da UE situada em 15,8 %).

Estes pagamentos diretos podem de acordo com os autores) podem minar a acessibilidade e contribuir para empobrecer os agregados familiares mais desfavorecidos, acrescentando que cerca de 8,1 % das famílias tiveram despesas de saúde catastróficas em 2016, sendo estas mais elevadas para as famílias de rendimentos mais baixos onde se alcança um valor de 30%.

No que se refere ao sistema de saúde o relatório sublinha numa das suas conclusões que “ Portugal tem um bom sistema de cuidados primários, capaz de manter os doentes fora dos hospitais quando isso se justifica” salientando que Portugal apresenta umas das taxas mais baixas de hospitalizações evitáveis por asma, doença pulmonar obstrutiva crónica e insuficiência cardíaca congestiva na União Europeia, indicando que estas patologias crónicas estão a ser tratadas eficazmente ao nível dos cuidados primários.


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

OS GANHOS EM ESPERANÇA DE VIDA ESTÃO A ESTAGNAR. HEALTH AT A GLANCE 2019, OCDE


O relatório anual “Health a Glance 2019” publicado pela OCDE no passado dia 07 de novembro destaca como principal preocupação a desaceleração no aumento da esperança média de vida nos últimos anos, em particular entre os países mais desenvolvidos, confirmando os resultados apresentados em 2017 pelo Professor Michael Marmot, para o Reino Unido. No estudo de Marmot (aqui) referente ao período de 2012-2015 os resultados mostravam uma estagnação na longevidade ao contrário do que tinha vindo a suceder desde o final da II Guerra Mundial com um crescimento contínuo da esperança de vida.
Esperança média de vida 1970 e 2017 (ou ano mais próximo)
De acordo com os dados agora publicado 27 países da OCDE experimentaram uma estagnação nos ganhos em longevidade nos anos de 2012-17, quando comparados com a década de 2002-07, sendo essa desaceleração mais acentuada nos Estados Unidos, na França, na Holanda, na Alemanha e no Reino Unido, afetando mais as mulheres do que os homens em quase todos os países da OCDE.

O relatório foca com particular atenção o ano de 2015, uma vez que a esperança média de vida caiu nesse ano pela primeira vez desde 1970. Nesse ano dezanove países registaram uma redução na longevidade, atribuída a um surto de gripe particularmente grave que matou muitos idosos frágeis e outros grupos vulneráveis. A maioria desses países eram europeus, com exceção dos Estados Unidos e Israel. As maiores diminuições verificaram-se na Itália (7,2 meses) e na Alemanha (6 meses).
Desaceleração nos ganhos de esperança média de vida, 2012-17 e 2002-07
As causas para esta desaceleração nos ganhos de esperança de vida são multifacetadas (aqui), mas todas elas envolvem os determinantes sociais da saúde e as desigualdades em saúde, já anteriormente verificadas no trabalho de Anne Case e Angus Deaton nos Estados Unidos da América (aqui), sejam a obesidade e a diabetes, seja a crise dos opiáceos ou as medidas de austeridade impostas a quando da crise económica global de 2008.

Recordando que um rendimento nacional mais elevado está associado positivamente com o aumento da longevidade, favorecendo em particular os níveis de rendimento mais baixo, o relatório sublinha que a esperança média de vida também é, em média, mais longa nos países que investem mais em sistemas de saúde - embora essa relação tenda a ser menos pronunciada nos países com os maiores gastos per capita em saúde.

domingo, 13 de outubro de 2019

PORTUGAL, SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE: UMA NOVA OPORTUNIDADE - LANCET


A revista LANCET, publicou na sua edição de 12 de Outubro um Editorial, intitulado "PORTUGAL, SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE: UMA NOVA OPORTUNIDADE", que aqui traduzimos livremente (aqui).
No dia 15 de Setembro, Portugal comemorou o 40º aniversário do seu sistema de saúde, o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Desde a sua criação que se registou um progresso impressionante nos indicadores de saúde dos Portugueses. A mortalidade infantil desceu de 3.3 por cada 1000 nados-vivos em 2006, para 2.9 em 2017 e a esperança média de vida dos homens e mulheres portugueses aumentou mais de quatro (4) anos no mesmo período, situando-se nos 81.3 anos (um valor superior ao da média da União Europeia)(aqui).

Contudo, esta tendência está a mudar, uma vez que após a crise económica (2008) os cortes na despesa pública introduziram novos desafios. Segundo a OMS, Portugal é um dos únicos quatro países, entre os 33 analisados, que reduziram a despesa pública em saúde entre 2000 e 2017 (aqui).

Com o investimento em queda e a impedir a modernização de hospitais e a substituição de material médico obsoleto, o sector privado está a expandir-se. Os trabalhadores do SNS desmotivados pelas más condições de trabalho procuram emprego no setor privado e no exterior (aqui).

As consultas de medicina dentária e os testes de diagnóstico são exemplos de serviços que habitualmente são prestados pelo sector privado, causando um aumento das despesas a cargo das famílias, que neste momento representam 28% da despesa total na saúde, valor significativamente superior à média da União Europeia (15%) de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, OCDE. Também, outros tratamentos eletivos estão a tornar-se limitados à população que os pode pagar.

Os políticos enfrentam problemas nos dois extremos do espectro da idade: a taxa de pobreza infantil está acima da média da União Europeia, e a população mais velha (uma das mais velhas da Europa), está doente e com pouca qualidade de vida nos últimos anos de vida.

No domingo, dia 6 de Outubro, Partido Socialista, partido político de centro-esquerda, venceu de novo as eleições legislativas, apesar de não ter assegurado a maioria absoluta. No seu programa eleitoral, o secretário-geral do PS, António Costa, designou quatro áreas prioritárias a serem abordadas pelo próximo governo: alterações climáticas, demografia, desigualdades e transição para uma sociedade digital (aqui).

Num momento em que o SNS não vai ao encontro das necessidades de uma parte substancial da população, o governo reeleito não pode deixar passar esta nova oportunidade para priorizar a saúde e fazer com que ele seja acessível a todos.
The Lancet

2018 - PORTUGAL (aqui)
OUT-OF-POCKET - 27.4%

DESPESA PÚBLICA EM SAÚDE




domingo, 15 de setembro de 2019

1979 - 2019, 40 ANOS DEPOIS DO SEU NASCIMENTO O SNS VOLTA À SUA MATRIZ CONSTITUCIONAL E HUMANISTA


No ano em que se comemoram 40 anos do SNS a Assembleia da República aprovou no passado dia 19 de julho de 2019, uma nova Lei de Bases, a Lei n.º 95/2019 de 04 de Setembro que reconduz o Serviço Nacional de Saúde à sua matriz constitucional e humanista.

40 Anos depois da aprovação da Lei n.º 56/79 de 15 de Setembro, a aprovação da Lei n.º95/2019 pela Assembleia da República rompe com a legislação que vigorava desde 1990, revogando a Lei n.º 48/90 de 24 de agosto aprovada pelas forças políticas, PSD e CDS, que se tinham oposto à aprovação da Lei n.º 56/79, nada fazendo por a implementar e tentando mesmo revogá-lo através de um Decreto-Lei n.º 254/82 de 29 de Junho, que criava as administrações regionais de saúde (ARS), considerado inconstitucional por um Acórdão do Tribunal Constitucional de 1984, acabando po aprovar uma Lei (48/90) (aqui) que colocava o Serviço Nacional no mesmo plano dos restantes atores do sistema de saúde retirando-lhes a sua supletividade conforme estabelecido na Constituição da República. 
Fez-se jus afinal às últimas palavras dirigidas pelo Dr. António Arnaut ao III Congresso da Fundação do SNS, no dia 18 de maio de 2018, “Há agora condições políticas e parlamentares para realizar essa tarefa patriótica e o governo propôs-se fazê-lo. A realização de iniciativas como este Congresso são uma forma legítima e democrática de chamar a atenção do governo para que cumpra o seu dever... Faço votos para uma profícua discussão sobre esta temática e que, no final, resulte um contributo substantivo em defesa da consolidação do SNS, para que nos 40 anos desta grande reforma possamos todos voltar a ter orgulho no nosso SNS.” (aqui) e ao trabalho por ele desenvolvido em conjunto com o Dr. João Semedo que levaram à publicação do livro “Salvar o SNS - Uma nova Lei de Bases da Saúdepara defender a Democracia







sábado, 14 de setembro de 2019

PORTUGAL NO 26.º LUGAR DOS PAÍSES MAIS SUSTENTÁVEIS DO MUNDO - SDG INDEX 2019 - NAÇÕES UNIDAS


Nos próximos dias 24 e 25 de Setembro, reunirão em Nova Iorque na sede das Nações Unidas, os Chefes de Estado e de Governo num Fórum Político de Alto Nível durante a 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas para analisar o progresso na implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados em 2015 durante a 70.ª Assembleia Geral das Nações Unidas (Aqui).

Com o objetivo de lançar a discussão foi publicado o Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2019, preparado por uma equipa de especialistas independentes da Sustainable Development Solutions Network (SDSN) and Bertelsmann Stiftung que inclui o SDG Index (Índice dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável) e os Dashbord de acompanhamento dos indicadores que permitem monitorizar a evolução das 169 metas propostas para o cumprimento dos 17 Objetivos para o desenvolvimento Sustentável.


De forma geral, o relatório de acompanhamento conclui que os progressos para o cumprimento das metas e dos objectivos para o desenvolvimento sustentável, tem sido demasiado lentos e a continuarem assim não irão garantir o cumprimento dos ODS até 2030.

No cômputo geral as nações do mundo obtêm o seu pior desempenho nos ODS 13 (Ação Climática), ODS 14 (Vida de Baixo da Água) e ODS 15 (Vida sobre a Terra). Nenhum país obtém uma “classificação verde” (o indicador do relatório para a obtenção de um ODS) no ODS 14 (Vida de Baixo da Água).
Os autores concluem que o uso sustentável da terra e os regimes alimentares saudáveis requerem intervenções integradas na agricultura, no clima e nas políticas de saúde. Afirmam que os países mais desenvolvidos e de renda alta, necessitam de alterar as dinâmicas de produção e consumo, uma vez que geram efeitos ambientais e económicos nefastos, dando como exemplos: o desmatamento como resultado do uso de óleo de palma e de outros combustíveis, os paraísos fiscais e o sigilo bancário com factores que minam as finanças públicas ou a tolerância com que encaram o trabalho sem direitos nas cadeias de fornecimento internacional de trabalhadores, prejudicando em particular as mulheres e os pobres.

Alertam ainda para os conflitos que em muitas partes do mundo continuam a levar a reversões no progresso dos ODS, à escravatura moderna e ao elevado número de pessoas em reclusão nos países menos desenvolvidos e de renda de baixa, para as desigualdades de rendimento verificadas nos países de renda alta e para o fosso persistente observado no acesso aos serviços e às oportunidades, em função do território e do rendimento. Terminam considerando que a erradicação da pobreza extrema continua a ser um desafio global, com mais de metade das nações do mundo longe de alcançar o objetivo ODS, erradicar a pobreza.

O índice dos 17 objectivos de desenvolvimento sustentável, resumidos no SDG Index e nos Dashboards, é liderado pela Dinamarca, pela Suécia e pela Finlândia, enquanto a República Democrática do Congo, o Chade e República Centro-Africana estão em último lugar entre os 162 países avaliados.
PORTUGAL - SDG INDEX 2019

Portugal encontra-se no 26.º lugar, estando a cumprir melhor no ODS 1 (Erradicação da Pobreza) 98.7%, no ODS 4 (Educação de Qualidade) 95.5%, no ODS 7 (Energia Acessível e Limpa) 94.6, no ODS 3 (Boa Saúde e Bem-Estar) 92.1 e no ODS 13 (Combate às alterações climáticas) 91.5%.






quinta-feira, 12 de setembro de 2019

O ESTADO DAS DESIGUALDADES EM SAÚDE NA EUROPA - HEALTH EQUITY STATUS REPORT - OMS 2019


Foi publicado ontem, 10 de setembro, o primeiro relatório da Região Europeia da Organização Mundial de Saúde(OMS) (aqui) sobre o estado da Equidade em Saúde na região.

O relatório intitulado “Healthy, prosperous lives for all: the European Health Equity Status Report” apresenta as principais conclusões sobre o estado atual da saúde na região europeia da OMS e as suas principais desigualdades:

·         No que se refere à esperança de vida à nascença, embora esta tenha aumentado em termos globais de 76,7 em 2010 para os 77,8 em 2015, tendo-se fixado nas mulheres em 82 anos e nos homens em 76,2 anos, continuam a existir desigualdades significativas entre os diversos grupos sociais, constatando-se que uma mulher dos grupos sociais mais desfavorecidos possa ver reduzida a sua esperança de vida até 7 anos e um homem de um grupo mais desfavorecido a sua esperança de vida até 15 anos, quando comparados com os grupos sociais mais favorecidos;
·         Quase o dobro dos 20% mais pobres descrevem doenças que limitam sua a capacidade para executar as atividades diárias, em comparação com as dos 20% mais ricos;
·         Em 45 dos 48 países da região europeia da OMS que forneceram dados, as mulheres e os homens com menor número de anos de escolaridade referiram que o seu estado de saúde era fraco ou razoável em comparação com mulheres e os homens com mais anos de escolaridade;
·         O local onde se habita, influencia quanto tempo se vive e quão bem se é capaz de viver: os resultados mostraram que em quase 75% dos países estudados, as diferenças na esperança de vida à nascença entre as regiões mais e menos favorecidas não mudaram na última década e, em alguns casos, pioraram.
·         Nas áreas mais desfavorecidas sobrevivem menos 4% de crianças no final do 1º ano de vida em comparação com as crianças nascidas nas áreas mais ricas.
·         O fosso em saúde entre grupos socioeconómicos mais pobres e mais ricos aumentam à medida que as pessoas envelhecem: mais de 6% de raparigas e mais de 5% dos rapazes relatam mais problemas de saúde nas famílias menos abastadas em comparação com as mais abastadas. Essa diferença aumenta para 19% nas mulheres e 17% nos homens durante a idade ativa, e atinge o pico entre as pessoas com 65 anos ou mais, com 22% para as mulheres e 21% para os homens.
·         A má condição de saúde dos que tem menos recursos económicos e sociais prediz um maior risco de pobreza e de exclusão social, a perda de uma vida independente e um rápido declínio da saúde.

O Relatório “Healthy, prosperous lives for all: the European Health Equity Status Report” também identificou grupos novos e emergentes com risco de cair nas desigualdades em saúde. Estes incluem, por exemplo, os jovens que abandonam a escola antes do final da escolaridade obrigatória, uma vez que correm maior risco de problemas de saúde mental e pobreza devido a mercados de trabalho inseguros e maior exposição a períodos frequentes de desemprego.

Aqueles que vivem com uma doença que limita as suas atividades diárias estão desproporcionalmente representados nos 20% mais pobres. As doenças incapacitantes reduzem a capacidade de permanecer no mercado de trabalho e aumentam o risco de pobreza e de exclusão social. Essa perda maciça de potencial humano afeta a sustentabilidade fiscal dos países, devido à perda de receitas fiscais e ao aumento dos custos de segurança social.

O Relatório identifica em seguida os 5 fatores críticos que explicam as desigualdades em saúde entre países e dentro dos países atribuindo a cada um deles uma % que reflete a sua contribuição para as desigualdades no geral.

Rendimento seguro e proteção social (35%)
Cerca de 35% das iniquidades em saúde resultam de “não conseguir sobreviver”. Este item inclui pessoas integradas no mercado de trabalho em tempo completo que lutam habitualmente para adquirir bens e serviços básicos necessários para viver uma vida digna, decente e independente; estes são os chamados trabalhadores pobres.

Condições de vida (29%)
Esse fator inclui questões como inacessibilidade ou indisponibilidade de habitação condigna, falta de comida e falta de combustível para aquecer a casa ou cozinhar uma refeição. Também se estende a bairros inseguros e à violência doméstica, à sobrelotação das habitações, às condições habitacionais (casas húmidas e insalubres) e a bairros instalados em zonas poluídos. Este fator corresponde a 29% das iniquidades em saúde.

Capital social e humano (19%)
Estes fatores, responsáveis por 19% das iniquidades em saúde, referem-se a sentimentos de isolamento, baixos níveis de confiança nos outros, à sensação de não ter ninguém para pedir ajuda, bem como sentimentos de ser menos capaz de influenciar as decisões políticas e mudar o rumo dos acontecimentos para melhor. Também incluem a violência contra as mulheres, a falta de participação na educação e falta de aprendizagem ao longo da vida.

Acesso e qualidade dos serviços de saúde (10%)
A incapacidade de fornecer em alguns países acesso universal a serviços de saúde de boa qualidade e, ou, os elevados níveis de pagamentos diretos para a saúde (Out-of-pocket payments) são responsáveis por 10% das iniquidades em saúde. Os Pagamentos diretos podem forçar as pessoas a escolher entre usar serviços essenciais de saúde ou atender a outras necessidades básicas.

Emprego e condições de trabalho (7%)
A incapacidade de participar plenamente no mercado de trabalho, afeta a qualidade de vida do dia-a-dia e as oportunidades na vida a longo prazo, responde por 7% das iniquidades em saúde. A qualidade do emprego é igualmente importante, pois empregos inseguros ou temporários e más condições de trabalho têm um efeito igualmente negativo sobre a saúde.

O relatório termina identificando 5 condições concretas para promover a equidade em saúde, permitindo que os cidadãos europeus possam alcançar uma boa saúde e conseguirem ter uma vida decente e segura:
·         Acesso universal a serviços de saúde acessíveis e de qualidade; 
·         Um rendimento seguro e proteção social;  
·         Condições de vida seguras e decentes;  
·         Construção de capital humano e social:  
·         Boas condições de trabalho e emprego;

O conjunto de políticas descritas no relatório que podem estimular o desenvolvimento sustentável e o crescimento económico, reduzindo as desigualdades em 50%, produziria benefícios financeiros para países que variam de 0,3% a 4,3% do produto interno bruto (PIB).

domingo, 18 de agosto de 2019

IMPACTO DAS ILHAS DE CALOR URBANO NA SAÚDE HUMANA - DESIGUALDADES E DETERMINANTES SOCIAIS


No passado dia 8 de agosto, o New York Times publicava o artigo “Summer in the City Is Hot, but Some Neighborhoods Suffer More” abrindo as suas páginas aos trabalhos do Professor Vivek Shandas da Escola de Planeamento e Estudos Urbanos da Universidade de Portland, sobre o mapeamento dos efeitos das ilhas de calor em algumas das cidades dos Estados Unidos e as suas consequências sobre os seus habitantes.

No trabalho liderado pelo professor Shandas, os investigadores identificaram os principais “pontos quentes” urbanos e o seu potencial de risco sobre a saúde das pessoas, uma vez que o efeito “ilha de calor” é caraterizado por temperaturas, em média, superiores às que se verificariam em zonas rurais e com coberto vegetal natural. Testaram variáveis ​​sociodemográficas e físicas dos bairros, incluindo o rendimento, o nível de escolaridade, a densidade populacional e os espaços verdes, concluindo que os moradores mais pobres se concentram nas áreas urbanas com maior índice de construção e menos espaços verdes (aqui)(aqui).
Ilhas Urbanas de calor
Os resultados encontrados confirmam as evidências científicas publicadas desde que Klinenberg estudou a Onda de Calor que afetou Chicago em 1995 concluindo que as 700 mortes que aí ocorreram não eram consequência “natural” da Onda de Calor mas foram antes causadas pelo contexto e pela organização social humana.

Também no nosso país (aqui), tem sido dados alguns passos para um melhor conhecimento dos efeitos das “ilhas de calor” ou “ilhas urbanas”, tendo recentemente sido dado a conhecer os resultados preliminares do estudo “Cartografia da vulnerabilidade térmica: mapeamento dos efeitos das ondas de calor em Lisboa, face às projeções climáticas”, da iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa e executado pelo Instituto de Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Aveiro em parceria com a Agência de Energia e Ambiente de Lisboa (Lisboa E-Nova), o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Diferenças térmicas na cidade de Lisboa
O estudo, que ainda decorre, procura prever o efeito cumulativo das ondas de calor, cada vez mais frequentes e prolongadas em contexto de alterações climáticas e da chamada “ilha de calor” que é tanto mais expressiva quanto mais densamente construídos e menos verdes são os aglomerados urbanos. Recordamos que em agosto de 2017 a revista Lancet Planetary Health, publicava o estudo “Increasing risk over time of weather-related hazards to the European population: a data-driven prognostic study” onde se concluía que o aquecimento global poderá provocar na Europa catástrofes relacionadas com o clima que afetarão cerca de 2/3 da população no ano de 2100 e multiplicarão por 50 as mortes verificadas no período de 1981-2100, prevendo-se que no Sul da Europa, a taxa de mortalidade prematura devido ao clima extremo para os anos em estudo (2071-2100) possa atingir cerca de 700 mortes anuais por milhão de habitantes tornando-se no maior fator de risco ambiental para a saúde.

De acordo os resultados preliminares apresentados pela Universidade de Aveiro em julho deste ano verifica-se que nas zonas mais densamente construídas, ilhas urbanas, as temperaturas possam ser superiores de 4 a 6 graus em relação a zonas rurais da mesma região. São as zonas da cidade de Lisboa, como o aeroporto, a Baixa e uma faixa contígua com essa que se prolonga pela margem do Tejo em direção a poente, as que registam uma diferença de temperatura mais significativa em relação a zonas rurais se não houvesse cidade naquela área.

Num mundo cada vez mais quente, e em sociedades cada vez «mais frias» que voltam as costas aos mais vulneráveis, o calor é um assassino invisível, que não liquida todos por igual. A história das ondas de calor ou ilhas urbanas é uma história económica e social, só compreendida à luz dos determinantes sociais da saúde.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

ENTRE AS 56 ECONOMIAS COM CUIDADOS DE SAÚDE MAIS EFICIENTES - PORTUGAL ESTÁ NO 18.º LUGAR


A notícia é de 19 de setembro de 2018, alguns dos dados até são de 2015, mas vale a pena divulgá-la agora que a agenda mediática foi tomada pela difusão diária de notícias negativas para o Serviço Nacional de Saúde. Não porque este não tenha prolemas ou dificuldades, mas apenas para relativizá-los.
Determinants of Healtb - Helath is more than medical care

A agência de notícias Bloomberg, para além de publicar o Ranking dos países mais saudáveis do mundo “Bloomberg Healthiest Country Index” divulgou em setembro de 2018 o “Blomberg Health Care Efficiency”. Um índice de eficiência em saúde criado pela Blomberg para classificar os sistemas de saúde das 56 maiores economias mundiais, que tenham cumulativamente uma esperança média de vida à nascença de pelo menos 70 anos, um PIB per capita superior a US$ 5.000 e uma população de pelo menos 5 milhões de habitantes.



De acordo com “Blomberg Health Care Efficiency” que coloca Portugal na 18.ª posição com uma subida de 8 lugares em relação à anterior edição, os cinco primeiros lugares são repartidos entre Hong Kong, Singapura, a Espanha, a Itália e a Coreia do Sul, nos primeiros 20 lugares encontram-se 7 países europeus (Noruega, Suíça, Irlanda, Grécia, França, Portugal e Finlândia), 2 do Médio Oriente (Israel e Emiratos Árabes Unidos)3 países da Ásia (Japão, Taiwan e China) 2 países da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia), 2 das Américas (Canadá e México).

Algumas das nações mais ricas do mundo como o Reino Unido (35.º) a Alemanha (39.º) ou os Estados Unidos da América (54.º) encontram-se em lugares inusitados para a maioria dos cidadãos, uma vez que a informação habitualmente divulgada raramente compara os resultados obtidos em saúde medidos pela esperança de vida à nascença com a riqueza da economia e os gastos em saúde.