segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

DIA COBERTURA DE SAÚDE UNIVERSAL 2018 - #UHCDAY #HEALTHFORALL

Comemora-se hoje dia 12.12.2018 o Universal Health Coverage Day, 2018,#HealthForAll #UHCDay assinalando o dia 12 de Dezembro de 2012, data em que as Nações Unidas aprovaram por unanimidade uma resolução pedindo que todos os países forneçam cuidados de saúde acessíveis e de qualidade a todas as pessoas e em todos os lugares.


Health is a human right, no matter your gender, race, religion, sexual orientation, age, ability or citizenship. Universal health coverage means ensuring every community can get the health services they need, without discrimination or financial hardship. #HealthForAll #UHCDay


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

70 ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS - A SAÚDE - # Standup4humanrights .

Em 1948, no mesmo que marcou a fundação da Organização Mundial de Saúde, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou no dia 10 de dezembro desse mesmo ano a Declaração Universal dos Direitos Humanos (aqui).

No seu 70.º Aniversário lembramos as palavras do secretário geral da Organização Mundial de Saúde, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus.




EM 2017 - MELHORARAM TODOS OS INDICADORES QUE MEDEM A POBREZA, A DESIGUALDADE E EXCLUSÃO SOCIAL


O sítio da internet “Portugal Desigualatualizou recentemente os principais indicadores de desigualdade, pobreza e exclusão social obtidos a partir do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2018, e que incidiu sobre os rendimentos auferidos pelas famílias em 2017, publicado pelo Instituto Nacional de Estatística no dia 30 de Novembro (aqui)(aqui).
No site “Portugal Desigual” o Professor Carlos Farinha Rodrigues, um dos mais importantes especialistas portugueses na em desigualdades e pobreza, escreve que a melhoria de todos os indicadores que medem as desigualdades em 2017 “ … traduzem uma melhoria relevante da condição social do país e traduzem uma redução dos principais indicadores de pobreza, desigualdade e exclusão social. Tal deve-se em grande medida à recuperação económica do país, ao crescimento económico e à queda do desemprego. Mas deve-se igualmente a uma preocupação acrescida das políticas públicas com as questões sociais, com a preocupação de priorizar o crescimento dos rendimentos das famílias de menores rendimentos e ao reforço das políticas sociais expressas, por exemplo, no aumento do salário mínimo ou das prestações sociais direcionadas à população de menores rendimentos.

O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, agora publicado, mostrou que a incidência da pobreza atingiu, em 2017, 17,3% da população total, o valor mais baixo desta taxa desde que o INE a começou a publicar anualmente em 1995, e um ponto percentual (p.p.) abaixo do seu valor em 2016 (18,3%, e, que todos os índices de desigualdade registaram uma diminuição em 2017: o coeficiente de Gini desceu de 33,5% para 32,6% e o indicador que mede a distância dos rendimentos entre os 20% mais ‘ricos’ e os 20% mais ‘pobres’ diminuiu de 5,7 para 5,3

O inquérito mostrou ainda que há menos pessoas em privação material, uma vez que a taxa de privação material severa baixou de 6,9% para 6,0%.

As transferências sociais, nomeadamente as relacionadas com a doença e a incapacidade, a família, o desemprego e a inclusão social, diminuíram o risco de pobreza em 5,4 p.p., sensivelmente o mesmo impacto verificado no ano anterior (5,3 p.p.). Ou seja, sem essas prestações sociais a taxa de risco de pobreza teria sido, em 2017, de 22,7%.



Apesar destas melhorias Portugal continua a ser um dos países com maior pobreza e com maiores níveis de desigualdade na Europa, onde os 10% de portugueses mais pobres ainda ganham 8,9 vezes menos do que os 10% mais ricos e onde 1,7 milhões de portugueses continuavam em risco de pobreza e exclusão social em 2017.

No que se refere à incidência de pobreza segundo a condição de trabalho, os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2018 mostram que a população empregada em situação de pobreza diminuiu em 2017, fixando-se em 9.7%, enquanto a taxa de pobreza população em situação de desemprego atingiu 45,7% em 2017, refletindo “a permanência de uma proporção tão elevada de ‘working poors” as fragilidades do mercado de trabalho português de acordo com o “Portugal Desigual”

domingo, 2 de dezembro de 2018

ESPERANÇA DE VIDA NOS ESTADOS UNIDOS CAIU PELO 3.º ANO CONSECUTIVO - SOBRETUDO ENTRE A POPULAÇÃO BRANCA


De acordo com os dados publicados no passado dia 29 de novembro pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) “Mortality in the United States, 2017” (aqui), a esperança de vida nos Estados Unidos (EUA) caiu pelo terceiro ano consecutivo, situando-se em 78.6 anos, a muita distãncia do Canadá 82.3 anos, da Costa Rica 79.8 anos ou de Cuba com 79.7 anos (aqui). Os dados agora publicados referentes a 2017 (78.6) mostram uma diminuição de 1 décima em realação a 2016 (78.7) e confirmam a queda na descida da mortalidade nos EUA, verificada de forma contínua desde 2015.

Esta diminuição da esperança de vida ao nascer deveu-se em grande parte ao aumento da mortalidade de 4.2% por causas externas “unintentional injuries”, de 3.7% para a mortalidade por suicídio, de 5.9% para a mortalidade por gripe e pneumonia, de 2.4% para mortalidade por Diabetes e de 2.3% para a mortalidade por doença de Alzheimer.
O aumento das taxas de mortalidade ajustadas por idade para a população branca (homens e mulheres) não hispânica verificado nos últimos 3 anos, confirmam os confirmam os resultados do estudo publicado em 2015, por Anne Case1 e Angus Deaton“ Rising morbidity and mortality in midlife among white non-Hispanic Americans in the 21st century” (aqui), que tinham mostrado que a taxa de mortalidade entre os brancos americanos dos 45 aos 54 anos, com baixa escolaridade, “White Working Class” tinha aumentado entre 1999 e 2014, uma situação sem paralelo nos países de economia avançada e apenas registada nos EUA a quando da epidemia de VIH/SIDA.
Os autores apontavam como principais causas para esta situação, a privação económica e o stress financeiro da classe trabalhadora branca, provocado pela estagnação salarial verificada desde a década de 70, conjuntamente com a dificuldade lidar com a insegurança e a falta de proteção social na reforma.

domingo, 25 de novembro de 2018

2019 - HEALTH AT A GLANCE, 1 EM CADA 6 PESSOAS NA UNIÃO EUROPEIA SOFRE DE PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL.


O relatório anual “Health at Glance 2018” publicado pela OCDE no passado dia 22 de novembro apresenta análises comparativas do estado de saúde dos cidadãos europeus e do desempenho dos sistemas de saúde dos 28 países da União Europeia (UE), de cinco países candidatos (Albânia, Macedónia, Montenegro, Sérvia e Turquia), e de 3 países (Islândia, Noruega e Suécia).

O relatório de 2018 dá um enfoque especial à Saúde Mental, defendendo a sua melhoria como uma prioridade para o bem-estar individual dos cidadãos e das sociedades e chamando à atenção para estimativas recentes que revelaram que uma em cada seis pessoas da UE teve um problema de saúde mental em 2016, o equivalente a 84 milhões de pessoas e para o facto de em 2015 terem morrido cerca de 84000 pessoas de causas atribuídas a doenças mentais ou ao suicídio.

Para além destes aspetos, o “Health at Glance 2018” sublinha os custos económicos e sociais dos problemas de saúde mental cifrados em mais de 4% do produto interno bruto (PIB), mais de 600 milhões nos 28 países da UE, repartidos pelos 190 milhões de euros (1.3% PIB) de despesa direta nos cuidados de saúde, pelos 170 milhões de euros (1.2% PIB) de despesa em programas de segurança social, e, pelos 240 milhões de euros de custos indiretos (1.6% PIB) resultantes da redução de emprego e de produtividade no mercado de trabalho.
De acordo com os dados citados no relatório, provenientes do IHME 2018, os problemas de saúde mental mais prevalentes são as perturbações de ansiedade (5.4% da população – 25 milhões), as perturbações depressivas (4.5% da população – 21 milhões) e as doenças mentais mais severas como as perturbações bipolares (1.1% da população – 5 milhões) e a esquizofrenia (0.3% -1.5 milhões), estimando-se, ainda, que os problemas de saúde mental relacionados com o consumo do álcool e de drogas atinjam cerca de 11 milhões na UE.

No que se refere à sua distribuição entre a população, os dados provenientes do 2014 European Health Interview Survey, confirmam uma diferença substancial na depressão crónica auto-relatada, entre homens e mulheres, com cerca de 1 em cada 12 (8.8%) mulheres a reportarem uma depressão crónica, contra 1 em cada 19 homens (5.3%, um aumento da ocorrência da depressão em ambos os sexos à medida que a idade avança, sendo particularmente elevada entre os 55 e os 64 anos e acima dos 75 anos.
No que se refere à escolaridade a depressão crónica atinge particularmente as pessoas com menos escolaridade, e no que se refere ao trabalho e ao rendimento, atinge as pessoas de menores rendimentos.

O relatório chama ainda à atenção para o facto do trabalho e o emprego, terem um papel relevante na saúde mental das pessoas estando o desemprego associado ao agravamento das condições de saúde mental, enquanto o trabalho tem um papel positivo na saúde mental, registando-se melhorias na autoestima e nos sintomas de depressão quando as pessoas regressam ao mundo do trabalho.

A ESPERANÇA DE VIDA À NASCENÇA ESTAGNA EM ALGUNS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL

O “Health at Glance 2018” também observou uma desaceleração no crescimento da esperança de vida à nascença em alguns dos países europeus, incluindo a França, a Alemanha e o Reino Unido, apesar de se ter verificado uma melhoria de 3 anos entre 2001 e 2011 em todos os países da UE.
Este abrandamento no crescimento da esperança de vida verificada em 2015, em muitos países da Europa Ocidental, em que se incluem a Alemanha, a França, a Holanda, a Itália e o Reino Unido, em particular entre a população maior de 75 anos, foi atribuída ao excesso de mortalidade verificado no Inverno de 2015 e ao aumento das doenças cardiovasculares. Estes dados confirmam o abrandamento do crescimento da esperança de vida no Reino Unido já anteriormente reportado por Marmot (aqui) e Raleigh (aqui), e atribuído às medidas de austeridade e aos cortes nas despesas públicas.
O relatório confirma ainda grandes desigualdades na esperança de vida à nascença atribuídas aos determinantes sociais da saúde, quer sejam medidos pelo rendimento, pela ocupação profissional ou pela escolaridade, utilizando na secção “INEQUALITIES IN LIFE EXPECTANCY” o indicador escolaridade (por ser aquele que está quase sempre disponível) para estudar as desigualdades na distribuição da esperança de vida à nascença.



domingo, 18 de novembro de 2018

AS PESSOAS QUE VIVEM NAS ÁREAS MAIS POBRES ADOECEM 10 ANOS MAIS CEDO DO QUE AS PESSOAS QUE VIVEM NAS ÁREAS MAIS RICAS


O estudo "Understanding the health care needs of people with multiple health conditionspublicado no dia 13 de novembro pela “Health Foundation” envolvendo cerca de 300.000 pessoas concluiu que as pessoas que vivam nas áreas mais pobres (último quintil) adoecem 10 anos mais cedo que as pessoas que vivem nas áreas mais favorecidas (1º quintil), o que significa que as pessoas que vivem nas áreas mais favorecidas podem esperar ter dois ou mais problemas de saúde aos 71 anos, enquanto as pessoas que vivem nas áreas de maior privação têm 2+ problemas de saúde aos 61 anos.
 O estudo realizado pela “Health Foundation” analisou os dados de saúde de 300.000 ingleses durante os anos de 2014 a 2016 com o objetivo de estudar a multimorbilidade, uma vez que as pessoas que apresentam múltiplos problemas de saúde têm pior qualidade de vida, correm maior risco de morte prematura e necessitam de maior suporte dos serviços de saúde. Com esse objetivo o estudo considerou 36 condições de saúde, incluindo ocorrência de doença crónica, fatores de risco, sintomas como a dor crónica, deficiências sensoriais e ainda o uso indevido de substâncias, a sua distribuição entre a população e a utilização dos serviços de saúde, tanto ao nível dos centros de saúde como dos Hospitais, incluindo internamento e urgência, tendo encontrado como principais conclusões:



- 1 em cada 4 adultos tinha 2+ problemas de saúde, o que equivale a aproximadamente 14,2 milhões de pessoas na Inglaterra.
- As pessoas das áreas mais desfavorecidas correm maior risco de ter múltiplos problemas e em idades mais jovens. Cerca de 28% das pessoas nas áreas mais desfavorecidas tem 4+ problemas de saúde em comparação com 16% das pessoas mais favorecidas.
- 30% das pessoas com 4+ problemas de saúde têm menos de 65 anos de idade, e essa % é maior nas áreas mais desfavorecidas.
- Em 2015/2016 1 em cada 3 doentes internados num hospital tinha 5+ problemas de saúde, enquanto em 2006/07, a proporção era de 1 em cada 10 doentes.
- As pessoas com multimorbilidades têm múltiplas consultas e tratamentos. Os doentes com 4 ou mais problemas tiveram uma média de 8,9 consultas em 2,8 especialidades médicas. Durante o período do estudo, esses doentes (4+) visitaram um médico de família 24.6 vezes (1 vez por mês em média) tendo-lhe sido prescritos 20,6 medicamentos diferentes. Enquanto um doente com 1 problema de saúde, teve 2,8 consultas com especialista, 8,8 consultas de medicina geral e familiar, e 5,6 medicamentos prescritos. No entanto, os doentes com mais problemas de saúde não tiveram tempos de consulta mais longos com o seu médico de família, apesar de suas necessidades mais complexas.
- 82% das pessoas com cancro, 92% das pessoas com doença cardiovascular, 92% das pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica e 70% das pessoas com problemas de saúde mental têm pelo menos mais um problema de saúde adicional.
- Os cuidados de saúde com as pessoas com 2+ problemas de saúde são responsáveis por mais de metade dos custos dos cuidados primários e secundários, e ¾ dos custos das prescrições dos cuidados primários.

O estudo chama ainda à atenção para o aumento previsível das despesas em saúde resultante do crescimento nos próximos 5 anos da atividade hospitalar em cerca de 14% por via do aumento do número de pessoas com múltiplos problemas de saúde e para o fato das estratégias clínicas continuarem a privilegiar o enfoque num único problema de saúde.

Propondo a “Health Foundation” que o planeamento de longo prazo para o Serviço Nacional de Saúde inglês deva ter um foco claro nas pessoas com múltiplos problemas de saúde.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

GLOBAL BURDEN DISEASE 2017 - MOSTRA DEFICE DE PROFISSIONAIS DE SAUDE E REGRESSÃO NOS GANHOS EM SAÚDE


A revista Lancet de 10 de Novembro (aqui) apresenta os resultados de 2017 da Carga de Doença Global (GBD), que também podem ser explorados de uma forma interativa no sítio da internet do Institute for Health Metrics and Evaluation (aqui), estando disponíveis para os 195 países estudados.

Dos trabalhos apresentados salientamos o estudo “Measuring progress from 1990 to 2017 and projecting attainment to 2030 of the health-related Sustainable Development Goals for 195 countries and territories: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017” onde os autores analisam 41 dos 52 indicadores relacionados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Setembro de 2015, para 195 países e territórios entre 1990 e 2017, tendo incluído pela primeira vez na história do GBD, estimativas sobre o número de profissionais de saúde existentes.

No Editorial desta edição da revista Lancet intitulado “GBD 2017: a fragile world”, o editorialista chama à atenção dos leitores, dos governos e das agências internacionais para a iminente perda de ganhos em saúde que se vinham a registar desde que os resultados da Carga de Doença Global(GBD) tem vindo a ser publicados, sugerindo uma leitura cuidadosa do “Global Burden of Disease Study 2017”, uma vez que os resultados apresentados, mostram taxas globais de mortalidade estagnadas ou a diminuir em plateau, chamando à atenção para o aumento de 118% das causas de morte resultantes de conflitos armados e ações terroristas nos últimos 10 anos.

Ao contrário do que era habitual com a apresentação dos resultados anuais da Carga de Doença Global caracterizados até aqui por progressos significativos, os resultados de 2017 mostram um crescimento preocupante da dependência de opiáceos, do dengue, da depressão e das doenças crónicas. Aumentam a prevalência da obesidade, os transtornos depressivos e as mortes por dengue (de 24.500 em 2007 para 40.500 em 2017).

No caso da dependência dos opiáceos, 2017 apresenta 4 milhões de novos casos e 110.000 mortes, resultados sem precedentes, e no caso das doenças crónicas, responsáveis ​​por 73% de todas as mortes globais em 2017, apenas quatro fatores de risco: pressão alta, tabagismo, glicemia elevada e índice de massa corporal elevado, são responsáveis por mais de metade de todas as mortes (28,8 milhões).

A estes menos bons resultados soma-se a escassez global e a distribuição desigual dos profissionais de saúde. Os autores estimam que apenas metade dos 195 países estudados tenha os profissionais de saúde necessários para prestar cuidados de saúde de qualidade (estimados em 30 médicos, 100 enfermeiras ou parteiras e cinco farmacêuticos por cada 10 000 pessoas), estimando-se os maiores défices nos países da África subsaariana, do sudeste asiático, do sul da Ásia e de alguns países da Oceânia.

Resultados que a revista classifica de perturbadores, uma vez que tanto os dados globais como os parcelares mostram que nenhum país está no caminho certo para cumprir todos os ODS relacionados com a Saúde até 2030.


domingo, 11 de novembro de 2018

NASCER E PERMANECER NA "WORKING CLASS" É MAU PARA A SAÚDE


Num artigo "Intergenerational social mobility and allostatic loadin Great Britainrecentemente publicado no “Journal of Epidemiology and Community Health” por dois investigadores da Universidade de Oxford, que tinha como objetivo testar a hipótese da mobilidade social intergeracional ser um processo causador de stress com efeito negativo na saúde das pessoas, os autores concluíram que tanto a origem como a classe de destino são importantes para a saúde dos indivíduos, e que a mobilidade social por si só não tem impacto na sua saúde.


No estudo os autores utilizaram os dados (relação entre a classe social parental aos 14 anos, a classe social dos respondentes e a carga alostática no momento da entrevista) recolhidos um grupo de 9851 adultos participantes no “Understanding Society – The UK Household Longitudinal Study” (aqui).

No decurso da investigação concluíram que a carga alostática (inclui como indicadores: o perímetro abdominal, o colesterol total, o colesterol de alta densidade, os triglicerídeos, a hemoglobina glicada, a proteína C reativa, o fibrinogénio, pressão arterial sistólica, a frequência cardíaca em repouso e o índice de massa corporal), uma medida do desgaste do corpo resultante do stress crónico, que pode provocar doenças crónicas, como a diabetes e as doenças cardíacas, afeta sobretudo e de forma negativa aqueles que nasceram e se mantiveram naworking class”.

No que se refere à mobilidade social, verifica-se que ela afeta de forma diferente os que estão numa classe social mais elevada (topo) e descem na escala social e aqueles que começaram a vida entre as “working class” e sobem na classe social, enquanto no primeiro caso as pessoas oriundas das classes sociais mais favorecidas veem a sua saúde protegida pela sua origem, no segundo caso as pessoas oriundas da “working class” e sobem na classe social apresentam uma melhor carga alostática do que as pessoas que nasceram e permaneceram na “working class” mas muito acima daquela que afetará as pessoas que começaram numa classe social mais elevada (top) e que lá permanecem.

Concluindo os autores que a mobilidade social por si só não afeta a carga alostática, mas é antes a origem social que melhora ou prejudica a carga alostática, favorecendo sempre as classes mais favorecidas mesmo quando estas descem na escala social e prejudicando aqueles que permamecem nas classes trabalhadoras.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

25 OUTUBRO 2018 - APROVADA A NOVA DECLARAÇÃO SOBRE CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS - DECLARAÇÃO DE ASTANA


Foi aprovada hoje dia 25 de outubro, a nova Declaração sobre Cuidados de Saúde Primários, a Declaração de Astana, no decurso da Conferência Global sobre Cuidados de Saúde Primários, realizada em Astana no Cazaquistão, organizada pelo Governo do Cazaquistão, pela OMS e pela UNICEF.(aqui)

Nos 40 anos da Declaração de Alma-Ata, a nova Declaração de Astana, com o lema “De Alma-Ata à Cobertura Universal e aos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável” os representantes dos países participantes na Conferência reafirmam os compromissos expressos da Declaração de Alma-Ata e na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.



Declaração de Astana, Cuidados Saúde Primários (2018) (aqui)

domingo, 21 de outubro de 2018

ALMA-ATA 40 ANOS DEPOIS, UM NOVO COMEÇO PARA OS CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDE

Há 40 anos em plena Guerra Fria, reunia-se em Alma-Ata (Almaty) capital da República Soviética do Cazaquistão (ex – URSS) a Conferência Internacional sobre Cuidados de Saúde Primários, reunindo peritos em saúde e decisores políticos de todo o mundo em conjunto com os representantes dos 134 países membros da Organização Mundial de Saúde. (aqui)
Nessa época estimava-se que 2000 milhões de pessoas não tinham acesso a cuidados de saúde adequados, existiam grandes desigualdades entre países ricos e países pobres, bem como entre as populações mais ricas e mais pobres dentro do mesmo país. A Declaração de Alma-Ata assinada no dia 12 de Setembro de 1978 revolucionou a interpretação da saúde no mundo. A ideia de que a saúde devia ser vista como um recurso para o desenvolvimento socioeconómico e de que cuidados de saúde inadequados e iníquos eram inaceitáveis dos pontos de vista económico, social e político, tornou-se na sua principal mensagem.

Em 1978, a Declaração de Alma-Ata (aqui)foi inovadora ao colocar os cuidados de saúde primários como a chave para uma melhor saúde para todos e os valores da justiça social e da equidade em saúde como princípios basilares para atingir esse desígnio.
Passados 40 anos, os cuidados de saúde primários estão em crise. As razões para esta crise são muitas, mas elencaremos apenas as duas mais relevantes, por um lado o aparecimento do HIV/SIDA e carga de doença global que trouxe associada, por outro lado a visão de que os cuidados de saúde primários eram politicamente inaceitáveis para alguns países, e, portanto marginalizados no contexto económico e social iniciado nos anos de 80 com adoção pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional de políticas neoliberais sustentadas no Consenso de Washington (aqui), que levaram a “abordagens seletivas” dirigidas a alguns problemas de saúde em detrimento de uma abordagem global.

Atualmente os cuidados de saúde primários, estão subfinanciados e pouco desenvolvidos em muitos países, enfrentando grandes desafios no recrutamento e na retenção dos seus profissionais.

Em 2018 metade da população mundial não tem acesso aos cuidados de saúde mais essenciais, apesar de sabermos. desde há muito, que 80-90% das necessidades em saúde ao longo de da vida podem ser resolvidas ao nível dos cuidados de saúde primários(da prevenção de doenças à vacinação, da maternidade à gestão das doenças crónicas ou aos cuidados paliativos)e que à medida que as populações envelhecem e a multimorbilidade se torna regra, o papel dos cuidados de saúde primários torna-se cada vez mais importante.

Em 1978, a Declaração de Alma-Ata colocou os cuidados de saúde primários, enquanto filosofia, estratégia para organização de serviços e um conjunto de atividades, como chave para a “Saúde para Todos”, mas 40 anos depois, essa visão não foi concretizada, e, em vez disso, o foco tem sido centrado nas doenças individuais com resultados variáveis.

Contudo, com a aprovação em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas dos “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável” estão criadas novas condições para alcançar a cobertura universal de saúde através dos cuidados de saúde primários fortalecidos.(aqui)

A realização da Conferência Global sobre Cuidados de Saúde Primários, em Astana no Cazaquistão, organizada pelo Governo do Cazaquistão, pela OMS e pela UNICEF no próximos dias 25 e 26 de outubro (aqui), será a oportunidade para renovar o compromisso político dos Estados membros da OMS e das organizações internacionais para desenvolver cuidados de saúde primários centrados nas pessoas, com base nos princípios da Declaração de Alma-Ata.
O renascimento dos cuidados de saúde primários é essencial para conseguir o desígnio de alcançar “Saúde para Todos”, incluindo os mais vulneráveis. Promover os valores da solidariedade, da equidade e da participação, investir nos sistemas de saúde, promover a transparência e a responsabilidade, tornar os sistemas mais abertos são alguns dos principais compromissos dos países da região Europeia da OMS, inscritos na Carta de Tallinn de 2008 (aqui), e fortalecidos na reunião Europeia de Tallinn de 2018 (aqui) de acordo os seguintes princípios: Incluir (melhorar a cobertura de saúde, o acesso e a proteção financeira para todos; Investir (defendendo o investimento em sistemas de saúde) e Inovar (aproveitando inovações e sistemas para considerar as necessidades das pessoas.

Para cumprir estes objetivos devem os países dar uma atenção especial aos profissionais de saúde, uma vez que são um fator essencial para o desempenho e a sustentabilidade dos sistemas de saúde e em particular para os cuidados de saúde primários. Ao longo dos últimos 30 anos desenvolveram-se novos modelos de intervenção nos cuidados de saúde primários, de que são exemplo, os agentes comunitários de saúde (aqui), as equipas interprofissionais centradas nas necessidades dos pacientes em que as enfermeiras(os) prestam grande parte dos cuidados, incluindo a promoção da saúde e a gestão das doenças crónicas, e desenvolveram-se esforços para dotar os países de renda média e baixa de médicos de família graças ao trabalho da Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA), mas as dificuldades para recrutar e para manter profissionais nos cuidados de saúde primários mantem-se (aqui). Mesmo entre os países europeus a escassez de médicos de família é uma realidade (aqui), em particular nas áreas territoriais de baixa densidade populacional. Em muitos países a medicina geral e familiar é vista como uma especialidade com pouco prestígiada, mal paga e associada uma elevada carga administrativa. Tornar os cuidados de saúde primários num local mais atraente é crucial  para recrutar e manter os melhores profissionais, e uma das evidências apresentadas no Fórum Europeu de Saúde em Gastein, na Áustria, de 3 a 5 de outubro (aqui), que comprovou a necessidade de novos currículos, uma maior participação das unidades de saúde das áreas rurais no ensino da medicina, da enfermagem e de outras profissões de saúde, do desenvolvimento de equipas multiprofissionais e de melhores suportes ao desenvolvimento dos cuidados, quer ao nível das infraestruturas, quer ao nível das inovações tecnológicas.

A Declaração a ser aprovada em Astana(aqui) deve marcar a revitalização e um novo futuro para os cuidados de saúde primários, de forma a garantir o desenvolvimento de sistemas de saúde para todos (cobertura universal) e o cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (aqui).

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

NUM CONTINENTE (AMERICANO) MARCADO PELA DIVERSIDADE, O QUE FAZ COM QUE UM NORTE-AMERICANO VIVA MAIS 15 ANOS QUE UM HAITIANO E MENOS 4 ANOS QUE UM CANADIANO. "Sociedades Justas:Equidade em Saúde e Vida Digna" Comissão para o Estudo da Equidade e das Desigualdades em Saúde das Américas.


A Comissão para o Estudo da Equidade e das Desigualdades em Saúde das Américas, criada em maio de 2016 pela Organização Pan-Americana da Saúde, apresentou e publicou ontem, dia 24 se setembro, o sumário executivo do Relatório “SOCIEDADES JUSTAS: EQUIDADE EM SAÚDE E VIDA DIGNA” (aqui)onde apresenta o quadro conceptual para o estudo da equidade e das desigualdades nas Américas com base na estrutura utilizada pela Comissão da Organização Mundial de Saúde para os Determinantes Sociais da Saúde, coerente com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável definidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, aprofundando temas como o colonialismo, o racismo estrutural e a importância das relações com a terra, dando um maior ênfase ao meio ambiente e às mudanças climáticas e um maior relevo às iniquidades por razões de género, origem étnica, orientação sexual, ciclo de vida e incapacidade, reconhecendo as inter-relações entre estes fatores e sublinhando a necessidade de conseguir uma maior equidade em saúde e uma vida digna como resultado desejado.

O relatório apresenta para além do quadro conceptual, um resumo do diagnóstico das desigualdades em saúde no continente americano e 12 recomendações para ação política a desenvolver por cada um dos países do continente americano “As part of this process, each country should review the priority objectives, as set out by this Commission, adapt them to their specific context, and identify the resources, legislative changes, and capacity-building needed to take forward the specific actions. The achievement will be more just societies in which all people are enabled to lead dignified lives and in which health equity is a realizable goal.”

No dia 24 de setembro, o presidente da Comissão, o professor Michael Marmot, publicava um comentário na revista Lancet (aqui) onde antecipava alguns aspetos do relatório agora publicado. Começando por abordar as desigualdades entre países fazendo uso quer da esperança de vida à nascença quer do nível de rendimento, dando como exemplo as diferenças entre a esperança de vida à nascença do país mais rico do mundo os Estados Unidos (59.000 $US dólares por pessoa), quer para homens (76 anos) quer para mulheres (81 anos) e o país mais pobre das Américas, o Haiti (1.800 $US dólares por pessoa), onde a expetativa das mulheres se cifra nos 66 anos e a dos homens nos 61 anos, chamava a atenção para as exceções da Costa Rica e de Cuba (com rendimentos por pessoa na casa dos 16.000 $US dólares), com expetativas de vida superiores em um ano aos Estados Unidos e para as diferenças entre os Estados Unidos e o Canadá (o país com maior esperança de vida à nascença das Américas), favoráveis ao Canadá, mais 3 anos de vida para as mulheres e mais quatro para os homens, quando o rendimento por pessoa do Canadá é ¼ mais baixo do que nos EUA.


Mas as exceções não vêm apenas das diferenças entre países, elas também são visíveis dentro de cada país, dando a Comissão como exemplo as diferenças registadas entre a esperança de vida à nascença dos homens dos bairros mais pobres de Baltimore, próxima da verificada no Haiti, e a dos homens dos bairros mais ricos de Baltimore com uma esperança de vida maior que a dos homens da Canadá, e a esperança de vida mais desfavorável entre os homens com menor escolaridade no Chile, que podem esperar viver menos 11 anos do que um homem chileno com educação universitária.

Ao longo do relatório as evidências reunidas pela Comissão mostram que muitas doenças são socialmente determinadas, as desigualdades em saúde surgem devido às condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem. O efeito dos determinantes socais da saúde está patente desde o início da vida, na maioria dos países das Américas o desenvolvimento das crianças e os seus resultados em educação, rendimento, saúde e bem-estar estão alinhados com a situação dos pais. A possibilidade de uma criança morrer antes dos 5 anos está vinculada ao rendimento dos pais, quanto menor o rendimento maior a mortalidade, na Guatemala a taxa de mortalidade para menores de 5 anos era de 56/1.000 para o quintil mais pobre, enquanto a mesma taxa de mortalidade era no quintil mais rico de 7/.1000.

Mas para além de abordar as desigualdades sociais e económicas a Comissão identificou as mudanças climáticas, as ameaças ambientais, a relação com a terra e o contínuo impacto do colonialismo, do racismo e da história da escravatura como fatores que protelam o objetivo da maioria dos americanos levarem uma vida digna e desfrutarem do mais alto padrão de saúde possível.

A Comissão dá ainda uma atenção particular à situação dos povos indígenas e dos afrodescendentes, os primeiros representam 35 a 50 milhões de pessoas na América do Sul, do Caribe da América Central cerca de 13% da população, 5.2 milhões nos Estados Unidos e Alasca e 1.4 milhões no Canadá e os segundos cerca de 200 milhões de pessoas no continente americano, incluindo o Canadá e os Estados Unidos, sublinhando o papel do colonialismo e o racismo estrutural nas desigualdades em saúde. Ser pobre, nativo, mulher e sem terra, pode causar mais inequidades em saúde do que ser afetado isoladamente por qualquer um destes eixos de desigualdade.

Uma boa saúde requer não só acesso a cuidados de saúde de qualidade, mas também a ação sobre os determinantes sociais da saúde, as recomendações da Comissão para o Estudo da Equidade e das Desigualdades em Saúde das Américas seguem o quadro conceptual e exortam os países a reduzirem as desigualdades em saúde, a enfrentarem os problemas da educação, do emprego, dos rendimentos e da segurança, ao mesmo tempo que devem olhar de forma determinada para a defesa dos direitos humanos e para o colonialismo intrínseco à história do continente americano.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

BRASIL - GLOBAL BURDEN DISEASE - MELHORIA DA SAÚDE DA POPULAÇÃO (1990 - 2016)


A revista Lancet publicou no passado dia 20 de julho o estudo “Burden of disease in Brazil, 1990–2016: a systematic subnational analysis for the Global Burden of Disease Study 2016” (aqui), onde os autores analisaram os resultados do Global Burden Disease (GBD) 2016 referentes ao Brasil, aos seus 23 estados e ao distrito federal, nos seguintes indicadores: a esperança de vida ao nascer (life expectancy at birth - LE), a esperança de vida saudável (healthy life expectancy – HALE), os anos de vida perdidos por morte prematura (years of life lost – YLLs), os anos de vida ajustados à incapacidade (disability-adjusted life-years DALY´s) e os anos vividos com incapacidade (years lived with disability - YLD).

O estudo apresenta como principais conclusões uma melhoria da saúde da população do Brasil nos últimos 26 anos (1990- 2016), período em que se verificou uma expansão do sistema de saúde, um crescimento da economia e a introdução de políticas públicas focadas na promoção da saúde, na prevenção e nos fatores de risco “saúde-doença”, a par do envelhecimento da população e da alteração do padrão da mortalidade-morbilidade com o aumento da prevalência das Doenças Crónicas.(aqui)

A nível nacional, a esperança de vida à nascença aumentou de 68.4 anos em 1990 para 75.2 anos em 2016, a esperança de vida saudável aumentou de 59.8 anos para 65.5 anos enquanto os anos de vida ajustados à incapacidade (disability-adjusted life-years DALY´s) por todas as causas diminuíram em 30.2%.
Em 2016, a doença cardíaca isquémica foi a principal causa de anos de vida perdidos por morte prematura (years of life lost – YLLs), seguidos de violência interpessoal.

No que se refere à violência interpessoal os autores chamam à atenção para relação conhecida entre a morte por homicídio por arma de fogo, o tráfico de drogas e de armas ilegais e o consumo de álcool e drogas.

O GBD é o estudo de observação epidemiológica mais abrangente do mundo até esta data. Descreve a mortalidade e a morbilidade por doenças graves, lesões e fatores de risco para a saúde nos níveis global, nacional e regional. Produz estimativas por causas, idade, sexo e país desde 1990, examina tendências e faz comparações entre as populações, mede as características do sistema de saúde, a exposição a fatores de risco, e a mortalidade e morbilidade atribuíveis a esses riscos (aqui).

Nas conclusões os autores chamam à atenção para os desafios que o Brasil enfrenta de forma a atingir os objetivos para a Saúde na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (aqui), face à atual situação de recessão e empobrecimento que o Brasil vive na atualidade.(aqui)