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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

QUAL É O PESO REAL DOS ESTILOS DE VIDA NA SAÚDE DAS PESSOAS?

"When we just target the individual behaviours, we're neglecting to look at these systemic factors."

Em entrevista ao sítio na internet da Upstream: Institute for a Healthy Society, organização sem fins lucrativos, com sede no Canadá, Denis Raphael Professor de Health Policy and Management at York University em Toronto, investigador na área dos determinantes sociais da saúde e editor dos “Canadian Facts” chama à atenção para importância de uma abordagem sistémica centrada nos determinantes sociais da saúde, recusando a abordagem centrada nos estilos de vida "When we just target the individual behaviours, we're neglecting to look at these systemic factors."

Ao longo da entrevista o Professor Denis Raphael, fala sobre os determinantes sociais da saúde, defendendo uma abordagem sistémica uma vez que o enfoque numa abordagem centrada nos estilos de vida apenas representam, na melhor das hipóteses 10 a 15% da variação dos resultados em saúde.

“What they should be doing is recognizing, as Randolph Virchow pointed out, that medicine is actually a political activity, and that certainly, all things considered, you don't want people, if they have some control, to smoke. We much prefer that people have a balanced diet, and certainly all things considered, we'd want people to be more active than less active, but these factors themselves play a rather small role in health outcomes. The danger to all of this is that what it does is diverts attention from these far more important issues of living and working conditions. Also, the evidence that these so-called lifestyle approaches will actually improve the health of the most vulnerable is completely lacking.
What actually happens, with all this attention to the so-called lifestyle approach, all it really does is actually increase health inequalities, because the people that are in the best condition to actually make these changes in their lives are already the ones that are going to live longer anyway, and it's an insidious process whereby even when governmental and other agencies recognize the broader determinants of health, what they do is in their practical recommendations they drift, such that the term "lifestyle drift" has come to refer to the tendency of all of these public health, health agencies and governmental agencies, to rather than raise the issues of income and democracy and political control and power, they end up ignoring all of those and telling and implying that the causes of disease and illness are people's adverse behaviours.”

quinta-feira, 6 de julho de 2017

O ACORDO DE COMÉRCIO LIVRE ( NAFTA) É MAU PARA A SAÚDE PÚBLICA? O CASO DO CANADÁ E AS BEBIDAS AÇÚCARADAS

Na edição de 04 de Junho do Canadian Medical Association Journal (CMAJ), investigadores da Universidade de Oxford (Reino Unido), da London School of Hygiene & Tropical Medicine (Reino Unido), da Universidade de Stanford (Califórnia-EUA), e da Universidade de Bocconi, (Milão-Itália), publicaram um artigo onde abordam o impacto do acordo de comercio internacional, denominado North American Free Trade Agreement (NAFTA) - estabelecido entre os Estados Unidos da América, o México e o Canadá – no consumo de xarope de milho com alto teor em frutose, usado em produtos alimentares e refrigerantes, no Canadá.(aqui)

No estudo agora publicado, “Impact of the North American Free Trade Agreement on high-fructose corn syrup supply in Canada: a natural experiment using synthetic control methods”, os autores investigaram o efeito das alterações tarifárias introduzidas com a entrada em vigor do NAFTA, separando as tarifas dos produtos contendo xarope de milho com alto teor de frutose (HFCS) dos produtos contendo açúcares de cana sacarina e beterraba e a aplicação de uma tarifa reduzida ao xarope de milho (HFCS).
Canadian Medical Association Journal
De acordo com os resultados obtidos verificou-se um aumento do consumo diário de 41.6 Kcal per capita provenientes de edulcorantes, uma associação positiva deste consumo de HFCS com o crescimento da taxa de obesidade, passando de 5.6% para 14.8% e um aumento na prevalência de diabetes de 3,3% para 5,6%, de 1998/99 a 2008/09.

Perante estes factos, os autores avançaram com três explicações, em primeiro lugar, um mecanismo específico através do qual os acordos de comércio livre podem afetar a dieta da população: as tarifas de importação, demonstrando que uma pequena mudança pode determinar a dieta das pessoas, incluindo o consumo de HFCS, causando o aumento da obesidade e da diabetes, em segundo lugar, os investigadores salientaram a robustez dos métodos utilizados e as associações encontradas e em terceiro lugar a verificação de uma mudança no padrão de consumo de açúcares, com uma diminuição do consumo dos açúcares de beterraba e cana sacarina, um aumento do consumo de xarope de milho rico em frutose, e, uma interrupção da tendência de diminuição para o consumo total de açúcaresConfirmando as principais preocupações de muitos profissionais de saúde pública que mostraram sérias reservas sobre o efeito dos acordos de comércio livre para a saúde das populações, alertando para o seu potencial efeito negativo, uma vez que se centram na eliminação das barreiras ao comércio, tais como tarifas (sobre importações e exportações) ou cotas de importação para os países membros, provocando, como agora se verificou, o aumento do consumo de produtos prejudiciais para a saúde.
Lancet

As conclusões do estudo sublinham a crescente preocupação demonstrada na comunidade internacional com os efeitos dos acordos de comércio internacional, como o TTP, o TTIP, o CETA, (aqui)(aqui)sobre a saúde pública e chamam à atenção dos mais diversos atores sociais, sobre a ação dos “ determinantes comerciais da saúde” aqui definidos como “strategies and approaches used by the private sector to promote products and choices that are detrimental to health”. (aqui)

terça-feira, 31 de maio de 2016

URBAN HEART - AVALIAÇÃO E RESPOSTA DAS INIQUIDADES EM SAÚDE EM MEIO URBANO

Em 1978 na Conferência de Internacional sobre Cuidados de Saúde Primários de Alma-Ata, os governos de todo o mundo aceitaram o conceito de que a saúde está vinculada às condições de vida e de trabalho da população e reconheceram a importância da participação da comunidade em tudo o que lhe diz respeito (aqui). Apesar da compromisso assumido por todos os países em prol da “Saúde Para Todos” e da clareza de valores explicitados na Declaração de Alma-Ata (aqui)a seguir para o atingir: justiça social e o direito a melhor saúde para todos, participação e solidariedade, os dados mostram que desde então aumentaram as diferenças entre os países e os países pobres, e entre os ricos e os pobres de cada país.
Esta circunstância levou a Organização Mundial de Saúde a promover o projeto “Urban Heart”, desenvolvido pelo “WHO Kobe Centre” de forma a apoiar os trabalhos da Comissão dos Determinantes Sociais da Saúde nomeada em 2005 para estudar as desigualdades em saúde nas áreas urbanas.

Durante os anos de 2008 e 2009, a OMS colaborou com 17 cidades de 10 países para desenvolver uma ferramenta de avaliação e de resposta em matéria de equidade em saúde nos territórios urbanos, permitindo aos responsáveis pela elaboração de políticas locais a identificação e a monitorização das iniquidades em saúde e a adoção de medidas apropriadas para as combater.

The Urban Health Equity Assessment and Response Tool (Urban HEART) is a user-friendly guide for policy- and decision-makers at national and local levels to:
identify and analyse inequities in health between people living in various parts of cities, or belonging to different socioeconomic groups within and across cities;
facilitate decisions on viable and effective strategies, interventions and actions that should be used to reduce inter- and intra-city health inequities. “ (aqui)

O “Urban Heart” permite aos diversos intervenientes compreender melhor:
  • understand the unequal health determinants, unequal health risks and unequal health outcomes faced by people belonging to different socioeconomic groups within a city;
  • use evidence when advocating and planning health equity interventions;
  • participate in intersectoral collaborative action for health equity;
  • apply a health equity lens in policy-making and resource allocation decisions (aqui)

Apesar de ter sido desenvolvido em cidades de países de renda média e baixa: Guarulhos (Brasil); Jacarta, Denpasar (Indonésia) • Nakuru (Quénia) • Teerão (República Islâmica do Irão) • Estado de Sarawak (Malásia) • México D.F. (México) • Ulaanbaatar (Mongólia) • Davao, Naga, Olongapo, Paranaque, Tacloban, Taguig, Zamboanga (Filipinas) • Colombo (Sri Lanka) • Cidade de Ho Chi Minh (Vietname), tem vindo a ser aplicado na cidade de Toronto no Canadá. (aqui)


sábado, 23 de janeiro de 2016

DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE - O QUE OS MÉDICOS PODEM FAZER

A Organização Mundial de Saúde (aqui) define os determinantes sociais da saúde como os fatores que impactam a saúde e o bem-estar: as circunstâncias em que nascemos, crescemos, vivemos, trabalhamos e envelhecemos.

Eles incluem:
·         O rendimento e a distribuição do rendimento;
·         O início da vida;
·         A educação;
·         A habitação;
·         A segurança alimentar;
·         O emprego e as condições de trabalho;
·         O desemprego e a segurança no trabalho;
·         A rede social;
·         A inclusão e a exclusão social;
·         Os serviços de saúde;




Estes fatores não são normalmente considerados como causas diretas de doença, mas antes têm sido descritos como as causas das causas da doença.
Assim, enquanto o tabagismo é causa próxima de doenças como a DPOC, a doença arterial coronária e o cancro do pulmão, é o social, incluindo os fatores ambientais e culturais, que determinam em grande parte se um individuo tem mais ou menos propensão para fumar, a forma como ele começou a fumar ou a probabilidade de êxito que tem para deixar de fumar.

A crescente preocupação com as determinantes sociais da saúde levou duas das mais importantes organizações mundiais de médicos, a Canadian Medical Association (aqui) e a British Medical Association (aqui) a tomarem posição sobre os determinantes sociais da saúde e adotarem declarações políticas dirigidas aos seus membros.

“ Physicians and the social determinants of health

Physicians see the impact of health inequities every day in their clinics and emergency departments, and are committed to pushing for action to address issues of health equity”


Canadian Medical Association (aqui)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

OS ENFERMEIROS E OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE - O CASO DO CANADÁ

Numa recente tomada de posição sobre Determinantes Sociais da Saúde a associação nacional dos enfermeiros canadianos, a Canadian Nurses Association, (aqui) reconheceu a responsabilidade ética e profissional que as enfermeiras e os enfermeiros têm para promover a equidade em saúde através da ação sobre os determinantes sociais de saúde.

A Canadian Nurses Association (CNA) acredita que a redução das desigualdades em saúde deve ser uma prioridade em todos os domínios da prática da enfermagem, em colaboração com os outros profissionais de saúde, devendo as enfermeiras e os enfermeiros inclui-las nas suas ações e intervenções com os indivíduos, as famílias e as comunidades.
CANADIAN FACTS - SHD

É essencial que as enfermeiras e os enfermeiros compreendam o impacto desses fatores sobre as pessoas e os grupos com quem trabalham devendo integrá-los nas suas avaliações. Esta informação pode influenciar a escolha da intervenção e a necessidade de recorrer a outros recursos da comunidade. De modo mais geral, os enfermeiros devem saber como melhorar a saúde de seus pacientes defendendo políticas progressistas que atuem sobre os determinantes sociais da saúde.


A CNA advoga pela inclusão do estudo dos determinantes sociais da saúde, começando pela compreensão crítica dos fatores políticos, económicos e sociais que são as causas das desigualdades em saúde.


"Better Health: An analysis of public policy and programming focusing on the determinants of health and health outcomes that are effective in achieving the healthiest populations" é um dos exemplos da contribuição da Canadian Nurses Association para o estudo dos determinantes sociais da saúde no Canadá e no mundo.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

SAÚDE E POBREZA - “Você já teve dificuldade em fazer face às suas despesas no final do mês?"

Como vimos em posts anteriores, há muito que se sabe que o estatuto social e económico está associado à saúde. Sabemos que quanto mais elevado é o estatuto socioeconómico melhor é a saúde das pessoas.

Canadian Medical Association
Partindo desta constatação o Colégio dos Médicos de Família do Ontário, Canadá, tem vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas em torno do trabalho do Dr. Gary Bloch, médico de família e professor no Departamento de Medicina Familiar e Comunitária da Universidade de Toronto, sobre saúde, rendimento e pobreza, visando conhecer a relação entre estes determinantes (renda e pobreza)e a saúde, e criar um quadro de referência para os médicos e em particular para os médicos de família, que lhes permita valorizar e rastrear a pobreza como um dos fatores de risco a introduzir no processo de decisão clínica.

Partindo de uma pergunta simples “Você já teve dificuldade em fazer face às suas despesas no final do mês?" Gary Bloch construiu um instrumento que permite aos médicos de família rastrear e intervir na pobreza.



Indo mais longe e reconhecendo que a intervenção individual na consulta não é suficiente, Gary Bloch e coletivo "OCFP Poverty and Health Community of Practice" defendem a necessidade dos médicos de família se envolverem na “prescrição de rendimentos”.





Fica aqui o testemunho dos médicos de família do Ontário, Canadá e o desafio para as associações médicas portuguesas colocarem as determinantes sociais na agenda da saúde.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

MEDICINA FAMILIAR E DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE - O CASO DO CANADÁ

A ideia de que a Saúde é influenciada por fatores sociais não é nova. Desde o século XIX que diversas personalidades chamaram a atenção para a influência do social sobre a saúde, disso são exemplo os trabalhos pioneiros de Louis-René Villerme médico francês, que correlacionou a mortalidade ocorrida durante os anos de 1817 – 1826 na cidade de Paris, com o índice de pobreza e de Frederich Engels no seu trabalho “The Condition of the Working Class in England”.


Desde essa data até hoje muitos estudos e investigação tem fornecido matéria para que os Determinantes Sociais da Saúde sejam hoje considerados muito relevantes para a Saúde dos cidadãos e para forma como estes se organizam em Sociedade. Apesar de muitas vezes não aparecerem aos olhos dos cidadãos, dos responsáveis pelas políticas públicas, dos média e dos profissionais de saúde como uma prioridade.



Contrariando essas posições o Colégio de Médicos de Família do Canadá, a par de outras organizações como a British Medical Association ou Canadian Medical Association entendeu produzir o documento da série “Best Advice” sobre Determinantes Sociais da Saúde, dirigido aos médicos de família do Canadá, atualizando conhecimentos e propondo a incorporação dos Determinantes Sociais da Saúde na prática clínica.

Deixamos as conclusões do referido documento, “Best Advice - Social Determinants of Health“

Family physicians play a vital role in improving the social determinants of health for their patients and all Canadians. The recommendations provided in this guide are just a starting point for future work. The tools and incentives to do work that focuses on SDH are being expanded across the country, and a PMH model of primary care helps facilitate incorporating the SDH into family practice. Implementing even one of these recommendations will go a long way to improving the social determinants of health for your patients. The evidence on the SDH is sufficient to merit action, and we at the CFPC are here to help translate that evidence into action.


If You Want to Help Me, Prescribe Me Money: Gary Bloch at TEDxTalks