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terça-feira, 7 de agosto de 2018

AUMENTO DA MORTALIDADE - VAGAS DE CALOR - MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Num mundo cada vez mais quente, e em sociedades cada vez "mais frias" que voltam as costas aos mais vulneráveis, o calor é um assassino invisível, que não liquida todos por igual. As estórias das vagas e das ondas de calor pertencem à história económica e social, só compreendidas à luz dos determinantes sociais da saúde.
Portugal continental esteve nos primeiros dias de Agosto sobre uma vaga de calor extremo, em muitas estações meteorológicas a temperatura ultrapassou mais de 40 graus Celsius, levando a um aumento da mortalidade em particular entre as pessoas de mais de 70 anos, registando-se no dia 05 de janeiro 482 óbitos. (aqui)
Em post´s (aqui)(aqui) anteriores chamávamos à atenção para os efeitos do aquecimento global e para ocorrência cada vez mais frequentes de catástrofes relacionadas com o clima. Em Agosto de 2017 a revista Lancet Planetary Health  publicava o estudo “Increasing risk over time of weather-related hazards to the European population: a data-driven prognostic study” (aqui) onde se concluía que o aquecimento global poderá provocar na Europa catástrofes relacionadas com o clima que afetarão cerca de 2/3 da população no ano de 2100 e multiplicarão por 50 as mortes verificadas no período de 1981-2100.
De acordo com a investigação a situação será altamente desfavorável ao Sul da Europa, onde a taxa de mortalidade prematura devido ao clima extremo entre os anos em estudo (2071-2199) poderá atingir cerca de 700 mortes anuais por milhão de habitantes tornando-se no maior fator de risco ambiental para a saúde.

O estudo conclui ainda que alguns grupos sociais podem ser mais afetados do que outros, “In particular, the most vulnerable will be elderly people and those with diseases..., as well as the poor...”, confirmando a evidência científica publicada desde que Klinenberg (aqui) estudou a Onda de Calor que afetou Chicago em 1995 descobrindo que as 700 mortes verificadas não eram consequência “natural” da Onda de Calor mas eram antes moldadas pelo contexto e pela organização social humana. De acordo com Klinberg, em Chicago morreram as pessoas idosas, as pobres e as isoladas, concluindo que sem a “desnaturalização” do evento a relação das desigualdades sociais e políticas com a mortalidade observada continuaria escondida.

As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade, o Acordo de Paris 2015 foi a mais recente tentativa para tentar travar o aquecimento global (aqui). Aprovado por 194 países, ratificado por mais de 150, incluindo a China e os países da União Europeia, sofreu um importante revés quando a administração Trump informou em junho de 2017 que os Estados Unidos iriam abandonar o Acordo. (aqui)(aqui)

Mas o risco de assegurar que o aumento da temperatura média global fique abaixo de 2°C prosseguindo os esforços para limitar o aumento da temperatura até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, pode não ser suficiente conforme propõe um estudo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” PNAS, onde os investigadores (aqui) (aqui) afirmam que “ o grande receio é que, mesmo que se consiga travar as emissões nos dois graus, alguns daqueles fenómenos já não sejam reversíveis e façam aumentar a temperatura, desencadeando um efeito dominó” apontando como “ a única forma de tentar impedir isso é «descarbonizar imediatamente o sistema mundial de energia, e alcançarmos um mundo livre de combustíveis fósseis o mais tardar em 2040-2050».

sábado, 24 de março de 2018

"DEATHS OF DESPAIR" - VIRGÍNIA - AUMENTA A MORTALIDADE ENTRE A CLASSE MÉDIA BRANCA AMERICANA

No dia 21 de Março, o Center on Society and Health at Virginia Commonwealth University e a Graduate School of Public Health at the Universityof Pittsburgh, apresentaram o estudo “WHY ARE DEATH RATES RISING IN VIRGINIA’S WHITE POPULATION? The Role of Stress-Related Conditions” (aqui) realizado com o objetivo de conhecer as causas para o crescimento da mortalidade entre a população branca da Virgínia.

Apesar da população branca apresentar uma mortalidade inferior a outros grupos nos Estados Unidos (negros, nativos americanos e alguns grupos asiáticos) vários estudos publicados nos últimos anos têm demonstrado que a mortalidade têm vindo a crescer entre a população branca de meia-idade. (aqui)(aqui)(aqui)

No estudo agora publicado os autores encontraram um crescimento da taxa de mortalidade entre a população branca dos 25 e os 54 anos. Sendo mais de metade (55%) das mortes devidas a overdoses por drogas, a suicídios e a doenças hepáticas relacionadas com o álcool.
Os autores criaram um indicador composto, a que chamaram “condições relacionadas com o stress” relacionado quatro causas de mortes: overdoses por drogas, intoxicações alcoólicas, suicídios e doenças do fígado relacionadas com álcool.

Na Virgínia este indicador aumentou 83% na população branca dos 25 e os 54 anos entre 1995 e 2014, um excesso de 2.300 mortes, 2/3 das quais causadas por overdoses de drogas. Este valor cresceu sobretudo entre os jovens adultos (25-34 anos), com um aumento de 419% para as overdoses por drogas (1995 a 2014) e de 39% para a taxa de suicídio a partir de 2000.

O crescimento do indicador “condições relacionadas com o stress” entre os brancos com idades compreendidas entre os 25-54 anos ocorreu nas áreas rurais e nos territórios de baixa densidade, nos lugares com menor diversidade, nas comunidades que tinham menos anos de escolaridade, menor rendimento familiar, maiores desigualdades de rendimento, maior pobreza infantil, menor cobertura de saúde e escassez de profissionais de saúde. Três fatores regionais apresentaram um elevado coeficiente de correlação: ruralidade, % de adultos sem licenciatura e escassez de profissionais de saúde mental. Nas localidades com aumentos significativos do indicador “condições relacionadas com o stress”, este incremento estava correlacionado com o crescimento do desemprego.

Os autores concluem que o aumento do indicador “condições relacionadas com o stress” na população branca da Virgínia pode ser uma resposta direta ao stress económico. Apesar de considerarem a complexidade do fenómeno, os investigadores concluem que as gerações mais novas têm sérias dificuldades em enfrentar as dificuldades atuais resultantes da instabilidade económica e social.

“One theory is that this age group is experiencing life conditions that differ starkly from past expectations and may lack the resilience to endure the cumulative stress that comes with prolonged social and economic hardships. During the two decades this report studied (1995–2014), young and middle-class whites—the age group examined here—experienced economic and social instability unlike that of their parents and grandparents. In the post-World War II generation, loyal workers could often count on a job for life, with health insurance, a pension, and other benefits—and earnings were generally stable enough to finance a home, put children through college, and plan for retirement. Middleclass white households were largely protected from the social disadvantage and economic insecurity that are common today, and that people of color have experienced for generations.

Frustration and hopelessness over these conditions would be expected to increase anxiety and depression. Over time, chronic stress, despair, and the pain they produce can induce harmful coping behaviors. Some people turn to food, resulting in over-eating and the consumption of calorie-dense fast foods. Some people cope with stress by smoking, which increases the risk of tobacco-related diseases (e.g., emphysema). Some people are overcome by anxiety or depression; feelings of hopelessness can lead desperate individuals to commit suicide. Some people self-medicate with alcohol or drugs to relieve their psychic pain. And some people act out in violence, causing injury to others. It is a mistake to focus on (or blame) the behaviors that individuals adopt to cope with these stresses and ignore the policies and living conditions in communities that fuel these behaviors.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A MORTALIDADE PREMATURA AUMENTOU NOS ÚLTIMOS 15 ANOS ENTRE OS NORTE-AMERICANOS BRANCOS

De acordo com o estudo publicado na revista Lancet de 23 de janeiro de 2017, “ Trends in premature mortality in the USA by sex, race, and ethnicity from 1999 to 2014:an analysis of death certificate dataas taxas de mortalidade prematura diminuíram nos Estados Unidos entre a população hispânica, negra, e asiática das ilhas do Pacífico, em linha com as tendências verificadas em países como o Canadá e o Reino Unido, mas aumentou entre a população branca e a população índia americana (quer sejam nativos índios, quer sejam nativos do Alaska).


A investigação mostra que a diminuição das taxas de mortalidade prematura (dos 25 e os 64 anos) entre os norte-americanos hispânicos, negros e asiáticos do Pacifico se deveu à redução de mortes por cancro, doenças cardíacas e HIV/SIDA, refletindo a redução do consumo do tabaco e os progressos para melhorar o diagnóstico e o tratamento. Apesar destas melhorias, as taxas de mortalidade prematura globais continuam a ser mais elevadas para os negros (homens e mulheres) do que para os brancos. Em oposição as taxas de mortalidade prematura para a população branca e nativa (índia ou do Alaska) aumentaram cerca de 2 a 5% por ano, à custa das mortes por overdose, suicídio e doença do fígado, atingindo um valor comparável ao verificado no auge da epidemia de HIV/SIDA nos Estados Unidos.

De acordo com os investigadores o objetivo de reduzir a mortalidade prematura em 40% antes de 2030 é improvável que seja alcançado nos Estados Unidos (aqui),“ if present trajectories continue. Aggressive efforts are urgently needed to reduce premature deaths by targeting emerging, but potentially preventable, causes of death—primarily drug poisonings, suicide, and chronic liver disease and cirrhosis—in addition to continued efforts against cancer and heart disease, and through expanded access to quality medical care for prevention and treatment of chronic disease, mental illness, and substance use disorders.

sábado, 5 de dezembro de 2015

EXCESSO DE MORTALIDADE NO INVERNO - GRIPE OU POBREZA ENERGÉTICA

No passado dia 28 de Outubro o Instituto Nacional de Saúde, Ricardo Jorge, dava a conhecer os resultados reportados pelos países que participam na rede EuroMOMO (Rede European Monitoring Excess Mortality for Public Health Action), durante o inverno de 2015, que demonstraram um excesso de mortalidade, na população com 65 ou mais anos, em todos os países europeus que participam nesta rede, com exceção da Estónia e da Finlândia, estando Portugal entre os países mais atingidos, apontando as conclusões desse trabalho para que o excesso de mortalidade tenha ocorrido em simultâneo com a epidemia de gripe sazonal e um período de vagas de frio extremo. Conclusões que estão em linha com as posições públicas assumidas pelas autoridades portuguesas de saúde pública, Direção Geral de Saúde, que atribuiu o excesso de mortalidade no Inverno de 2015 à gripe, às doenças relacionadas com o frio e ao crescimento da população idosa e das suas próprias patologias.
Será esta a explicação, apenas uma parte da explicação, e, que peso terá no excesso de mortalidade ocorrida no Inverno?


% of households unable to afford to keep their home adequately warm
Constantino Sakellarides, emérito médico de saúde pública, põe o “dedo na ferida” em declarações ao jornal “O Público” (aqui) a quando da apresentação do estudo realizado para OMS Europa O impacto da crise financeira no sistema de saúde e na saúde em Portugal, cito “ Nos primeiros meses de 2012, um excesso de mortalidade associado à gripe e ao frio foi reportado em Portugal, tal como em muitos outros países europeus em pessoas com mais de 65 anos. No entanto, um excesso de mortalidade nas faixas etárias entre os 15 e os 64 anos apenas ocorreu em Portugal e em Espanha… «Como se explica esta diferença entre países? … Portugal tem uma das mais baixas capacidades de aquecimento das casas durante o Inverno no conjunto dos países europeus, o que pode ter influência na mortalidade”, é que há muito que Portugal apresenta excesso de mortalidade no inverno, sendo apontado como um paradoxo, uma vez que é o exemplo do país com um clima ameno no inverno que apresenta a maior variação sazonal da mortalidade 28% no trabalho de Healy em 2003 e 25.9% no trabalho de Fowler em 2014. 


Map of 9-year country-level EWDI in 31 European countries, grouped by quintiles of equal count.
O "paradoxo da mortalidade de inverno" explica-se afinal pela pobreza energética determinada por “baixos rendimentos, custos elevados de energia e falta de eficiência energética nas habitações”.
De acordo com o trabalho de Raquel Nunes, Portugal apresenta indicadores muito baixos no que se refere à qualidade energética das habitações, “ casas com paredes duplas (6%), isolamento do telhado (6%) e vidros duplos (3%) ” e uma elevada incapacidade para manter as casas aquecidas entre os agregados familiares com um adulto com mais de 65 anos, o que mostra que as pessoas idosas em Portugal estão em maior risco de sofrer os efeitos de viver em casas frias (OMS 2012).

De acordo com os estudos publicados (aqui) (aqui)as pessoas com menos rendimento, têm mais propensão a estar em "pobreza energética" ficando mais expostas a problemas de saúde, incluindo problemas circulatórios, respiratórios e a uma menor qualidade da saúde mental, de acordo com estudos ingleses “10% of excess winter deaths are directly attributable to fuel poverty and a fifth of excess winter deaths are attributable to the coldest quarter of homes”. A pobreza energética também pode afetar os determinantes mais vastos da saúde, tais como o desempenho escolar entre crianças e jovens, ou as ausências ao trabalho.

Portugal necessita que as autoridades de saúde ao invés de centrarem apenas as suas prioridades em torno da vacinação antigripal e do reforço do atendimento nos serviços de urgência, desenvolvam estudos que permitam conhecer a população em pobreza energética e influenciem políticas de combate à pobreza energética.