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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA COMO DETERMINANTE DE SAÚDE E DE DESIGUALDADES EM SAÚDE


As regiões da União Europeia mais pobres, menos escolarizadas e com maior nível de desemprego estão sujeitas a um maior impacto aos poluentes atmosféricos, ao ruído e às temperaturas extremas, de acordo com os resultados apresentados no relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA) “Exposição desigual e impactos desiguais: a vulnerabilidade social à poluição atmosférica, ao ruído e às temperaturas extremas na Europa”.

Apesar das melhorias registadas nas últimas décadas na União Europeia no que se refere à qualidade ambiental, mantêm-se desigualdades regionais e diferenças na distribuição das ameaças ambientais relacionadas com os níveis de rendimento, de desemprego e de educação na Europa.

O relatório da AEA avaliou as relações entre as desigualdades sociais e demográficas e a exposição à poluição atmosférica, ao ruído e às temperaturas extremas procurando perceber a forma com a poluição e os outros riscos ambientais determinam a saúde das pessoas, em função da idade, do estado de saúde, do rendimento, do estatuto profissional, do seu nível de escolarização ou do seu local de residência.

No que se refere a conclusões o estudo apresenta-as em dois item, a poluição atmosférica e sonora por um lado e as temperaturas extremas por outro, em ambas são as populações mais pobres, com maior nível de desemprego e menor escolaridade que são mais afetadas.

No que se refere à poluição atmosférica e sonora, as regiões da Europa Oriental (Polónia, Eslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária) e as regiões da Europa Meridional (incluindo Espanha, Portugal, Itália e Grécia), onde o nível de rendimento e de escolaridade são mais baixos e as taxas de desemprego são superiores à média europeia, foram as que mais foram expostas aos poluentes atmosféricos, incluindo partículas finas e ozono ao nível do solo (O3). Nas regiões mais ricas, incluindo as grandes cidades, registaram-se os maiores níveis de dióxido de azoto (NO2), devido à elevada concentração de tráfego rodoviário e de atividades económicas poluentes, observando-se profundas desigualdades dentro destas regiões/cidades desfavoráveis às comunidades mais pobres, uma vez que as pessoas com menores rendimentos e menores qualificações habitam ou trabalham nos locais em que a qualidade do ar está mais comprometida, seja pela proximidade a vias com muito tráfego, seja pela presença de indústrias, pela inexistência de espaços verdes ou pela fraca qualidade da construção.

No que se refere às temperaturas extremas são as regiões do Sul da União Europeia caracterizadas por menores rendimentos, menor escolarização e maiores índices de desemprego que são mais afetadas por temperaturas mais elevadas, criando condições para que as pessoas mais pobres e mais idosas tenham uma reduzida capacidade para responder ao calor ou para o evitar, dando origem a resultados negativos para a saúde.

No caso português o relatório sublinha as dificuldades já conhecidas das populações em manterem as suas casas climatizadas para responderem às temperaturas extremas e o papel da exposição ao ozono na saúde das pessoas, em particular nas de menores rendimentos e nas idosas. (aqui) (aqui)

terça-feira, 7 de agosto de 2018

AUMENTO DA MORTALIDADE - VAGAS DE CALOR - MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Num mundo cada vez mais quente, e em sociedades cada vez "mais frias" que voltam as costas aos mais vulneráveis, o calor é um assassino invisível, que não liquida todos por igual. As estórias das vagas e das ondas de calor pertencem à história económica e social, só compreendidas à luz dos determinantes sociais da saúde.
Portugal continental esteve nos primeiros dias de Agosto sobre uma vaga de calor extremo, em muitas estações meteorológicas a temperatura ultrapassou mais de 40 graus Celsius, levando a um aumento da mortalidade em particular entre as pessoas de mais de 70 anos, registando-se no dia 05 de janeiro 482 óbitos. (aqui)
Em post´s (aqui)(aqui) anteriores chamávamos à atenção para os efeitos do aquecimento global e para ocorrência cada vez mais frequentes de catástrofes relacionadas com o clima. Em Agosto de 2017 a revista Lancet Planetary Health  publicava o estudo “Increasing risk over time of weather-related hazards to the European population: a data-driven prognostic study” (aqui) onde se concluía que o aquecimento global poderá provocar na Europa catástrofes relacionadas com o clima que afetarão cerca de 2/3 da população no ano de 2100 e multiplicarão por 50 as mortes verificadas no período de 1981-2100.
De acordo com a investigação a situação será altamente desfavorável ao Sul da Europa, onde a taxa de mortalidade prematura devido ao clima extremo entre os anos em estudo (2071-2199) poderá atingir cerca de 700 mortes anuais por milhão de habitantes tornando-se no maior fator de risco ambiental para a saúde.

O estudo conclui ainda que alguns grupos sociais podem ser mais afetados do que outros, “In particular, the most vulnerable will be elderly people and those with diseases..., as well as the poor...”, confirmando a evidência científica publicada desde que Klinenberg (aqui) estudou a Onda de Calor que afetou Chicago em 1995 descobrindo que as 700 mortes verificadas não eram consequência “natural” da Onda de Calor mas eram antes moldadas pelo contexto e pela organização social humana. De acordo com Klinberg, em Chicago morreram as pessoas idosas, as pobres e as isoladas, concluindo que sem a “desnaturalização” do evento a relação das desigualdades sociais e políticas com a mortalidade observada continuaria escondida.

As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade, o Acordo de Paris 2015 foi a mais recente tentativa para tentar travar o aquecimento global (aqui). Aprovado por 194 países, ratificado por mais de 150, incluindo a China e os países da União Europeia, sofreu um importante revés quando a administração Trump informou em junho de 2017 que os Estados Unidos iriam abandonar o Acordo. (aqui)(aqui)

Mas o risco de assegurar que o aumento da temperatura média global fique abaixo de 2°C prosseguindo os esforços para limitar o aumento da temperatura até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, pode não ser suficiente conforme propõe um estudo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” PNAS, onde os investigadores (aqui) (aqui) afirmam que “ o grande receio é que, mesmo que se consiga travar as emissões nos dois graus, alguns daqueles fenómenos já não sejam reversíveis e façam aumentar a temperatura, desencadeando um efeito dominó” apontando como “ a única forma de tentar impedir isso é «descarbonizar imediatamente o sistema mundial de energia, e alcançarmos um mundo livre de combustíveis fósseis o mais tardar em 2040-2050».

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

3 TRANSNACIONAIS DA CARNE - JBS, CARGILL E TYSON, PRODUZEM MAIS GASES DE EFEITO DE ESTUFA QUE A FRANÇA.

No passado mês de Novembro a Fundação Heinrich Böll, a GRAIN e a IATP deram a conhecer o valor das emissões de gases com efeitos de estufa emitidos pelas 20 maiores empresas mundiais de produção de carne e leite, colmatando a falta de informação nesta área, uma vez que poucas são as empresas de produção de carne e leite que publicam informação sobre as emissões de gases com efeito sobre o clima.

De acordo com os dados conhecidos e agora publicados, as 3 maiores multinacionais de produção de carne, a JBS,SA, a Cargill e a Tyson, emitiram no ano de 2016, mais gases com efeito de estufa que toda a França, e quase tanto como três das maiores companhias petrolíferas, a Exxon, a BP e a Shell.


No cômputo geral a totalidade dos gases emitidos pelas 20 principais empresas de produção de carne e leite, estaria ao nível das emissões produzidas pelo sétimo país do mundo, ultrapassando a totalidade das emissões de gases com efeito de estufado produzidos na Alemanha, o maior país emissor da Europa.

Ao longo das últimas décadas, as empresas de carne e leite cavalgaram políticas de incentivo à produção que tinham como preocupação a segurança alimentar mundial, tornando-se cada vez mais poderosas, contribuindo para a perda de diversidade genética animal, para o uso excessivo da água, para a destruição das florestas, para a utilização de herbicidas e de antibióticos, para o desaparecimento dos pastores e pequenos produtores, para o desaparecimento dos talhos a favor das grandes cadeias de supermercados, para o uso de fundos públicos para subsidiar a produção animal, e para a concentração corporativa de toda a fileira da produção animal com tudo o que isso significa para a saúde pública.

Mas a contrário da indústria petrolífera, a sua atividade tem passado incólume, longe do escrutínio público, sempre alavancada na necessidade de expandir a sua atividade para “matar a fome ao mundo”, sendo hoje responsável por quase 15% das emissões globais de gases de estufa, ultrapassando o setor mundial do transporte.

Quando se trata de carne as aparências iludem. O gado produz alguns dos gases mais perigosos para a mudança de clima, o metano e o óxido nitroso. No seu total o contingente mundial de gado é responsável pela produção de 15% destes gases, mais potentes do que o dióxido de carbono e mais nocivos para o ambiente. No que respeita à água vale a pena lembrar que 8% do seu uso mundial se destina ao cultivo de alimentos para o gado e que em todo o mundo se produzem cerca de 42 Kg de carne por pessoa. Produzidas em larga escala, em países onde a produção é altamente subsidiada, são depois exportadas para todo o mundo, provocando um elevado consumo de carne e produtos processados, pondo em risco a sobrevivência de milhares de agricultores e criadores de gado responsáveis por alimentar milhões de pessoas.


É tempo de impedir as transnacionais da Big Food de destruírem o clima e os sistemas alimentares tradicionais que munem as comunidades de uma base racional para as políticas que protegem a saúde pública.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A SAÚDE HUMANA, QUALIDADE DO AR E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Resultado de imagem para changing in the air harvard fallA “HARVARD PUBLIC HEALTH MAGAZINE” do Outono (aqui) editada pela HARVARD T.H. CHAN SCHOOL OF PUBLIC HEALTH publica uma importante reportagem intitulada “Changing in the Hair” onde se descrevem um conjunto de investigações sobre a ação das mudanças climáticas na qualidade do ar, interior e exterior, desenvolvidas por aquela escola.
Na primeira das experiências os cientistas da Harvard T.H. Chan School of Public Health, simularam as condições atmosféricas previstas no final do século XX e estudaram a sua previsível ação sobre as culturas de soja, de trigo, de arroz e de milho, concluindo que retém menos micronutrientes essenciais, como minerais de zinco e ferro, minerais essências para a saúde humana.

If global emissions and concomitant climate change continue at current rates, by 2050 hundreds of millions of people who depend on these staple crops for nutrition—especially in poorer societies where meat is rarely consumed—could suffer devastating health problems, from stunted growth to diminished cognitive function.”
Source: “Climate change, indoor environments, and health,” Indoor Air, 2012.
Na segunda das experiências os investigadores estudaram a ação das mudanças climáticas na qualidade do ar interior, bem como a sua ação sobre os materiais usados no interior das casas, sejam nos materiais de construção utilizados seja no mobiliário interior, e os seus efeitos sobre a saúde das pessoas.

Climate change exacerbates the peril. Toxic fumes and carcinogens often leach out of common materials used in furniture, paint, and construction. Alone, these chemicals include known carcinogens, asthma-inducing substances, and endocrine disrupters, posing significant health risks.”

De acordo com os investigadores a solução para estes problemas passa por reduzir as emissões que estimulam as mudanças climáticas e eliminar os materiais prejudiciais dos interiores das habitações.

sábado, 5 de dezembro de 2015

EXCESSO DE MORTALIDADE NO INVERNO - GRIPE OU POBREZA ENERGÉTICA

No passado dia 28 de Outubro o Instituto Nacional de Saúde, Ricardo Jorge, dava a conhecer os resultados reportados pelos países que participam na rede EuroMOMO (Rede European Monitoring Excess Mortality for Public Health Action), durante o inverno de 2015, que demonstraram um excesso de mortalidade, na população com 65 ou mais anos, em todos os países europeus que participam nesta rede, com exceção da Estónia e da Finlândia, estando Portugal entre os países mais atingidos, apontando as conclusões desse trabalho para que o excesso de mortalidade tenha ocorrido em simultâneo com a epidemia de gripe sazonal e um período de vagas de frio extremo. Conclusões que estão em linha com as posições públicas assumidas pelas autoridades portuguesas de saúde pública, Direção Geral de Saúde, que atribuiu o excesso de mortalidade no Inverno de 2015 à gripe, às doenças relacionadas com o frio e ao crescimento da população idosa e das suas próprias patologias.
Será esta a explicação, apenas uma parte da explicação, e, que peso terá no excesso de mortalidade ocorrida no Inverno?


% of households unable to afford to keep their home adequately warm
Constantino Sakellarides, emérito médico de saúde pública, põe o “dedo na ferida” em declarações ao jornal “O Público” (aqui) a quando da apresentação do estudo realizado para OMS Europa O impacto da crise financeira no sistema de saúde e na saúde em Portugal, cito “ Nos primeiros meses de 2012, um excesso de mortalidade associado à gripe e ao frio foi reportado em Portugal, tal como em muitos outros países europeus em pessoas com mais de 65 anos. No entanto, um excesso de mortalidade nas faixas etárias entre os 15 e os 64 anos apenas ocorreu em Portugal e em Espanha… «Como se explica esta diferença entre países? … Portugal tem uma das mais baixas capacidades de aquecimento das casas durante o Inverno no conjunto dos países europeus, o que pode ter influência na mortalidade”, é que há muito que Portugal apresenta excesso de mortalidade no inverno, sendo apontado como um paradoxo, uma vez que é o exemplo do país com um clima ameno no inverno que apresenta a maior variação sazonal da mortalidade 28% no trabalho de Healy em 2003 e 25.9% no trabalho de Fowler em 2014. 


Map of 9-year country-level EWDI in 31 European countries, grouped by quintiles of equal count.
O "paradoxo da mortalidade de inverno" explica-se afinal pela pobreza energética determinada por “baixos rendimentos, custos elevados de energia e falta de eficiência energética nas habitações”.
De acordo com o trabalho de Raquel Nunes, Portugal apresenta indicadores muito baixos no que se refere à qualidade energética das habitações, “ casas com paredes duplas (6%), isolamento do telhado (6%) e vidros duplos (3%) ” e uma elevada incapacidade para manter as casas aquecidas entre os agregados familiares com um adulto com mais de 65 anos, o que mostra que as pessoas idosas em Portugal estão em maior risco de sofrer os efeitos de viver em casas frias (OMS 2012).

De acordo com os estudos publicados (aqui) (aqui)as pessoas com menos rendimento, têm mais propensão a estar em "pobreza energética" ficando mais expostas a problemas de saúde, incluindo problemas circulatórios, respiratórios e a uma menor qualidade da saúde mental, de acordo com estudos ingleses “10% of excess winter deaths are directly attributable to fuel poverty and a fifth of excess winter deaths are attributable to the coldest quarter of homes”. A pobreza energética também pode afetar os determinantes mais vastos da saúde, tais como o desempenho escolar entre crianças e jovens, ou as ausências ao trabalho.

Portugal necessita que as autoridades de saúde ao invés de centrarem apenas as suas prioridades em torno da vacinação antigripal e do reforço do atendimento nos serviços de urgência, desenvolvam estudos que permitam conhecer a população em pobreza energética e influenciem políticas de combate à pobreza energética.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

ENCICLÍCA " LAUDATO SI" DO PAPA FRANCISCO - PARIS 2015 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SAÚDE

No momento em que decorre em Paris 21.ª Conferência do Clima (#COP21) vale a pena dar a conhecer a enciclíca " Laudato Si" do Papa Francisco, lançada em Junho de 2015 sobre "O Cuidado da Casa Comum", que versa o conceito " ecologia integral" (AQUI)

As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, constituindo actualmente um dos principais desafios para a humanidade. Provavelmente os impactos mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento"

Extratos:

A QUESTÃO DA ÁGUA

" Outros indicadores da situação actual têm a ver com o esgotamento dos recursos naturais. É bem conhecida a impossibilidade de sustentar o nível actual de consumo dos países mais desenvolvidos e dos sectores mais ricos da sociedade, onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge níveis inauditos. Já se ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza.

A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. As fontes de água doce fornecem os sectores sanitários, agro-pecuários e industriais. A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências a curto e longo prazo. Grandes cidades, que dependem de importantes reservas hídricas, sofrem períodos de carência do recurso, que, nos momentos críticos, nem sempre se administra com uma gestão adequada e com imparcialidade.

A pobreza da água pública verifica-se especialmente na África, onde grandes sectores da população não têm acesso a água potável segura, ou sofrem secas que tornam difícil a produ- ção de alimento. Nalguns países, há regiões com abundância de água, enquanto outras sofrem de grave escassez. Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por microorganismos e substâncias químicas. A diarreia e a cólera, devidas a serviços de higiene e reservas de água inadequados, constituem um factor significativo de sofrimento e mortalidade infantil. Em muitos lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados pela poluição produzida por algumas actividades extractivas, agrícolas e industriais, sobretudo em países desprovidos de regulamentação e controles suficientes.


Não pensamos apenas nas descargas provenientes das fábricas; os detergentes e produtos químicos que a população utiliza em muitas partes do mundo continuam a ser derramados em rios, lagos e mares. Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável.

Esta dívida é parcialmente saldada com maiores contribuições económicas para prover de água limpa e saneamento as populações mais pobres. Entretanto nota-se um desperdício de água não só nos países desenvolvidos, mas também naqueles em vias de desenvolvimento que possuem grandes reservas. Isto mostra que o problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade destes comportamentos num contexto de grande desigualdade. Uma maior escassez de água provocará o aumento do custo dos alimentos e de vários produtos que dependem do seu uso. Alguns estudos assinalaram o risco de sofrer uma aguda escassez de água dentro de poucas décadas, se não forem tomadas medidas urgentes. Os impactos ambientais poderiam afectar milhares de milhões de pessoas, sendo previsível que o controle da água por grandes empresas mundiais se transforme numa das principais fontes de conflitos deste século."

...

" A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana. A salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente cura. A crise financeira dos anos 2007 e 2008 era a ocasião para o desenvolvimento duma nova economia mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da actividade financeira especulativa e da riqueza virtual. Mas não houve uma reacção que fizesse repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo. A produção não é sempre racional, e muitas vezes está ligada a variáveis económicas que atribuem aos produtos um valor que não corresponde ao seu valor real. Isto leva frequentemente a uma superprodução dalgumas mercadorias, com um impacto ambiental desnecessário, que simultaneamente danifica muitas economias regionais. Habitualmente, a bolha financeira é também uma bolha produtiva. Em suma, o que não se enfrenta com energia é o problema da economia real, aquela que torna possível, por exemplo, que se diversifique e melhore a produ- ção, que as empresas funcionem adequadamente, que as pequenas e médias empresas se desenvolvam e criem postos de trabalho."


TRÊS RAZÕES PELAS QUAIS AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SÃO SOCIAIS E NÃO APENAS AMBIENTAIS

No momento em que a comunidade internacional se mobiliza com o objetivo de pressionar os lideres mundiais para conseguirem um 

Global climate march 2015 shoes
acordo  que cumpra o objetivo traçado para a 21.ª Conferência do Clima decorre em Paris entre os dias 30 de Novembro e 11 de Dezembro de 2015estabelecer uma redução no aquecimento global de 2.º C. Vale a pena lembrar que as mudanças climáticas não são apenas uma preocupação dos ambientalistas, uma vez que os seus efeitos têm uma acção sobre o ambiente, a economia e o social.

Aqui ficam três razões pelas quais as mudanças climáticas são sociais e não apenas ambientais. 


1.ª De acordo com as estimativas mais recentes do Banco Mundial, 12,7 por cento da população mundial, cerca de 986 milhões de pessoas, vivia com USA$1,90  por dia ou menos. Muitas destas pessoas dependem dos recursos naturais à sua volta para sobreviverem, pelo que as mudanças climáticas que se sucederam nos últimos anos, provocando inundações e secas extremas obrigam-os a mudar o seu modo de vida ou a deslocarem-se. Nas cidades os bairros mais pobres são mais afetados pela poluição e pelo aumento da temperaturas, não tem arborização, as casas não têm climatização e os materais utilizados retêm o calor.

2.ª Os pequenos agricultores que já lutam para conter intempéries e pragas, lutam por um preço justo para a sua produção numa competição desigual com as empresas agro-industriais de sistemas de monoculturas e esforçam-se por permanecerem no negócio. As mudanças climáticas agravam a vida dos agricultores, provocando temperaturas elevadas e alterações no padrão da precipitação afetando as colheitas e provocando uma diminuição na principal fonte de rendimento de comunidades inteiras. Os efeitos das alterações climáticas sobre os pequenos agricultores ameaçam a oferta de alimentos e a segurança alimentar, aumentando a volatilidade dos preços globais de alimentos.
Kiritabi

3.ª Muitas comunidades são forçadas a abandonarem o seu território por causa da subida do mar ou da seca extrema. Pequenos Estados insulares, como a República do Kiritabi são particularmente vulneráveis às mudanças climáticas. Em 2014 a primeira aldeia das ilhas Fidji teve que ser realocada mais de 1 km para o interior por causa da subida da água do mar, esperando-se que outras 34 aldeias sigam o mesmo caminho. Recentemente o Presidente da República de Kiritabi, uma pequena nação do Oceano Pacífico comprou 8 milhas quadradas de terra a 1.200 de distância em Vanua Levu, a segunda maior ilha das Fidji, porque o Kiritabi, como outras ilhas do Pacifíco  (Tuvalu, Maldivas) correm o risco de ficarem submergidas uma vez que o nível do mar naquela área sob à razão de 1.2 cm por ano, 4 vezes mais do que a média global. 

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

É URGENTE PROTEGER A SAÚDE DAS MUDANÇAS DO CLIMA - APELO DA OMS AOS PROFISSIONIAS DE SAÚDE

A Organização Mundial de Saúde - OMS apela aos profissionais de saúde de todo o mundo para que se juntem ao seu apelo para uma acção urgente que proteja a saúde das alterações climáticas, subscrevendo o seu Apelo à 21.ª Conferência do Clima decorre em Paris entre os dias 30 de Novembro e 11 de Dezembro de 2015, com o objetivo de estabelecer um acordo sobre o clima que irá conter o aquecimento global abaixo de 2.º C.




WHO calls for urgent action to protect health from climate change – Sign the call

“The evidence is overwhelming: climate change endangers human health. Solutions exist and we need to act decisively to change this trajectory."
Dr Margaret Chan, WHO Director-General
Climate change is the greatest threat to global health in the 21st century.
Health professionals have a duty of care to current and future generations. You are on the front line in protecting people from climate impacts - from more heat-waves and other extreme weather events; from outbreaks of infectious diseases such as malaria, dengue and cholera; from the effects of malnutrition; as well as treating people that are affected by cancer, respiratory, cardiovascular and other non-communicable diseases caused by environmental pollution.
Already the hottest year on record, 2015 will see nations attempt to reach a global agreement to address climate change at the United Nations Climate Change Conference (COP) in Paris in December. This may be the most important health agreement of the century: an opportunity not only to reduce climate change and its consequences, but to promote actions that can yield large and immediate health benefits, and reduce costs to health systems and communities.

WHO calls on the global health community to add its voice to the call for a strong and effective climate agreement, that will save lives, both now and in the future.
We call for a climate change agreement that promotes:
  • Strong and effective action to limit climate change, and avoid unacceptable risks to global health.
  • Scaling up of financing for adaptation to climate change: including public health measures to reduce the risks from extreme weather events, infectious disease, diminishing water supplies, and food insecurity.
  • Actions that both reduce climate change and improve health, including reducing the number of deaths from cancer, respiratory and cardiovascular diseases that are caused by air pollution (currently over 7 million each year).
We commit to leading by example, by:
  • Raising awareness of the health effects of climate change and the potential health co-benefits of low carbon pathways, among health professionals and the general public;
  • Contributing to the development and implementation of measures to limit climate change and protect our countries, workplaces, and communities;
  • Working to minimize the environmental impacts of our own health systems, at the same time as improving health services.
ASSINE E DIVULGUE AQUI (aqui)

domingo, 29 de novembro de 2015

PARIS 2015 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SAÚDE

A 21.ª Conferência do Clima decorre em Paris entre os dias 30 de Novembro e 11 de Dezembro de 2015, com o objetivo de estabelecer um acordo internacional sobre o clima que irá conter o aquecimento global abaixo de 2.º C.


A Conferência surge no momento em que a Organização Mundial de Saúde aponta os seguintes fatos:




  • As mudanças climáticas afetam os determinantes sociais e ambientais da saúde - ar limpo, água potável, comida suficiente e abrigo seguro.
  • Entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas esperadas podem causar cerca de 250 000 mortes por ano, devidas à malnutrição, à malária, à diarreia e ao efeito (stress) do calor.
  • Os custos dos danos directos para a saúde (ou seja, excluindo os custos em sectores determinantes para a saúde, tais como a agricultura, a água e o saneamento), estimam-se  em 2-4 bilhões/ano de US$ até 2030.
  • Os territórios com infraestruturas deficientes - a maioria nos países em desenvolvimento - serão menos capazes de lidar com estas mudanças, necessitando de ajuda para se prepararem e responderem. 
  • A redução das emissões de gases de efeito estufa através de melhores escolhas de transporte, alimentos e utilização de energia pode resultar em melhoria da saúde.
  • As mudanças climáticas afetam as pessoas, criando refugiados climáticos ( pessoas que têm de deixar as suas terras e as suas casas por causa dos efeitos do aquecimento global).

  • Para muitas personalidades como Mary Robinson,presidente da República da Irlanda entre 1990 e 1997, as mudanças climáticas são uma ameaça para os direitos humanos.