terça-feira, 8 de dezembro de 2015

MIA COUTO " MORREU DE QUEM OU DE QUÊ ?" - DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE

No passado dia 16 de Novembro o escritor moçambicano Mia Couto, foi o convidado do Seminário Internacional " Determinantes Sociais da saúde, intersetorialidade e equidade social na América Latina" para proferir a Conferência de Abertura.


A sua conferência de abertura é aqui relatada pela jornalista Tatiane Vargas jornalista da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (aqui).

Mia Couto
Morreu de quem ou de que?

Mia Couto continuou brindando a plateia com a beleza de suas narrativas. Prosseguiu com mais uma história, afinal, como ele mesmo afirmou, “somos feitos de histórias assim como somos feitos de células”. O escritor falou sobre uma província no norte de Moçambique, chamada Niassa, onde também trabalhou por um tempo. Ele explicou que o povo local se reúne para uma cerimônia religiosa, organizada pelos sacerdotes – que também são líderes políticos –, e passam fome durante todo o ano para homenagear os macacos babuínos. Isso acontece porque eles acreditam que há muito tempo seus antepassados todos morreram afogados em uma lagoa e voltaram materializados nesses animais. “Para eles é um momento de retribuição, pois esses animais protegem um lugar sagrado. Então, é preciso mostrar essa gratidão”, contou.


Após contar a história dos costumes de Niassa, Mia explicou que nas regiões por onde anda, as pessoas fazem um questionamento que aqui no Brasil pode parecer estranho quando alguém morre. A pergunta é: “morreu de quem?” Ao invés de “morreu de que?”. “Morrer de alguém é uma coisa que faz muito sentido em um universo em que a fronteira da vida – o entendimento daquilo que é vida, que é morte, que é doença –, é algo completamente distinto. Nesse universo está ausente a dualidade que separa o somático, o psicológico, o corpo, a alma, o espírito e a matéria, tudo isso é ausente e não existe uma palavra para expressar a natureza. Por isso, quando se procuram as causas naturais de uma doença, surge algo estranho, pois não há sequer uma palavra para dizer isso”, definiu o escritor.




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