domingo, 31 de março de 2019

DIA MUNDIAL DA SAÚDE 2019 - "SAÚDE PARA TODOS E EM TODOS OS LUGARES - SAÚDE UNIVERSAL"


O Dia Mundial de Saúde (07 de abril) é assinalado em 2019 no meio de um caminho iniciado em Outubro de 2018 no decurso da Conferência Global sobre Cuidados de Saúde Primários, realizada em Astana, Cazaquistão, por ocasião dos 40 anos da Declaração de Alma-Ata (aqui) e que terminará com a realização de uma Reunião de Alto Nível das Nações Unidas no dia 23 de Setembro durante a semana em que se realizará a Assembleia Geral das Nações Unidas de 2019, dedicada a Cobertura Universal de Saúde (aqui).

De acordo com os dados disponíveis metade das pessoas do mundo não recebe os cuidados de saúde que necessitam e cerca de 100 milhões de pessoas são anualmente empurradas para a pobreza extrema por causa dos gastos diretos em saúde. Para contrariar esta situação as organizações internacionais como a plataforma UHC2030, onde participam para além das organizações ligadas às Nações Unidas, organizações da sociedade civil e organizações filantrópicas ligadas ao setor privado, como a Fundação Rockfeller ou a Fundação Bill e Belinda Gattes defendem que os cuidados de saúde primários são a base para a cobertura universalde saúde, uma vez que um sistema de saúde centrado nos Cuidados de Saúde Primários oferece melhores resultados em saúde, garante a acessibilidade a TODOS, é mais eficiente em termos de custo e melhora a qualidade do atendimento.

A OMS salienta que:

SAÚDE PARA TODOS NO SÉCULO XXI, requer o envolvimento de todos os setores da sociedade para combater a pobreza, a injustiça social, as desigualdades educacionais, as más condições de vida, entre outros fatores que influenciam a saúde das pessoas.

sábado, 30 de março de 2019

A INFLUÊNCIA DA CLASSE SOCIAL NO ESTADO DE SAÚDE

Um estudo publicado na revista “Scientific Reports”, publicação online de acesso livre da Nature, no âmbito do projeto Europeu Lifepath que tem como objetivo investigar os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades sociais conduzem às desigualdades em saúde, mostrou que as pessoas que pertencem a uma classe social mais desfavorecida têm pior saúde, uma vez que apresentam maiores níveis de inflamação crónica, estando esta associada a problemas de saúde como o cancro, doença cardiovascular e a diabetes.

"O Almoço do Trolha" - Júlio Pomar
Na investigação que deu origem à publicação do artigo "A Comparative Analysis of the Status Anxiety Hypothesis of Socio-economic Inequalities in Health Based on 18,349 individualsin Four Countries and Five Cohort Studies" da autoria de um conjunto de investigadores europeus oriundos do  Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Portugal, do Imperial College of London, Reino Unido, do Trinity College Dublin, Irlanda, do Hospital Universitário de Lausanne, Suíça e do University College London, Reino Unido, os autores procuraram perceber por um lado, até que ponto as pessoas de classe social mais baixa apresentavam maiores níveis de inflamação e, por outro, se a população que vivia em países onde há maior desigualdade social também apresentava maior inflamação

Para testar estas duas hipóteses, os investigadores usaram dados de 18.400 indivíduos, com idades compreendidas entre os 50 e os 75 anos, de quatro países europeus – Portugal, Irlanda, Reino Unido e Suíça. Os indivíduos integravam cinco coortes (estudos longitudinais) dos referidos países: ELSA e Whitehall II (Reino Unido), TILDA (Irlanda), EPIPorto (Portugal) e SKIPOGH (Suíça), tendo sido considerados no estudo vários indicadores: Diabetes, Hipertensão Arterial, Fumar, Índice Massa Corporal, Marcador Inflamatório (Proteína C Reativa - PCR) Posição socioeconómica, Idade e Género. 

Os resultados mostram que os indivíduos situados nos grupos socioeconómicos mais baixos (a classe social foi harmonizada de acordo com a Classificação Socioeconómica Europeia (ESeC) e a Classificação Internacional Padrão da Educação (ISCED 2011) têm maiores níveis médios de inflamção(PCR),  e que quanto mais desigual é o país maior é o nível de inflamação dos indivíduos e mais pronunciado é o gradiente socioeconómico da inflamação, existindo uma diferença significativa entre os níveis de proteína C-reativa das classes mais desfavorecidas ("pobres") e mais favorecidas socioeconomicamente ("ricos").

O estudo confirma que a classe social é um fator de risco para saúde, não só do ponto de vista absoluto como também do ponto de vista relativo tendo em conta o gradiente social, definido como “o fenómeno pelo qual as pessoas que são menos favorecidos em termos de posição socioeconómica têm pior saúde (e vida mais curtas) do que aqueles que são mais favorecidos”.

A investigação revela ainda que Portugal é o país onde os níveis de inflamação crónica na população são mais elevados e onde existe uma diferença mais marcada entre os grupos socioeconomicamente mais desfavorecidos (pobres) e os mais favorecidos (ricos), resultado que está em linha com o facto de Portugal ser o país mais desigual em termos sociais entre os países estudados, Irlanda, Reino Unido e Suíça.

domingo, 17 de março de 2019

MAIO 2019 - MICHAEL MARMOT EM PORTUGAL PARA FALAR DOS DETERMINANTES SOCIAIS SA SAÚDE MENTAL INFANTOJUVENIL


No próximo mês de Maio o Professor Michael Marmot, a principal autoridade mundial na área dos Determinantes Sociais da Saúde estará em Portugal para abordar os Determinantes Sociais da Saúde Mental Infantojuvenil a convite da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (APPIA) durante o XXX Encontro Nacional da Associação Portuguesa que se realizará em Guimarães de 15 a 18 de maio. (aqui)

O professor Michael Marmot, diretor do Instituto de Equidade em Saúde do University College London, professor de epidemiologia, investigador principal do estudo Whitehall, tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos 35 anos importante investigação nas áreas das desigualdades em saúde e nos determinantes sociais da saúde.


Resultado de imagem para mirar a saude michael marmotPresidente da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde, criada em 2005 por iniciativa do secretário-geral da Organização Mundial da Saúde JW Lee, que apresentou em 2008 o relatório “Redução das desigualdades no período de uma geração: Igualdade na saúde através da ação sobre os seus determinantes sociais” (aqui), ex-presidente da Associação Médica Mundial de 2015 a 2016 (aqui), preside atualmente à Comissão para o Estudo da Equidade e das Desigualdades em Saúdedas Américas criada em 2015 pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS / OMS)(aqui), esteve em Portugal em 2012 a convite da Universidade do Algarve e do Instituto Nacional de Saúde (aqui) e em 2018 a convite da Fundação Caloust Gulbenkian (aqui).

Michael Marmot orientará um workshop pré-encontro no dia 14 de Maio denominado “Give every child the best start in life – Acting upon the social determinants of mental health” e proferirá a Conferência de Abertura intitulada “Social Determinants, Social Justice, and Health Equity”.

sábado, 16 de março de 2019

O IMPACTO DA DESIGUALDADE DE GÉNERO NA SAÚDE


Nos últimos dias e a propósito do Dia Internacional da Mulher muito se falou das desigualdades de género ao longo da vida em Portugal e um pouco por todo o mundo.

Mas antes de abordarmos as desigualdades de género e saúde, vale a pena lembrar as raízes operárias da celebração deste dia, voltando à Nova Iorque de 1909 ou à Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras de 1910 onde Clara Zetkin apresentou a ideia de um Dia Internacional da Mulher, celebrado pela primeira vez no dia 8 de março de 1917 quando as mulheres russas iniciaram uma greve por "pão e paz" em resposta à morte de mais de 2 milhões de soldados russos na Primeira Guerra Mundial. Foi necessário esperar algumas décadas para que o Dia Internacional da Mulher fosse oficializado pelas Nações Unidas em 1975 (aqui), deixando progressivamente o seu caráter de classe para passar a ter um teor mais feminista.

As diferenças em saúde entre homens e mulheres não são apenas biológicas, são também diferenças resultantes da construção social dos diferentes valores, atitudes e condutas, assim como das diferenças no acesso aos recursos, ao mercado de trabalho e ao poder. Sexo e género são importantes determinantes de saúde, mas são frequentemente confundidos, como assume a Organização Mundial de Saúde «o sexo biológico e o género construído socialmente interagem para produzir diferentes riscos e vulnerabilidades para problemas de saúde e de doença e diferenças no comportamentos e nos resultados de saúde para mulheres ehomens, “género” descreve as características de mulheres e homens que são socialmente criadas, enquanto 'sexo' engloba aquelas que são biologicamente determinadas”.

Mas as desigualdades, entendidas como diferenças, não devem ser confundidas como “iniquidades” desigualdades desnecessárias, injustas e evitáveis, resultantes de fatores estruturais das sociedades patriarcais em que vivemos. Fatores estruturais como o acesso ao ensino, a participação no mercado de trabalho, a independência económica, o trabalho em casa e fora de casa, a tomada de decisões, a violência de género, as oportunidades económicas e o poder político são disto exemplos, sempre desfavoráveis às mulheres com reportam os relatórios da União Europeia e do Fórum Económico Mundial respetivamente “2018 Report one quality between women and men in the EU” e o “ The Global Gender Gap Report 2018”.

Apesar destas desigualdades sociais de género, sabemos que em todo o mundo as mulheres vivem 4,4 anos mais que os homens, e que esta diferença resulta sobretudo de fatores não biológicos. As evidências publicadas mostram que os homens adotaram ao longo dos últimos 100 anos comportamentos sociais nocivos para a saúde, percebidos como masculinos como o consumo do tabaco, do álcool e de substâncias ilícitas, comportamentos que conduzem ao risco de acidentes e de violência, provocando uma mortalidade prematura por cancro, por doenças respiratórias e por lesões decorrentes de acidentes e de atos violentos.

No entanto, e paradoxalmente quando analisamos indicadores de saúde e de qualidade de vida percebemos que as mulheres apresentam pior condição de saúde, têm mais doenças crónicas, mais dias de incapacidade, mais consultas médicas e internamentos hospitalares do que os homens, ou seja, vivem mais anos mas com pior saúde do que os homens. Resultados ainda mais negativos quando se consideram apenas as mulheres das classes sociais mais desfavorecidas, as que acumulam piores condições de trabalho, salários mais baixos e cargas de trabalho doméstico e familiar, mais pesadas.

No caso de Portugal, as mulheres (esperança de vida à nascença de 84,3) vivem mais 6,1 anos do que os homens (esperança de vida à nascença de 76,2) mas vivem menos anos com saúde, uma vez que aos 65 anos, as mulheres portuguesas têm uma esperança de vida de 21,8 anos, mas 71% deles serão vividos com limitações, enquanto os homens têm uma esperança de vida de 18 anos, mas 57% deles serão vividos com limitações. (aqui)

No que se refere à autoapreciação sobre o seu estado de saúde 48.9% (1.7 milhões) das mulheres dos 25 aos 74 anos inquiridas no INSEF (aqui) consideraram o seu estado de saúde bom ou muito bom, enquanto no estudo “ As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem” publicado pela Fundação Manuel dos Santos e coordenado por Laura Sagnier e Alex Morell as mulheres quando questionadas acerca do grau de felicidade que sentem com a saúde 41% declararam que se sentem felizes ou muito felizes com a saúde (41%) contra 39% que sentem infelizes (39%). Neste este último estudo os valores mínimos de felicidade com a saúde estão relacionados com as frentes que as mulheres têm na vida e com o peso (índice massa corporal), o valor mínimo, 5.4% regista-se entre as mulheres que têm só a frente “filhos/as”, seguido de 5.9% para o índice “obesidade” e 7.1% para o índice “peso baixo”.

Finalmente e no que se refere à violência de género, as estimativas da Organização Mundial de Saúde (aqui) apontam para que 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo sofram de violência física ou sexual ao longo de vida, na maioria dos casos por parte do seu parceiro íntimo e que 38% dos assassinatos de mulheres em todo o mundo são cometidos pelo seu parceiro.

As mulheres são mais de metade do mundo mas continuam a ser discriminadas. Para combater esta discriminação necessitamos de um forte compromisso entre os cidadãos e a instituições, que ponham em prática os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável aprovados pelas Nações Unidades em 2015, uma vez que 1/5 dos objetivos fazem referência à igualdade de género, de forma a conseguirmos uma sociedade mais justa e igualitária.

quarta-feira, 6 de março de 2019

2019 - EM ITÁLIA VIVE-SE MENOS NO SUL QUE NO NORTE E EM TODA A ITÁLIA OS HOMENS QUE ESTUDARAM MENOS MORREM 3 ANOS MAIS CEDO. Atlas italiano das desigualdades de mortalidade por nível de educação


No passado dia 27 de fevereiro foi apresentado em Roma, pelo professor Michael Marmot o “ATLAS ITALIANO DAS DESIGUALDADES DE MORTALIDADE POR NÍVEL DE EDUCAÇÃO” na presença da ministra da saúde de Itália, Giulia Grillo.

O primeiro "Atlas italiano das desigualdades de mortalidade por nível de educação" foi produzido pelo Instituto Nacional para a Promoção da Saúde dos Migrantes e ao Combate das Doenças da Pobreza (aqui) e pelo Instituto nacional de Estatística (aqui) tendo como objetivos avaliar: as diferenças geográficas e socioeconómicas na mortalidade e na esperança de vida à nascença e a proporção de mortalidade na população atribuível a um nível médio-baixo de escolaridade através da utilização de mapas e indicadores, através de um estudo longitudinal da população recenseada no Censo italiano de 2011.

O estudo utilizou uma base de dados do Instituto Nacional de Estatística Italiano desenvolvida através da ligação do Censo 2011 ao Registo Nacional Italiano de Causas de Morte (2012-2014) para 35 grupos de causas de morte, cruzando-os com a idade, sexo, residência e nível de escolaridade. A esperança de vida à nascença foi calculada por sexo, região e nível de escolaridade, para a população dos 30 aos 89 anos, por sexo, foram criados mapas geográficos por causa de morte, anos de vida perdidos, distribuídas por quintis utilizando a razão de mortalidade padronizada para a idade e nível de escolaridade. (aqui)

Os principais resultados mostram que na Itália, as desigualdades sociais estão presentes em todas as regiões e dentro das próprias regiões. No que se refere à esperança de vida à nascença existe uma desvantagem clara entre as regiões do norte e do sul, independente do nível de escolaridade, desfavoráveis num 1 ano às populações do sul, atingindo na Campânia uma desvantagem de dois anos em comparação com as regiões do centro e do norte, tanto para os homens e para as mulheres.



Mas se tivermos em conta a escolaridade, os resultados mostram que as pessoas com baixa qualificação educacional apresentam uma probabilidade de morte prematura de 35% para os homens e 24% para as mulheres. A parcela de mortalidade atribuível às condições socioeconómicas e de vida associadas ao baixo nível de escolaridade é de 18% para os homens e de 13% para as mulheres.

Finalmente e no que se refere às principais causas de morte, as diferenças geográficas são maiores para as doenças cardiovasculares, para as respiratórias e para os acidentes, e menores para o cancro. O estudo mostrou pela primeira vez em Itália que existe um gradiente de mortalidade Este-Oeste com maior mortalidade no Noroeste, na costa sul do Tirreno por todas as causas, em especial para as doenças cerebrovasculares e tumores como um todo.


No caso da mortalidade por doenças cardiovasculares existe uma diferença clara entre as populações do norte e do sul da Itália, desfavorável às populações das regiões mais pobres do sul, onde em algumas áreas geográficas a mortalidade das pessoas com maior nível de escolaridade é maior do que a dos residentes no norte da Itália com baixo nível de escolaridade. Em contraste e no que se refere à mortalidade por cancro, a mortalidade cresce de sul para norte não apresentando contudo diferenças tão significativas.