“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.” Ensaio sobre a Cegueira – José Saramago
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domingo, 29 de janeiro de 2023
sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
PORTUGAL BEM NA MORTALIDADE EVITÁVEL E NA VACINAÇÃO, MAL NAS DESPESAS NÃO REEMBOLSADAS E NO INVESTIMENTO EM PROMOÇÃO DA SAÚDE - RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO DA COMISSÃO EUROPEIA
O Relatório de Acompanhamento abrange as
áreas da eficácia, da acessibilidade e da resiliência, sendo acompanhado pela
publicação dos Perfis de Saúde de cada um dos países, trabalho realizado pela
OCDE e pelo Observatório Europeu Sobre Sistemas e Políticas de Saúde (aqui).
Na dimensão da eficácia, o documento aborda
as reticências à vacinação e a transformação digital, na dimensão da
acessibilidade o relatório procura obter uma imagem dos obstáculos que os
cidadãos da UE enfrentam para aceder a cuidados de saúde, tendo em conta os
seus perfis de saúde e as características socioeconómicas, finalmente na
dimensão da resiliência o relatório aborda os temas da transferências de
tarefas na prestação de cuidados de saúde e examina as possíveis implicações do
ciclo de vida dos produtos farmacêuticos na existência de medicamentos seguros,
eficazes e a preços acessíveis.
Portugal destaca-se pela positiva na
mortalidade evitável e na vacinação. No caso da vacinação Portugal está entre
os 5 países da UE (Portugal, Hungria, Eslováquia, Suécia e Malta) que
reportaram uma taxa de cobertura de 95% para 2 doses da vacinação do sarampo,
papeira e rubéola, sendo um dos 3 países da UE (Portugal, Dinamarca e Espanha)
onde os cidadãos mostram mais confiança na segurança das vacinas e também um
dos 3 países, a par da Suécia e da Finlândia, onde a esmagadora maioria dos
cidadãos concorda com a afirmação de que a vacinação de outras pessoas na
sociedade é importante para proteger aqueles que não se podem vacinar, Portugal
(96%), Suécia (95%) e Finlândia (95%).
Apresentando
como aspetos negativos o reduzido investimento na promoção da saúde,
situando-se abaixo dos 3% nas despesas em saúde no 25.º lugar entre os 30
países considerados europeus considerados nos estudos, e a elevada % pagamentos
diretos efetuados pelos cidadãos cerca de 27,5 % das despesas totais de saúde, o que ultrapassa substancialmente a média da UE que é de 15.8% prejudicando
em particular as famílias mais desfavorecidas.
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
2019 - PERFIL DE SAÚDE DE PORTUGAL - OCDE E COMISSÃO EUROPEIA - TAXAS MUITO BAIXAS DE HOSPITALIZAÇÕES EVITÁVEIS SUGEREM CUIDADOS PRIMÁRIOS EFICAZES

No caso
português o Perfil de Saúde salienta que a esperança de vida tem aumentado
continuamente desde 2000, chegando aos 81,6 anos em 2017 e situando-se acima da
média europeia, sublinhado que esta diminuição se deve sobretudo à queda das
taxas de mortalidade por AVC e doença cardíaca isquémica.
Aponta
ainda no que se refere à esperança de vida uma mudança no padrão mortalidade
com o crescimento das mortes causadas por cancro do pulmão (relacionadas com o
tabagismo) e pelas Demências, ao mesmo tempo que salienta as disparidades na
esperança de vida não só entre homens e mulheres (com as mulheres a viverem
mais 6,2 anos do que os homens em 2017, o que é superior à média europeia – 5.2
anos) mas também em função do estatuto socioeconómico.
No que se
refere à contribuição dos fatores de risco para a mortalidade em Portugal o
documento mostra que cerca de 1/3 das mortes registadas em 2017 podem ser
atribuídas a riscos comportamentais contra 39% na EU. Com diferenças favoráveis
a Portugal nos riscos alimentares e no tabaco e desfavoráveis no consumo de
álcool entre a população adulta.
No que se
refere às despesas em saúde o documento salienta que do programa de ajustamento
económico (Troika) aplicado entre 2011 e 2014 resultou na aplicação de medidas
no sector da saúde que levaram a enormes cortes no financiamento público da
saúde, levando à diminuição das despesas de saúde em % do PIB que passaram de
69.8% em 2010 para 66.4% em 2017 (contra 79.3% na UE), situação que só se
começou a inverter em 2018, provocando um % de pagamentos diretos mais alta do
que a média da EU (27,5 % das despesas totais de saúde, o que ultrapassa
substancialmente a média da UE situada em 15,8 %).
Estes
pagamentos diretos podem de acordo com os autores) podem minar a acessibilidade
e contribuir para empobrecer os agregados familiares mais desfavorecidos,
acrescentando que cerca de 8,1 % das famílias tiveram despesas de saúde
catastróficas em 2016, sendo estas mais elevadas para as famílias de
rendimentos mais baixos onde se alcança um valor de 30%.
No que se
refere ao sistema de saúde o relatório sublinha numa das suas conclusões que “
Portugal tem um bom sistema de cuidados primários, capaz de manter os doentes
fora dos hospitais quando isso se justifica” salientando que Portugal apresenta
umas das taxas mais baixas de hospitalizações evitáveis por asma, doença
pulmonar obstrutiva crónica e insuficiência cardíaca congestiva na União
Europeia, indicando que estas patologias crónicas estão a ser tratadas
eficazmente ao nível dos cuidados primários.
domingo, 13 de outubro de 2019
PORTUGAL, SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE: UMA NOVA OPORTUNIDADE - LANCET
A revista LANCET, publicou na sua edição de 12 de Outubro um Editorial, intitulado "PORTUGAL, SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE: UMA NOVA OPORTUNIDADE", que aqui traduzimos livremente (aqui).
No dia 15 de Setembro, Portugal comemorou o 40º aniversário do seu sistema de saúde, o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Desde a sua criação que se registou um progresso impressionante nos indicadores de saúde dos Portugueses. A mortalidade infantil desceu de 3.3 por cada 1000 nados-vivos em 2006, para 2.9 em 2017 e a esperança média de vida dos homens e mulheres portugueses aumentou mais de quatro (4) anos no mesmo período, situando-se nos 81.3 anos (um valor superior ao da média da União Europeia)(aqui).
No dia 15 de Setembro, Portugal comemorou o 40º aniversário do seu sistema de saúde, o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Desde a sua criação que se registou um progresso impressionante nos indicadores de saúde dos Portugueses. A mortalidade infantil desceu de 3.3 por cada 1000 nados-vivos em 2006, para 2.9 em 2017 e a esperança média de vida dos homens e mulheres portugueses aumentou mais de quatro (4) anos no mesmo período, situando-se nos 81.3 anos (um valor superior ao da média da União Europeia)(aqui).
Contudo, esta
tendência está a mudar, uma vez que após a crise económica (2008) os cortes na despesa
pública introduziram novos desafios. Segundo a OMS, Portugal é um dos únicos
quatro países, entre os 33 analisados, que reduziram a despesa pública em saúde
entre 2000 e 2017 (aqui).
Com o investimento
em queda e a impedir a modernização de hospitais e a substituição de material
médico obsoleto, o sector privado está a expandir-se. Os trabalhadores do SNS
desmotivados pelas más condições de trabalho procuram emprego no setor privado
e no exterior (aqui).
As consultas
de medicina dentária e os testes de diagnóstico são exemplos de serviços que habitualmente
são prestados pelo sector privado, causando um aumento das despesas a cargo das
famílias, que neste momento representam 28% da despesa total na saúde, valor
significativamente superior à média da União Europeia (15%) de acordo com a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, OCDE. Também, outros
tratamentos eletivos estão a tornar-se limitados à população que os pode pagar.
Os
políticos enfrentam problemas nos dois extremos do espectro da idade: a taxa de
pobreza infantil está acima da média da União Europeia, e a população mais
velha (uma das mais velhas da Europa), está doente e com pouca qualidade de
vida nos últimos anos de vida.
No domingo,
dia 6 de Outubro, Partido Socialista, partido político de centro-esquerda, venceu
de novo as eleições legislativas, apesar de não ter assegurado a maioria
absoluta. No seu programa eleitoral, o secretário-geral do PS, António Costa,
designou quatro áreas prioritárias a serem abordadas pelo próximo governo:
alterações climáticas, demografia, desigualdades e transição para uma sociedade
digital (aqui).
Num momento
em que o SNS não vai ao encontro das necessidades de uma parte substancial da
população, o governo reeleito não pode deixar passar esta nova oportunidade
para priorizar a saúde e fazer com que ele seja acessível a todos.
The Lancet
2018 - PORTUGAL (aqui)
OUT-OF-POCKET - 27.4%
DESPESA PÚBLICA EM SAÚDE
domingo, 15 de setembro de 2019
1979 - 2019, 40 ANOS DEPOIS DO SEU NASCIMENTO O SNS VOLTA À SUA MATRIZ CONSTITUCIONAL E HUMANISTA
No ano em
que se comemoram 40 anos do SNS a Assembleia da República aprovou no passado
dia 19 de julho de 2019, uma nova Lei de Bases, a Lei n.º 95/2019 de 04 de Setembro que reconduz o Serviço Nacional de Saúde à sua matriz constitucional e
humanista.
40 Anos
depois da aprovação da Lei n.º 56/79 de 15 de Setembro, a aprovação da Lei
n.º95/2019 pela Assembleia da República rompe com a legislação que vigorava
desde 1990, revogando a Lei n.º 48/90 de 24 de agosto aprovada pelas forças
políticas, PSD e CDS, que se tinham oposto à aprovação da Lei n.º 56/79, nada
fazendo por a implementar e tentando mesmo revogá-lo através de um Decreto-Lei
n.º 254/82 de 29 de Junho, que criava as administrações regionais de saúde
(ARS), considerado inconstitucional por um Acórdão do Tribunal Constitucional
de 1984, acabando po aprovar uma Lei (48/90) (aqui) que colocava o Serviço Nacional no mesmo plano dos restantes atores do sistema de saúde retirando-lhes a sua supletividade conforme estabelecido na Constituição da República.

Fez-se jus
afinal às últimas palavras dirigidas pelo Dr. António Arnaut ao III Congresso
da Fundação do SNS, no dia 18 de maio de 2018, “Há agora condições políticas e
parlamentares para realizar essa tarefa patriótica e o governo propôs-se
fazê-lo. A realização de iniciativas como este Congresso são uma forma legítima
e democrática de chamar a atenção do governo para que cumpra o seu dever...
Faço votos para uma profícua discussão sobre esta temática e que, no final,
resulte um contributo substantivo em defesa da consolidação do SNS, para que
nos 40 anos desta grande reforma possamos todos voltar a ter orgulho no nosso
SNS.” (aqui) e ao trabalho por ele desenvolvido em conjunto com o Dr. João Semedo
que levaram à publicação do livro “Salvar o SNS - Uma nova Lei de Bases da Saúdepara defender a Democracia”
sábado, 14 de setembro de 2019
PORTUGAL NO 26.º LUGAR DOS PAÍSES MAIS SUSTENTÁVEIS DO MUNDO - SDG INDEX 2019 - NAÇÕES UNIDAS
Nos
próximos dias 24 e 25 de Setembro, reunirão em Nova Iorque na sede das Nações
Unidas, os Chefes de Estado e de Governo num Fórum Político de Alto Nível
durante a 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas para analisar o
progresso na implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e
os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados em 2015 durante
a 70.ª Assembleia Geral das Nações Unidas (Aqui).
Com o
objetivo de lançar a discussão foi publicado o Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2019, preparado por uma equipa de especialistas independentes da Sustainable
Development Solutions Network (SDSN) and Bertelsmann Stiftung que inclui o SDG Index (Índice dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável) e os Dashbord
de acompanhamento dos indicadores que permitem monitorizar a evolução das 169
metas propostas para o cumprimento dos 17 Objetivos para o desenvolvimento Sustentável.
De forma
geral, o relatório de acompanhamento conclui que os progressos para o cumprimento
das metas e dos objectivos para o desenvolvimento sustentável, tem sido
demasiado lentos e a continuarem assim não irão garantir o cumprimento dos ODS
até 2030.
No cômputo
geral as nações do mundo obtêm o seu pior desempenho nos ODS 13 (Ação Climática),
ODS 14 (Vida de Baixo da Água) e ODS 15 (Vida sobre a Terra). Nenhum país obtém
uma “classificação verde” (o indicador do relatório para a obtenção de um ODS)
no ODS 14 (Vida de Baixo da Água).
Os autores
concluem que o uso sustentável da terra e os regimes alimentares saudáveis requerem
intervenções integradas na agricultura, no clima e nas políticas de saúde. Afirmam que os países mais desenvolvidos
e de renda alta, necessitam de alterar as dinâmicas de produção e consumo, uma
vez que geram efeitos ambientais e económicos nefastos, dando como exemplos: o
desmatamento como resultado do uso de óleo de palma e de outros combustíveis, os
paraísos fiscais e o sigilo bancário com factores que minam as finanças
públicas ou a tolerância com que encaram o trabalho sem direitos nas cadeias de
fornecimento internacional de trabalhadores, prejudicando em particular as
mulheres e os pobres.
Alertam
ainda para os conflitos que em muitas partes do mundo continuam a levar a
reversões no progresso dos ODS, à escravatura moderna e ao elevado número de
pessoas em reclusão nos países menos desenvolvidos e de renda de baixa, para as
desigualdades de rendimento verificadas nos países de renda alta e para o fosso
persistente observado no acesso aos serviços e às oportunidades, em função do
território e do rendimento. Terminam considerando que a erradicação da pobreza
extrema continua a ser um desafio global, com mais de metade das nações do
mundo longe de alcançar o objetivo ODS, erradicar a pobreza.
O índice dos
17 objectivos de desenvolvimento sustentável, resumidos no SDG Index e nos Dashboards,
é liderado pela Dinamarca, pela Suécia e pela Finlândia, enquanto a República
Democrática do Congo, o Chade e República Centro-Africana estão em último lugar
entre os 162 países avaliados.
![]() |
PORTUGAL - SDG INDEX 2019 |
Portugal
encontra-se no 26.º lugar, estando a cumprir melhor no ODS 1 (Erradicação da
Pobreza) 98.7%, no ODS 4 (Educação de Qualidade) 95.5%, no ODS 7 (Energia
Acessível e Limpa) 94.6, no ODS 3 (Boa Saúde e Bem-Estar) 92.1 e no ODS 13
(Combate às alterações climáticas) 91.5%.
segunda-feira, 22 de julho de 2019
ENTRE AS 56 ECONOMIAS COM CUIDADOS DE SAÚDE MAIS EFICIENTES - PORTUGAL ESTÁ NO 18.º LUGAR
A notícia é
de 19 de setembro de 2018, alguns dos dados até são de 2015, mas vale a pena divulgá-la
agora que a agenda mediática foi tomada pela difusão diária de notícias
negativas para o Serviço Nacional de Saúde. Não porque este não tenha prolemas
ou dificuldades, mas apenas para relativizá-los.
Determinants of Healtb - Helath is more than medical care |
A agência de notícias Bloomberg, para além de publicar o Ranking dos países mais saudáveis do mundo “Bloomberg Healthiest Country Index” divulgou em setembro de 2018 o “Blomberg Health Care Efficiency”. Um índice de eficiência em saúde criado pela Blomberg para classificar os sistemas de saúde das 56 maiores economias mundiais, que tenham cumulativamente uma esperança média de vida à nascença de pelo menos 70 anos, um PIB per capita superior a US$ 5.000 e uma população de pelo menos 5 milhões de habitantes.
De acordo
com “Blomberg Health Care Efficiency” que coloca Portugal na 18.ª posição com uma
subida de 8 lugares em relação à anterior edição, os cinco primeiros lugares
são repartidos entre Hong Kong, Singapura, a Espanha, a Itália e a Coreia do Sul,
nos primeiros 20 lugares encontram-se 7 países europeus (Noruega, Suíça, Irlanda,
Grécia, França, Portugal e Finlândia), 2 do Médio Oriente (Israel e Emiratos Árabes
Unidos)3 países da Ásia (Japão, Taiwan e China) 2 países da Oceânia (Austrália
e Nova Zelândia), 2 das Américas (Canadá e México).
Algumas das
nações mais ricas do mundo como o Reino Unido (35.º) a Alemanha (39.º) ou os
Estados Unidos da América (54.º) encontram-se em lugares inusitados para a
maioria dos cidadãos, uma vez que a informação habitualmente divulgada raramente
compara os resultados obtidos em saúde medidos pela esperança de vida à
nascença com a riqueza da economia e os gastos em saúde.
quinta-feira, 18 de julho de 2019
EQUIDADE E TAXAS MODERADORAS NO SNS - MODERAÇÃO OU BARREIRA AO ACESSO
Ao longo da
década de 80 sucedeu-se uma prolongada batalha política e jurídica em torno da
introdução de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS) português.
Previstas
no artigo 7.º da Lei n.º56/79 de 15 de setembro, o Serviço Nacional de Saúde onde se
afirmava Lei de Bases da Saúde também conhecida pela Lei Arnaut que criavaque “O acesso ao SNS é gratuito, sem prejuízo do estabelecimento de
taxas moderadoras diversificadas tendentes a racionalizar a utilização das
prestações” as taxas moderadoras teriam de ser posteriormente reguladas.
Foi assim
que durante a vigência dos VIII Governo Constitucional e IX Governo Constitucional, os ministros dos Assuntos Sociais e da Saúde procuraram
estabelecer comparticipações fixas para medicamentos e taxas moderadoras no
acesso a cuidados de saúde. Contestadas pelo Provedor de Justiça são
consideradas inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional em 1983 e em 1985
não por razões substantivas, mas por não terem sido estabelecidas por
decreto-lei ou com base num decreto-lei. (aqui)(aqui)
Mas foi com
a revisão constitucional de 1989 (aqui), e a modificação do n.º 2 do artigo 64.º da
Constituição da República em que a expressão “... Serviço Nacional de Saúde,
universal, geral e gratuito...” é substituída por “... Serviço Nacional de
Saúde, universal e geral... tendencialmente gratuito” que as taxas moderadoras
passam a poder ser aplicadas sem obstrução do Tribunal Constitucional. Mesmo
assim chamado de novo o Tribunal Constitucional a pronunciar-se sobre a
constitucionalidade da nova Lei de Bases da Saúde de 1990 (Lei n.º 48/90, de 24 de agosto),aprovada pelo XI Governo Constitucional que previa na alínea c) da Base XXIV, entre as características
essenciais do SNS, o “ser tendencialmente gratuito para os utentes, tendo em
conta as condições económicas e sociais dos cidadãos”, sublinha no seu Acórdão 731/95
que a cobrança de taxas moderadoras será admissível, não sendo
inconstitucional, desde que essas mesmas taxas tenham como finalidade a
racionalização da utilização do SNS, que não correspondam ao pagamento do preço
dos cuidados de saúde prestados e não criem impedimento ou restrição do acesso
dos cidadãos económica e socialmente mais desfavorecidos aos cuidados de saúde.
Nos anos
seguintes os sucessivos governos legislaram sobre o regime de taxas moderadoras
no acesso à prestação de cuidados de saúde e atualizaram os preços a aplicar em
1992, 2003, 2004, 2004, 2006, 2007 e 2008, passando ainda a discutir o papel
das taxas moderadoras como elemento financiador do Serviço Nacional de Saúde.
Criadas nos
sistemas de saúde seguro-doença (aqui), na primeira década do século XX, as taxas
moderadoras tinham como objetivo atuar do lado da procura, reduzir a procura
desnecessária associada ao risco moral da gratuidade e ao efeito de terceiro pagador. No caso de Portugal em que o sistema se baseia no princípio consagrado
na Constituição de garantir a todos os cidadãos o direito à saúde através de um
Serviço Nacional de Saúde, fundado nos princípios da equidade as taxas
moderadoras devem ter apenas um caráter extraordinário de dissuadir uma parte
da procura desnecessária em particular nos serviços de urgência, mas nunca um
carater de cofinanciamento do sistema.
Apesar
deste preceito constitucional, o entendimento político recorrente ao longo dos
últimos 20 anos, foi de aceitar que as taxas moderadoras constituem “receita do
Serviço Nacional de Saúde”.
Foi assim
que em 2006 o XVII Governo Constitucional, enquanto nomeava uma comissão para a
estudar a sustentabilidade do financiamento do SNS, introduzia no Orçamento
Geral do Estado de 2007 duas novas taxas moderadoras para acesso às prestações
de saúde de internamento e de ato cirúrgico realizado em ambulatório. Comissão
essa que em junho de 2017 veio a recomendar ao governo, entre outras medidas
para a sustentabilidade financeira do SNS, a revisão do regime de isenções das
taxas moderadoras baseada na capacidade de pagamento e de necessidade de
continuidade de cuidados de saúde e a atualização das taxas moderadoras como
medida de disciplina e de valorização dos serviços prestados.
Mas mais
uma vez tal com tinha acontecido em 1987, perante o clima de contestação
pública e parlamentar, é o próprio governo que decreta a revogação das “duas
novas taxas moderadoras” em 2009 (aqui).
Com o
despoletar da crise económica e financeira em 2008, Portugal viu-se obrigado a
implementar um conjunto de medidas de austeridade durante os anos de 2009 e
2010 que vieram a culminar com a assinatura de um Memorando de Entendimento sobre
as Condicionalidades de Política Económica (MoU) com a Troika para garantir o
financiamento país. No que refere às taxas moderadoras o MoU impunha um aumento
do valor das taxas moderadoras, o aditamento do pagamento de taxas moderadoras
nas consultas de enfermagem, nas consultas não presenciais e nas sessões de
hospital de dia, alterava o regime de isenções, estatuía procedimentos de
cobrança e estabelecia a indexação automática à taxa da inflação divulgada pelo
INE, relativa ao ano civil anterior (aqui).
Assim e ao
longo do período de intervenção da Troika a receita das taxas moderadoras veio
sempre a crescer, originado um aumento médio de mais de 100% no valor das taxas
nas consultas e urgências e de 180% nos MCDT.
Com a
mudança eleitoral verificada em 2016, entendeu o XXI Governo Constitucional reduzir os montantes a cobrar aos utentes, eliminar o pagamento de algumas
taxas moderadoras, alargar o sistema de isenções aos dadores de sangue, aos
dadores vivos de células, tecidos e órgãos e aos bombeiros, e os atendimentos
de urgência, bem como os exames de diagnóstico aí realizados desde que
referenciados pelos médicos de família, pelo centro de atendimento do SNS e
pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Foi neste
contexto de uma nova maioria política mais favorável à eliminação de algumas
taxas moderadoras, que o Bloco de Esquerda apresentou no final da legislatura
(2015-2019) uma proposta de lei que dispensa a cobrança de taxas moderadoras em
duas circunstâncias: o atendimento, consulta e outras prestações de saúde no
âmbito dos Centros de Saúde e consultas, atos complementares prescritos e
outras prestações de saúde, se a origem de referenciação para estas for o
Serviço nacional de Saúde, sustentada na convicção que num sistema tipo Serviço
Nacional de Saúde, “As taxas moderadoras representam um obstáculo no acesso à
prestação de cuidados de saúde por parte da população. Elas não moderam aquilo
a que alguns chamam de procura desnecessária; elas são, isso sim, uma forma de
copagamento…” (aqui)e nos resultados dos estudos da Nova, que apontam para uma perda
de 243.755 consultas nos centros de saúde, 296.509 consultas num hospital do
SNS e 165.692 exames de diagnóstico relacionadas com os custos das taxas
moderadoras.
Aprovada na
generalidade no passado dia 14 de junho com os votos a favor do PSD, do PS, do BE,
do PCP, do PEV, do PAN, do deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira e com os votos
contra do CDS-PP, o projeto de lei acabou por baixar à Comissão de Saúde para
ser discutido na especialidade, onde acabou por ser rejeitado com os votos do
PSD, CDS e PS. (aqui)
Na Comissão
de Saúde, o PS e o PSD apesar de manterem a sua concordância com a proposta
aprovada argumentaram a favor de uma legislação que seja definida na próxima
legislatura após a aprovação da Lei de Bases da Saúde. Defendendo o Governo
através da ministra da saúde e do secretário de estado adjunto e da saúde que a
futura Assembleia da República deve ter em conta que a receita gerada pelas
taxas moderadoras representa 1.6% da despesa do SNS (160 milhões de euros em
2018) e cerca de ¼ do crescimento verificado no aumento da dotação financeira
do Serviço Nacional de Saúde em 2019 (aqui).
sábado, 18 de maio de 2019
PORTUGAL 22.º PAÍS MAIS SAUDÁVEL DO MUNDO - Bloomberg Healthiest Country Index
A agência
de notícias Bloomberg publicou recentemente o Ranking dos Países Mais Saudáveis
do Mundo de 2019(Bloomberg Healthiest Country Index) que coloca Portugal na 22ª
posição entre os 169 países analisados.
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Bloomberg Healthiest Country Index |
Os três primeiros lugares são
repartidos entre a Espanha, a Itália e a Islândia e nos primeiros 20 lugares encontram-se
13 países europeus (Suíça, Suécia, Noruega, Luxemburgo, França, Áustria,
Finlândia Holanda, Reino Unido e Irlanda), 3 países da Ásia (Japão, Singapura e
Coreia do Sul) 2 países da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia), 1 das Américas
(Canadá) e 1 do Médio Oriente (Israel).
A nação mais rica do mundo, o Estados
Unidos da América do Norte encontra-se no 35.º lugar, atrás de Cuba (30.º),
Chile (33.º) e Costa Rica (33.º).
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Bloomberg Healthiest Country Index |
O Bloomberg
Healthiest Country Index publicado desde 2012 classifica os países com base
num conjunto de variáveis que denomina de “ Health score” recolhidos nas
estatísticas da Organização Mundial de Saúde, da Organização Nações Unidas e do
Banco Mundial, que incluem as causas de mortalidade e a esperança de vida medidas
em várias fases do ciclo de vida, e penalidades “Health risk” que incluem a título
de exemplo a obesidade, o consumo de tabaco ou de álcool, a atividade física, a
cobertura vacinal ou o saneamento básico.
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Metodologia Bloomberg Healthiest Country Index |
No caso de
Portugal o país tendo vindo a melhorar o seu “Health Grade” desde 2012,
passando da 23.ª posição em 2012 (Health grade 75.15 – 81.72-6.57) para 20.ªposição em 2017 (Health grade 82.97 – 88.24 – 5.27) e para 21.ª posição em 2019
(Health grade 83,10 - 87.95 – 4.85).
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Bloomberg Healthiest Country Index 2012 |
domingo, 17 de março de 2019
MAIO 2019 - MICHAEL MARMOT EM PORTUGAL PARA FALAR DOS DETERMINANTES SOCIAIS SA SAÚDE MENTAL INFANTOJUVENIL
No próximo
mês de Maio o Professor Michael Marmot, a principal autoridade mundial na área
dos Determinantes Sociais da Saúde estará em Portugal para abordar os
Determinantes Sociais da Saúde Mental Infantojuvenil a convite da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (APPIA) durante o XXX Encontro
Nacional da Associação Portuguesa que se realizará em Guimarães de 15 a 18 de
maio. (aqui)
O professor
Michael Marmot, diretor do Instituto de Equidade em Saúde do University College
London, professor de epidemiologia, investigador principal do estudo Whitehall,
tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos 35 anos importante investigação nas
áreas das desigualdades em saúde e nos determinantes sociais da saúde.

Michael
Marmot orientará um workshop pré-encontro no dia 14 de Maio denominado “Give
every child the best start in life – Acting upon the social determinants of
mental health” e proferirá a Conferência de Abertura intitulada “Social
Determinants, Social Justice, and Health Equity”.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
2019 OECD ECONOMIC SURVEY OF PORTUGAL - OCDE DEFENDE A APOSTA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Do relatório
final apresentado em Lisboa, Angel Gurría (aqui) salientou os principias pontos
positivos: recuperação do PIB para níveis anteriores à crise, diminuição de 10%
na taxa de desemprego desde 2013 (uma das maiores descidas registadas nos
países da OCDE ao longo da última década), a previsão do crescimento do PIB em
torno dos 2 % ao ano em 2019 e 2020, o crescimento excecional das exportações
portuguesas ao longo da última década, assim como os principais riscos para o
futuro do país: o abrandamento
significativo da atividade económica nas economias emergentes, uma maior
incerteza política na União Europeia – em particular o risco de um Brexit sem
acordo, e a adoção de novas políticas comerciais protecionistas por parte de
outros países, salientando que “ a crise deixou as suas marcas, que se refletem
na ainda elevada taxa de pobreza da população em idade ativa e na perceção de
bem-estar subjetivo, agora mais baixa do que antes da crise”.
Apesar do
relatório analisar a área da Saúde e apresentar recomendações para Portugal
nesta área, pouca ou nenhuma importância lhe foram dadas pelos órgãos de
comunicação social do país, ficando-se apenas pela referência à escassez de
enfermeiros.
Pelo que vale
a pena salientar aqui os principais aspectos do relatório no que se refere ao
sector da saúde, incluídas no primeiro desafio «A necessidade de melhorar a
resiliência das finanças públicas e do sistema financeiro»
Começando por
reconhecer que as remunerações praticadas no setor público para os
trabalhadores altamente qualificados são relativamente baixas, tornando difícil
quer a contratação de novos profissionais como a retenção dos atuais
profissionais mais diferenciados, o relatório destaca a necessidade do país se
ajustar rapidamente às mudanças demográficas, chamando à atenção para a rápida
aceleração dos custos em saúde em % do PIB resultantes do envelhecimento (aqui), na
ausência de uma estratégia global para enfrentar os custos do envelhecimento
relacionados com a saúde, sugerindo uma transferência de recursos do sector da
educação para o sector da saúde em face da redução previsível do número de
alunos.
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The 2018 Ageing Repor - European Commission |
Salientando a
baixa cobertura de cuidados de saúde privados e a elevada % de pagamentos
diretos de cuidados de saúde em Portugal “out-of-pocket payments” o relatório
sublinha o reduzido potencial para aumentar a participação das contribuições
privadas para futuros custos de saúde sem comprometer o acesso aos cuidados de
saúde das famílias de mais baixos rendimentos.
Por fim a
OCDE reconhece as significativas reformas realizadas no setor da saúde nos
últimos anos, dando como exemplos a introdução de um novo sistema de
remuneração associado ao desempenho nos cuidados de saúde primários (USF modelo B) e a reforma efetuada na formação de preços dos medicamentos, reduzindo
custos, aumentando a transparência e melhorando a eficiência, propondo como
recomendação para a melhoria da sustentabilidade orçamental do setor da saúde,
a aposta no cuidados de saúde primários e a reorientação dos cuidados
hospitalares para esta área, sustentando que para a sua realização são
necessários mais enfermeiros e mais alunos de enfermagem de modo a reforçarem
nos próximos anos os cuidados em casa e os cuidados de saúde primários.
sábado, 2 de fevereiro de 2019
1 EM CADA 5 PORTUGUESES INCAPAZES DE MANTER AS SUAS CASAS AQUECIDAS
Em
2017, de acordo o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento
Europeu (EU-SILC), publicado pelo Eurostat no dia 31-01-2019, 41 dos
cerca de 512,6 milhões de habitantes (8%) da União Europeia não
tinha capacidade para manter a sua casa aquecida suficientemente,
variando entre os 37% da Bulgária e os cerca de 2% do Luxemburgo, da
Finlândia ou da Holanda. (aqui)
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EU-SILC 2017 |
No
caso Português em 2017 o país situava-se na 5.ª posição entre os
países em que um maior número de cidadãos não tinha capacidade
para manter a sua casa aquecida suficientemente, com cerca de 20.4%
das pessoas (1 em cada 5 pessoas) a viver em agregados
familiares sujeitos a pobreza energética (famílias que têm de
consagrar mais de 10% dos seus rendimentos à eletricidade e ao
aquecimento, definição da OMS). Resultado que representa uma
melhoria de cerca de 2.1% em comparação com 2016 confirmando os
progressos verificados nos ùltimos 12 anos.
De
acordo com a evidência publicada (aqui) são os mais pobres e em particular
os mais velhos (especialmente os que têm idade superior a 85 anos)
que são os mais propensos a terem em simultâneo as casas mais frias
e húmidas e a menor capacidade para as manterem aquecidas, gerando
condições propícias ao agravamento da sua condição de saúde,
circunstâncias que no caso português tem contribuido para o excesso
de mortalidade verificado durante os meses de Inverno, conhecido como
“paradoxo da mortalidade de inverno” uma vez que é o exemplo do
país que apesar de ter um clima ameno apresenta uma maior variação
sazonal de mortalidade sendo
apontado como um paradoxo.
Portugal
necessita que as autoridades e em particular as de saúde ao invés
de centrarem apenas as suas prioridades em torno da vacinação
antigripal e do reforço do atendimento nos serviços de urgência,
desenvolvam ações que permitam conhecer a população em pobreza
energética e influenciem as políticas públicas de combate à
pobreza energética, enquanto deterimante social de saúde.
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