“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.” Ensaio sobre a Cegueira – José Saramago
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
sábado, 14 de setembro de 2019
PORTUGAL NO 26.º LUGAR DOS PAÍSES MAIS SUSTENTÁVEIS DO MUNDO - SDG INDEX 2019 - NAÇÕES UNIDAS
Nos
próximos dias 24 e 25 de Setembro, reunirão em Nova Iorque na sede das Nações
Unidas, os Chefes de Estado e de Governo num Fórum Político de Alto Nível
durante a 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas para analisar o
progresso na implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e
os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados em 2015 durante
a 70.ª Assembleia Geral das Nações Unidas (Aqui).
Com o
objetivo de lançar a discussão foi publicado o Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2019, preparado por uma equipa de especialistas independentes da Sustainable
Development Solutions Network (SDSN) and Bertelsmann Stiftung que inclui o SDG Index (Índice dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável) e os Dashbord
de acompanhamento dos indicadores que permitem monitorizar a evolução das 169
metas propostas para o cumprimento dos 17 Objetivos para o desenvolvimento Sustentável.
De forma
geral, o relatório de acompanhamento conclui que os progressos para o cumprimento
das metas e dos objectivos para o desenvolvimento sustentável, tem sido
demasiado lentos e a continuarem assim não irão garantir o cumprimento dos ODS
até 2030.
No cômputo
geral as nações do mundo obtêm o seu pior desempenho nos ODS 13 (Ação Climática),
ODS 14 (Vida de Baixo da Água) e ODS 15 (Vida sobre a Terra). Nenhum país obtém
uma “classificação verde” (o indicador do relatório para a obtenção de um ODS)
no ODS 14 (Vida de Baixo da Água).
Os autores
concluem que o uso sustentável da terra e os regimes alimentares saudáveis requerem
intervenções integradas na agricultura, no clima e nas políticas de saúde. Afirmam que os países mais desenvolvidos
e de renda alta, necessitam de alterar as dinâmicas de produção e consumo, uma
vez que geram efeitos ambientais e económicos nefastos, dando como exemplos: o
desmatamento como resultado do uso de óleo de palma e de outros combustíveis, os
paraísos fiscais e o sigilo bancário com factores que minam as finanças
públicas ou a tolerância com que encaram o trabalho sem direitos nas cadeias de
fornecimento internacional de trabalhadores, prejudicando em particular as
mulheres e os pobres.
Alertam
ainda para os conflitos que em muitas partes do mundo continuam a levar a
reversões no progresso dos ODS, à escravatura moderna e ao elevado número de
pessoas em reclusão nos países menos desenvolvidos e de renda de baixa, para as
desigualdades de rendimento verificadas nos países de renda alta e para o fosso
persistente observado no acesso aos serviços e às oportunidades, em função do
território e do rendimento. Terminam considerando que a erradicação da pobreza
extrema continua a ser um desafio global, com mais de metade das nações do
mundo longe de alcançar o objetivo ODS, erradicar a pobreza.
O índice dos
17 objectivos de desenvolvimento sustentável, resumidos no SDG Index e nos Dashboards,
é liderado pela Dinamarca, pela Suécia e pela Finlândia, enquanto a República
Democrática do Congo, o Chade e República Centro-Africana estão em último lugar
entre os 162 países avaliados.
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PORTUGAL - SDG INDEX 2019 |
Portugal
encontra-se no 26.º lugar, estando a cumprir melhor no ODS 1 (Erradicação da
Pobreza) 98.7%, no ODS 4 (Educação de Qualidade) 95.5%, no ODS 7 (Energia
Acessível e Limpa) 94.6, no ODS 3 (Boa Saúde e Bem-Estar) 92.1 e no ODS 13
(Combate às alterações climáticas) 91.5%.
segunda-feira, 22 de julho de 2019
ENTRE AS 56 ECONOMIAS COM CUIDADOS DE SAÚDE MAIS EFICIENTES - PORTUGAL ESTÁ NO 18.º LUGAR
A notícia é
de 19 de setembro de 2018, alguns dos dados até são de 2015, mas vale a pena divulgá-la
agora que a agenda mediática foi tomada pela difusão diária de notícias
negativas para o Serviço Nacional de Saúde. Não porque este não tenha prolemas
ou dificuldades, mas apenas para relativizá-los.
Determinants of Healtb - Helath is more than medical care |
A agência de notícias Bloomberg, para além de publicar o Ranking dos países mais saudáveis do mundo “Bloomberg Healthiest Country Index” divulgou em setembro de 2018 o “Blomberg Health Care Efficiency”. Um índice de eficiência em saúde criado pela Blomberg para classificar os sistemas de saúde das 56 maiores economias mundiais, que tenham cumulativamente uma esperança média de vida à nascença de pelo menos 70 anos, um PIB per capita superior a US$ 5.000 e uma população de pelo menos 5 milhões de habitantes.
De acordo
com “Blomberg Health Care Efficiency” que coloca Portugal na 18.ª posição com uma
subida de 8 lugares em relação à anterior edição, os cinco primeiros lugares
são repartidos entre Hong Kong, Singapura, a Espanha, a Itália e a Coreia do Sul,
nos primeiros 20 lugares encontram-se 7 países europeus (Noruega, Suíça, Irlanda,
Grécia, França, Portugal e Finlândia), 2 do Médio Oriente (Israel e Emiratos Árabes
Unidos)3 países da Ásia (Japão, Taiwan e China) 2 países da Oceânia (Austrália
e Nova Zelândia), 2 das Américas (Canadá e México).
Algumas das
nações mais ricas do mundo como o Reino Unido (35.º) a Alemanha (39.º) ou os
Estados Unidos da América (54.º) encontram-se em lugares inusitados para a
maioria dos cidadãos, uma vez que a informação habitualmente divulgada raramente
compara os resultados obtidos em saúde medidos pela esperança de vida à
nascença com a riqueza da economia e os gastos em saúde.
sábado, 18 de maio de 2019
PORTUGAL 22.º PAÍS MAIS SAUDÁVEL DO MUNDO - Bloomberg Healthiest Country Index
A agência
de notícias Bloomberg publicou recentemente o Ranking dos Países Mais Saudáveis
do Mundo de 2019(Bloomberg Healthiest Country Index) que coloca Portugal na 22ª
posição entre os 169 países analisados.
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Bloomberg Healthiest Country Index |
Os três primeiros lugares são
repartidos entre a Espanha, a Itália e a Islândia e nos primeiros 20 lugares encontram-se
13 países europeus (Suíça, Suécia, Noruega, Luxemburgo, França, Áustria,
Finlândia Holanda, Reino Unido e Irlanda), 3 países da Ásia (Japão, Singapura e
Coreia do Sul) 2 países da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia), 1 das Américas
(Canadá) e 1 do Médio Oriente (Israel).
A nação mais rica do mundo, o Estados
Unidos da América do Norte encontra-se no 35.º lugar, atrás de Cuba (30.º),
Chile (33.º) e Costa Rica (33.º).
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Bloomberg Healthiest Country Index |
O Bloomberg
Healthiest Country Index publicado desde 2012 classifica os países com base
num conjunto de variáveis que denomina de “ Health score” recolhidos nas
estatísticas da Organização Mundial de Saúde, da Organização Nações Unidas e do
Banco Mundial, que incluem as causas de mortalidade e a esperança de vida medidas
em várias fases do ciclo de vida, e penalidades “Health risk” que incluem a título
de exemplo a obesidade, o consumo de tabaco ou de álcool, a atividade física, a
cobertura vacinal ou o saneamento básico.
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Metodologia Bloomberg Healthiest Country Index |
No caso de
Portugal o país tendo vindo a melhorar o seu “Health Grade” desde 2012,
passando da 23.ª posição em 2012 (Health grade 75.15 – 81.72-6.57) para 20.ªposição em 2017 (Health grade 82.97 – 88.24 – 5.27) e para 21.ª posição em 2019
(Health grade 83,10 - 87.95 – 4.85).
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Bloomberg Healthiest Country Index 2012 |
sábado, 16 de março de 2019
O IMPACTO DA DESIGUALDADE DE GÉNERO NA SAÚDE
Nos últimos
dias e a propósito do Dia Internacional da Mulher muito se falou das
desigualdades de género ao longo da vida em Portugal e um pouco por todo o
mundo.
Mas antes
de abordarmos as desigualdades de género e saúde, vale a pena lembrar as raízes
operárias da celebração deste dia, voltando à Nova Iorque de 1909 ou à Conferência
Internacional de Mulheres Trabalhadoras de 1910 onde Clara Zetkin apresentou a
ideia de um Dia Internacional da Mulher, celebrado pela primeira vez no dia 8
de março de 1917 quando as mulheres russas iniciaram uma greve por "pão e
paz" em resposta à morte de mais de 2 milhões de soldados russos na
Primeira Guerra Mundial. Foi necessário esperar algumas décadas para que o Dia
Internacional da Mulher fosse oficializado pelas Nações Unidas em 1975 (aqui),
deixando progressivamente o seu caráter de classe para passar a ter um teor
mais feminista.
As
diferenças em saúde entre homens e mulheres não são apenas biológicas, são
também diferenças resultantes da construção social dos diferentes valores,
atitudes e condutas, assim como das diferenças no acesso aos recursos, ao
mercado de trabalho e ao poder. Sexo e género são importantes determinantes de
saúde, mas são frequentemente confundidos, como assume a Organização Mundial de
Saúde «o sexo biológico e o género construído socialmente interagem para produzir diferentes riscos e vulnerabilidades para problemas de saúde e de doença e diferenças no comportamentos e nos resultados de saúde para mulheres ehomens, “género” descreve as características de mulheres e homens que são socialmente criadas, enquanto 'sexo' engloba aquelas que são biologicamente determinadas”.
Mas as
desigualdades, entendidas como diferenças, não devem ser confundidas como
“iniquidades” desigualdades desnecessárias, injustas e evitáveis, resultantes
de fatores estruturais das sociedades patriarcais em que vivemos. Fatores
estruturais como o acesso ao ensino, a participação no mercado de trabalho, a
independência económica, o trabalho em casa e fora de casa, a tomada de
decisões, a violência de género, as oportunidades económicas e o poder político
são disto exemplos, sempre desfavoráveis às mulheres com reportam os relatórios
da União Europeia e do Fórum Económico Mundial respetivamente “2018 Report one quality between women and men in the EU” e o “ The Global Gender Gap Report 2018”.
Apesar
destas desigualdades sociais de género, sabemos que em todo o mundo as mulheres
vivem 4,4 anos mais que os homens, e que esta diferença resulta sobretudo de
fatores não biológicos. As evidências publicadas mostram que os homens adotaram
ao longo dos últimos 100 anos comportamentos sociais nocivos para a saúde,
percebidos como masculinos como o consumo do tabaco, do álcool e de substâncias
ilícitas, comportamentos que conduzem ao risco de acidentes e de violência,
provocando uma mortalidade prematura por cancro, por doenças respiratórias e
por lesões decorrentes de acidentes e de atos violentos.
No entanto,
e paradoxalmente quando analisamos indicadores de saúde e de qualidade de vida
percebemos que as mulheres apresentam pior condição de saúde, têm mais doenças
crónicas, mais dias de incapacidade, mais consultas médicas e internamentos hospitalares
do que os homens, ou seja, vivem mais anos mas com pior saúde do que os homens.
Resultados ainda mais negativos quando se consideram apenas as mulheres das
classes sociais mais desfavorecidas, as que acumulam piores condições de trabalho,
salários mais baixos e cargas de trabalho doméstico e familiar, mais pesadas.
No caso de
Portugal, as mulheres (esperança de vida à nascença de 84,3) vivem mais 6,1
anos do que os homens (esperança de vida à nascença de 76,2) mas vivem menos
anos com saúde, uma vez que aos 65 anos, as mulheres portuguesas têm uma
esperança de vida de 21,8 anos, mas 71% deles serão vividos com limitações,
enquanto os homens têm uma esperança de vida de 18 anos, mas 57% deles serão
vividos com limitações. (aqui)
No que se
refere à autoapreciação sobre o seu estado de saúde 48.9% (1.7 milhões) das
mulheres dos 25 aos 74 anos inquiridas no INSEF (aqui) consideraram o seu estado de
saúde bom ou muito bom, enquanto no estudo “ As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem” publicado pela Fundação Manuel dos Santos e
coordenado por Laura Sagnier e Alex Morell as mulheres quando questionadas acerca
do grau de felicidade que sentem com a saúde 41% declararam que se sentem
felizes ou muito felizes com a saúde (41%) contra 39% que sentem infelizes
(39%). Neste este último estudo os valores mínimos de felicidade com a saúde estão
relacionados com as frentes que as mulheres têm na vida e com o peso (índice
massa corporal), o valor mínimo, 5.4% regista-se entre as mulheres que têm só a
frente “filhos/as”, seguido de 5.9% para o índice “obesidade” e 7.1% para o
índice “peso baixo”.
Finalmente e
no que se refere à violência de género, as estimativas da Organização Mundial
de Saúde (aqui) apontam para que 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo sofram de
violência física ou sexual ao longo de vida, na maioria dos casos por parte do
seu parceiro íntimo e que 38% dos assassinatos de mulheres em todo o mundo são
cometidos pelo seu parceiro.
As mulheres
são mais de metade do mundo mas continuam a ser discriminadas. Para combater
esta discriminação necessitamos de um forte compromisso entre os cidadãos e a
instituições, que ponham em prática os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável aprovados pelas Nações Unidades em 2015, uma vez que 1/5 dos
objetivos fazem referência à igualdade de género, de forma a conseguirmos uma
sociedade mais justa e igualitária.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
DIA COBERTURA DE SAÚDE UNIVERSAL 2018 - #UHCDAY #HEALTHFORALL
Comemora-se hoje dia 12.12.2018 o Universal Health Coverage Day, 2018,#HealthForAll #UHCDay assinalando o dia 12 de Dezembro de 2012, data em que as Nações Unidas aprovaram por unanimidade uma resolução pedindo que todos os países forneçam cuidados de saúde acessíveis e de qualidade a todas as pessoas e em todos os lugares.
Health is a
human right, no matter your gender, race, religion, sexual orientation, age,
ability or citizenship. Universal health coverage means ensuring every community
can get the health services they need, without discrimination or financial
hardship. #HealthForAll
#UHCDay
domingo, 21 de outubro de 2018
ALMA-ATA 40 ANOS DEPOIS, UM NOVO COMEÇO PARA OS CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDE
Há 40 anos em
plena Guerra Fria, reunia-se em Alma-Ata (Almaty) capital da República
Soviética do Cazaquistão (ex – URSS) a Conferência Internacional sobre Cuidados de Saúde Primários, reunindo peritos em saúde e decisores políticos de todo o
mundo em conjunto com os representantes dos 134 países membros da Organização
Mundial de Saúde. (aqui)
Nessa época
estimava-se que 2000 milhões de pessoas não tinham acesso a cuidados de saúde
adequados, existiam grandes desigualdades entre países ricos e países pobres,
bem como entre as populações mais ricas e mais pobres dentro do mesmo país. A
Declaração de Alma-Ata assinada no dia 12 de Setembro de 1978 revolucionou a interpretação
da saúde no mundo. A ideia de
que a saúde devia ser vista como um recurso para o desenvolvimento
socioeconómico e de que cuidados de saúde inadequados e iníquos eram
inaceitáveis dos pontos de vista económico, social e político, tornou-se na sua
principal mensagem.
Em 1978, a
Declaração de Alma-Ata (aqui)foi inovadora ao colocar os cuidados de saúde primários como a chave para uma melhor saúde para todos e os valores da justiça social e
da equidade em saúde como princípios basilares para atingir esse desígnio.
Passados 40
anos, os cuidados de saúde primários estão em crise. As razões para esta crise
são muitas, mas elencaremos apenas as duas mais relevantes, por um lado o aparecimento
do HIV/SIDA e carga de doença global que trouxe associada, por outro lado a
visão de que os cuidados de saúde primários eram politicamente inaceitáveis para
alguns países, e, portanto marginalizados no contexto económico e social
iniciado nos anos de 80 com adoção pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional de políticas neoliberais sustentadas no Consenso de
Washington (aqui), que
levaram a “abordagens seletivas” dirigidas a alguns problemas de
saúde em detrimento de uma abordagem global.
Atualmente
os cuidados de saúde primários, estão subfinanciados e pouco desenvolvidos em
muitos países, enfrentando grandes desafios no recrutamento e na retenção dos
seus profissionais.
Em 2018
metade da população mundial não tem acesso aos cuidados de saúde mais
essenciais, apesar de sabermos. desde há muito, que 80-90% das necessidades em saúde
ao longo de da vida podem ser resolvidas ao nível dos cuidados de
saúde primários(da prevenção de doenças à vacinação, da maternidade à gestão das doenças
crónicas ou aos cuidados paliativos)e que à medida que as populações envelhecem
e a multimorbilidade se torna regra, o papel dos cuidados de saúde primários torna-se
cada vez mais importante.
Em 1978, a
Declaração de Alma-Ata colocou os cuidados de saúde primários, enquanto filosofia,
estratégia para organização de serviços e um conjunto de atividades, como chave
para a “Saúde para Todos”, mas 40 anos depois, essa visão não foi concretizada,
e, em vez disso, o foco tem sido centrado nas doenças individuais com
resultados variáveis.
Contudo, com
a aprovação em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas dos “Objetivos para
o Desenvolvimento Sustentável” estão criadas novas condições para alcançar a
cobertura universal de saúde através dos cuidados de saúde primários fortalecidos.(aqui)
A
realização da Conferência Global sobre Cuidados de Saúde Primários, em Astana
no Cazaquistão, organizada pelo Governo do Cazaquistão, pela OMS e pela UNICEF no
próximos dias 25 e 26 de outubro (aqui), será a oportunidade para renovar o
compromisso político dos Estados membros da OMS e das organizações internacionais
para desenvolver cuidados de saúde primários centrados nas pessoas, com base
nos princípios da Declaração de Alma-Ata.
O
renascimento dos cuidados de saúde primários é essencial para conseguir o desígnio
de alcançar “Saúde para Todos”, incluindo os mais vulneráveis. Promover os
valores da solidariedade, da equidade e da participação, investir nos sistemas
de saúde, promover a transparência e a responsabilidade, tornar os sistemas
mais abertos são alguns dos principais compromissos dos países da região
Europeia da OMS, inscritos na Carta de Tallinn de 2008 (aqui), e fortalecidos na
reunião Europeia de Tallinn de 2018 (aqui) de acordo os seguintes princípios: Incluir (melhorar a
cobertura de saúde, o acesso e a proteção financeira para todos; Investir (defendendo
o investimento em sistemas de saúde) e Inovar (aproveitando inovações e
sistemas para considerar as necessidades das pessoas.
Para
cumprir estes objetivos devem os países dar uma atenção especial aos
profissionais de saúde, uma vez que são um fator essencial para o desempenho e
a sustentabilidade dos sistemas de saúde e em particular para os cuidados de saúde primários. Ao longo dos últimos 30 anos desenvolveram-se novos modelos
de intervenção nos cuidados de saúde primários, de que são exemplo, os agentes
comunitários de saúde (aqui), as equipas interprofissionais centradas nas necessidades
dos pacientes em que as enfermeiras(os) prestam grande parte dos cuidados,
incluindo a promoção da saúde e a gestão das doenças crónicas, e desenvolveram-se
esforços para dotar os países de renda média e baixa de médicos de família
graças ao trabalho da Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA), mas as dificuldades para recrutar e para manter profissionais nos cuidados de saúde primários mantem-se (aqui). Mesmo entre os países europeus a
escassez de médicos de família é uma realidade (aqui), em particular nas áreas
territoriais de baixa densidade populacional. Em muitos países a medicina geral
e familiar é vista como uma especialidade com pouco prestígiada, mal paga e
associada uma elevada carga administrativa. Tornar os cuidados de saúde primários num local mais atraente é crucial para
recrutar e manter os melhores profissionais, e uma das evidências apresentadas no Fórum
Europeu de Saúde em Gastein, na Áustria, de 3 a 5 de outubro (aqui), que comprovou a
necessidade de novos currículos, uma maior participação das unidades de saúde
das áreas rurais no ensino da medicina, da enfermagem e de outras profissões de
saúde, do desenvolvimento de equipas multiprofissionais e de melhores suportes
ao desenvolvimento dos cuidados, quer ao nível das infraestruturas, quer ao
nível das inovações tecnológicas.
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
BRASIL - GLOBAL BURDEN DISEASE - MELHORIA DA SAÚDE DA POPULAÇÃO (1990 - 2016)
A revista
Lancet publicou no passado dia 20 de julho o estudo “Burden of disease in
Brazil, 1990–2016: a systematic subnational
analysis for the Global Burden of Disease Study 2016” (aqui),
onde os autores analisaram os resultados do Global Burden Disease (GBD) 2016
referentes ao Brasil, aos seus 23 estados e ao distrito federal, nos seguintes indicadores:
a esperança de vida ao nascer (life expectancy at birth - LE), a esperança de
vida saudável (healthy life expectancy – HALE), os anos de vida perdidos por
morte prematura (years of life lost – YLLs), os anos de vida ajustados à
incapacidade (disability-adjusted life-years DALY´s) e os anos vividos com
incapacidade (years lived with disability - YLD).
O estudo
apresenta como principais conclusões uma melhoria da saúde da população do
Brasil nos últimos 26 anos (1990- 2016), período em que se verificou uma
expansão do sistema de saúde, um crescimento da economia e a introdução de
políticas públicas focadas na promoção da saúde, na prevenção e nos fatores de
risco “saúde-doença”, a par do envelhecimento da população e da alteração do
padrão da mortalidade-morbilidade com o aumento da prevalência das Doenças
Crónicas.(aqui)
A nível
nacional, a esperança de vida à nascença aumentou de 68.4 anos em 1990 para 75.2
anos em 2016, a esperança de vida saudável aumentou de 59.8 anos para 65.5 anos
enquanto os anos de vida ajustados à incapacidade (disability-adjusted
life-years DALY´s) por todas as causas diminuíram em 30.2%.
Em 2016, a doença
cardíaca isquémica foi a principal causa de anos de vida perdidos por morte
prematura (years of life lost – YLLs), seguidos de violência interpessoal.
No que se
refere à violência interpessoal os autores chamam à atenção para relação conhecida
entre a morte por homicídio por arma de fogo, o tráfico de drogas e de armas
ilegais e o consumo de álcool e drogas.
O GBD é o
estudo de observação epidemiológica mais abrangente do mundo até esta data.
Descreve a mortalidade e a morbilidade por doenças graves, lesões e fatores de
risco para a saúde nos níveis global, nacional e regional. Produz estimativas
por causas, idade, sexo e país desde 1990, examina tendências e faz comparações
entre as populações, mede as características do sistema de saúde, a exposição a
fatores de risco, e a mortalidade e morbilidade atribuíveis a esses riscos (aqui).
Nas
conclusões os autores chamam à atenção para os desafios que o Brasil enfrenta
de forma a atingir os objetivos para a Saúde na Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável (aqui), face à atual situação de recessão e empobrecimento
que o Brasil vive na atualidade.(aqui)
sexta-feira, 18 de maio de 2018
1966, O ANO EM QUE PORTUGAL FOI SUSPENSO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE
Há 52 anos,
em 18 de maio de 1966, a 19.ª Assembleia Mundial da Saúde reunida em Genebra na
sede da Organização Mundial de Saúde (OMS) (aqui) suspendia o direito de Portugal
participar no Comité Regional para África da OMS e nas atividades regionais,
bem como do direito a receber assistência técnica até que o governo português
se dispusesse a acatar as disposições das diversas resoluções adotadas pela
Assembleia Geral das Nações Unidas e pelo Conselho de Segurança em relação aos
territórios africanos sob administração português e em particular a posição
assumida pelo Conselho de Segurança em sua resolução 180 (1963) de 31 de julho
de 1963 (aqui) ao declarar o sistema de governo aplicado por Portugal em África
contrário aos princípios da Carta das Nações Unidas.
A resolução
aprovada instava Portugal: a reconhecer de imediato o direito dos
povos dos territórios sob sua administração à autodeterminação e independência;
à cessação imediata de todos os atos de repressão e à retirada de todas as
forças militares e de outras forças empregues para esse fim; à promulgação de
uma amnistia política incondicional e ao estabelecimento de condições que
permitam o livre funcionamento dos partidos políticos; a negociar com base no
reconhecimento do direito à autodeterminação, com os representantes autorizados
dos partidos políticos dentro e fora dos territórios, com vista à transferência
de poder para instituições políticas livremente eleitas e representativas dos
povos de acordo com a resolução 1514 (XV) da Assembleia Geral das Nações Unidas;
à concessão de independência imediatamente a todos os Territórios sob sua
administração de acordo com as aspirações dos povos.
Estas
medidas acabariam por ser reforçadas durante a 21.ª Assembleia Mundial de Saúde
em maio de 1968 (aqui), ao recusar qualquer programa de assistência a Portugal até que
o governo de Salazar renunciasse à política colonial de dominação dos povos
africanos.
Portugal
manteve-se assim isolado da atividade da Organização Mundial de Saúde, perdendo
a influência que tinha tido até 1964 naquela organização, através da importante
participação de Francisco Cambournac, prestigiado malariologista português como
Diretor do Escritório Regional Africano da OMS, onde cumpriu dois mandatos de
1954 a 1959 e de 1959 a 1964.
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Francisco Cambournac |
Francisco
Cambournac, que tinha desenvolvido grande parte do seu trabalho, como médico, professor e
investigador na área da medicina tropical e do paludismo, ocupando diversos
cargos nos serviços dedicados ao combate do paludismo, tendo sido o primeiro
diretor do Instituto de Malariologia em Águas de Moura, desenvolvido pela
Fundação Rockefeller em colaboração com a Direcção-Geral da Saúde, veio a
ocupar um papel primordial, desde a primeira hora na constituição da
Organização Mundial de Saúde.
Em 1946, participou
como representante de Portugal na Conferência Internacional de Saúde realizada
em Nova Iorque que antecedeu a formação da OMS, tendo sido nomeado como primeiro
consultor da OMS para o continente africano, organizando nesta qualidade a primeira
conferência que a OMS realizou em África.
Com o
aproximar do final de mandato em 1964, já eram evidentes as tensões existentes nas
Nações Unidas e em particular no Escritório Regional Africano da OMS, com a
admissão de novos países africanos que tinham obtido a sua independência,
passando 3 estados africanos independentes em 1967 para 29 países em 1965, e a
condenação de Portugal ao isolamento por se recusar a alterar a sua política
colonial de acordo com as resoluções das Nações Unidas. Circunstâncias que
viriam a impedir a candidatura de Francisco Cambournac a qualquer outro cargo
na OMS e a condenar Portugal ao isolamento até à data do 25 de abril de 1974. Regressado
a Portugal Cambournac foi nomeado em 1964 diretor do Instituto de Medicina
Tropical, responsável pela organização da Escola Nacional de Saúde Pública e de
Medicina Tropical, que dirigiu entre 1967 e 1972 e diretor do Instituto de
Higiene e Medicina Tropical até Dezembro de 1973.
Médico e
cientista de vulto internacional, pouco conhecido em Portugal e entre os seus
pares por nas palavras de sua filha citadas por Francisco George manter princípios que o afastavam da política colonial do regime do
Estado Novo. (aqui) (aqui) (aqui)
Portugal regressaria
à OMS durante a 28.ª Assembleia Mundial da Saúde em maio de 1975, depois da
Assembleia Geral das Nações Unidas ter aprovado a resolução 3300(XXIX) em
dezembro de 1974 (aqui), onde autorizava as organizações e as agências internacionais
associadas às Nações Unidas a retomarem a cooperação com o novo Governo de
Portugal, reconhecendo os passos que este dera para o início descolonização e
para o reconhecimento do direito à autodeterminação dos povos sob domínio
colonial português, quando esta “ DECIDES to restore to Portugal the full right to receive assistance from the World Health Organization.”
segunda-feira, 19 de março de 2018
COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE PARA TODOS E EM TODA A PARTE - DIA MUNDIAL DA SAÚDE - 7 ABRIL 2018

Dos
17 Objetivos aprovados incluidos na Agenda 2030, o 3.º Saúde e Bem
Estar: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas
e todos, em todas as idade (aqui), desdobra-se em 9 outros objetivos
específicos dos quais o 3.8, estabelece a cobertura universal,
incluindo a proteção do risco finaceiro, o acesso a serviços de
saúde essenciais de qualidade e o acesso a medicamento e vacinas
essenciais seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis
para todos até 2030.
No
momento em que cerca de metade da população mundial carece de
acesso integral a serviços básicos de saúde, em que 100 milhões
de pessoas são empurradas para a “pobreza extrema – vivem com
menos de 1.5 euros por dia” por terem de pagar os cuidados de saúde
do seu próprio bolso e mais de 800 milhões de pessoas, 12% da
população mundial gasta pelo menos 10% do orçamento familiar em
cuidados de saúde, os líderes mundiais tem particular
responsabilidade no cumprimento das promessas que fizeram quando
aprovaram a Agenda 2030 para o desenvolvimento susutentável e se
comprometeram a promover medidas concretas para que todas as pessoas,
em todos os lugares, possam aceder a cuidados de saúde essenciais e
de qualidade sem enfrentarem dificuldades financeiras.
A
unversalização dos cuidados tal como propõe a OMS, deve abranger
pelo menos 16 serviços em 4 categorias como indicadores do nível
de equidade e cobertura.
Nunca
é de mais lembrar que Portugal apenas universalizou os cuidados de
saúde, após a Revolução de Abril de 1974, consolidando-os pela
primeira vez na história do país na Constituição da República de
1976, no seu artigo 64. (aqui)
domingo, 11 de março de 2018
OUR WORLD DATA - OBJETIVOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O “Our World Data” é uma publicação online,
fundada por Max Roser e produzida na Universidade de Oxford com o objetivo de
mostrar como as condições de vida estão a mudar. Fundada em 2011 coloca todos
os seus conteúdos ao serviço da comunidade como um bem público (aqui).
Abrangendo
uma grande variedade de tópicos em muitas disciplinas académicas, “ Trends inhealth, food provision, the growth and distribution of incomes, violence, rights, wars, culture, energy use, education, and environmental changes”
analisadas e visualizadas nesta publicação, o “Our World Data” decidiu
recentemente criar uma ferramenta que permite monitorizar os Objetivos para oDesenvolvimento Sustentável definidos pela 70.ª Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 2015 com a aprovação de uma agenda para os próximos 30 anos "
UN 2030 Agenda for Sustainable Development" em português
"Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável”.
Lançada em
Fevereiro de 2018, “Measuring progress towards the Sustainable Development Goals” apresenta os dados sobre todos os indicadores disponíveis que
monitorizam o progresso dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
VIDA LONGA E POBREZA: O ESTRANHO CASO DA COREIA SUL
A população
mundial está a envelhecer rapidamente, as projeções das Nações Unidas preveem que
a população de 65 e mais anos da Coreia do Sul leve 18 anos para passar de 7%
para 14%, valor que mede a rapidez do envelhecimento, quando a França levou 115
anos, a Suécia 85 anos e Portugal 42 anos (aqui).
A rápida
transição demográfica verificada nas últimas décadas desafia as sociedades a
adaptarem-se ao forte impacto que o envelhecimento populacional tem em todas
idades, nas comunidades, obrigando a adaptações no mercado de trabalho, nas
famílias e nas políticas públicas focadas nos serviços de saúde, nos cuidados
de longa duração e na segurança social.
The five stages of demographic transition |
O
envelhecimento é uma conquista civilizacional do pós-guerra (II Guerra
Mundial), consequência dos progressos sociais, económicos e biomédicos, mas à medida
que as pessoas envelhecem, manifesta-se também uma crescente heterogeneidade entre
as pessoas idosas, na sua saúde e no seu funcionamento físico, mental e
cognitivo, assim ao mesmo tempo que alguns têm a capacidade de funcionamento de
uma pessoa de 30 anos, outros necessitam de ajuda a tempo inteiro para as
atividades da vida diária.
O caso da
Coreia do Sul é paradoxal, uma vez que ao mesmo tempo que existe uma forte
probabilidade (90%) da esperança de vida à nascença atingir em 2030 86.7 anos
para as mulheres e mais de 80 anos para os homens, cerca de 46% da população idosa
vive em pobreza relativa, 1/4 vive sozinha e apenas 1/3 dela tem direito a uma
pensão.(aqui)
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Poverty rate OECD |
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